quinta-feira, 29 de março de 2018

IMBEL MD97

O Fuzil de Assalto IMBEL MD97 já foi objeto de matérias anteriores deste autor, nas quais foi possível abordar de forma ampla a origem e as características de projeto da arma. Desta maneira, vamos agora fazer um rápido resumo deste Fuzil de Assalto e, após, tratar das possibilidades de atualização e modernização deste projeto que, apesar de já nascer de certo modo ultrapassado, deve ser visto como uma grande evolução em relação ao FAL M964 padrão do Exército Brasileiro, apesar de distante daquilo que se pode esperar de uma arma posta em produção já no século 21, reunindo, em seu estado atual, pouquíssimas chances de sucesso comercial frente aos concorrentes disponíveis no mercado internacional, o que, aliás, deveria ser motivo de preocupação para a IMBEL.


Fuzil MD97L equipado com mira ótica Aimpoint CompM2, lanterna com cabo de acionamento remoto, supressor de ruídos Brugger & Thomet e lançador de granadas modelo M-203 PI.
O Fuzil de Assalto IMBEL MD97 é uma arma cujo projeto se originou no início dos anos 80, com a intenção de adaptar o fuzil FAL M964 para disparar o cartucho 5,56x45mm OTAN, projeto este que também era intentado por nossos vizinhos argentinos, através de sua estatal produtora de armas militares, nos melhores moldes de “corrida armamentista sul-americana”, numa época em que a indústria militar nacional era levada a sério e estava sempre em busca de um bom produto, apto a conquistar uma boa fatia do mercado internacional e a garantir divisas para o país. Este projeto seguiu e tomou a forma do Fuzil de Assalto IMBEL MD2, que era nada mais do que uma adaptação do nosso conhecido FAL para disparar o menor calibre de fuzil da OTAN (5,56x45mm), utilizando para isso um receptáculo de carregador adaptado para receber o carregador padrão M-16/AR-15 (STANAG), um ferrolho com a cabeça e a garra extratora compatíveis com o menor culote da nova munição, além de um cano e câmara recalibrados. E só. A construção da caixa de culatra em aço usinado, com seu conseqüente maior peso, permaneceu, assim como o problemático sistema de operação por ferrolho basculante. Foi só com o passar dos anos, e já num desenvolvimento que resultaria no MD97, que a empresa resolveu substituir o sistema de trancamento basculante do ferrolho pelo sistema de trancamento rotativo, o que acabou com a necessidade da caixa de culatra ser fabricada em aço, pois, no trancamento basculante, a parte posterior do ferrolho apóia-se na caixa da culatra, o que contém o recuo do sistema até o destrancamento, ao passo que, no trancamento rotativo, a contenção do recuo dá-se pela solidarização do cano com os ressaltos da cabeça rotativa do ferrolho, que são as únicas peças que realmente precisam ser feitas em aço.

Extrato de uma antiga propaganda da IMBEL que mostra o Fuzil de Assalto MD2 com seus acessórios.
Na realidade a IMBEL fez exatamente o que os russos fizeram ao criar o Fuzil de Assalto AK-74, ou seja, apenas trocaram o cano e o mínimo de outras partes essenciais do Fuzil de Assalto AKM calibre 7,62x39mm, colocaram um carregador compatível com a nova munição e deram um novo nome para arma. Acredito que foi até neste exemplo que a engenharia da IMBEL se baseou, só que nisto cometeu um grave erro: os russos, ainda nos anos 60, estavam preocupados com o excessivo peso do AK-47, que tinha sua caixa de culatra fabricada em aço usinado. Passaram então a produzir a mesma arma com a caixa de culatra em aço estampado, já que a caixa de culatra em alumínio era uma novidade muito grande que estava sendo introduzida naquela época no fuzil Armalite AR-15, e que não era certo se iria “vingar”. Esta nova caixa de culatra em aço estampado reduziu significativamente o peso da arma, dando origem ao mencionado AKM. Daí em diante, ao trocar o calibre e criar o AK-74 na década seguinte, tinham uma arma já testada, confiável, robusta e LEVE.

