sábado, 6 de janeiro de 2018

Avro 504K na Aviação Naval

História e Desenvolvimento.


A empresa A.V Roe and Company teve seu debut no meio aeronáutico, quando em 1908 a primeira aeronave projetada e fabricada pelo engenheiro Alliot Vernon Roe decolou, sendo considerada o primeiro avião de projeto inglês, o que iria gerar o início de uma extensa linhagem de modelos com o estabelecimento da linha industrial de produção em 1 de janeiro de 1910. Este período foi considerado como de efervescência com várias empresas disputando um crescente, porém pequeno ainda mercado e neste contexto as vendas da A.V Roe and Company eram muito modestos. Este cenário começaria a se modificar um ano antes do início da Primeira Guerra Mundial, quando a empresa projetou uma aeronaves que superaria todas as expectativas, sob a designação de modelo 504, o novo avião começou a ser construído em julho de 1913 com seu primeiro voo ocorrendo em setembro do mesmo ano. 

A empresa logrou o êxito inicial e inesperado com a venda de um pequeno número de aeronaves para a Royal Flying Corps (RFC) e Royal Naval Air Service (RNAS), que começaram a ser empregados em missões de treinamento e observação. O início do conflito determinou o envio dos Avro 504 para o front de combate, sendo que uma aeronave do Royal Flying Corps foi a primeira aeronave abatida pelos alemães na guerra em 14 de abril de 1914, quando do emprego da aeronave em uma missão de bombardeio em Friedrichshafen nas margens do Lago de Constança. Em 21 de novembro do mesmo os Avro 504 armados com quatro bombas de 9 kg teriam destacada participação na missão de ataque a fábrica produtora de hidrogênio alemã na França.
O avançar da tecnologia aeronáutica durante a guerra logo lograria o Avro 504 como aeronave de segunda linha, sendo retirado para as unidades de treinamento na Inglaterra, neste estágio a produção do modelo já atingia milhares de unidades dispostas nas versões de A a J com os motores evoluindo de 60 hp a 80 hp. No entanto a versão a ser mais produzida o Avro 504K que era configurado como aeronave de treinamento de dois lugares, tinha com curiosidade a possibilidade de ser equipado como uma vasta gama de motores em virtude da escassez de componentes, esta versão seria produzida entre 1914 e 1928 em 13 fabricas não só no Reino Unido, mas também montados sob licença na Argentina, Austrália, Bélgica, Canadá, Dinamarca, França, Japão e União Soviética, totalizando 5.850 unidades.

No inverno de 1917 e 191818, decidiu-se usar os modelos Avro 504Js e Avro 504Ks convertidos para equipar os esquadrões da defesa doméstica da Royal Flying Corps, substituindo os Vickers BE2cs que já se encontravam obsoletos. Estas versões customizadas para um único assento estavam armados com uma metralhadora leve Lewis montada acima da asa, sendo equipados com motores Gnome de 110 hp, ao todo foram empregados 274 unidades distribuídos em oito esquadrões. Após o final da guerra as aeronaves remanescentes muito em face das suas dóceis características de voo e desempenho fizeram o modelo permanecer com treinador básico padrão da agora recém-criada Royal Air Force (RAF), sendo substituído integralmente somente em meados da década de 1930. Cerca de 300 Avro 504K foram transferidos com registro civil na Grã-Bretanha, sendo empregados em missões de treinamento de pilotos e reboques de faixas publicitarias permanecendo em uso até pelo menos 1940.
A carreira do Avro 504 seria extensa ainda, sendo empregado em maior número pelo Serviço Aéreo da União Soviética que fora formado logo após o termino da Primeira Guerra Mundial, empregado células inglesas e também copias denominadas Avrushka ou pequeno Avro, sendo equipados com motores soviéticos rotativos idênticos ao Gnome Monosoupape. O modelo ainda entraria em combate nos conflitos na China Nacionalista quando foram usados em missões de observação e bombardeio. Ao todo foram produzidas 11.484 células exportadas ao Brasil, Argentina, Canada, Estônia, Finlândia, Grécia, Guatemala, Índia Britânica, Irã, Irlanda, Japão, Letônia, Malaia, México, Mongólia, Noruega, Peru, Polônia, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça, Tailândia, Uruguai e Estados Unidos.

Emprego no Brasil.

