quinta-feira, 10 de maio de 2018

Submarinos Nucleares


RMB, maio 1988

O público-alvo deste editorial é a sociedade civil (politicos, cientistas, professores, industriais, funcionários e a opinião pública em geral), os militares de outras Forças e a oficialidade naval jovem, que algum dia conduzirá uma Marinha coerente com o futuro do Brasil. Esse público-alvo, não necessariamente bem familiarizado com a estratégia naval, inspirou tanto as considerações iniciais sobre o papel do submarino como o uso de um vocabulário moderadamente especializado.

O que o justifica? Como chegar a ele?
O que quer a Marinha com ele a para o quê?


O submarino e o seu emprego

Para que submarino?

A estratégia naval emprega navios, submarinos a aeronaves fundamentalmente para:
- controlar área marítima, para usá-la em proveito próprio;
- impedir ou dificultar (no linguajar profissional, negar) o uso, pelo adversário, de área marítima, cujo controle ou não pode ser exercido (por falta de capacidade) ou não precisa sê-lo (por ausência de interesse); e
- projetar poder sobre terra, realizando bombardeio naval a aeronaval e o desembarque anfíbio.
A essas formas tradicionais de projeção foi acrescido o lançamento, por submarinos, de mísseis balisticos com ogivas nucleares; este artigo não o aborda porque ele não tem significado para o Brasil.

A literatura militar moderna costuma citar uma quarta tarefa naval: a presença em áreas de alto interesse, para dissuadir atitudes hostis e estimular as favoráveis. Essa tarefa (hoje tão presente no Golfo Pérsico) sempre foi praticada na História e não há razão para considerá-la separadamente porque a capacidade de executá-la é corolário natural da capacidade de executar as três tarefas clássicas.
Como se insere o submarino nesse quadro?

A principal característica do submarino é sua discrição ou capacidade de operar escondido. Essa característica é o fator que mais influencia a adequabilidade do submarino, como instrumento das tarefas citadas acima.

O controle de área marítima pressupõe superioridade e, para assegurá-la, a contribuição do submarino é coadjutória ou complementar à dos navios, aviões e helicópteros (voando de terra ou embarcados). Ela se manifesta através do emprego do submarino contra navios (quando há disputa pelo controle) e na proteção contra submarinos que tentem perturbar o controle(Nota 1); ambos esses empregos são ajudados pela discrição do submarino.

Sob certas circunstâncias, o papel do submarino no controle de área pode crescer, sem prescindir dos navios e das aeronaves, principalmente se o adversário dispuser de aviação (contra a qual o submarino é útil apenas para detecção e alarme). No conflito das Malvinas, em 1982, os submarinos ingleses alijaram do cenário os navios de superfície argentinos (após o afundamento do Cruzador Belgrano, episódio de disputa pelo controle); entretanto, a supremacia naval assim obtida não teria bastado: o que permitiu a retomada das ilhas foi a capacidade da força de superfície e aeronaval inglesa de operar na área, a despeito do esforço aéreo argentino.

Abstraindo-nos do lançamento de mísseis nucleares, para a projeção sobre terra, o submarino é útil como vetor de pequenas incursões (obviamente facilitadas por sua discrição) e como instrumento coadjutório ou complementar para o controle da área onde deve ocorrer a projeção. Novamente o conflito das Malvinas oferece exemplo adequado: o sucesso inglês, definido, em última análise, pelos navios, aeronaves e tropa terrestre, teria sido mais difícil sem a contribuição dos submarinos para o controle do teatro.

Consideremos agora a tarefa de impedir ou dificultar o uso de área marítima pelo adversário, em que a discrição do submarino o torna instrumento privilegiado, compartilhando essa posição com a aviação baseada em terra apenas quando a área está próxima de bases aéreas(Nota 2). Essa utilidade do submarino não agrada às maiores potências navais, que não desejam ser ameaçadas por arma eficaz mesmo quando a serviço de potências secundárias. Já no século passado, um primeiro-ministro inglês advertia que a Inglaterra não devia contribuir para o desenvolvimento do submarino, que poderia vir a pôr em risco a predominância inglesa nos mares - como pôs nas Primeira e Segunda Guerras Mundiais. No entender das grandes potências, aos países de menor expressão caberia apenas uma estratégia naval defensiva e costeira e, como os submarinos são úteis para finalidades mais amplas, podendo até comprometer o tranqüilo predomínio naval dos poderosos, é natural que esses sintam relutância por vê-los prestigiados nos programas navais dos menos poderosos.

