Capa do folheto de apresentação do BOB CAT à imprensa |
Pergunta: Qual a semelhança entre uma pessoa que está numa clínica de emagrecimento e um projetista de veículos militares?
Resposta: Os dois têm problemas com excesso de pêso.
Pode parecer engraçado, mas esse sempre foi e é ainda o maior problema enfrentado pelos projetistas de veículos militares. A necessidade de máquinas mais leves e ágeis, para serem mais facilmente transportadas de um teatro de operações para outro, sempre foi a causa das maiores dores de cabeça para o pessoal dos departamentos de projetos das fábricas. Esse tipo de preocupação não era sentido somente pelo pessoal que projetava e construía veículos sobre rodas, mas também pelos projetistas de veículos de combate mais pesados, como os tanques, mas isso é outro assunto que abordaremos numa outra oportunidade.
O fato é que havia, como sempre houve, a necessidade de um veículo leve e ágil, não para substituir o Jeep, mas para complementar o equipamento que deveria ser usado em operações aerotransportadas.
Em 1953, a Willys iniciou um projeto para a construção do protótipo de um veículo de transporte ultraleve, baseado nas atuais versões do Jeep Militar do pós guerra, ou seja, o M-38 e M-38A1.
O M-38 era a versão militar do Jeep agrícola CJ-2B. E o M-38A1, que era seu substituto, viria a ser conhecido depois de alguns anos como CJ-5 na sua versão civil.
Vale ressaltar que o M-38 tinha um peso líquido de aproximadamente 1.180 Kgs e o M-38A1 de 1.215 Kgs. O peso do BOB CAT era de 675 Kgs.
BOB CAT é uma espécie de gato selvagem americano, de porte pequeno, rabo bem curto e muito ágil. Um parente menor, mas tão agressivo quanto a pantera que habita as paragens lá do hemisfério norte. Sendo o veículo em desenvolvimento nada mais do que uma versão menor e bem mais ágil que o veículo padrão, os engenheiros acharam que a associação com o nome do gato selvagem seria uma comparação bem interessante e deveria despertar o interesse ou já preparar os futuros compradores militares para algumas surpresas em relação ao melhor desempenho.
Quando o primeiro protótipo ficou pronto, não houve dúvidas com relação à sua resistência. Os duros testes pelos quais passou na fábrica em Toledo e depois outros, mais duros ainda que foram feitos pelos Fuzileiros Navais em Quântico, provaram que apesar de bem menor e mais leve ele continuava tão resistente quanto seu irmão maior.
Durante os testes, algo interessante aconteceu: alguém, que não se sabe bem quem foi, durante um teste onde a imprensa estava presente, comentando para os repórteres sobre as qualidades do novo carro, se referiu a ele com um nome que não era o que a fábrica havia escolhido, mas que tinha mais a ver com o tipo de emprego que ele teria. Esse indivíduo em questão o chamou de AERO JEEP, ou seja, um Jeep para ser aerotransportado. O mais interessante é que esse apelido não oficial pegou na mídia e ele ficou conhecido exatamente mais pelo apelido do que pelo nome que a fábrica quis batizá-lo. Isso lembra um pouco as dúvidas sobre de onde o nome Jeep havia surgido, não é mesmo?
Vamos ver como eles resolveram, ou tentaram resolver os "pepinos" que apareceram:
Para começar, vamos ver qual era a idéia geral que o pessoal da engenharia tinha desse novo veículo. Como um carro de comando ele carregava dois passageiros na frente e dois nos paralamas traseiros. Como carro maca, podia carregar uma maca num dispositivo especial colocado logo abaixo do painel, onde seria o porta-luvas de um Jeep normal.
Poderia desempenhar a função de carro de reboque com o acréscimo de um engate na traseira, e como transporte de armas, se uma tampa traseira fosse colocada e feixes de molas mais fortes fossem instalados.
De modo a construir uma unidade com, no máximo, 100 polegadas (2,54 mts), o motor (o mesmo L-134 do M-38) foi movido para frente e necessariamente inclinado para manter livre o movimento do diferencial dianteiro. Isso ocasionou uma série de complicações como, por exemplo, a necessidade de inclinar o motor lateralmente para manter o espaço para a barra de direção. A caixa de câmbio, por sua vez, também teve de ser deslocada para acompanhar o conjunto todo e a travessa de sustentação também teve de ser reposicionada.
