A origem da família de aviões leves de ligação e observação, conhecidos como L-4 Cub, tem por base o modelo E-2 Cub, produzido a partir de 1931 pela empresa Taylor Aircraft sediada em Bradford na Pennsylvania, esta pequena aeronave tinha por finalidade disponibilizar no mercado civil norte americana uma aeronave de baixo custo de aquisição e operação. Infelizmente o E-2 se mostrou um fracasso em vendas, levando a empresa a falência no ano seguinte, neste cenário o patrocinador original do projeto o industrial William T. Piper, foi obrigado a absorver os ativos e ferramental da Taylor Aircraft. Com a finalidade de se corrigir a principal causa do fracasso do E-2, o novo projeto contemplava a adoção de um motor de maior potência, nascendo assim em 1936 o J-2 Cub. No ano seguinte um incêndio de grandes proporções viria a destruir a unidade fabril, levando a transferência da empresa para cidade Lock Haven, onde mudaria seu nome para Piper Aircraft Corporation.
O Piper J-2 Cub foi submetido a uma serie de melhoramentos nos anos seguintes, recebendo a adição de itens como freios, bequilha, motores mais potentes e painéis de comando atualizados, que foram dispostos nas versões J-2E, J-2F, J-2G e J-2H, totalizando até 1938 um total de 1200 unidades entregues no mercado civil. No ano seguinte a Piper lançaria seu novo modelo designado J-3 que tinha como principal novidade a adoção de um novo motor Continental 0-170 com 50hp, com um custo de aquisição de US$ 1.000,00 a unidade, a família J-3 iria alcançar a cifra de 3.000 unidades vendidas sendo divididas em 14 variantes. O início das hostilidades na Europa em 1939, juntamente com a crescente percepção de que os Estados Unidos em breve poderiam serem arrastados para a Segunda Guerra Mundial, levou o governo daquele pais a criar um amplo programa de formação de pilotos civis, visando assim criar uma reserva de recursos humanos que poderiam em caso de necessidade serem incorporados emergencialmente as forças armadas, a aeronaves escolhida como treinador primário para este programa seria o Piper J3L-65 que estava equipado com o novo motor Lycoming O-145-B1 de 65hp.
Neste mesmo período o comando do Exército Americano (US. Army) iniciou estudos visando a aquisição de uma aeronave leve destinada a missões de ligação e observação, a fim de atender a esta necessidade os principais fabricantes de aeronaves entregaram exemplares de seus produtos a fim de serem submetidos a uma extensa avaliação entre os anos de 1939 e 1941. Neste processo a balança pendeu para o lado da Piper gerando o primeiro contrato de compra de quatro unidades do modelo Piper J3C-65, que foram designados pela Força Aérea do Exército como YO-59. Em novembro de 1941 uma nova encomenda seria feita, agora abrangendo 40 células que foram redesignados como Piper L-4-PI, estas novas aeronaves incorporavam uma série de modificações que os adaptavam as tarefas militares, como painéis transparentes na seção central da asa e equipamento de rádio. O ingresso dos Estados Unidos na Guerra fez com que a produção do L-4 popularmente batizado de Grasshoper disparasse, sendo entregue a Força Aérea, Marinha e Corpo de Fuzileiros Navais em diversas versões destinadas as missões de treinamento primário, ligação e observação, evacuação médica, transporte e regulagem de tiro de artilharia.
Durante a invasão aliada da França em junho de 1944, observou-se a tendência para o emprego da aeronave em missões de observação do campo de batalha, se tornado rapidamente a plataforma ideal para observação e detecção de veículos blindados alemães escondidos, pois sua baixa velocidade de cruzeiro e alta manobrabilidade o permitiam orbitar extensas áreas do campo de batalha. Para esta missão as aeronaves eram equipadas com um sistema de rádio que era operado por um segundo tripulante que também realizava a tarefa de observador. Curiosamente algumas células chegaram a ser equipadas com prateleiras para o transporte de bazucas, operando em duplas ou quartetos, abastecendo as tropas de infantaria aliadas na linha de frente para o ataque aos tanques alemães. O mais celebre destes L-4 configurados como aviões de apoio a tropas de infantaria foi o Rosie The Rocketeer , pilotado pelo Major. Charles "Bazooka Charlie" Carpenter , a qual foram creditados com a eliminação de seis tanques inimigos e vários carros blindados durante o seu serviço, especialmente durante a batalha de Arracourt .
Ao final da Segunda Guerra Mundial os L-4 foram responsáveis pela formação primária de 435.165 pilotos, representando cerca de 80% de todos os pilotos militares americanos, sua produção em culminou em 1947, totalizando 19.888 células, sendo que nos estágios mais emergências da guerra sua produção havia atingido a cadencia de uma aeronave a cada 20 minutos. Depois da guerra, muitos L-4s foram vendidos como excedente no mercado civil, mas um número considerável foi mantido em serviço, tendo o modelo participado das mesmas missões durante a Guerra da Coreia, países como Brasil, Coreia do Sul, Tailândia, Inglaterra também operam o modelo em funções militares até meados da década de 1960.