Fuzil de Assalto AK-74
A nossa IMBEL não foi uma boa observadora da história, esquecendo-se justamente disso, esta importante fase ocorrida antes da troca de calibre, que foi a redução do peso da arma, pois a troca da munição por uma de calibre menor tinha por objetivo principal reduzir o peso dos equipamentos transportados pelo combatente, não havendo sentido em se colocar uma munição mais leve numa arma extremamente pesada. Parece que alguém falhou em observar o quadro como um todo, focando apenas o detalhe. Quando a IMBEL logrou êxito em terminar sua arma, o MD2, já no ano de 1985, oferecendo-a como arma nova ou como kit de conversão para o FAL, o conceito de armas extremamente leves, com caixa de culatra em alumínio, já estava consolidado, estando o Fuzil de Assalto M-16 estabelecido como uma arma eficiente e provada em combate, além de já estar entrando em operação junto aos Marines, neste mesmo ano de 1985, sua versão M-16A2, com uma série de melhorias e, além disso tudo, o mercado já dispunha de uma gama de novas armas, tais como o Fuzil de Assalto Steyr AUG, adotado pela Áustria em 1977, que inovavam ainda mais e partiam para materiais de construção mais exóticos, resistentes e leves, como os polímeros. Em suma, a IMBEL chegou com um bom produto, mas com uma década de atraso.

Vista inferior do ferrolho basculante de um Fuzil FAL e de seu transportador: a peça interna é o ferrolho propriamente dito, estando sua parte frontal, que encosta-se ao culote do cartucho, no lado esquerdo, onde ainda é possível ver a garra extratora de cápsulas deflagradas na parte inferior. Do lado direito pode-se ver a parte traseira do percussor e, envolvendo toda a peça, o transportador do ferrolho, também em aço, tudo contribuindo para os quase 5 kg de peso do FAL
O projeto do MD2 evoluiu por mais uma década para, ao final, resultar numa arma que incorporava uma série de melhorias em relação ao fuzil FAL M964, mas que, com um pouco mais de visão e ousadia, poderia ter sido produzida vinte anos antes e se tornado um sucesso de vendas. E digo “poderia” pois suas “inovações” já estão velhas para nossa época, já que consistem apenas em:
- Funcionamento do mecanismo por tomada de gases, com êmbolo acionando ferrolho de trancamento rotativo (testado e provado em combate desde os anos 40);
- Caixa de culatra em alumínio, a fim de reduzir o peso da arma (testado e provado em combate desde os anos 60); e
- Mecanismo de limitação do fogo automático (“burst” de três disparos), a fim de proporcionar maior economia de munição (testado e provado em combate desde os anos 80).

Fuzil de Assalto PARA-FAL M964 A1 MD1 de fabricação da IMBEL. É similar ao usado pelo CIGS e pela Brigada Pára-quedista, porém com cano mais curto, de 450 mm, ao invés dos 530 mm de cano do PARA-FAL M964 A1 destas Unidades. Um reaproveitamento muito interessante de todos os FAL e PARA-FAL do EB seria a reconstrução/conversão destes para o modelo acima mostrado, que poderia ser mantido em estoque para os reservistas e distribuído aos Tiros de Guerra: uma excelente arma para combate urbano de resistência.
Portanto, chegamos ao final dos anos 90 e início do século 21 com uma arma que é o amalgama de tecnologias que já deveriam ter sido incorporadas no projeto na década de 80, quando a indústria bélica nacional era forte e com renome, além de ter todo o apoio governamental. Mas talvez o tradicionalismo e o ceticismo, que por vezes são os responsáveis por uma miopia fatal no mundo dos negócios e, cada vez mais, no mundo militar, não permitiram a ousadia necessária ao sucesso empresarial da nossa estatal.
Mas o que temos como produto final é um Fuzil de Assalto com cinco variantes, a saber:
MD97L

