terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Nieuports Delage NiD 72C1

História e Desenvolvimento. 

Nas duas décadas que se seguiram ao fim da Primeira Guerra Mundial, a indústria aeronáutica francesa foi prodiga no desenvolvimento de aviões de caça, e dentre os fabricantes destacamos a Societé A Nieuport-Delage Issy Les que se especializou este segmento com aeronaves resistentes e de concepção inovadora para aquele período. O rápido desenvolvimento tecnológico neste período relegava a obsolescência rapidamente as aeronaves postas em serviço, gerando assim a necessidade da produção de novos aviões. Atendendo a esta demanda em 1922 a Aéronautique Militaire (Aeronáutica Militar Francesa) emitiu especificações para o desenvolvimento de um novo caça monoposto de composição mista (ligas de metal, madeira e tela), a principal finalidade deste processo era a substituição de três centenas de caças Nieuport-Delage 29C1 que estavam em serviço desde o final do conflito.

Às todas onze empresas apresentam suas propostas, entre estes estava o Nieuport-Delage NiD 42C1 que era uma aeronave sesquiplano de alta velocidade, porém que alterações nas especificações originais demandadas pela Aéronautique Militaire e problemas de desenvolvimento atrasaram todo o processo, e somente em dezembro de 1927 foi declarado que o modelo NiD 42C1 fora o vencedor. Em janeiro do ano seguinte foi celebrado o contrato para a produção inicial de 30 células, porém a produção foi assim limitada, pois a demora ocorrida entre o desenvolvimento e a entrega da primeira aeronave não permitiu a incorporação de avanços tecnológicos que haviam sido registrados neste período, o que relegaria este caça a obsolescência de imediato. Assim a Aéronautique Militaire resolveu reabrir o processo dando mais tempo as empresas para a apresentação de novos projetos.
A Nieuport-Delage apresentou dois projetos distintos, ambos derivados do NiD 42C1, o primeiro  foi designado como NiD 52C1 e estava equipado com um motor V-12 Hispano Suiza 12H com 500hp de potência e dispunha das estruturas totalmente construídas em duralumínio com fuselagem monocoque, recobertas com lona, seu primeiro voo ocorreu no início do ano de 1927, apresentando um excelente desempenho, porém sua concepção estrutural total em duralumínio trouxe ao projeto um considerável incremento de custo, levando o fabricante a repensar o conceito, tinha como diferencial uma menor envergadura das asas quando comparado a versão anterior, apesar de apresentar um excelente desempenho a adoção da concepção estrutural total em duralumínio trouxe ao projeto um considerável incremento de custo. O segundo projeto retomava a composição estrutural mista buscando assim um menor custo de aquisição, fator este que era determinante para a aquisição em grandes quantidades, este modelo recebeu a designação NiD 62C1. 

Apesar das duas propostas não atenderem plenamente as especificações, estavam acima dos projetos apresentados pelos demais competidores e não dispondo de melhores alternativas a Aéronautique Militaire optou pelo NiD 62C1 gerando uma encomenda inicial de 100 células que seria complementada por novos contratos entre 1929 e 1932, totalizando 675 unidades, dentre as quais 50 foram entregues a Aviaçao Naval Francesa. Neste mesmo ano a Força Aérea Espanhola abriu concorrência internacional para a aquisição de uma nova aeronave de caça, mais uma vez as qualidades do modelo da Nieuport-Delage se destacaram, sendo a mesma declarada vencedora com seu modelo NID-52. Foram encomendadas 125 células para produção sob licença pela empresa espanhola Hispano Suiza em sua fábrica em Guadalajara.

As primeiras unidades espanholas foram entregues em 1930, com a produção se estendendo até fins de 1933, quando foram concluídas todas as células encomendadas, os NiD-52 conhecidos localmente como "Hispano-Nieuport" foram destinados a três unidades de caça, o Grupos 11, Grupo 1 e o  Grupo 13. Apesar de se destacar nas fases de seleção, o modelo operacionalmente foi considerado impopular pelos pilotos espanhóis, tanto em função de desempenho, quanto em termos de segurança, pois era um modelo que não perdoava erros de condução, fato que levou a disponibilidade de apenas 56 células quando da eclosão da Guerra Civil Espanhola em 18 de julho de 1936. A maioria dos Hispano-Nieuport permaneceria, em mãos do governo durante a guerra civil, com apenas 11 a disposição das forças nacionalistas. As forças republicanas foram reforçadas pela Hispano-Suiza com a construção mais 10 células novas, entregues no mesmo ano. Durante o conflito o modelo foi retirado da linha de frente sendo substituído por novas aeronaves, se mantendo operacional em tarefas secundarias até fins de 1938.
Buscando retificar as deficiências observadas no NiD 52C1 e no NiD 62C1, especialmente em termos de desempenho a Nieuport-Delage deu início, no final de 1927, ao desenvolvimento do NiD 72C1. Essa aeronave nada mais era do que uma evolução do NiD 52C1 e voou pela primeira vez em janeiro de 1928 na forma de protótipo. Mas este novo modelo não conquistou a atenção da Aéronautique Militaire, com sua produção restrita a apenas sete celulas que foram destinadas a exportação.

