quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

"JEEP STATION WAGON" E FAMILIA - Parte 2


Como vimos na matéria anterior, a entrada da versão Station Sedan trouxe várias melhorias de ordem técnica e de conforto ao veículo. Agora um motor mais poderoso de 6 cilindros fazia o carro mais veloz e mais forte. Os assentos foram melhorados e colocados em posições mais anatômicas, o que dava mais espaço para as pernas dos passageiros. A melhor notícia para o pessoal que tinha de fazer o seu próprio caminho nas regiões mais remotas, foi a tração nas quatro rodas colocada a disposição do público em Julho de 1949. A "tração nas quatro" já existia antes e vinha sendo usada somente nos veículos especialmente encomendados pelo Exército.
Outra modificação foi o uso de feixes de molas convencionais, em lugar da suspenção Planadyne, nos veículos com tração total. Como tudo que existe tem seu lado negativo, os produtos da Willys não eram exceção. Se dirigir uma perua dessas era uma delícia pela leveza e precisão da direção, fazer curvas fechadas era algo um pouco mais difícil, já que o carro tinha uma tendência a perder um pouco o controle. Assim como o vento de lado ou de través, como dizem os pilotos, fazia com que o carro mudasse de lado numa estrada com ou sem a permissão do motorista, os freios, que nunca foram o ponto forte dos jipes da Segunda Guerra, também não eram competentes na perua. As distâncias de frenagem estavam muito aquém de confortáveis e uma boa dose de pressão no pedal de freio era requerida para fazer o serviço. Por outro lado, ela se mantinha em absoluta linha reta mesmo em freadas bruscas e graças à estranha suspenção de Ross ela dificilmente abaixava a frente durante a freada.
Novidades na grade: menos frisos horizontais
Ao longo da sua trajetória, a Wagon, praticamente permaneceu imutável com relação à sua aparência. Quando a Willys passou para o controle da (não é a cerveja) Kaiser-Frazer Corporation, em 1953, nem a proposta e nem a publicidade do carro mudaram. Ela continuava sendo, mais do que nunca apresentada como o carro ideal para a família e serviços genéricos. As poucas coisas alteradas foram os frisos, as opções de cores, a introdução da opção pela pintura "saia e blusa" (uma cor em cima e outra em baixo) e isso sem contar os incomparáveis pneus com enormes faixas brancas que tentavam dar um ar mais luxuoso a esse belo utilitário.

De 1954 a 1955 as Wagons e Furgões foram os carros-chefe da empresa. Em 1954 uma excelente opção, para ambas as linhas, foi a introdução da versão de seis cilindros do motor Hurricane. Esse motor era padrão nos carros de passageiros da Kaiser desde 1947 e, por ter 115 Hps, dava uma margem de força bastante folgada. Outra mudança, de menor importância mas bem visível, foi a redução dos frisos horizontais da grade, de cinco para apenas três. Se foi por mudança de estilo ou por economia nós nunca saberemos, mas pode apostar que isso fazia muita diferença no visual. Outro opcional para a versão 4x4 foi a introdução, também em 1954, da nossa velha conhecida roda-livre da Warn com acionamento manual que permitia engatar ou desengatar as rodas dianteiras dos semi-eixos. Acho que o funcionamento dela já é bem conhecido por todos e dispensa maiores explicações.
 
Algumas versões especiais foram projetadas e construídas para fins bem específicos, como por exemplo, a versão para a Defesa Civil, que tinha tudo, ou quase tudo, que se necessitasse para os casos mais comuns, como um bote na capota, um guincho mecânico na frente, galões extras de combustível e todo um aparato de ferramentas e utensílios de emergência. Outra curiosidade foi um modelo projetado especialmente para as empresas que fazem o transporte de passageiros dos hotéis para os aeroportos e vice-versa.
Versão alongada para uso em aeroportos, uma "pequena Jamanta"
Esta pequena "jamanta" tinha nada menos do que seis portas e três fileiras de bancos. Já pensou que emoção devia ser tentar fazer uma curva, no transito de uma cidade, com um transatlântico desses?
O ano de 1960 trouxe duas coisas. Uma delas foi meramente cosmética, ou seja, o parabrisa das Wagons passou a ser feito em uma peça só e a outra, em minha opinião, muito mais importante: a Jeep Station Wagon passou a ser totalmente produzida no Brasil com o nome de Rural Willys (ela já era montada há dois anos por aqui com componentes importados e com a frente americana). Com a sua frente completamente redesenhada e inspirada no modernismo da nova capital (Brasilia), tornou-se um carro vastamente usado e abusado por aqui. Caso você, até hoje, não tenha notado a semelhança, olhe de cabeça para baixo a frente de uma Rural e você notará a extrema semelhança dela com a estrutura que faz a frente do Palácio da Alvorada.
Veja a semelhança entre a grade frontal e o design do Palacio da Alvorada
A Rural no Brasil, excetuando-se a frente, era exatamente uma cópia do modelo americano que estava em produção desde 46 e permaneceu assim até os últimos dias de sua produção. A única modificação de maior importância ocorrida durante a sua fabricação por aqui foi a mudança do seu motor, o velho e confiável BF-161 de seis cilindros, pelo modelo OHC de quatro cilindros em 1976. Dois anos depois ela seria tirada de linha.

