Em agosto de 1949 o comando do Exército Americano emitiu junto indústria aeronáutica dos Estados Unidos, parâmetros para o desenvolvimento de uma nova aeronave leve monomotora para dois tripulantes com a finalidade de desempenhar missões de ligação, observação e controle aéreo avançado para ajuste de fogo de artilharia. Esta nova aeronave teria por missão substituir nestas atividades os já obsoletos Pipers L-4H e Stinsons L15 em operação desde a Segunda Guerra Mundial. O desafio proposto aos participantes desta concorrência era o de apresentar um protótipo pronto para ensaio operacional em março do ano seguinte. Umas das empresas a Cessna Aircraft Company apresentou como proposta o Model 305 , que era uma derivação militar da versão civil Model 170, e tinha como principais alterações, a adoção de maiores janelas laterais inclinadas(para melhorar a observação do terreno), traseira resenhada para proporcionar uma visa direta da retaguarda, painéis transparentes sobre a cabine (similares aos encontrados no Cessna 140)e inclusão de uma porta lateral compatível com emprego de uma maca para emprego em missões de evacuação aéreo medica.
O primeiro protótipo matriculado N41694, alçou voo em dezembro de 1949, sendo imediatamente levado para o centro de ensaios em voo do exército em Wright Field no estado de Ohio, onde durante seis semanas foi testado comparativamente contra os protótipos apresentados pela Piper, Taylorcraft e Temco, neste processo a Cessna foi declarada vencedora em maio de 1950, gerando assim contrato inicial para o fornecimento de 418 células do modelo 305A que recebeu a designação de L-19A . O início da produção em série pela Cessna, coincidiu com o início da Guerra da Coreia, criando assim um sentimento de urgência nos comandos da Força Aérea e Exercito Norte Americano, incrementando significativamente os volumes de aeronaves inicialmente contratadas.
Naturalmente seu batismo de fogo se deu na Guerra da Coreia, onde foram empregados em missões de controle aéreo avançado e ligação, obtendo resultados excelentes mesmo apesar de possuir uma aparência frágil típica de aviões de pequeno porte. Neste cenário de real de combate os L-19A operaram frequentemente em pistas que eram pouco mais do que áreas descampadas de terra batida, e não foram raras as ocasiões em que estas aeronaves voltavam a suas bases com dados de grande monta provocados por armas de pequeno calibre.
A partir de 1953 foram desenvolvidas novas versões incluindo melhoramentos como, hélices de velocidade constante, sistemas de navegação e comunicações aprimorados, peso bruto maior e reforços estruturais. Entre estas variantes, estava a OE-1 destinada a missões de observação e controle aéreo avançado sendo amplamente empregado pela USAF e US Army e Força Aérea Sul Vietnamita, nas fases inicias da Guerra do Vietnã. Existem registros de operações especiais clandestinas de infiltração nos territórios do Laos e Camboja. Sua capacidade de pouso e decolagem em curtas distancia lhe tornaram apto a ser empregado pela Força Aérea Americana em missões de busca e salvamento de pilotos abatidos atrás das linhas inimigas. Um total de 469 células foram perdidas neste conflito sendo vítimas de acidentes ou artilharia antiaérea inimiga.
A partir do início da década de 1970 os L-19 Bird Dog começaram a ser substituídos nas forças armadas americanas pelos novos Cessna O-2 Skymaster e North American OV-10 Bronco, gerando assim um excedente de células em bom estado que foram repassadas para nações aliadas nos termos dos planos de ajuda militar, entre elas Áustria, Chile, Brasil, Canada, França, Indonésia, Itália, Malta, Noruega, Paquistão, Coreia do Sul, Espanha, Taiwan e Tailândia, o modelo ainda seria produzido sob licença no Japão pela Fuji e também muitas unidades foram transferidas para operadores civis. Ao todo foram produzidas 3.413 células até o ano de 1959, sendo dispostas em 15 versões.
Emprego no Brasil.
No início da década de 1950 a Força Aérea Brasileira estava desenvolvendo um processo de restruturação com a finalidade de potencializar suas atividades de suporte as demais forças armadas, entre elas o Exército Brasileiro que carecia dos meios para a realização de missões de regulagem de tiro de artilharia e observação. Para se atender a esta demanda, em 12 de dezembro de 1955 o decreto lei nº 38.295 recriou a 1º ELO (Esquadrilha de Ligação e Observação), unidade esta que seria incumbida de prover ao exército os meios necessários as missões de regulagem de tiro de artilharia e reconhecimento visual. As aeronaves disponíveis no inventário da FAB neste período os Piper LH-4 Grass Hoper encontravam-se no limiar de sua vida útil pois eram células veteranas da campanha da Itália onde foram operadas pela mesma unidade novamente ativada, e não poderiam ser empregadas neste novo cenário.
