terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Curtiss C-46 Commando

História e Desenvolvimento.


Em 1936 a empresa Curtiss Wright Corporation e a equipe de desenvolvimento liderada pelo engenheiro aeronáutico George W. Page, deram início ao projeto de uma nova aeronave de transporte civil de passageiros designada CW-20, que tinha por primícias básicas ser maior e mais eficiente que o principal concorrente Douglas DC-3. Para se atender a esta demanda básica, buscava-se aumentar o volume útil da fuselagem com o intuito também de se pressurizar a cabine de passageiros e pilotos, este conceito de formatação da secção principal era denominado double-bubble (bolha dupla), por se tratar de um conceito novo aplicado a aeronaves comerciais o projeto ao longo dos anos foi recebendo melhorias e refinamentos que constituíram uma nova versão a CW-20T.
O voo inaugural do primeiro protótipo matriculado NX-19436 ocorreu em 26 de março de 1940 nas instalações da Curtiss Wright Corporation, em Saint Louis no estado do Missouri. Após validações iniciais sobre a segurança e desempenho da aeronave, o fabricante deu início à larga campanha de divulgação de seu mais novo aviação comercial, visando assim se antecipar as concorrências junto as empresas áreas com o Douglas DC-3, paralelamente a este processo a aeronave continuava a ser submetida a campanha de ensaios. Nesta fase uma das mais significativas alterações se deu na mudança do conjunto de cauda que apresentava uma configuração de duas empenagens verticais, que passaria a ser de concepção convencional, na forma de uma única peça, buscando assim uma significativa melhoria da estabilidade em baixas velocidades.
Além de perspectivas positivas junto ao mercado civil de transporte de passageiros, o agravamento das tensões na Europa e no pacifico, intensificava as buscas da Aviação do Exército Americano (USAAF) por vetores de transporte e o projeto da Curtiss Wright despertou o interesse da mesma, gerando assim um primeiro contrato no mês de setembro de 1940, englobando uma encomenda de 200 células do modelo CW-20B que receberam a designação militar de C-46CU.

Durante o transcorrer da Segunda Guerra Mundial, foram produzidas 3.140 células de diversas versões do C-46 Curtiss Commando, sendo empregados pelo Corpo de Fuzileiros Navais e Marinha com o emprego de 160 aeronaves, e as demais sendo alocadas em unidades da USAAF onde foram empregadas em todos os teatros de operações sendo destinados a missões de transporte de carga, transporte VIP, transporte de tropas e pessoal e remoção aero médica. O modelo teve destaca atuação nos teatros da China, Burma e Índia. No subcontinente o C-46 foi essencial nas tarefas de ressuprimento das tropas aliadas na China, em face de suas características de desempenho superior ao C-47 em voos de grande altitude, tendo em vista que umas principais rotas de abastecimento exigiam o sobrevoo do Himalaia. No teatro de operações do Pacifico seu grande raio de alcance o tornaram ideal nas missões de ressuprimento das unidades militares espalhadas por centenas de ilha no pacifico. Na Europa sua atuação foi extremamente tímida quando comparada ao maciço emprego dos Douglas C-47 que praticamente foi o esteio da aviação de transporte aliada.
Após o fim do conflito a USAF promoveu a retirada e desativação de milhares de aeronaves veteranas, entre elas centenas de C-46 em ótimo estado que começaram a ser cedidas a nações alinhadas com os Estados Unidos, entre elas Argentina, Bolívia, Columbia, Republica da China, Cuba, Equador, Republica Dominicana, Egito, Haiti, Honduras, Israel, Coreia do Sul, Japão, México, Laos e Peru. O emergente mercado civil no pós-guerra também foi um mercado interessante que passaria a empregar o modelo em larga escala

Emprego no Brasil.

Como citando anteriormente, imediatamente após o termino da Segunda Guerra Mundial, o governo norte americano procedeu a alienação de uma grande quantidade de células do Curtiss C-46 Commando , estando a maioria em excelente estado de conservação com poucas horas de voo e foram oferecidas ao mercado civil por valores irrisórios que oscilavam entre US$ 40 e US$ 50 mil dólares (como efeito colateral a Curtiss foi diretamente atingida pois estes preços inviabilizariam a produção de uma nova versão civil). Esta verdadeira “pechincha” iria seduzir também vários empresários brasileiros que vinham neste negócio uma grande oportunidade de alavancar novas empresas aéreas no pais. 

As inúmeras empresas efêmeras que surgiram neste período no Brasil, tinham em comum o empresário Vinicius Valadares Vasconcellos que havia se especializado na importação e revenda de aeronaves usadas dos Estados Unidos, entre seus principais produtos estavam o Douglas C-47 e o Curtiss C-46 que foram fornecidas as dezenas ao mercado brasileiro. No ano de 1948 o empresário atravessou um período de dificuldade financeira e passou a não dispor de fluxo de caixa para honrar seus compromissos, entre estes estavam dois C-46A recém-chegados ao Brasil e estavam matriculados como PP-XBR e PP-XBX, em um negócio de oportunidade as duas células foram negociadas junto ao Ministério da Aeronáutica, sendo incorporadas ao 2º Grupo de Transporte baseado no Galeão , no dia 15 de outubro de 1948, onde passariam a ser designados como C-46 portando as matriculas FAB 2057 e FAB 2058.As aeronaves do 2º GT passaram a realizar tarefas de transporte de carga e passageiros, sendo as empregados em maior frequência nas missões em apoio ao governo federal, principalmente devido a volumosa capacidade de transporte interna. 
Os C-46 brasileiros também eram oriundos das forças armadas americanas, sendo que o C-46 FAB 2057 serviu na USAAF em missões de transporte nos Estados Unidos, já a o FAB 2058 anteriormente havia operado junto ao Corpo de Fuzileiros Navais com a designação R5C-1 com a matricula BuaAer 50711, sendo alocado no esquadrão VMR-252 que estava sediado na ilha Kwajalein, unidade esta que estava encarregada diretamente do ressuprimento das tropas e evacuação aero médica nas operações táticas destinadas a invasão da ilha de Okinawa.

Infelizmente em 13 de outubro de 1949 o C-46 FAB 2057 se acidentou na cidade boliviana de Oruro com perda total. Restando somente a outra unidade que seguiu no desempenho das missões atribuídas ao 2º Grupo de Transporte, cuja dotação era formada em sua maioria pelos C-47, levando assim a transferência desta única aeronave para o 2º/2º Grupo de Transporte em novembro de 1952, onde serviria até janeiro de 1957, sendo logo após transferido como aeronave orgânica para o Parque de Material Aeronáutico dos Afonsos. Infelizmente dificuldades na obtenção de peças de reposição levariam a desativação do modelo, sendo excluído do serviço ativo em 17 de abril de 1968.
Assim desta maneira o C-46 FAB 2058 ficou armazenada aguardando a alienação, sendo temporariamente incluída no acervo do recém-criado Museu Aeroespacial em 1973, porém logo após foi reformado e vendido para a empresa boliviana Taxi Aéreo Royal, que operaria a aeronave até 1996, quando foi desativada e abandonada no aeroporto de Belém, um nova vida seria concedida  quando novamente o MUSAL se interessou pela aeronave, procedendo a aquisição e restauro, e em 3 de julho de 1998 ocorreu o último voo do modelo, entre as oficinas da Varig no Galeão até o Campo dos Afonsos sendo assim finalmente incorporado ao acervo do Museu Aeroespacial.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.