Voltando ao exemplo do conflito das Malvinas: a Inglaterra teria enfrentado graves dificuldades se a Argentina dispusesse de uns poucos submarinos modernos que, com a aviação voando do continente, haveriam de criar severa ameaça para os navios-aeródromos e transportes de tropa no teatro próximo às ilhas. A preponderância inglesa talvez acabasse por prevalecer, pois a Argentina não poderia disputar o controle da área em virtude da ameaça dos submarinos ingleses, mas o patamar de risco e o custo do sucesso teriam sido mais altos.


Por que nuclear?

Cabe agora analisar, no quadro geral do uso do submarino, a adequabilidade da propulsão convencional e nuclear. A comparação abrange três características operacionais:

1ª) a discrição ou capacidade de operar escondido. O submarino convencional é muito discreto quando propulsado pela energia de suas baterias, mas essa discrição é comprometida quando ele navega na superfície ou próximo dela, de modo a aspirar da atmosfera e nela descarregar pela tubulação esnórque1(Nota 3), para recarregar as baterias e poupar sua energia para as situações táticas de interação com o adversário. Assim, embora o submarino convencional possa ser mais discreto por curtos períodos, o nuclear é mais discreto no cômputo geral, porque independe da atmosfera;

2ª) a distância que o submarino pode navegar e a velocidade com que pode fazê-lo. É flagrante a superioridade do submarino de propulsão nuclear, capaz de alcançar área distante com rapidez e nela executar patrulha extensa, graças à boa velocidade que pode manter por longos períodos(Nota 4). Essa vantagem também existe no cenário tático, pois o nuclear assume posição de ataque e se evade da reação com maior rapidez do que o convencional, que está sujeito às limitações das baterias. Foi a mobilidade dos submarinos nucleares que permitiu aos ingleses a rápida implementação e a eficiente manutenção da zona de exclusão no teatro das Malvinas, com poucos submarinos; e

3ª) a possibilidade de o submarino nuclear operar por longo tempo, já que o combustível é inesgotável, sob a perspectiva prática operacional. Sua autonomia (tempo fora da base) é limitada apenas pela resistência das tripulações e pela capacidade de transportar gêneros (ou pelo consumo das armas), mas a do convencional é condicionada pela capacidade e pelo consumo de combustível(Nota 5).

Deduz-se, pois, que embora o submarino convencional continue útil para negar o uso do mar, é evidente que o submarino nuclear é útil mais longe, em áreas maiores e por mais tempo(Nota 6). O submarino convencional supera o nuclear apenas na discrição, enquanto propulsado por suas baterias, mas isso só é possível por tempo relativamente curto, tão mais curto quanto maior tiver que ser a velocidade usada. É de se esperar que o aperfeiçoamento das máquinas do submarino nuclear irá reduzir até mesmo esta vantagem do convencional.

Aprofundemos a comparação, associando as considerações estratégicas do item 1 com a análise das características.

Caso 1: impedir que navios adversários se aproximem do litoral e águas costeiras (defesa da fronteira marítima). Trata-se de problema em área próxima e geralmente restrita; a melhor solução seria o controle da área por navios, aviões voando de terra e, complementarmente, por uns poucos submarinos convencionais. Entretanto, se for conveniente aprofundar a defesa até longe do litoral, começa a despontar a adequabilidade do submarino nuclear. Ele será tanto melhor do que o convencional para esse propósito, quanto mais distante (e mais extensa) for a área onde se deseja estabelecer a defesa distante, por submarinos.

Caso 2: dificultar a navegação adversária em águas distantes. Neste caso, é claro que caberiam melhor os nucleares, cuja excelente mobilidade lhe permitiria implementar patrulha distante e extensa, com um número de submarinos menor do que seria necessário para implementá-la com convencionais.

Note-se que em ambos os casos o submarino nuclear apresenta uma vantagem adicional à provida por sua mobilidade privilegiada: o fato de que sua movimentação para a área de patrulha e seus movimentos na área podem ser mantidos mais facilmente em sigilo, já que a propulsão nuclear lhe permite independer da atmosfera.

Complementemos essa análise com mais um exemplo relativo às Malvinas: como foi dito acima, com uns poucos bons submarinos convencionais, a Argentina poderia ter produzido graves dificuldades em torno das ilhas (área razoavelmente restrita e próxima). Entretanto, se a Argentina tivesse contado com dois ou três nucleares, o problema inglês seria maior porque a ameaça argentina se estenderia das proximidades da base de Ascensão às Malvinas (principalmente se a Argentina dispusesse de esclarecimento aéreo para orientar os submarinos). Esse exemplo elucida o valor do submarino nuclear como instrumento de defesa distante, num quadro de confronto com potências melhor preparadas.


Como se insere o Brasil nesse problema?