O sucesso natural o Cessna L-19 Bird Dog era a melhor escolha para o atendimento desta necessidade, desta maneira o Ministério da Aeronáutica fazendo uso dos termos do Programa de Assistência e Defesa Mutua (PADM) negociou a aquisição de oito células usadas do Cessna 305A L-19A Bird Dog, oriundas dos estoques do Exército. Estas aeronaves receberam as matriculas FAB 3062 a 3069 e foram recebidas em dezembro de 1955 no Campo dos Afonsos no Rio de Janeiro, sendo entregues imediatamente a 1º ELO, unidade que neste período estava subordinada a Escola de Aeronáutica e ficou encarregada de dar o apoio necessário a incorporação do modelo. Durante os dois primeiros anos de atividade os L-19A foram dedicados a formação e adestramento do pessoal aeronavegante, instrução com sistema “apanha-mensagem”, treinamento nas várias modalidades de reconhecimento, instrução de regulagem de tiro de artilharia e treinamento dos observadores aéreos do Exército. Estas aeronaves dispunham ainda de quatro cabides subalares, possibilitando o treinamento de lançamento de fardos com viveres e emprego de foguetes fumígenos de fosforo branco SCAR de 2.25 polegadas para a marcação de alvos. Este período foi caracterizado por intensa atividade aérea e nele registraram-se duas perdas, uma em outubro de 1957 e outra em julho de 1959
Duas células seriam fornecidas dos estoques do Exército Brasileiro, sendo em 1961 um L-19A e em 1963 um L-19E, infelizmente não existe a documentação referente a origem destes aviões, esta grata surpresa viria a ajudar a recomplementar a dotação inicial que neste momento estava restrita somente a cinco células. Visando melhorar este cenário novamente a FAB fazendo uso do Programa de Assistência Militar Brasil-Estados Unidos, negociou a aquisição de dez aeronaves do modelo L-19E pertencentes a USAF que se encontravam estocados. As aeronaves foram entregues desmontadas entre outubro e novembro de 1963, e foram montadas nas instalações do Parque de Aeronáutica dos Afonsos. Encerrada este processo seis exemplares foram destinados a 3º Esquadrilha de Ligação e Observação (ELO), com sede na Base Aérea de Canoas , e as quatro aeronaves restantes foram distribuídas ao 1º ELO. Este novo modelo dispunha de uma suíte de comunicações mais moderna com sistema FM AN/AR, sendo distinguido visivelmente do modelo anterior pela presença das antenas no bordo de ataque de cada estabilizador horizontal.
Na primeira metade da década de 1960 o evoluir nos movimentos comunistas no Brasil começaram a convergir para possíveis ameaças de guerrilha, na missão de se preparar para possíveis ações de combate contra as forças insurgentes a FAB passaria a criar os Esquadrões de Reconhecimento e Ataque (ERA), unidades estas dedicadas a missões de contra insurgência. As aeronaves matriculadas FAB 3150 a 3159 e 3201 foram destinadas ao 1º ERA com sede na Base Aérea de Canoas no Rio Grande do Sul, onde se desenvolveu o conceito para emprego nas missões de Controle Aéreo Avançado, tendo sido também empregados em missões reais de combate contra a guerrilha comunista, como as operações “Papagaio, Pinguim e Carajas”, posteriormente a transformação dos ERA em EMRA (Esquadrões Mistos de Reconhecimento e Ataque) viria a promover uma realocação dos L-19E Bird Dog, sendo distribuídos ao 1º e 3º EMRA, logo em seguida as células foram concentradas no 1º EMRA na Base Aérea de Belém.
A operação no ambiente amazônico cobrou um alto preço a reduzida frota de aeronaves L-19A/E, pois diversos pequenos acidentes registrados em 1974, servindo de prenuncio para a perda de três aeronaves entre março de setembro de 1975, outros foram perdidos em acidentes registrados entre 1977 e 1978, e ao iniciar o ano seguinte a frota de Birds Dog estava reduzida a quatro exemplares, que continuaram operando até a extinção do 1º EMRA, em setembro de 1980, e a criação do 1º/8º Grupo de Aviação (1º/8º GAv), onde operaram até pelo menos o fim deste mesmo ano, quando então as três células remanescentes foram entregues ao Departamento de Aviação Civil (DAC) a fim de serem distribuídas para clubes de planadores, uma ultima aeronave foi encaminhada ao Museu da Aeronáutica (MUSAL), para restauro e exposição.
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