Emprego no Brasil. 

No final da década de 1920 a Aviação Militar do Exército Brasileiro se encontrava em processo de amadurecimento de sua doutrina de operação aérea e reequipamento com grandes aquisições feitas entre os anos de 1928 e 1931, totalizando 111 novas aeronaves, todas de origem francesa estando em consonância com os termos da Missão Brasil França de Apoio Militar. Apesar da maior parte deste lote ser compreendido por modelos de treinamento, uma significativa parcela englobava aviões de combate, e com alguns destes, foi formada a primeira unidade de emprego da Aviação Militar, o Grupo Misto de Aviação que foi criado em março de 1931.

O último modelo a ser recebido no Brasil dentro daquele plano foi o caça Nieuport-Delage NiD-72C1, versão esta derivada do modelo NID-52 que fora desenvolvida para o atendimento de uma encomenda Belga no ano de 1929, com principal característica possui uma envergadura ligeiramente menor que seu modelo original e estava equipado com um motor Hispano-Suiza 12Lb V-12. Quatro destes modelos foram encomendados, e existem indicações que estas aeronaves foram produzidas com o objetivo de atender a uma possível encomenda da Aéronautique Militaire que não se concretizou.As células foram recebidas em maio de 1931, após sua montagem foram distribuídas a Escola de Aviação Militar (EAvM) com sede no Campo dos Afonsos, sua operação trouxe grandes benefícios na consolidação da doutrina aérea militar, pois foi a primeira aeronave militar brasileira a dispor de fuselagem de construção total duralumínio com fuselagem monocoque, representando significativos avanços em termos de desempenho quando comparado aos modelos em uso até então. 
Com o início da Revolução Constitucionalista de 1932, esses caças foram convocados para tomar parte no esforço de guerra Legalista, no início estavam disponíveis somente duas aeronaves tendo em vista que uma fora perdida em um acidente fatal e outra estava aguardando reparos. Os dois NiD-72C1 passaram a representar a totalidade da aviação de caça e se mostraram imprescindíveis para a condução das operações aéreas no conflito, realizando missões de patrulha no Vale do Paraiba e escolta a bombardeiros da Aviação Militar. Em 21 de agosto o Capitão Adherbal da Costa Pereira que recentemente aderira a causa Constitucionalista, se apoderou do “NID-72 K-421”, integrando se ao Grupo Misto de Aviação da Força Pública de São Paulo (GMA), onde seria batizado de “Negrinho” após receber uma nova pintura em branco com listras pretas, visando assim se se diferenciar das forças legalistas.

Durante o conflito, as aeronaves dos Gaviões de Penacho (denominação adotada pelos pilotos da GMAP) e Vermelhinhos Legalistas, protagonizaram cenas de Primeira Guerra Mundial, com a participação do NID-72 K-421 em duas ocasiões contra os Wacco CSO, sendo em agosto na região de Lorena e em setembro na região de Mogi Mirim, apesar da troca de tiros entre os adversários os resultados foram inconclusivos. Também foram empregados em missões de ataque para impedir avanço de tropas, ou destruir aviões do adversário em suas bases. No oitavo dia do conflito, 16 de agosto, os governistas atacaram o Campo de Marte, principal base rebelde, sem, contudo, produzir grandes estragos. Em 02 de outubro de 1932, o conflito estava encerrado. Os paulistas rendiam-se 85 dias depois do início das hostilidades, eles haviam iniciado a Revolução contando com o apoio dos estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Rio Grande do Sul, mas posteriormente estes mesmos acabaram por se manter fiéis ao governo de Getúlio Vargas
Após o termino do conflito o  Nieuport-Delage NiD-72C1 K-421 “Negrinho” foi reintegrado a Aviação Militar do Exército Brasileiro, sendo em conjunto com a outra célula designados a servir na 4º Divisão da EaVM  sendo empregados para missões de adestramento. Diferente de outras aeronaves francesas os Delage tiveram uma carreira longa, se mantendo em operação até junho de 1937, a célula K-423 foi adquirida por um operador particular, que o levou para Minas Gerais, tendo seu histórico desconhecido, a aeronave K-421 foi desmontada e vendida como sucata junto ao Parque Central de Aviação.

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