A dimensão estratégica

Este texto parte de uma premissa básica: o Brasil precisa dispor de um Poder Militar adequado ao cenário de segurança que lhe diz respeito.

Assim, convém que o Brasil seja capaz de dificultar a aproximação de forças navais/aeronavais hostis e de impedir o uso de suas áreas costeiras por eventual adversário (lembremo-nos do litígio franco-brasileiro em 1963, em torno da captura da lagosta em águas do Nordeste brasileiro). Isso implica capacidade de controlar as águas ao longo do litoral por navios (com seus heljcópteros), aviões voando de terra e, em papel coadjutório, submarinos, que poderão ser convencionais. É claro, porém, que os nucleares serão mais apropriados se a ação submarina tiver que ser realizada em área distante, ao longo do eixo-vetor da ameaça (algo similar à conjectura feita anteriormente, relativa ao conflito das Malvinas).

Em complemento à capacidade de defesa da fronteira marítima (defesa próxima e distante), precisamos ter condíções de exercer influência em áreas sul-atlânticas afastadas, de acordo com o interesse nacional. Isso implica controlar área selecionada e restrita, em cooperação internacional ou até mesmo autonomamente, mas, neste último caso, é preciso reconhecer que, sob condições adversas de ameaça real (sobretudo se aérea), no futuro hoje previsível, nossa estratégia terá que se alicerçar mais na discrição do submarino.

Se o problema se localizar em área relativamente pequena e moderadamente distante (por exemplo: proximidades de Ascensão ou até de Cabo Verde), o submarino convencional ainda atende a necessidade, embora o nuclear já comece a aparecer como mais apropriado. Entretanto, se a localização for muito distante (por exemplo: Golfo da Guiné ou o amplo contorno Sul da África - a 3.000 milhas de distância ou até mais), o submarino nuclear se imporia com facilidade sobre o convencional, pois seria possível realizar com ele uma patrulha mais eficiente com menos submarinos(Nota 7).

Deduz-se, assim, que convém ao Brasil tanto o submarino convencional como o nuclear. Enquanto a defesa da fronteira marítima (defesa próxima e afastada) merecer nossa atenção prioritária, o número de convencionais poderá ser maior do que o de nucleares. A prazo longo, o crescimento da projeção, das responsabilidades e dos interesses brasileiros no cenário internacional acabará por recomendar maior presença em águas distantes do Atlântico Sul e isso induzirá à conveniência de ser aumentada a participação relativa da propulsão nuclear. Note-se que a sempre importante defesa da fronteira marítima não será comprometida por essa evolução. Pelo contrário, o submarino nuclear faz bem, ou até melhor, o que o convencional faz e, como vimos, ele é adequado à defesa distante, o que lhe confere boas condições para tornar mais difícil o exercício de ameaça ao Brasil, pelo mar.

Este é o quadro estratégico que, no nosso entendimento, explica o empenho que nos levará algum dia, sem atropelos mas com firme e prudente perseverança, ao submarino de propulsão nuclear. A Marinha veria com satisfação essa sua convicção debatida e avalizada em foros nacionais adequados: o Congresso, instituições de estudos políticos e sociais (universitárias ou autônomas) e outras. Os que podem contribuir para tal análise devem fazê-lo, sem preconceitos nem idiossincrasias, para que às gerações futuras não venha assistir o direito de criticá-los por erro ou omissão, nas grandes questões da defesa nacional.

A dimensão técnica

Em países do nível tecnológico do Brasil, u'a meta tão complexa como o submarino de propulsão nuclear só pode vir a ser atingida com muito esforço próprio, pois nenhuma grande potência coopera com as menos desenvolvidas num projeto militar com potencial tanto para perturbar a tranqüila superioridade naval dos mais fortes, como para apoiar a prática de uma estratégia autônoma, a serviço de uma política independente(Nota 8).

O esforço nacional em prol do submarino nuclear brasileiro processa-se em três áreas da tecnologia militar-naval:
- o submarino em si;
- o sistema de armas, que se restringe às armas de ataque a navios (torpedos e, talvez, mísseis táticos), pois, como foi dito no início do artigo, o submarino lançador de míssil balístico diz respeito à arma nuclear, que não é cogitada; e
- a propulsão nuclear.
O domínio da tecnologia do submarino nuclear passa por etapa prévia imprescindível: o domínio da tecnologia do submarino convencional. O atual programa de submarinos convencionais, iniciado com a construção de um submarino moderno na República Federal Alemã, a ser seguida pela construção de outros no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, vai nos proporcionar o aprendizado para o grande salto, o submarino nuclear, talvez nos últimos anos deste século.