Emprego no Brasil.
No início de 1944 foi definido que o esforço de guerra brasileiro compreenderia além do envio de tropas ao Teatro Europeu, também duas unidades de aviação, sendo uma delas especificadamente dedicada missões de ligação e observação e regulagem de tiro de artilharia. A fim de atender a esta demanda seria criada em 20 de julho de 1944 a 1º Esquadrilha de Ligação e Observação (1º ELO) que tinha como objetivo apoiar a unidade de Artilharia Divisionária da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Para equipar esta nova unidade foi definido o fornecimento a Força Aérea Brasileira nos termos do acordo Leand & Lease Act, dez células do modelo Piper L-4H-PI. Curiosamente o primeiro Grasshoper a ser recebido pela FAB foi o segundo protótipo do YO-59 que foi designado, como Piper L-4-PI esta aeronave foi entregue em 1943 para ser empregada como aeronave de instrução em solo na Escola Técnica de Aviaçao (ETAv).
A 1º ELO foi formada com 11 pilotos, sendo todos oficiais oriundos da reserva da Força Aérea Brasileira, os treinamentos para as missões de observação foram realizados em conjunto com oficiais do Exército Brasileiro no estande de tiro de Gericinó, onde foram praticados exercícios de observação durante a realização de tiros de artilharia. Vale citar como fato curioso que as aeronaves empregadas nesta fase eram os Fairchild PT-19 que não dispunham de cabine fechada nem de rádio, sendo este último equipamento vital para a realização das missões reais no teatro europeu.
Todo o contingente da unidade formado por 35 homens, embarcou para a Itália no dia 22 de setembro e 1944, foram transportados juntamente em navios de transporte de tropa juntamente com o 2º e 3º Escalões da FEB, a chegada na Itália no porto de Nápoles se deu em 6 de outubro do mesmo ano, empreendendo outra viagem até Livorno, tendo como destino final a cidade de San Rossere perto de Pisa, onde as 10 aeronaves foram recebidas encaixotadas e foram logo montadas pelos mecânicos do esquadrão, inicialmente os L-4H-PI matriculados de 01 a 10 mantiveram as insígnias da Força Aérea Americana nas asas para facilitar a identificação das tropas aliadas. Deslocada para perto da frente de batalha a 1ºELO realizou a primeira missão real de guerra decolando da pista de San Giorgio, perto de Pistóia em 13 de novembro de 1944, a partir daí a unidade começou a executar missões diárias em apoio a FEB, realizando missões antes de depois dos ataques. Apesar das terríveis condições climáticas adversas motivas por um dos mais rigorosos invernos do século XX, que congelavam os motores em voo e acumulavam gelo nas pistas, não ocasionaram acidentes operacionais.
Durante a campanha os L-4H operaram desde Livorno, Pisa, Pistóia, Suviana e Porreta Teme, totalizando 684 missões reais realizadas pelos 11 pilotos em companhia de 11 oficiais observadores do Exército Brasileiro e 04 oficiais ingleses, felizmente nenhuma aeronave foi abatida. Após o termino das hostilidades no teatro europeu as aeronaves foram mantidas em operação realizando missões de transporte e correio aéreo, operando a partir de Piacenza em 04 de maio, depois Portalberta, perto de Milão, em 09 de maio e finalmente Bergamo em 12 de junho, quando dois dias depois a unidade foi extinta por boletim da Artilharia Divisionária do Exército Brasileiro. Como resultado desta medida seu pessoal se reuniu junto aos efetivos do 1º Grupo de Aviação de Caça a fim retornarem ao Brasil no navio de transporte USS Meigs que deixou o porto de Nápoles no dia 6 de junho em direção ao Brasil. Aparentemente, como os L-4H haviam sido entregues desmontados e encaixotados diretamente ao Exército Brasileiro, ao chegarem ao Brasil, foram recolhidos a um deposito.
Por sua vez o L-4-PI, que já se encontrava no Brasil foi transferido para a Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAer), quando da extinção do ETAv, apesar de ser destinado a instrução em solo, existem evidencias de que aquela aeronave foi mantida em condições de voo. Quantos aos aviões “italianos” os mesmos foram descobertos, e o Exército, comunicou a disponibilidade das aeronaves a FAB, sendo as mesmas montadas entre 1954 e 1955, recebendo as cores e matriculas do EB antes de serem transferidos a Força Aérea Brasileira. A reativação da 1º ELO em 12 de dezembro de 1955 determinou a distribuição dos primeiros L-4H para esta unidade, nos dois anos seguintes mais células foram entregues sendo complementadas em abril de 1957 pelo L-4 que pertencia a EEAer. No entanto a aquisição de aeronaves mais modernas determinaria a obsolescência dos L-4H nas tarefas e ligação e observação, assim desta maneira em 1958 as células remanescentes foram recolhidas ao PqAerAF e excluídas da carga do MAer em 1959, com pelo menos nove aeronaves entregue ao Departamento de Aviaçao Civil.
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