Como o projeto do BOB CAT visava uma diminuição brutal de pêso, componentes similares feitos em liga de alumínio foram muito utilizados. Um cuidado muito especial foi tomado para que se houvesse uma intercambialidade total com os componentes existentes em aço. Ou seja, caso houvesse uma falta de peças em liga leve, qualquer peça em aço que estivesse disponível nos depósitos militares poderia ser usada em seu lugar. Isso evitaria que o veículo parasse por falta de peças de manutenção e acarretaria apenas um pequeno aumento no peso.
Como eu havia comentado anteriormente, a idéia era manter o máximo possível de peças padronizadas com os carros M-38 e M-38A1, mas algumas tiveram de ser criadas especialmente para novo veículo, visto que algumas mudanças básicas haviam ocorrido:
- O chassi, baseado no modelo do MB da II Guerra, que era duplo, por isso mais resistente, foi usado e encurtado no comprimento e diminuído no número de travessas.
- A caixa de direção foi refeita e os braços modificados para diminuir o pêso. Um novo braço pitman também foi fabricado.
- Os amortecedores telescópicos foram mantidos do mesmo tipo, mas com uma calibragem mais leve.
- As molas semi-elípticas foram reduzidas para quatro em cada feixe, que, aliás, eram iguais.
- Os eixos-cardã foram mantidos iguais aos do modelo em uso nos Jeeps militares, só que de menor comprimento.
- O silencioso e o tubo de descarga foram feitos em alumínio e redimensionados para serem alojados embaixo do assoalho central.
Devido ao reposicionamento do radiador, os faróis convencionais não cabiam no espaço disponível sendo substituídos por modelos menores que eram usados no MB e adaptados para receber a lâmpada de 24 volts.
Outra solução bastante engenhosa foi encontrada para o parabrisa, que não era mais rebatível e sim destacável facilitando a sua remoção e acondicionamento na parte traseira da carroceria.
Agora vocês devem estar achando que alguém "pisou na bola", pois o parabrisa ocupa um tremendo lugar se for colocado na parte de trás, mas existe um pequeno detalhe que talvez algum de vocês, tendo olhado com atenção as fotos, tenha notado: o parabrisa é de plástico transparente, removível, dobrável e facilmente armazenado debaixo do banco sendo que a armação se encaixa por dentro da parte de carga da carroceria.
O painel de instrumentos foi totalmente suprimido, mas um espaço foi deixado caso houvesse necessidade de instalar um painel padrão.
Dos comandos elétricos existentes, apenas a chave de controle de luzes o botão de partida e a chave geral foram mantidos.
Algumas das soluções para diminuir peso, às vezes, podem chegar a parecer coisa de louco, pois uma das coisas que foi retirada do carro foram as panelas do freio traseiro, ou seja, ele só freava na frente. Uma das outras partes que foi simplesmente suprimida, foi a alavanca de engate da tração nas quatro rodas e juntamente com ela o filtro de óleo, o filtro de ar e uma série de pequenas peças que ficavam no compartimento do motor.
Deu para notar que as mudanças foram muitas e descrever todas elas iria se tornar maçante. Como eu não quero chatear vocês com um monte de dados técnicos, vou parar por aqui esperando que mais esta etapa da vida do nosso amigo Jeep tenha satisfeito sua curiosidade.
Mantenham eles rodando.
FICHA TÉCNICA PARCIAL
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Peso líquido: 675 Kgs
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Capacidade de carga: 236 Kgs
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Bitola: 1,25 Mts
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Comprimento total: 2,54 Mts
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Largura total: 1,52 Mts
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Altura do chão ao topo do volante: 1,37 Mts
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Autonomia: 320,8 Km
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Velocidade máxima: 112,2 Km/h
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Pneus: 7.00 x 15 Militar não direcional
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Sistema elétrico: 24 volts
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Capacidade de combustível: 34,11 Litros
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Ângulos de entrada e saída: 85º
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