Quanto ao sistema de armas, também estamos tentando desenvolver alguns equipamentos cuja tecnologia dificilmente nos seria transferida. O sistema de armas do submarino nacional convencional será, provavelmente, parecido com o do nuclear.

Chegamos assim à terceira área básica, a propulsão nuclear. Seu desenvolvimento, para o qual não contamos com apoio externo, ou, melhor dizendo, contamos com resistências, pressões e embaraços externos(Nota 9), engloba:
- o domínio do combustível, do tratamento do minério ao urânio enriquecido e preparado para o reator;
- o domínio da tecnologia do reator;
- o domínio da tecnologia dos equipamentos de máquinas (gerador de vapor, trocadores de calor, turbinas, bombas, motores elétricos e outros, tudo devidamente integrado); e
- o domínio da tecnologia do controle de um sistema nuclear de potência naval.
A Marinha vem contribuindo intensamente para o programa nuclear autônomo desde 1979, na condição de sócio principal do Instituto de Pesquisas de Energia Nuclear da Universidade de São Paulo (IPEN), com total e entusiasmado apoio da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Esse empenho específico tem por objetivos o combustível e o reator; como vem sendo noticiado, ele caminha bem. Paralelamente, a Marinha vem promovendo o desenvolvimento das máquinas e do controle do sistema, em indústrias e instituições nacionais de pesquisa. Dentro de quatro a cinco anos, teremos chegado a uma instalação-protótipo, no Centro Experimental de Aramar, Iperó, São Paulo.

A propulsão e o submarino, meta de longo prazo da Marinha, vão demorar, mas chegaremos a eles com passos cuidadosos e coerentes com as possibilidades orçamentárias. Entretanto, os benefícios gerais, o início da independência tecnológica na área nuclear, já começaram: todo esse conjunto de pesquisas e desenvolvimento técnico-industrial está produzindo um imenso acervo de frutos tecnológicos de toda ordem para a sociedade brasileira, nos campos da energia, agricultura, saúde e outros. Olhando sem preconceito o que está sendo feito, concluiremos que a propulsão nuclear será, em última análise, um produto diluído em muitos outros aspectos positivos do programa nuclear autônomo e seus complementos técnico-industriais.


O Tratado de Tlatelolco, a zona de paz e a bomba 

Alguns adversários das atividades nucleares em que a Marinha está envolvida (muitos, honestamente bem-intencionados, embora nem sempre bem informados, mas outros preconceituosos ou até movidos por interesses pouco explícitos) apontam nessas atividades uma incoerência com o Tratado de Tlatelolco (não proliferação na América Latina) e com a Resolução da ONU sobre o Atlântico Sul - Zona de Paz, que preconiza a desnuclearização desse oceano.

Ora, a propulsão nuclear não é arma: é uma propulsão com algumas características que a valorizam perante a convencional (mobilidade, autonomia e independência da atmosfera), tanto assim que a Agência Internacional de Energia Atômica (Viena) entendeu que em 1982 a Inglaterra não feriu a desnuclearização sul-atlântica, pois eram convencionais as armas dos submarinos nucleares empregados. E quanto à zona de paz, a desnuclearização preconizada se refere aos submarinos lançadores de mísseis com ogivas nucleares, da URSS e dos EUA, cuja presença geraria um crescendo de atividades navais e aeronavais das superpotências, em detrimento da tranqüilidade sul-atlântica.

Outro tipo de objeções diz respeito à possibilidade de que o desenvolvimento nuclear em curso com a cooperação da Marinha visaria à arma atômica. Trata-se de suposição equivocada não por inviabilidade técnica, mas porque já existe uma decisão nacional, uma decisão política de não construí-la e esta decisão não seria alterada sem profunda análise pela sociedade em seu nível político, análise realizada com visão estadista e elevado respeito à vontade nacional. Os responsáveis pelas atividades que contam com a cooperação da Marinha respeitam a decisão em apreço com alto grau de patriotismo, civismo e acatamento às manifestações da alma nacional.