De cima para baixo: Fuzil de Assalto MD97LM e Fuzil de Assalto MD97L. Note que o Fuzil MD97L está utilizando uma alça de mira de duas posições em “L” do PARA-FAL, sendo que o normal é a alça de mira deslizante de cinco posições do FAL.
É um Fuzil de Assalto de configuração tradicional, com sistema de funcionamento por tomada de gases através de um evento próximo à extremidade do cano, o qual direciona o fluxo de gases para o acionamento de um pistão, que por sua vez vai movimentar o transportador do ferrolho, o qual é do tipo rotativo, com múltiplos ressaltos de trancamento. O regulador de fluxo de gases, presente no FAL M964, foi eliminado. Possui seletor de tiro do lado esquerdo, servindo apenas aos atiradores destros, se bem que na LAAD2001 pude observar um exemplar que possuía seletor de tiro ambidestro, o qual sumiu de cena misteriosamente. Seu seletor de tiro possui as posições Segurança, Semi-Automático, “Burst” de três disparos e Fogo Automático, numa enorme volta de 180º que exige dedos do “Homem-Elástico” para ser convenientemente operado. No caso de um atirador destro, o retém de carregador pode ser acionado pelo dedo indicador da mão que empunha a arma, caso este atirador seja o já mencionado “Homem-Elástico”. Caso você não o seja, você pode deslocar a mão de empunhadura para a direita e tentar alcançar o retém, que é bem mais duro que o do M-16, ou fazer como um atirador canhoto e utilizar o retém auxiliar em formato de lingüeta que se situa na parte posterior do alojamento do carregador, logo à frente do guarda-mato. Não há retém do ferrolho. A coronha é do tipo dobrável, idêntica à do PARA-FAL. Aliás, há um grande reaproveitamento de peças, tais como guarda-mãos, empunhadura, miras, conjunto de gatilho, entre outras, visando a economia no projeto. O sistema de abertura da caixa de culatra para manutenção é idêntico o do FAL, com ponto de articulação entre o guarda-mato e o alojamento do carregador, o que é a maior falha de projeto, responsável por inviabilizar o uso de controles de seleção de tiro e segurança, liberação de carregador e ferrolho mais ergonômicos, disposição esta que foi abandonada pela própria fabricante original do FAL, a FN Herstal, já no fuzil que o substituiu, o FNC, que passou a utilizar o ponto de articulação à frente do carregador, como no M-16, disposição esta que ainda tem o condão de tornar a arma extremamente modular, permitindo com o intercâmbio das metades superior e inferior e fácil troca de calibres, por exemplo, característica esta que foi mantida em seu mais recente projeto, o Fuzil de Assalto FN SCAR, que por esta qualidade, entre outras, ganhou um contrato do USSOCOM, que em termos de número de unidades encomendadas já seria equivalente ao necessário para armar todo o Exército Brasileiro. O MD97L possui a alça de mira do FAL M964, do tipo rampa deslizante, com as posições 200, 300, 400, 500 e 600m, sendo regulável no plano horizontal com o auxílio de uma chave de fenda. A massa de mira também é a mesma de seu irmão mais velho, regulável em altura.
O fuzil mede 990 mm com a coronha estendida e 770 mm com a coronha dobrada, possuindo um cano com 430 mm. Pesa 3,6 kg vazio e sem carregador, podendo utilizar qualquer carregador padrão STANAG, sendo o mais comum aquele em alumínio, com capacidade de 30 cartuchos, o qual municiado pesa 0,45 kg (munição SS109).
MD97F
É a mesma arma, porém com coronha fixa, idêntica à do FAL M964. Mede 990 mm, sendo as demais características as mesmas, inclusive o peso.
MD97LM
É praticamente a mesma arma que o MD97L, a diferença residindo em um cano com comprimento menor, de 330 mm, o que traz as medidas da arma para 850 mm com a coronha estendida e 600 mm com a coronha dobrada, e o peso para 3,3 kg, vazia. Possui a alça de mira do PARA-FAL, ajustável em duas posições, com formato em “L”.
MD97LC

De cima para baixo: Fuzil de Assalto MD97LF e Fuzil de Assalto MD97LC.
Igual ao modelo MD97LM, porém com seletor de tiro com apenas duas posições: Segurança e Semi-Automático.
MD97LF
Igual ao modelo MD97LC, porém com a coronha fixa do FAL, que mantém seu comprimento total em 850 mm.
Possibilidade de Modernização/Atualização do Projeto
É possível tentarmos melhorar o Fuzil de Assalto MD97, nos moldes daquilo que foi feito com as armas da família AR-15/M-16. Algumas mudanças simples no projeto podem tornar este fuzil uma arma mais adequada, o que, somado à incorporação de alguns acessórios, tornam-no mais apto ao combate moderno.

