A Aircraft Manufacturing Co. Vultee Division, foi fundada em 1932 nos Estados Unidos pelo projetista Gerard F. Vultee, um jovem engenheiro que já havia trabalhado com Jonh Nortrhop no desenvolvimento do Lockheed Vega, e agora decidira seguir seu próprio rumo. Com um projeto próprio denominado Vultee V-1 que tinha como foco inicial o transporte executivo, tratava-se de um veloz monoplano, monomotor, todo metálico, com capacidade para transportar até oito passageiros. Apesar de ser extremamente promissor e ter inclusive registrado recorde de velocidade e autonomia apenas 27 exemplares foram comercializados no mercado civil americano, durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), vários Vultee V-1 foram contrabandeados e empregados no conflito pelos dois lados, apresentando uma nova faceta para qual o modelo nunca fora pensado inicialmente.
Visando o mercado de exportação a versão militar designada Vultee V-11 teve seu desenvolvimento a partir de 1935 e compreendia uma aeronave de ataque com tripulantes equipada Wrigth Cyclone SR 1830-F53, de 750hp, que conservava as excelentes características de desempenhos vistas no modelo civil V-1. Basicamente o novo Vultee V-11 empregava o motor, estrutura das asas e o trem de pouso de seu antecessor, sendo as demais partes desenvolvidas para a nova aeronave, tinha como principal missão ataque leve, bombardeio de mergulho (picado) e treinamento avançado.
O primeiro protótipo realizou seu voo inaugural em 17 de setembro de 1935, empreendendo um voo de Los Angeles até Glendale. Porém o início da campanha de ensaios em voo não foi exatamente auspicioso, visto que esta aeronave se acidentou, com perda total, no dia seguinte quando sofreu uma pane no motor durante a decolagem. Apesar deste contratempo o segundo protótipo foi concluído em 03 de outubro do mesmo ano e incorporava alguns aperfeiçoamentos, como hélice tripa e a capacidade de portar uma metralhadora MG40 calibre .30 em uma gondola, alocada na fuselagem inferior da aeronave. Desta vez a campanha de ensaios ocorreu tranquilamente definindo o projeto final com mais alguns aperfeiçoamentos permitindo assim a empresa a iniciar uma agressiva campanha comercial de exportação junto a nações amigas a partir de meados de 1936.
Este investimento inicial não tardou a render bons resultados, com o primeiro contrato de exportação de 30 unidades celebrado com a China no mesmo ano, sendo seguidos por mais dois contratos sendo um para a Turquia com 41 aviões e outro para a União Soviética, e neste último caso , além de quatro células adquiridas diretamente da Vultee Division, foi cedida a licença para a fabricação do avião e seu motor, tendo sido fabricados 32 unidades do V-11GB sob a designação local de BSh-1, também seria posteriormente fabricado sob licença pela empresa CAMCO na China em uma nova versão de ataque recebeu a designação de V-12D, na sequencia o modelo também seria exportado para o Brasil em 1938.
Infelizmente o modelo não foi bem aceito pelas forças armadas em seu pais de origem, pois neste mesmo período a Marinha Americana que poderia ser um dos maiores usuários já estava iniciando o emprego de bombardeios de mergulho e picado com melhor desempenho, entre eles o Douglas TBD Devastador, a Aviação do Exército Americano chegou a adquirir 7 células para a avaliação. Ao todo foram produzidos até fins de 1940 um total de 225 unidades sendo divididos em 12 versões distintas.
Emprego no Brasil.
No final da década de 1930, a Aviação Militar do Exército Brasileiro necessitava de uma aeronave de médio porte para a realização de missões de ataque e de bombardeio de precisão (picado), para substituir antigos biplanos Vought V-65B Corsair e Boeing 256 e 267 que eram o esteio de sua força nestas tarefas e se encontravam muito defasados tecnologicamente devido aos grandes avanços ocorridos durante esta década. Após extensa avaliação e mediante a uma apresentação realizada no Brasil do modelo pelo fabricante em abril de 1937, a Diretoria de Aviação Militar do Exército decidiu pela escolha do modelo da Vultee / AMC, celebrando assim um contrato no valor de 1,4 milhões de dólares para a aquisição de 20 células do V-11GB2, peças de reposição, treinamento de pilotos e mecânicos e documentação.