NOTAS:
Nota 1. Por ser o submarino um excelente instrumento anti-submarino, a doutrina das maiores potências inclui o uso de submarinos de ataque (armados com torpedos) contra os submarinos lançadores de mísseis balisticos com ogiva nuclear.
Nota 2. Esse seria o caso da defesa do litoral, tráfego e instalações costeiras, cuja importância exige, normalmente, mais do que a negação: exige o controle efetivo, que o submarino e o avião ajudam a estabelecer e manter.
Nota 3. Aportuguesamento da palavra snorkel, de origem holandesa. 
Nota 4. O submarino convencional moderno pode desenvolver boa velocidade em imersão, mas esse regime de marcha exaure rapidamente as baterias; se o faz com o esnórquel, é facilmente detectado. 
Nota 5. A discrição, a mobilidade e a autonomia foram consideradas apenas sob a perspectiva da propulsão nuclear e diesel-elétrica. Existem em desenvolvimento novos sistemas que prescindem do ar, mas este artigo não trata deles por serem insuficientes as informações. No que concerne à mobilidade e à autonomia, é improvável que tais sistemas possam superar a propulsão nuclear. 
Nota 6. Na Segunda Guerra Mundial, a Alemanha dificultou bastante o uso do Atlântico, com submarinos convencionais, mas isso foi conseguido graças ao emprego de elevado número de submarinos primitivos e baratos. A tecnologia moderna tornou proibitivas as grandes forças de submarinos, salvo para as duas superpotências. 
Nota 7. Ademais, vale insistir na lembrança de que o trajeto para a área e a permanência nela do submarino nuclear poderiam ser efetivados sob maior discrição. 
Nota 8. Como exceção à regra vale consignar que os indianos receberam o primeiro de três submarinos nucleares soviéticos. A notícia demonstra ser do interesse soviético que a Índia exerça papel saliente no Índico, em detrimento da dominação ocidental. Uma linha de ação como essa, inviável para o Brasil porque os EUA não a adotariam, não nos interessa, pois, quanto mais complexa a tecnologia, maior é a satelização logística e estratégica. 
Nota 9. A inexorável resistência externa foi a principal razão do sigilo que protegeu o programa nuclear autónomo até 1987, pois, se ele fosse conhecido, as dificuldades teriam sido maiores. O estágio atual do desenvolvimento já torna prescindível a proteção por sigilo (salvo o industrial). 

Estratégia Naval





As operações terrestres e navais destingem-se pelos seus objetivos e o meio físico onde se desenvolvem, ficando estas menos sujeitas às peculiaridades da área de operações. A influência de fatores como configuração geográfica (terreno), condições climáticas e meteorológicas não é significativa e em muitos casos inexiste. Excetua-se a operação anfíbia, que é fortemente afetada pelos fatores do meio físico marítimo, até a linha da praia, e terrestre, onde atua a força de desembarque.

A força naval que dispõe de maior poder de combate, procura prover a segurança de áreas consideradas vitais para o sucesso das operações, integridades de suas linhas de comunicação, ao mesmo tempo que, através de operações ofensivas, busca a destruição da armada oponente, a interrupção de suas linhas de comunicação, a penetração em áreas sob o controle inimigo, bem como a conquista e/ou neutralização de bases navais e terminais portuários existentes; normalmente essa força reúne reais possibilidades de conduzir operações anfíbias no litoral defendido.

A força naval de poder inferior procura, por meio de operações de desgaste, debilitar o poder de combate do atacante, dividindo-o e combatendo frações de suas forças separadamente, evitando que seja apresentada força que ameacem áreas vitais, obstruam suas linhas de comunicações, neutralizem suas bases e possa realizar uma operação de desembarque anfíbio.


AS TAREFAS BÁSICAS DO PODER NAVAL

A guerra naval consiste no emprego de meios de superfície e submarinos, aeronaves e anfíbios, utilizando-se inclusive, de força terrestre, com a finalidade de executar uma ou mais das seguintes tarefas básicas:
  • Controlar Áreas Marítimas: O controle de áreas marítimas normalmente acontece por tempo limitado, e assegura a utilização desta área com um certo grau de segurança por quem o exerce, ou impõem uma dificuldade de sua utilização pelo inimigo; e é obtido pela destruição ou neutralização das forças navais inimigas ou sua contenção, impedindo seu posicionamento nas áreas de interesse.
  • Negar o uso do mar ao inimigo: Negar o uso do mar ao inimigo consiste em dificultar-lhe o controle de suas áreas marítimas de interesse, ou evitar que explore o controle obtido em seu proveito. Essa tarefa é desempenhada quase sempre pelo poder naval que não reúne condições de estabelecer, ele próprio, o controle das áreas marítimas de interesse, e é conduzida por meio de ações de desgaste realizadas, principalmente por submarinos e minagem de áreas.
  • Projetar poder sobre terra: Projetar poder sobre terra consiste em executar uma ou mais das seguintes atividades:

    • Bombardeio a partir do mar em alvos na praia ou além desta
    • Executar operações de natureza anfíbia



OPERAÇÕES DE GUERRA NAVAL

Poder Naval se vale de diferentes tipos de operações navais, para cumprimento de suas tarefas básicas: 


  • Ataque ou proteção às comunicações marítimas
  • Bloqueio de vias marítimas
  • Projeção de poder sobre terra 
  • Defesa do litoral.