Até o FAL pode ser modernizado: na foto um Fuzil de Assalto PARA-FAL M964 A1 MD1 com guarda-mão em alumínio com trilhos de acessórios “Picatinny”, nos quais se encontram afixados defletores de calor em polímero; e cobertura deslizante da caixa da culatra também com trilho “Picatinny”, onde se encontra afixada uma mira ótica de ponto vermelho Aimpoint CompM2. (Foto: www.military-morons.com)
No tocante às mudanças de projeto, um novo desenho do eixo do seletor de tiro, com os entalhes correspondentes aos regimes de fogo mais próximos uns dos outros, pode reduzir a volta completa de 180º para algo em torno de 90º. Um entalhe quadrado na parte final do eixo do seletor de tiro pode encaixar-se numa capa correspondente e oposta no lado direito da arma, com formato igual ao do botão seletor de tiro do lado oposto, sendo esta capa mantida em seu lugar através de uma chapa de aço estampada articulada idêntica à que mantém o seletor de tiro original fixo em seu lugar, só que no lado oposto, tornando assim o seletor de tiro ambidestro. O botão retém do carregador teria o desenho em forma de gota, com sua extremidade alongada para trás, facilitando o manuseio com o dedo indicador da mão que empunha a arma. Para o atirador canhoto, um botão correspondente no lado esquerdo da arma, com acionamento do ressalto de travamento do carregador através de um mecanismo similar a uma gangorra, do mesmo modo em que é feito com os botões retém de carregador ambidestros vendidos no mercado americano para o Fuzil de Assalto M-16, que possui mecanismo idêntico. Com a adoção deste retém de carregador ambidestro, não há mais a necessidade do retém de carregador auxiliar em formato de lingüeta que se situa atrás do alojamento do carregador. Ele pode então ser suprimido e substituído por um botão retém do ferrolho, na mesma posição, permitindo a liberação do ferrolho após o remuniciamento, de forma ambidestra. Com todas estas modificações, a arma torna-se muito mais ergonômica, dando muito maior velocidade no acionamento dos controles e no remuniciamento, ficando par e passo com um G36KV ou um XM-8 em termos de agilidade de operação.

Outro Fuzil de Assalto PARA-FAL M964 A1, com guarda-mão e cobertura da caixa da culatra em alumínio e dotados de trilhos de acessórios “Picatinny”. Note a alavanca de manejo do ferrolho dobrável, como a do MD97, o seletor de tiro alongado, para facilitar o manuseio, e o quebra-chamas modificado, para servir como redutor de recuo. A pintura verde é para facilitar a camuflagem e reduzir o contraste quando observado por Óculos de Visão Noturna.
No tocante aos acessórios, um jogo de miras de trítio para tiro em baixa visibilidade tornaria a arma mais versátil. Uma empunhadura com encaixe de dedos permitiria uma melhor retenção da arma com as mãos molhadas, suadas, sujas ou com o emprego de luvas, sejam estas as de escalada, as das vestes QBN ou simples luvas táticas. Uma empunhadura vertical na parte inferior do guarda-mão deixaria a arma muito mais ágil para combates em ambientes confinados e na selva, além de melhorar a retenção.

Jogo de miras com pontos de trítio para o Fuzil de Assalto MD97, de fabricação da DAS Arms. Elas são disponíveis na versão deslizante (à esquerda), para o MD97L, e de duas posições (à direita), para o MD97LM.

À extrema esquerda: empunhadura de grande atrito com encaixe dos dedos para o FAL/MD97. Já as outras três da direita são empunhadura frontais verticais adaptáveis ao trilho de acessórios “Picatinny”.
Um guarda-mão frontal em alumínio, com grandes orifícios de ventilação para dissipar o calor de disparos contínuos e trilhos do tipo “Picatinny” nas posições 0, 90, 180 e 270º, deixaria o fuzil apto a receber não só a empunhadura frontal vertical na posição 180º, como também toda gama de acessórios imaginável para este tipo de arma, tais como: lunetas de tiro com ampliação de imagem, lunetas com ampliação de luz residual, miras óticas de ponto vermelho e miras mecânicas para lançador de granadas na posição 0º; projetores laser nas freqüências visual ou infravermelho, lanternas, miras de diversos tipos para lançadores de granadas e câmeras para tiro indireto nas posições 90 e 270º; e a já citada empunhadura vertical, além de bipés, lançadores de granadas, espingardas calibre 12, armas não letais e empunhaduras combinadas com lanternas ou projetores laser na posição 180º. Uma tampa deslizante da caixa de culatra com trilho “Picatinny” completa o conjunto, sendo que esta, bem como todos os acessórios mencionados (miras, empunhadura e guarda-mão) são hoje produzidos pela empresa norte-americana DAS Arms para uso nas mais diversas versões do FAL, sendo assim facilmente adaptáveis ao MD97.

