A Stearman Aircraft Corporation fundada na década de 1920 sendo considerada uma das primeiras empresas do segmento aeronáutico nos Estados Unidos, no entanto seu fundador Lloyd Carton Stearman apesar do nato talento para o desenvolvimento de aeronaves não dispunha das mesmas habilidades na gestão financeira de sua empresa, levando a venda da mesma em 1929 para um conglomerado de empresas chamado United Aircraft and Transport Corporation. Nesta altura os modelos de aviões de treinamento e turismo alcançavam a liderança no mercado norte americano, atraindo o interesse da gigante Boeing passando a ser uma subsidiaria destes alguns meses depois. Durante este período de transição Lloyd Carton continuou temporariamente na presidência da empresa e antes de deixar a empresa deixaria um importante legado o Stearman Model 6 Cloud Boy.
Projetado como avião de treinamento primário para a USN (Marinha) foi o US Army (Exército) que inicialmente adquiriu algumas células desse avião agora designado YPT-9 que havia voado primeiramente em 1931 e seria a base do Model 70 que teria o voo do primeiro protótipo em 1933, testes com esta aeronave demandaram a criação do Model 73 que dispunha de características que atendiam com perfeição aos requisitos técnicos que as duas forças armadas americanas haviam estabelecido para um futuro avião de treinamento primário. O primeiro contrato de produção assinado em 1935 englobava 61 células, que foram entregues as unidades de treinamento do Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) a partir de 1937, a este contrato se somariam outros desta versão inicial denominada PT-13 que totalizariam 2.114 células de 5 variantes.
A próxima versão denominada PT-17 que começou a ser produzida em 1939 estava equipada com um novo motor Continental R-670-5 de 210 hp, como o PT-13 era uma aeronave de treinamento básico, biplana, com estrutura composta composto por tubos de aço soldado, asas em madeira, tendo toda sua superfície coberta com telas e duas cabines abertas para instrutor e aluno. Uma versão de exportação designada Model 76 foi desenvolvida que além de atender à necessidade treinamento primário podia também ser empregada como aeronave de ataque leve podendo ser equipado com dois cabides ventrais com capacidade de 65 kg cada, 1 metralhadora móvel Colt Browning MG28 calibre.30 e uma fixa, dispunha ainda de maior capacidade de combustível (110 litros) motores mais potentes como o Wright R-975-E3 de 420 hp, este modelo inicialmente seria vendido para a Argentina, Filipinas Brasil e Venezuela entre 1936 e 1941.
Rapidamente o modelo foi adotado como treinador primário padrão para emprego na Marinha Americana (US. Navy) e no Corpo Aéreo do Exército Americano (USAAC), também seria a aeronave padrão para a formação de pilotos da Força Aérea Real Canadense (RCAF) através do fornecimento de 300 células nos termos do Leand & Lease Act do modelo designado localmente como PT-27. Popularmente conhecido nas forças armadas americanas como Kaydet, Boeing Stearman, NS, NS2 ou simplesmente PT-17, sua produção dividida em 16 variantes atingiram a cifra de 10.620 células produzidas entre maio de 1933 até fins de 1945.
Durante a Segunda Guerra Mundial os Stearman tiveram por missão a formação de mais de 60.000 pilotos americanos no período do conflito, logo após o termino milhares de aeronaves foram retiradas do serviço ativo sendo transferidas para o meio civil onde continuaram a realizar missões de treinamento, voo turístico sendo muitos convertidos para uso de pulverização de lavouras com adaptação de um tanque para pesticidas e barras de pulverização. Uma parcela das aeronaves foi exportada para nações alinhadas com os Estados Unidos, entre eles Republica da China, Bolívia, Colômbia, Cuba, República Dominicana, Grécia, Guatemala, Honduras, Irá, Israel, Nicarágua, Paraguai, Peru e Filipinas, com as últimas aeronaves sendo desativadas somente na década de 1960.
Emprego no Brasil.
Perto do final da década de 1930 os comandantes da Aviação Militar do Exército decidiram pela renovação de sua frota de aeronaves de treinamento, buscando assim reduzir o gap tecnológico existente entre os treinadores e as aeronaves de linha de frente. Desta maneira uma concorrência foi aberta com a participação de fabricantes franceses, ingleses e americanos, com as propostas sendo entregue na última metade de 1936. Análises apuradas penderam a escolha para o fabricante norte americano Stearman Aircraft Company na versão do Stearman Model 76 que seria entregue em duas variantes muito semelhantes destinadas não só ao treinamento primário mas também avançado.