Para a execução das operações navais, os meios em um teatro de operações marítimo (TOM), são normalmente agrupados em forças-tarefa, cuja composição e organização dependem fundamentalmente da missão a ser cumprida, da situação existente e das tarefas atribuídas aos componentes da organização. As operações navais típicas são: 
  • Ataque à forças inimigas: Operações de Ataque são aquelas executadas por navios de superfície, submarinos, aeronaves e/ou fuzileiros navais, com as finalidades de destruir ou neutralizar forças navais, aéreas ou terrestres, bem como os meios empregados nas comunicações marítimas do inimigo. Estão aí incluídos o ataque à bases navais e portos, a interdição de comunicações terrestres, A debilitação de resistências em áreas terrestres, além da neutralização ou debilitação objetivos em terra e ao longo do litoral. 
  • Combate anti-submarino: O Combate anti-submarino é executado específica e diretamente contra os submarinos do inimigo, com o intuito de negar-lhe o uso eficaz desses meios, em face da ameaça que representam; podem visar aos submarinos em trânsito ou aos posicionados em áreas de interesse, constituindo-se em ameaça imediata ou não. 
  • Operações anfíbias: Operações anfíbias (Op Anf) são aquelas lançadas a partir do mar, por força naval e força de desembarque (força-tarefa anfíbia), sobre litoral hostil, defendido ou não, abrangendo também no seu conceito, a retirada de forças terrestres do litoral. Seus propósitos são conquistar posição para o lançamento de ofensiva terrestre, instalação de base naval ou aérea, ou ainda, negação do uso de uma área terrestre pelo inimigo. Em razão de sua complexidade, normalmente se constituem em operações de cunho estratégico. 
  • Minagem e contra-minagem: Minagem e contra-minagem consistem no lançamento de minas em áreas adequadas à destruição de embarcações inimigas; ou pela ameaça que representam, para conter, limitar, canalizar ou retardar seu trânsito. Podem ser executadas em águas controladas pelo inimigo (minagem ofensiva), ou em águas sob controle de quem a executa (minagem defensiva). Já as de contra-minagem consistem na execução de ações que objetivam a neutralização da ameaça proporcionada pelas minas lançadas pelo inimigo. 
  • Esclarecimento marítimo: O Esclarecimento marítimo visa a obtenção de informações úteis e oportunas, para orientar o emprego das forças disponíveis. 
  • Bloqueio: O Bloqueio assegura às forças que o executam certo grau de controle sobre sobre determinada área, com o propósito de impedir ou dificultar a passagem de naves não autorizadas. Por suas implicações com o tráfego marítimo de países neutros, em princípio, o bloqueio deve ser objeto de declaração formal ,e para que seja aceito internacionalmente, faz-se necessário que existam reais condições para torná-lo efetivo.
  • Operações especiais: Operações especiais são aquelas conduzidas por meios não convencionais como submarinos especiais, mergulhadores de combate, sabotadores, grupo de demolição, pára-quedistas, entre outros; que executam ações destinadas a destruir ou danificar objetivos importantes em áreas defendidas, capturar ou resgatar pessoal ou material, obter informações, despistar e produzir efeitos psicológicos. São de pequena envergadura e rápida execução.
  • Defesa de porto ou área marítima restrita:  A Defesa de porto ou área marítima restrita visa impedir ou neutralizar os ataques dirigidos aos portos e às áreas marítimas restritas, que contenham instalações importantes, realizados por meios convencionais ou especiais. 
  • Apoio logístico móvel: O Apoio logístico móvel visa prover, como o próprio nome diz, o necessário apoio logístico móvel às forças navais.
  • Defesa de plataforma de petróleo no mar: A Defesa de plataformas de petróleo visa assegurar a preservação e/ou a continuidade de funcionamento das plataformas de exploração de petróleo em mar aberto. 
Cada uma das operações típicas de guerra naval, comumente, incluem certas ações não estritamente vinculadas a uma operação específica, tais como ações de defesa antiaérea, de guerra eletrônica, de guerra química, entre outras. 


