Testemunhando os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, os observadores do Exército dos Estados Unidos perceberam que precisariam de um veículo de artilharia autopropulsionado com poder de fogo suficiente para suportar operações blindada. As lições aprendidas com os carros meia lagarta como o T19 Howitzer Motor Carriage ou o 105mm montando no chassi dos M3 Half Track, mostraram a viabilidade de se construir um veículo totalmente blindado sob esteiras para ser o novo obuseiro autopropulsionado do exército o T32, usando como base o chassi do tanque médio M3 Lee. A estes se seguiram outros modelos entre eles o M7 Priest que obteve o maior êxito, tendo sido produzidos 4.315 unidades, que foram empregados pelos aliados em todas as frentes de batalha da Segunda Guerra Mundial.
Os M7 Priest retomaram a ativa na Guerra da Coreia, apesar desempenharam com êxito a maioria das missões, verificou se que a limitada elevação de 35 graus do canhão dificultava capacidade de disparar sobre as altas montanhas coreanas. Estava claro que um novo obuseiro autopropulsionado deveria ser desenvolvido, desta maneira em 1953 comando do Exército Americano, emitiu requisitos para abertura de concorrência, visando o desenvolvimento de um novo veículo. Varias projetos foram apresentados entre eles o T195/195E-1 da General Motors Co, que após testes comparativos o definiram como vencedor da concorrência em setembro do mesmo ano. O primeiro mock up foi apresentado no início do ano de 1954, seguido pela construção de alguns protótipos para testes e avaliações. Foi finalmente validado para produção em série em fins de 1959, com as primeiras unidades sendo entregues ao Exército Americano em abril de 1960.
O M108 foi equipado com um motor Detroit Diesel turbocharged 8V-71T 8-cilindros com 405 hp, lhe proporcionando mobilidade adequada para acompanhar as demais unidades blindadas no campo de batalha, dispunha como arma principal do canhão M103 obus de 105 mm, capaz de disparar projeteis de 14,9kg em uma velocidade de 472 metros por segundo, com um alcance efetivo de 11,16 km, podia disparar todas as munições desenvolvidas no padrão Otan, entre elas, HE, WP e M-67 Head. Foi equipado com blindagem em alumínio, destinada a absorver pressões de impacto de projeteis de medido e pequeno calibre, porém não era dotado de proteção química, o que podia limitar em muito seu emprego nos campos da Europa no caso de confrontos com o Pacto de Varsóvia.
O batismo de fogo do M108 viria com o início da Guerra do Vietnã, quando o terceiro batalhão do 6th Field Artillery Regiment (Regimento de Artilharia de Campo) foi deslocado para cidade de Pleiku em 16 de junho de 1967, sendo seguido por um mais um batalhão de M108 agora do 40th Field Artillery Battalion alocado em Dong Haem em outubro do mesmo ano. Sua possibilidade de girar o canhão em 360 graus, ao contrario da artilharia rebocada o tornou ideal para segurar as posições de fogo, que podiam estar poderiam estar sujeitas a ataques de qualquer direção, porém um ponto negativo foi observado, seu canhão de 105 mm, não atendia as necessidades de cadencia de fogo e eficácia na destruição de alvos, este fato motivou a retirada de ambos os batalhões de artilharia de campo em meados de 1976, encerrando assim a participação do M108 neste conflito.
Como solução a dificuldade observada no Vietnã, previu-se a adoção de um novo canhão de 155 mm, esta decisão iria retirar de linha praticamente toda a frota de M-108 equipadas com canhão de 105 mm do exército americano, sendo parte deste total convertido ao novo padrão com um canhão de 155 mm nascendo assim o M109. Os carros não modernizados foram revisados e fornecidos a nações amigas como parte de acordos bilaterais de defesa, entre eles Bélgica, Brasil, Espanha, China, Turquia e Tunísia. A produção do M108 foi oficialmente encerrada em setembro de 1963, totalizando aproximadamente 950 veículos entregues.
Emprego no Brasil.
