Walter H. Beech foi um dos vários personagens relevantes dos primórdios da aviação, entre os anos de 1924 e 1925, juntou-se com os projetistas Lloyd Stearman e Clyde Cessna para fundar a empresa Travel Air Manufacturing uma das mais promissoras fabricantes de aeronaves daquele período. No início da década de 1930, Walter Beech deixou a vice-presidência da Travel Air Manufacturing para criar sua própria empresa de construção aeronáutica, que seria fundada em medos de 1932 sob o nome de Beech Aircraft Corporation. Apesar do cenário econômico americano na época se apresentar caótico em função do auge da depressão, Walter resolveu focar seus esforços para o segmento de transporte executivo e turismo de luxo.
Seguindo esta linha estratégica o primeiro modelo comercial estava baseado em uma aeronave de ligação rápida e potente para atender executivos privados, todo o projeto foi desenvolvido pelo engenheiro aeronáutico Ted Wells que havia participado também anteriormente da fundação da Travel Air. Tratava-se de um biplano monomotor, configurado com as duas superfícies de sustentação posicionadas fora do conceito tradicional, com a asa superior mais recuada em relação a inferior, lhe conferindo uma aparência diferente, porém agradável aos olhos, originando assim seu nome de bastimos Staggerwing. Sua estrutura era de madeira e tubos de aço soldados , recoberta com entelagem, a exceção do bordo de ataque das asas, carenagem do motor e parte frontal do suporte do para brisa que eram confeccionados em metal.
O primeiro protótipo designado como Beech Model 17 alçou voo em 4 de novembro de 1932, ensaios de voo implementariam modificações gerando a primeira versão de comercialização no mercado civil com a denominação de Model 17B, com preços unitários na ordem de US$ 14.000 a US$ 17.000 de acordo com as configurações da aeronave, este patamar de valor se mostrou inadequado resultando em apenas dezoito aeronaves vendidas no mercado civil em 1933. Em busca de atributos para conquistar mercado, entre estas mudanças estava a implementação de trem de pouso retrátil representando uma novidade para aquele período, estas versões foram designadas como C17, D17, E17, F17 e G17. Curiosamente o primeiro emprego militar da aeronave ocorreu durante a Guerra Civil Espanhola, quando células da versão civil C17 adaptadas foram usadas em missões de bombardeiro pela Força Aérea Republicana Espanhola. Algumas aeronaves também foram usadas como ambulância pela China Nacionalista no conflito contra o Japão.
No final de 1938 o Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos (USAAC) adquiriu três células do modelo D17 que incorporava além do trem de pouso retrátil uma série de melhorias como aleirons nas asas superiores, novo motor P&W Wasp Junior R-985-17 com 450 hp e sincronização dos freios com os pedais do leme de direção. Estas aeronaves receberam a designação de YC-43, e após testes e solicitação de pequenas alterações o modelo foi validado para uso militar, gerando um primeiro contrato de fornecimento de 75 células do UC-43 Traveler para o USAAC que começaram a ser entregues a partir de 1939, a este seguiu um contrato 132 aeronaves para a Marinha Americana (US NAVY) onde recebeu a designação de GB-1. Durante a Segunda Guerra Mundial variantes foram exportadas no termos do Leand Lease & Act, para o Brasil, Reino Unido, Nova Zelândia e Austrália, onde foram empregados em missões de transporte, ligação remoção médica e transporte executivo.
Após o termino da Segunda Guerra Mundial o modelo continuo em uso junto as forças militares americanas e aliadas com algumas células excedentes sendo transferidas a nações alinhadas como Holanda, Bolívia, Cuba, China Nacionalista, Honduras, Finlândia, Etiópia, Peru e Uruguai sendo mantidas em operação até meados da década de 1960. Ao todo entre os anos de 1944 e 1949 foram produzidas 785 células divididos entre as versões militares e civis, apesar de substituído pelo moderno Beechcraft Bonanza, o Staggerwing se manteve ativo no meio comercial e civil com muitas unidades ainda em condições de serviço no século XXI
Emprego no Brasil.
Em fins da década de 1930 o comando da Aviação Naval da Marinha do Brasil, iniciou um amplo programa de modernização de seus meios de transporte aéreo, entre as aeronaves escolhidas estavam os novos Beech Staggerwing. Após negociações junto ao fabricante foi decidido em contrato a aquisição de quatro células da versão mais moderna o Model D17A a um custo unitário de US$ 16.350. As aeronaves desmontadas foram despachadas por via marítima ao Brasil, chegando no último trimestre de 1940 onde foram encaminhadas ao Centro de Aviação Naval do Rio de Janeiro (CAvN RJ) na Base Aérea do Galeão para serem montados. Após a finalização deste processo as aeronaves foram ensaiadas e colocados em condições de voo ficando a disposição do CAvN RJ.
Logo em seguidas as aeronaves foram transferidas para a estrutura do Correio Aéreo Naval (CAN), um dos principais anseios era o de colocar em atividade a já almejada Linha Tronco Norte, que deveria se originar no Rio de Janeiro, seguir uma rota toda a costa do Nordeste até a cidade de Belém do Pará PA, daí deveria continuar na sequencia pelo traçado do rio Amazonas até atingir seu destino a cidade de Manaus AM. No entanto logo após a início das atividades preliminares uma das aeronaves se acidentou em 21 de junho de 1940 próximo a Base de Aviação Naval de Rio Grande RS devido a condições climáticas resultando infelizmente na morte de todos os ocupantes. Apesar deste acidente as três células restantes foram mantidas em intensa atividade realizando não só as missões do CAN como também voo de ligação e transporte de oficiais e autoridades da Aviação Naval e da Marinha.
Em janeiro de 1941 a criação do Ministério da Aeronáutica determinou a transferência das três células remanescentes para a Força Aérea Brasileira, logo em seguida no dia 20 de fevereiro do mesmo ano a Portaria 47 o Correio Aéreo Militar (CAM) e o Correio Aéreo Naval (CAN) foram fundidos em um único serviço aéreo postal chamado Correio Aéreo Nacional (CAN), este último sob a coordenação do Ministério da Aeronáutica. Nesta nova organização os D17A foram complementados por 40 unidades dos novos Beech UC-43 Traveller e 11 GB-2 adquiridas novas de fábrica nos termos do Leand & Lease Act podendo assim ampliar de um modo efetivo as linhas do Correio Aéreo Nacional, pois nesta época as aeronaves da Beech apresentavam um melhor desempenho e conforto quando comparados aos demais vetores em uso no período da Segunda Guerra Mundial.
Logo no pós-guerra, apesar de continuarem empenhados nas missões do Correio Aéreo Nacional verificou se a necessidade de ampliar o transporte tanto de passageiros como de carga nas rotas do CAN, excedendo os limites dos Beech D-17 e UC-43 em uso, apesar deste fato a aeronave era muito apreciada por seus pilotos e tripulantes por causa da sua alta velocidade e conforto interno, se mantendo nas linhas do correio até 1955 quando passaram a ser substituídos pelos Beechcraft C-18 com os quais compartilharam as linhas com os Beech Mono como passaram a ser conhecidos os Staggerwing, curiosamente os C-18 receberam o apelido de Beech Bi. As células em condições voo foram mantidas em operação atuando como aeronaves orgânicas de bases aéreas ou parque de materiais, até o ano de 1963 quando o último avião foi retirado do serviço ativo.
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