O primeiro contato dos aviadores da Marinha Brasileira com o Avro 504 se deu na Inglaterra, quando uma delegação foi enviada àquele pais no último ano da Primeira Guerra Mundial para receber treinamento e participar ativamente das operações de combate. Estes tiveram contato com o que era denominado Sistema Gosport de instrução aérea, em que o Avro 504 figurava como principal elemento racional e lógico sistema de treinamento. No entanto a incorporação do primeiro exemplar na Aviação Naval ocorreu de forma casual, pois com a enorme disponibilidade de material aeronáutico após o término da guerra, diversos grupos empresarias deram início a organização de empresas de transporte aéreo. Entre estas encontrava-se a empresa inglesa Handley Page Ltda para o estabelecimento de uma empresa aérea no Brasil, que inicialmente seria dotada com 4 aeronaves entre elas um Avro 504K. A vida desta empresa foi efêmera sendo as aeronaves doadas ao governo brasileiro, sendo o modelo de treinamento entregue em 1920 a Marinha para uso na Escola de Aviação Naval.

Neste mesmo período foram disponibilizados recursos para adquirir mais quatro células do modelo que eram usadas e estavam equipadas com o motor rotativo Gnome Monosoupape, Ao chegaram no Brasil no final do primeiro semestre de 1921, os dois primeiros foram montados no mês de agosto e encaminhados ao Campo dos Afonsos onde iriam operar até a conclusão das obras da nova pista da EAvN na Ponta do Galeão. A perda de uma aeronave em um acidente levou a Aviação Naval a proceder a montagem das duas células restantes entre novembro e dezembro de 1921. Esta dotação seria reforçada com a aquisição de mais 12 células previstas em um contrato celebrado em 23 de maio de 1922, tratavam-se novamente de aeronaves usadas que seriam entregues configuradas como novos motores radiais Le Rhone de 110 hp. Em fins de 1923 estas aeronaves já se encontravam operacionais junto a 3º Esquadrilha da Flotilha de Treinamento, totalizando assim 16 aeronaves, porém o índice de disponibilidade se mantinha muito baixo em função de pequenos acidentes de operação.
Durante os conturbados episódios políticos que se seguira no ano de 1924, as atividades da EAvN foram muito reduzidas, sendo algumas vezes os Avro 504K foram armados com metralhadora Lewis .303 durante os momentos mais tensos do período revolucionário. Este quadro de instabilidade levaria a severas restrições orçamentarias que interromperam o fluxo de peças de reposição e material de apoio, levando indisponibilidade a índices alarmantes, sendo que em 1925 somente quatro células estavam aptas a voo, com as demais armazenadas ou em manutenção, no ano seguinte mais uma aeronave seria recuperada pelo Centro de Aviação Naval do Rio de Janeiro (CAvNRJ). Apesar do quadro de penúria, três Avro 504K realizaram um reide entre a capital carioca e a cidade de Belo Horizonte, representando um feito para aquela época, infelizmente duas aeronaves foram perdidas nesta missão.

Em 1927, a frota de aviões Avro 504K encontrava-se reduzida a três exemplares disponíveis para voo, com os demais perdidos em acidente ou em processo de manutenção de grande monta, com a necessidade de modernizar a frota de aeronaves de treinamento, a Diretoria Geral de Aeronáutica da Marinha examinou diversas propostas de fornecimento de mais células do modelo, no entanto optou-se pela aquisição de uma variante mais moderna o Avro 504N/O, que passaram a ser recebidos no ano seguinte, realizando em conjunto com as células originais, as missões de treinamento e formação de pilotos, com os Avro 504K registrando uma quantidade de horas de voo inferior à média anterior.
No objetivo de aumentar a vida útil das três ultimas aeronaves que se encontravam em condições de voo, foi decido em maio de 1929 pela implementação de um programa de modernização, tendo como foco principal a substituição do problemático motor rotativo por um novo radial fixo Armstrong Siddeley Lynx IVC, o mesmo  que dotava os recém chegados Avro 504N/O, sendo as três entregues entre entre novembro do mesmo ano e janeiro de 1930, curiosamente estas células foram adaptadas para o uso de flutuadores sendo empregadas como hidro aviões. Porém observou-se que o processo de modernização não atingiu os objetivos almejados e decidiu-se pela desativação das aeronaves, o que ocorreu após um voo de formatura da EAvN em junho de 1930, onde após este foram excluídas e alienadas para venda, encerrando assim sua carreira na Aviação Naval.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.