De acordo com o contrato original as aeronaves seriam entregues com o motor Wrigth Cyclone R-1820-G2 com 850 HP sendo superior a versão anterior, também seriam equipadas com duas metralhadoras Colt MG53 de calibre .50 e duas metralhadoras Colt MG40 de calibre .30 instaladas nas asas, ao contrário das quatro metralhadoras .30 previstas nas demais versões. Ademais também iriam dispor de duas metralhadoras móveis Colt MG40, sendo uma dorsal e outra ventral, complemente seu pacote de armas, seu bomb bay complementado por seis pontos duros subalares poderia portar uma carga ofensiva de até 1.681 kg que seria composta por bombas de demolição de 45 a 500 kg e bombas químicas de 45 kg produzidas pela empresa americana Lake Erie Chimical Co.Para as missões de bombardeio vertical contava com o visor de mira Stoppey D-48 que podia ser complementado com uma câmera vertical Fairchild K3B, para missões de reconhecimento ou documentação fotográfica dos ataques. As primeiras aeronaves foram trazidas ao Brasil por via naval, sendo montadas no hangar da Panair do Brasil, localizado no Aeroporto Santos Dumont (Rio de Janeiro), sendo os restantes montados no Parque Central da Aeronáutica, que os entregou e, 5 de junho de 1939. O V-11GB2 receberam as matriculas seriais 105 a 129, sendo esta sistemática mantida durante toda a sua operação no Exército Brasileiro até 1941.Assim que foram incorporadas, as aeronaves foram destinadas ao 1º Regimento de Aviação (1ºRAv), sendo lotadas no Grupo de Bombardeio, que tinha como emblema um jacaré estilizado montado em uma bomba, com os primeiros voos operacionais ocorrendo na primeira semana de novembro de 1938. Em setembro de 1939 três unidades foram transferidas ao 3º Regimento de Aviação (3ºRAv), sediado em Porto Alegre (RS). A Escola de Aviação Militar (EAvM) sediada no Campo dos Afonsos, recebeu em 13 de abril de 1939 três V-11 com a finalidade de adestrar os instrutores e cadetes do último ano.
As alterações solicitadas ao fabricante pela Diretoria de Aviação Militar do Exército, fizeram com que os V-11GB2 apresentassem um desempenho ligeiramente inferior aos V-11GB em termos de velocidade máxima, razão de subida e teto operacional, porém apresentavam um alcance significativamente maior o que pode ser aferido em um dos feitos mais marcantes na aviação militar brasileira, sendo responsável pelo estabelecimento do recorde de permanência no ar e distância ao completar um voo sem escalas com duração de 11:45 horas no trecho compreendido entre Fortaleza e Porto Alegre em 8 de julho de 1939. Este perfil de operação encorajou o DAvM a aumentar a quantidade de aeronaves, agregando mais cinco unidades ao contrato original, sendo estas configuradas com duplo comandos para as tarefas de instrução. Além disso o fabricante desenvolveu uma versão com flutuadores denominada V-11GB2F a qual se destinava a uma possível compra por parte da aviação naval, com a construção de um protótipo que acabou posteriormente incorporado a Aviação do Exército.
Com a criação da Força Aérea Brasileira em 27 de janeiro de 1941, as 23 células remanescentes foram incorporadas ao acervo desta nova força, mantendo temporariamente suas marcações originais da Aviação Militar, sendo assim aplicadas as novas marcações incluindo a adoção de matriculas seriais de 4 dígitos. As necessidades de incremento de missões de patrulhamento no litoral nordestino obrigaram o deslocamento de seis V-11GB2 do 1ºRAv para Recife, onde foram empregados nesta tarefa de outubro de 1941 a maio de 1942, quando foram substituídos por aeronaves especializadas para este tipo de missão. Apesar do grande número de horas voadas em missões de patrulhamento do litoral brasileiro durante a guerra não existem registros oficiais que indiquem o ataque de algum aparelho deste modelo a submarinos alemães. Em 17 de abril de 1945, foram transferidos três aviões do 1ºRAv para o 3ºRAv, com o objetivo de reforçar as atividades de patrulhamento no litoral sul do Brasil. Ao término do conflito as 16 aeronaves restantes, foram transferidas ao 1º Grupo de Bombardeio Picado (1ºGBPi) sediado na Base Aérea de Santa Cruz, nesta fase a disponibilidade das células estava muito reduzida, poia a maioria das aeronaves necessitava de uma revisão geral no Parque de Aeronáutica de São Paulo (PASP, para onde foram transferidos em de 7 de outubro de 1947, sendo a maior parte delas condenada e descarregada por não ser recomendável sua recuperação. Somente dois aviões, que estavam em melhores condições (FAB 5005 e FAB 5009), foram destinados para o destacamento da Base Aérea de Curitiba em 24 de março de 1949 para o emprego em missões de transporte e adestramento, sendo estas duas aeronaves desativadas da FAB em 8 de março de 1950.
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