Guarda-mão ventilado em alumínio para o Fuzil de Assalto MD97, com trilhos de acessórios “Picatinny” nas posições 0º (em cima), 180º (em baixo), 90º e 270º (nas laterais). À direita: o mesmo guarda-mão instalado no fuzil, com uma empunhadura vertical e um apontador laser acoplados.

Fuzil de Assalto MD97LM equipado trilhos de acessórios “Picatinny”, nos quais se encontram afixados uma mira ótica EO Tech e uma lanterna com empunhadura vertical integrada Surefire M910A.
Conclusão sobre Fuzis de Assalto e o Cenário Brasileiro
Ao observarmos o cenário brasileiro, de total carência de verbas para as Forças Armadas, chegamos à conclusão que a substituição dos Fuzis FAL M964 e PARA-FAL M964 A1 pelos MD97L e MD97LM é um salto qualitativo enorme. De fato, caso incorpore os aperfeiçoamentos sugeridos, o MD97 se torna um fuzil que, em termos puramente práticos, deixa pouco a desejar em relação a um Heckler & Koch G36 ou um XM-8: as vantagens dos dois últimos resumem-se ao menor peso e à maior facilidade de manutenção e conservação, ambos resultantes unicamente do predominante emprego de polímeros na construção destas armas. Com relação a um M-16 A3/A4 ou a um M-4, considero o MD97 superior, devido ao fato de todos usarem os mesmos materiais e princípios construtivos, terem aproximadamente o mesmo peso e os mesmos recursos, o que faz sobressair a vantagem do nosso fuzil, que possui um mais confiável sistema de funcionamento, o qual não lança gases e detritos no interior da caixa de culatra.

Fuzil de Assalto AK-101 equipado com quase todos os acessórios que se incluem no preço de produção mencionado: bandoleira ajustável em náilon, faca-baioneta multifuncional com isolamento elétrico para corte de cercas eletrificadas e kit de limpeza. Não aparece na foto, mas se inclui no pacote, quatro carregadores sobressalentes de 30 cartuchos.
Do exposto, temos que, caso o problema seja unicamente substituir o FAL, colocando em serviço um fuzil mais leve, confiável e barato, estamos bem servidos com o MD97, se bem que é possível ainda economizar por volta de US$ 100,00 (cem dólares) por arma, caso optemos pela produção sob licença do fuzil Kalashnikov AK-101, em calibre 5,56x45mm OTAN, no lugar do MD97, e sua versão compacta, o AK-102, no lugar do MD97LM. É uma arma até mais leve, confiável e robusta do que nosso fuzil IMBEL, sendo também mais barato, com preço na faixa de US$ 360,00 para produção sob licença. Só deixa a desejar no quesito ergonomia.

Fuzil de Assalto AK-102, versão compacta do AK-101, também acompanhado de seus acessórios, sendo que esta arma não utiliza faca-baioneta.
Do ponto de vista puramente econômico, fica claro que a produção do Fuzil de Assalto russo é bem mais vantajosa, na medida em que, num contrato para 150 mil armas, pode-se economizar por volta de 15 milhões de dólares. Torna-se ainda mais atrativo quando chegamos à conclusão que as chances de sucesso comercial, no mercado internacional, do Fuzil de Assalto MD97 são, na melhor das hipóteses, muito próximas de zero. Senão vejamos: a empresa Heckler und Koch abriu, no ano de 2004, uma unidade fabril em território norte-americano, onde produz, entre diversos outros produtos, a família de fuzis G36 e a nova família de fuzis HK416. Esta última trata-se de uma versão melhorada da família M-16 que, ao invés de utilizar o sistema de funcionamento por tomada de gases com ação direta sobre o ferrolho, tradicional da arma estadunidense, passou a utilizar o sistema de funcionamento por tomada de gases com ação sobre êmbolo, idêntico ao do Fuzil de Assalto G36, resolvendo assim o maior, e talvez único, problema da arma inventada por Eugene Stoner. Com isso a empresa oferece dois excelentes Fuzis de Assalto, com uma enorme variedade de versões, sendo que o HK416 pode ser adquirido com cano de 20 polegadas de comprimento, equivalendo ao M-16 A3/A4, com cano de 16 polegadas, equivalendo à versão “Carbine”, com cano de 14,5 polegadas, equivalendo aos M-4 e M-4 A1, e com cano de 10 polegadas, equivalendo à versão “Commando”, muito utilizada pelas Polícias Militar e Civil do Estado do Rio de Janeiro. Estas armas podem ser adquiridas com financiamento do “Foreing Military Sales” (FMS), que propositadamente torna a aquisição extremamente vantajosa, visando desencorajar a produção de armas por parte de outros países. É um mecanismo tão eficiente que, quando no ano de 2003 o Exército Israelense resolveu finalmente adotar o Fuzil de Assalto TAVOR, de fabricação local pela IMI, hoje IWI, em substituição aos M-4 fornecidos pelos EUA, que estavam tendo problemas com a fina areia do deserto, decidiram-se por montar uma linha de produção em território norte-americano, para que eles próprios (os israelenses) pudessem comprar suas armas fabricadas por lá, o que saía muito mais em conta.