OPERAÇÕES ANFÍBIAS

As operações anfíbias são classificadas em quatro modalidades básicas:

  • Assalto Anfíbio (Ass Anf): O Assalto anfíbio é uma operação que envolve ações empreendidas por uma força de desembarque para o estabelecimento de uma cabeça-de-praia em litoral defendido ou não. É a principal das modalidades de operações anfíbias. Ele inicia-se com a chegada do Corpo Principal da força-tarefa anfíbia (FT Anf) na área de desembarque e se estende até a consolidação da cabeça-de-praia (C Pra). Compreende três etapas bem definidas, que são o transbordo da tropa dos navios para as embarcações de desembarque, o movimento navio-para-terra (MNT) e o assalto propriamente dito. A partir da execução do transbordo, a tropa ficará organizada em equipes de embarcações (EE), valendo-se dos carros sobre lagartas anfíbios (CL Anf) ou das embarcações de desembarque. Pode-se identificar o momento desse transbordo pelo movimento circular das embarcações de desembarque (ED), na denominada área de espera, próximo aos navios de transporte. Ao se afastar do costado do navio de transporte, cada embarcação de desembarque se direciona para a área de reunião. Nesta área, o comandante de cada vaga permanece aguardando ordem do comandante do grupo de embarcações, para então se dirigir até a linha de partida, afastada cerca de 4 km da praia, de onde sairão em alta velocidade até abicarem na praia prevista, sendo normalmente orientados por navios varredores. A Operação contará também, com o apoio de fogo naval e a ação da aviação embarcada, desde o seu início até mesmo precedendo o dia “D”. 

  • Demonstração Anfíbia (Dem Anf): Demonstração Anfíbia consiste na realização de demonstração de força, objetivando iludir o inimigo, induzindo-o a adotar linha de ação desfavorável, preferencialmente que contribua para a obtenção da surpresa tática, quanto ao verdadeiro local onde se pretende conduzir um assalto anfíbio ou outra operação. 
  • Incursão Anfíbia (Inc Anf): Incursão Anfíbia trata-se de desembarque de forças de pequeno efetivo, em costa hostil, que realizam rápida penetração em terra e cumprimento da missão, seguida de retirada.
  • Retirada Anfíbia (Rda Anf): A Retirada Anfíbia é a modalidade que consiste na retirada de forças de uma costa hostil, com a utilização dos meios navais e aeronavais.

Posição de Observação


Observadores norte-americanos no Afeganistão

Uma das várias atividades em combate é obter informações. Saber o quanto possível sobre a força inimiga, seus movimentos, suas posições e intenções. O guerra moderna é altamente móvel e tecnologicamente sofisticada, mas os comandantes sempre tem algo a acrescentar instalando postos de observação estáticos (PO's) em locais cuidadosamente escolhidos, escondidos do inimigo e guarnecido pela infantaria com seus olhos afiados.

Selecionando um local para o PO:
  1. Deve-se poder observar todo o terreno sob sua responsabilidade
  2. O campo de visão deve ser o mais abrangente possível
  3. Deve existir acesso bem como rotas de fuga cobertas
  4. A posição escolhida deverá estar alheia a observação inimiga e protegida do seu fogo
  5. Deverá ser mantido contato constante entre o PO e o PC (Posto de Comando)
  6. Posições de troca deverão ser previstas caso o inimigo force a troca
  7. Deve-se lembrar sempre: A melhor proteção que existe é o anonimato.
Ocupando o PO:

Uma vez escolhido o local, este terá que ser ocupado. Primeiramente o terreno deverá ser checado para certificar-se de que não existem inimigos próximos, e que não existe nenhuma armadilha ao redor. Em seguida, deve-se certificar-se de que a comunicação não será afetada pela posição. Isto só pode ser feito chamando-se o PC do próprio PO. Poderá ser necessário escavar trincheiras, que possibilitam turnos de até 24 horas, dependendo do terreno. Se não for possível escavar durante a luz do dia, deve-se valer-se da escuridão em quantas noites forem necessárias para estabelecer a posição.


Rotina de observação:

O fator mais importante que afetará a rotina no PO é o número de pessoal disponível para ocupar os turnos de observação. Quando não for possível manter mais que dois observadores ao mesmo tempo, há um limite de quanto tempo alguém pode observar a mesma parte do terreno sem prejuízos da concentração. A concentração da maioria das pessoas começa a ficar prejudicada após 30 minutos em média. Se dois homens estiverem na observação por duas horas, deve-se alterná-los a cada 15 minutos.
Se o PO for descoberto por um contingente inimigo muito mais poderoso, colocando a vida de seus ocupantes em perigo iminente, uma fuga rápida é aconselhável. Desta forma deve-se estar pronto para mover-se imediatamente.

O que procurar:

Deve-se fragmentar a área a ser observada, em área próxima, área intermediária e área afastada.. Dessa maneira pode-se fazer a varredura de cada parte metodicamente e com cuidado, com os binóculos de um lado para outro. Descanse seus olhos periodicamente. Ao fazer a varredura da área, deve-se procurar qualquer coisa que destoe do cenário. Não deve-se procurar um tanque ou um sistema de trincheiras, mas erros de camuflagem, folhagem fora     do lugar ou detalhes sem razão de ser. Deve-se procurar marcas de trilhas ou áreas de terreno adulteradas. Pássaros e animais perturbados são um sinal de atividade incomum. Procure reflexos do sol, fumaça de escapamento de veículos ou de um fogo de acampamento. Áreas escuras devem ser observadas com atenção redobrada. Sobretudo, procure o movimento.