Furgão 
No começo de 1947, uma nova versão visando o mercado profissional foi oferecida. Era o Sedan Delivery ou, como nós o chamamos por aqui, um furgão.
"Sedan Delivery" tão simples que só tinha o banco do motorista
 
Na nova versão, a modificação foi apenas na grade.Continuava simples.
Ele usava a mesma carroceria e chassis da Wagon, só que não tinha janelas, a tampa traseira fora substituída por duas portas que se abriam para os lados e tinha apenas o banco do motorista. Se a Wagon era considerada uma versão simples, o furgão conseguiu ser mais simples ainda já que não tinha sequer os painéis de revestimento interno.

A nova cara
O ano de 1950 trouxe um novo estilo de grade para toda a linha de veículos. Ela estava agora angulada e com cinco frisos cromados, em posição horizontal, dividindo por igual as nove colunas verticais; a primeira mudança de linha desde que a primeira Station Wagon foi apresentada em 1946. 
Protótipo de 1946 ainda com  a grade semelhante ao Jeep militar
Versão luxo da Wagon, com nova pintura e assentos de vinil (1952)
Nova grade e parabrisa numa única peça
Os paralamas também estavam um pouco mais largos e com uma configuração meio pontiaguda na parte dianteira. Algo que hoje, pelos padrões de segurança, seria um perigo em potencial para os pedestres, mas naquela época ninguém pensava muito nesses termos. Havia ainda um pequeno enfeite, também cromado, no topo do capô. Essas mudanças eram na realidade muito pequenas, mas acrescentaram um toque atraente ao veículo, para a época. A Station Sedan que nunca foi uma campeã de vendas foi eliminada nesse ano. No meio do ano a Willys tirou de linha o antigo motor com comando de válvulas lateral e colocou a disposição do público o novo modelo de quatro cilindros com o comando de válvulas em cima, ou como passou a ser conhecido, o motor Hurricane.
Isso veio como uma dose de vitaminas tanto para o desempenho dos carros como também para as vendas, que aumentaram sensivelmente naquele ano. Um fato bastante interessante foi o de que a linha de jipes só recebeu esse motor em 53 na versão que conhecemos como cara de cavalo.

Pick-up
A imagem que o jeep sempre projetou de "pau para toda obra" e de robustez fez com que houvesse a expectativa, por parte do público em geral, de que a Willys comercializasse um caminhão leve logo que a guerra terminasse e foi exatamente isso que aconteceu em 1946. Caminhões leves não eram algo estranho para a Willys que tinha uma longa história de participação no mercado de veículos comerciais. Em 1910 ela tinha dois modelos de caminhões de entrega montados sobre o chassi do carro Overland de passageiros. Em 1912, John North Willys assumiu o controle da Gramm Motor Truck Company da cidade de Lima, Ohio e da Garford Automobile Company de Elyria também de Ohio, produtoras de caminhões de uma tonelada e acima disso. A história da trajetória da fábrica e de John North Willys eu conto numa outra vez. Voltando ao que interessa, a pick-up Willys foi o primeiro veículo comercial especialmente para carga a ser lançado com a frente das Wagons em 1946.
Era construído na plataforma de 104 polegadas entre eixos da Wagon e tinha uma capacidade de carga de 500 quilos. Usava a mesma configuração de frente e cabine das Wagons e uma caçamba com os paralamas externos e, assim como a Wagon, a pick-up usava o mesmo motor que equipou toda a linha até o surgimento do Hurricane.
Em 1947 uma nova versão mais robusta e mais longa foi introduzida e a capacidade de carga foi aumentada para uma tonelada. Ela era oferecida nas formas de pick-up, chassis com cabine ou apenas chassis.
Na próxima matéria veremos toda a trajetória da pick-up, lá e aqui, e como surgiu o primeiro esportivo da linha Willys, o Jeepster, e sua raríssima derivação brasileira, o Saci. Até lá e mantenham os jipes rodando.

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