Fuzil de Assalto HK416, o qual já vem de fábrica equipado com trilhos de acessórios “Picatinny”, nos quais se encontram afixados uma mira ótica Aimpoint CompM e uma empunhadura vertical, além de miras mecânicas reguláveis e dobráveis. Esta é a versão com 14,5 polegadas de cano, equivalente ao Fuzil M-4.
É justamente por isso que digo que as chances de sucesso de vendas no mercado internacional do Fuzil de Assalto MD97 praticamente inexistem: além de ser oferecido um produto de melhor qualidade, com melhores características técnicas e com uma maior presença no mercado internacional, como o H&K G36, ou um produto testado e provado em combate por todo o mundo e no decorrer de décadas, com todos os “bugs” sanados, como o HK416, ambos podem ser adquiridos a “preço de banana’” e “com prestações a perder de vista” através dos créditos do FMS, contando ainda com a agilidade e capacidade de produção do parque industrial americano, que garante entregas substanciais quase que imediatas. E nem tocamos no assunto pressão política...

Fuzil de Assalto HK416 equipado com lançador de granadas H&K AG-C. Esta é a versão com 10 polegadas de cano, equivalente ao Fuzil M-16 “Commando”.
Neste cenário, vemos que a única chance de a IMBEL obter sucesso com vendas internacionais, é no caso de ser oferecido um produto com algo de revolucionário, ou pelo menos com características nitidamente superiores aos seus concorrentes, que tenha um preço similar, confiabilidade e rusticidade comprovados, respaldo de adoção por Forças Armadas mundialmente reconhecidas, maior qualidade de produção, e que atualmente tenha baixa disponibilidade no mercado (pouca oferta). Numa matéria recente propus a produção sob licença do XM-8, porém, com a instalação da filial norte-americana da H&K, e a oferta de bons produtos a baixos preços (G36 e HK416), apoiados pelo financiamento do FMS, isto praticamente inviabiliza a concorrência por parte da IMBEL, mesmo com um produto ligeiramente melhorado, haja vista que o ganho tecnológico, que consistiria única e exclusivamente na produção de armas em polímero, não seria suficiente para alavancar o know-how e dar um salto capaz de superar o próprio XM-8, sem necessariamente cair na categoria de armas como o FN Herstal F2000 ou o IWI TAVOR, bem como a produção no Brasil do Fuzil de Assalto XM-8 não seria capaz de baixar os preços a um ponto em que se tornaria mais vantajoso adquirir as armas aqui, do que a adquiri-las através do sistema de financiamento de compras militares norte-americano.

Fuzil de Assalto F2000 equipado com miras mecânicas reguláveis, além de uma mira ótica C-More, similar à MEPOR 21.
A única possibilidade que vislumbro, no cenário agora formado, para a IMBEL produzir uma arma capaz de atender aos requisitos do Exército Brasileiro, que também seja capaz de atrair a atenção de grandes compradores estrangeiros por ser inovadora e de características únicas, ao mesmo tempo em que é respaldada pela adoção por outras Forças Armadas além da nossa, produzindo-a com reconhecida maior qualidade, dado o conceito que desfruta nosso parque industrial, e preço menor ou igual ao atualmente disponível, seria a produção sob licença do Fuzil de Assalto russo AN-94.

