A empresa italiana Alfa Romeo consolidou na década de 1950 sua marcante presença no mercado de caminhões na Europa, através de sua linha de veículos comerciais de pequena e média tonelagem, o próximo passo seria o de buscar novos mercados potenciais, entre ele a América do Sul, tendo como ponto de partida o Brasil, onde após estudos e análises seria firmado um acordo de colaboração com a Fabrica Nacional de Motores (FNM), empresa estatal brasileira que teve sua origem no ano de 1972 mediante a fabricação sob licença de motores para aviação para suprir a demanda de conjuntos motrizes para o esforço de guerra aliado através de sua unidade fabril no município de Duque de Caxias no Rio de Janeiro.
Após o termino do conflito em 1945 e consequente redução nos volumes de vendas de motores aeronáuticos para o governo, a diretoria da FNM buscou opções para diversificar sua linha de produtos, para se preparar para esta nova fase a empresa tornou se uma sociedade anônima em 1947, fechando o primeiro contrato de colaboração com a empresa Isotta Fraschini, para a montagem do primeiro caminhão desta marca o modelo B-7300, ocorre porem que o fabricante italiano encerraria suas atividades devido a dificuldades econômicas, chegando a serem produzidos somente 200 unidades, com índice de nacionalização de 30%. Visando dar sequência em seu planejamento estratégico a FNM celebraria logo em seguida um novo contrato com a Alfa Romeo.
Em 1951, deu-se início a fabricação de caminhões, substituindo o modelo inicial pelo D-9500 mais potente, porém fundamentado no antigo Alfa Romeo Tipo 800, produto este lançado na década de 1940 para o mercado civil e militar, tendo participado inclusive de ações de combate nos teatros de operação Europeu e Asiático.
O FNM D-9500 não demorou a ser um caminhão popular e de boa aceitação no mercado brasileiro, destacava-se devido à grande robustez, e por isso, era indicado para o transporte de cargas pesadas. Apesar de suas dimensões comedidas, pois mal superava 7 metros de comprimento total, ele suportava o transporte de cargas entre 8 e 10 toneladas, estando preparado também para puxar com um reboque de até 14 toneladas e, com isso, sua capacidade máxima de carga alcançava 22 toneladas.
O segundo modelo a ser produzido foi o D-11000 que foi lançado em 1958 e era produzido com um índice de nacionalização de 90%, mais uma o caminhão da FNM teve ampla aceitação pelo mercado civil brasileiro, sendo considerado por seus clientes como o veículo de transporte de carga mais resistente do Brasil, estava dotado com um motor Alfa Romeo diesel de 150 HP de seis cilindros em linha, injeção a quatro tempos, relação de compressão de 17:1, 11050 cilindradas e rotação máxima de 2.000 por minuto, sendo uma novidade para a época pois a maioria dos veículos semelhantes usava motor a gasolina.
O sucesso do modelo foi comprovado pela produção de mais 15.000 unidades, em 1968 a FNM foi privatizada, sendo absorvida pela Alfa Romeo , se tornando uma subsidiaria da mesma, nesta fase a empresa lança dois novos modelos o FNM 180 e FNM 210, com 180 CV e 215 CV, respectivamente. No ano de 1973 a FIAT compra 43% das ações da Alfa Romeo, e em 1976 assume o total controle acionário. A Fiat continuou produzindo os FNM 180 e 210 até 1979, quando os substituiu pelo FIAT 190; Em 1985, já administrada pela Iveco (empresa italiana do grupo FIAT) e com o declínio acentuado na venda de caminhões, encerra as suas atividades no Brasil.
Emprego no Brasil.
Na segunda metade da década de 1950 o Exército Brasileiro ainda dispunha em sua frota de caminhões de transporte dos já obsoletos GMC CCKW e Studebaker fornecidos pelos Estados Unidos nos termos do Leand Lease Act durante a Segunda Guerra Mundial, a idade avançada dos modelos e a deficiência no suprimento de peças de reposição gerava baixos índices de disponibilidade, prejudicando a capacidade de mobilidade da força. Buscando incentivar a indústria nacional o comando do exército optou pela adoção de caminhões militarizados produzidos no pais.
Entre as opções analisadas o FNM D-11000 apresentava uma robustez estrutural que podia atender aos parâmetros exigidos de um caminhão militar, pois eram originalmente dotados de um chassi reforçado apto a suportar pesadas sobrecargas em estradas de grande precariedade e terrenos irregulares, possuía sete travessas de aço que reforçavam ainda mais o chassi, podia ser configurado em várias versões , cavalo mecânico, caminhão comum e apenas chassi para adaptação como basculante, na versão de chassi alongado poderia ainda receber um terceiro eixo. Seu peso era da ordem de 5.900 kg, podendo transportar uma carga de 8.100 kg e rebocar uma carga de até 18.000 kg. Contava ainda com um novo diferencial na área de segurança, pois possuía circuitos de freios dianteiros e traseiros totalmente independentes, freios pneumáticos Whestinghouse, de ação instantânea, que numa eventualidade de “estourar” um circuito, o motorista poderia prosseguir viagem até a próxima oficina.
As primeiras unidades do modelo FNM D-11000 4X2 começaram a ser entregues em 1957 e eram muitos semelhantes as versões civis, com apenas algumas modificações para se atender as necessidades de militarização da viatura, a este modelo se seguiram outras versões em novos contratos, ressaltando ainda que a Marinha e a Aeronáutica também fizerem uso do modelo. Distribuído a diversas unidades do Exército Brasileiro espalhadas por todo o território nacional os FNM em conjunto com modelos da Mercedes Benz, iniciaram o processo de substituição dos GMC CCKW e Studebaker, melhorando em muito a capacidade de mobilidade da força em termos de disponibilidade e custo benefício de operação e manutenção.
O FNM D-11000 foi ainda o primeiro veículo militar produzido no Brasil a ser empregado em condições reais de combate quando dezenas de unidades foram enviados para a região de Gaza, no Oriente Médio para servir como transporte em auxílio às tropas brasileiras que estavam a serviço da ONU (UNEF - United Nations Emergency Force) na região, tentando evitar conflitos entre Árabes e Judeus. Neste teatro de operações especifico apresentavam muitas limitações inerentes ao terreno, pois atolava com frequência na areia fofa do deserto, sendo assim complementados por caminhões ingleses BREDFORD que melhor se locomoviam naquelas condições. Mas mesmo com suas limitações o FNM militar cumpriu seu papel.
Seu processo de desativação teve início em meados da década de 1970, sendo substituídos pelos novos Mercedes Bens, porem até os dias de hoje algumas unidades, principalmente de Intendência e Logística ainda o empregam com sucesso, em suas últimas versões, muito embora ainda existam diversos em operação nas mãos de civis.
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