Os Model 76 encomendados pela Aviação do Exército foram desenvolvidos para exportação e tinham os motores mais potentes de toda a família Stearman e podiam portar bombas de instrução, toda sua instrumentação de voo estava customizada para o emprego do sistema métrico, estavam ainda equipados com uma metralhadora móvel instalada na nacele traseira e também foi definido no contrato que uma metade das 30 células encomendadas deveriam contar com uma metralhadora fixa instalada na asa direita inferior, estas aeronaves seriam designadas pelo fabricante como Model A76C3. A outra metade da frota seria equipada com uma câmera fotográfica Farchild K 3B no lugar da metralhadora fixa, recebendo pelo fabricante a designação de Model B76C3. Seguindo o cronograma previsto no contrato, as primeiras células do A76C3 ficaram prontos em maio de 1937, sendo despachados por via naval e recebidos no Parque Central de Aviação localizado no Campos dos Afonsos, onde as aeronaves foram montadas sob a supervisão da equipe do fabricante
Em 9 de julho de 1937 o primeiro A76C3 realizou seu voo inaugural nos céus brasileiros, sendo seguido pelo B76C3 em setembro do mesmo ano, com a última célula sendo entregue em dezembro, conforme as aeronaves ficavam prontas eram encaminhadas para a Escola de Aeronáutica do Exército (EAerEx), onde os cadetes após terem passado pela instrução básica travavam contato direto com os A76/B76 onde treinariam os aspectos de navegação, voo em formatura, manobras básicas de acrobacia e tarefas básicas de instrução em bombardeio, tiro terrestre e fotografia aérea. Além da EAerEX os Stearman foram deslocados para Belém para operar no Esquadrão de Adestramento do Núcleo do 7º Regimento de Aviação e também no Núcleo do 4º Regimento de Aviação na cidade de Belo Horizonte. Nos anos seguintes sua missão continuaria a mesma até o recebimento dos North American NA-72 que assumiram a função de treinadores avançados.
A aquisição dos Stearman A75 foi necessária devido a impossibilidade da substituição dos antigos treinadores primários Havilland Gipsy VI pelos nacionais Muniz M-9 que dependiam dos escassos motores ingleses em função do início da Segunda Guerra Mundial, assim desta maneira optou se pela aquisição da opção mais logica ou seja um próprio modelo da Stearman, tendo em vista a exceção do motor, tanques extras de combustível e armamento este candidato era praticamente idêntico aos A76/B76 em operação. No início do segundo semestre de 1939 a Diretoria de Aviação do Exército assinou um contrato para a aquisição de 20 células da versão A-75L3 que passaram a ser entregues desmontadas na Escola de Aeronáutica do Exército em março de 1940, sendo montadas e integradas na função de treinamento primário a partir de maio do mesmo ano. Em função das diferenças presentes entre os dois modelos os A75L3 foram apelidados de "Stirminhas" e os A76/B76 de “Stirmões “ em uma clara alusão ao desempenho de ambos.
Com a criação do Ministério da Aeronáutica em 20 de janeiro de 1941, todas as células remanescentes sendo vinte e sete A76/B76 e vinte A-75L3 foram transferidas para a nova Força Aérea Brasileira, onde foram alocadas na Escola de Aeronáutica (EAer). A partir de 1943 com o crescente recebimento dos novos modelos de treinamento primário Fairchild PT-19, as unidades remanescentes foram transferidas para a Base Aérea de São Paulo, onde foram disponibilizadas ao 3º Grupamento do Curso de Preparação de Oficiais de Reserva da Aeronáutica ( GTCPOR ), sendo incumbidos da missão de formação de pilotos da reserva da força. O ano de 1944 assistiu ainda transferência de 12 células remanescentes para o 2º GTCPOR baseado no Galeão que passava a concentrar as tarefas de formação de aviadores da reserva. As últimas unidades do A75L3 foram desativadas em 1946 e os A76/B76 em 1947, sendo então revisados e repassados para diversos aeroclubes brasileiros.
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