O Acordo Militar Brasil - Estados Unidos, foi assinado em 15 de março de 1952 pelos governos do Brasil e dos Estados Unidos, chefiados, respectivamente, por Getúlio Vargas e Harry Truman, tendo como com o objetivo de garantir a defesa do hemisfério ocidental face as ameaças representadas pelo bloco soviético. Com o título oficial de Acordo de Assistência Militar entre a República dos Estados Unidos do Brasil e os Estados Unidos da América, estabeleceu basicamente o fornecimento de material norte-americano para o Exército Brasileiro em troca de minerais estratégicos.
Uma década depois este acordo incluiria o Brasil nos termos do MAP Military Assistance Program (Programa de Assistência Militar) que visava dar continuidade ao processo de renovação das forças terrestres do Exército Brasileiro, neste âmbito ao longo dos anos muitos equipamento e veículos fornecidos, entre estes, 72 obuseiros autopropulsados M-108AR equipados com canhão de 105 mm que foram recebidos em 1972. A adoção deste modelo proporcionou uma grande evolução na doutrina operacional das unidades de artilharia, pois trata-se do primeiro veiculo do tipo a ser incorporado, trazendo uma inédita mobilidade ao apoio de fogo as unidades de campanha. Após sua chegada e adaptação os M108AR foram destinados a quatro novas unidades que passariam a ostentar a denominação de Grupamentos de Artilharia de Campanha Autopropulsados (GAC AP), 4 carros foram ainda alocados a duas unidades de ensino, para o treinamento e desenvolvimento de doutrina.
Os M108AR recebidos estavam em excelentes condições pois haviam sido recentemente desativados das Field Artillery Regiment do US Army, e muitos veículos apresentavam baixa quilometragem, porém em 1972 quando os carros chegaram ao pais sua produção já havia sido descontinuada há quase dez anos, gerando assim problemas no fluxo de peças de reposição, mais notadamente em seu motor Detroit Diesel 8V71T. Em 1977 este cenário se agravaria pois em 11 de março o presidente Ernesto Geisel através Decreto nº 79.376 promoveu o rompimento do Acordo Militar Brasil-Estados Unidos, levando a extinção total do fornecimento de peças de reposição, deixando grande parte da frota de M108AR indisponível.
Para manter a disponibilidade da frota em índices aceitáveis os M-108AR brasileiros foram submetidos no início da década de 1980, a um programa de modernização realizado pela empresa Motopeças, cuja principal alteração consistiu na remoção do motor de origem norte-americana, e sua substituição por um motor nacional fabricado pela Scania do modelo DS-14 com 385 cv. Esta mudança implicou em alterações que foram aplicadas no sistema de acionamento dos ventiladores de arrefecimento, que passou a ser feito por correias, no lugar do caro e complicado sistema de transmissão angular. Outros itens críticos foram também nacionalizados neste processo. Este programa trouxe aos M108AR um conjunto motriz de robustez superior ao original e uma maior vida útil, reduzindo muito os custos de manutenção e as frequentes paradas para reparo, prolongado a vida do veículo por mais de 40 anos.
Entre os anos de 1999 e 2001, o recebimento de novos obuseiros autopropulsados do modelo M-109, permitiu a desativação das unidades do M-108AR que se encontravam em estado de conservação mais crítico. Em 2013 foi celebrado um contrato via FMS (Foreign Military Sales), para a aquisição e modernização de veículos de M109A5, que passaram a ser entregues em 2016, iniciando assim o ciclo de desativação dos M108AR remanescentes. Porém o modelo pode ganhar uma sobrevida, pois o Parque Regional de Manutenção da 5ª Região Militar desenvolveu um protótipo de uma Viatura Remuniciadora, com a finalidade de ampliar a capacidade de transporte e ressuprimento de grandes quantidades de munição para os Grupos ou Baterias de Tiro e de prover mobilidade tática e proteção blindada. Este protótipo encontra-se em testes e se validado deve gerar novas conversões a fim de serem distribuídas as unidades de artilharia autopropulsada.
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