Duas fotos do Fuzil de Assalto russo AN-94, versão de produção para as MVD.
Recentemente houve um aumento na produção deste excelente Fuzil de Assalto, pois além de ser oficialmente adotado pelas Forças Especiais russas, a SPETSNAZ, pelas tropas do Ministério do Interior, a MVD, e por forças policiais de elite daquele país, foi agora adotado como arma padrão do Exército da Bielorrúsia, uma república pertencente à extinta União Soviética. Ocorre que a produção ainda não atingiu o volume necessário para trazer o preço desta arma próximo aos níveis de um AK-74M, que foi e ainda é maciçamente produzido, e, dado a situação econômica que assola a Rússia, pode ser que estes níveis de produção nunca sejam alcançados. Daí dizer que, produzindo esta arma sob licença, com melhorias técnicas, tais como a produção de canos por martelamento a frio com seis raias, ao invés de canos simples de quatro raias, e a conversão para o calibre 5,56x45 OTAN, e outras mudanças cosméticas, mas positivas, como a introdução de um seletor de tiro ambidestro e de trilhos de acessórios “Picatinny”, além do emprego de materiais metálicos e poliméricos de maior qualidade, peças com melhor e mais resistente acabamento, podem tornar esta uma opção extremamente atrativa para várias Forças Armadas que buscam um fuzil moderno e ao mesmo tempo simples, incorporando inovações técnicas não presentes na concorrência, além de grande rusticidade e confiabilidade, estes últimos comprovados agora pelos testes de campo do Exército Russo, que demonstraram ser o AN-94 mais rústico que as próprias armas da legendária família Kalashnikov, possuindo um número de 40 mil disparos entre falhas, enquanto os renomados AK-47, AKM e AK-74 conseguem 30 mil disparos entre falhas, o que, de qualquer forma é muitíssimo superior aos 15 mil disparos entre falhas dos H&K G36, ou ainda dos 3 mil disparos entre falhas da família AR-15/M-16.

Detalhe da caixa de culatra em polímero do Fuzil de Assalto AN-94, e do quebra-chamas/compensador. Tanto o acabamento como os materiais podem ser melhorados com tecnologia nacional.
O moderno Fuzil de Assalto russo já teve seus protótipos nos calibres 5,56x45mm OTAN e 7,62x39mm M43 testados e aprovados, estando prontos para a produção assim que as encomendas surgirem, e, apesar de mais caros que o próprio H&K XM-8, inegavelmente são bem superiores, podendo ter seu preço reduzido e sua qualidade técnica aumentada se produzidos pela IMBEL, num contrato de produção com aquisição de um lote inicial de produção russa, porém com os aperfeiçoamentos por nós determinados, e o envio de técnicos e engenheiros para treinamento na unidade fabril da Izhevsk, os quais, depois de concluído o aprendizado, montariam aqui a produção da arma, exatamente como previsto no acordo recentemente fechado pela Venezuela para a aquisição dos AK-103.

Detalhe do topo da caixa de culatra e da alça de mira de um Fuzil de Assalto AN-94, relativamente novo, tendo sido produzido em 1998, conforme atestam as marcações, deixando claro que a qualidade de produção e o acabamento podem ser melhorados. À direita: detalhe da tampa da caixa de culatra em polímero, uma peça única que se estende por quase todo o comprimento da arma, a qual pode vir a ser produzida com um trilho “Picatinny” integral, já moldado no polímero, permitindo o acoplamento de inúmeros acessórios.
O Fuzil de Assalto é a arma básica do combatente, assumindo tanto uma função primária, quando encontrado na linha de frente, nas mãos do Infante Fuzileiro ou do Combatente de Resistência, quanto secundária, quando afixado em um cabide, dentro de um abrigo onde trabalha um operador de rádio ou de radar, a quilômetros do teatro de operações. Não importa o número de aeronaves, navios, submarinos e carros de combate que constitui o arsenal de um país, pois, no final, é sempre o combatente armado com seu Fuzil de Assalto que irá conquistar e manter o terreno, sedimentando a vitória, tendo isto ficado comprovado em inúmeros conflitos no decorrer da História. Daí a importância de bem selecionar o armamento que pode ser a última linha de defesa de uma nação, juntamente com o soldado que o empunha, tendo as Instituições Militares, como responsáveis e especialistas no assunto, o dever profissional de escolher a melhor arma para armar o cidadão, que pode se ver compelido a assumir o nobre papel de Soldado na defesa de seu País.

Vista da lateral esquerda da caixa de culatra do Fuzil de Assalto AN-94, onde se pode notar o seletor de tiro, que poderia ser reproduzido do outro lado, tornando a arma ambidestra. Vê-se também o trilho para acoplamento de miras óticas de origem soviética.

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