Sistemas Operacionais







Baseado no MC EB 100-5

No campo de batalha os diversos elementos de combate e apoio ali presentes interagem de forma coordenada e sincronizada, integrando sistemas operacionais, que permitem aos comandantes coordenar o emprego oportuno de seus diversos meios no tempo, no espaço e na finalidade. Cada força implementa seus sistemas operacionais de forma a atender suas necessidades específicas, porém uma campanha é levada a cabo pela operação integrada e harmônica de todas as forças singulares com suas unidades de diferentes especialidades, e seus sistemas devem ser integrados de forma a atuar como tal, minimizando esforços e maximizando resultados. Os sistemas operacionais são:

  • Comando e Controle (C2)
  • Inteligência Militar (I)
  • Manobra
  • Apoio ao Combate
  • Segurança e Proteção
  • Apoio Logístico.

Esses sistemas aplicam-se tanto ao nível tático quanto ao nível estratégico-operacional do combate e facilitam a integração, coordenação, preparação e execução de operações de armas combinadas e das forças singulares de forma harmônica e bem sucedidas.

SISTEMAS OPERACIONAIS

  • Comando e controle:

Esse sistema permite aos comandantes de todos os escalões e diferente unidades visualizar o campo de batalha, apreender a situação e dirigir as ações militares necessárias à vitória. Também estabelece as ligações necessárias ao exercício do comando, às comunicações entre os postos de comando e entre os comandantes e seus estados-maiores, quando aqueles deixam a área do posto de comando. As comunicações são o elemento vital para o exercício do comando e controle em combate. Integram este elemento todas a tropas envolvidas diretamente nesta função específica, as unidades de comunicações e os comandantes das diversas unidades e sub-unidades.


  • Inteligência:

É fundamental para o planejamento eficaz e para a segurança das tropas. As operações de inteligência são esforços organizados para coleta, análise e difusão de informações precisas e oportunas sobre a área de operações e o inimigo. Para fornecer uma visão precisa do campo de batalha, exige direção centralizada, ação simultânea em todos os níveis de comando e difusão oportuna das informações pela cadeia de comando. O comandante, em todos os escalões e unidades, dirige as atividades de inteligência. Esse sistema acha-se intimamente ligado ao de comando e controle e na prática é exercido pela seções de inteligência da diversas unidades com participação efetiva da totalidade das forças amigas, pois qualquer integrante destas pode fornecer, a qualquer momento subsídios importantes ao exercício desta atividade.


  • Manobra: 

A manobra é uma ação estratégica militar, um princípio de guerra e um elemento fundamental do poder de combate. Resumidamente, consiste na combinação de fogo e movimento para posicionar-se, no campo de batalha, de maneira vantajosa em relação ao inimigo. Ela cria as condições para a conquista dos objetivos táticos, estratégico-operacionais ou estratégicos. Todos os sistemas trabalham para facilitar, orientar e apoiar a manobra, mas sua relação mais imediata é com os sistemas de apoio de fogo, de comando e controle, de mobilidade, contramobilidade, proteção e logístico. Este sistema é exercido na sua essência pelas armas-base.


  • Apoio ao combate:

O Apoio ao combate consiste em todas as ações que agem como facilitadoras das ações de manobra. envolver as ações de mobilidade e contra-mobilidade proporcionadas pelas tropas de engenharia. as ações de apoio de fogo e guerra eletrônica. 

As operações de mobilidade preservam a liberdade de manobra das forças amigas. Incluem a abertura de trilhas e brechas nos obstáculos inimigos, a melhoria da circulação no campo de batalha, a construção de meios para a transposição de cursos de água obstáculos, e as medidas para controle de tráfego e circulação e a utilização da Aviação do Exército. As medidas de contra-mobilidade visam a impedir ou dificultar a mobilidade do inimigo. Incluem nossa manobra e fogos, a construção de obstáculos e o emprego de fumígenos.

A sincronização dos fogos com a manobra é crucial para o sucesso das operações. O sistema de apoio de fogo realiza a sincronização do fogo orgânico, do aéreo e do naval com a manobra idealizada. O sistema de apoio de fogo está ligado diretamente aos de manobra, inteligência, logística e comando e controle e proporciona ao comandante a capacidade de tirar o máximo proveito da aplicação de fogos em toda a profundidade do campo de batalha. Envolve a artilharia orgânica das armas-base (morteiros), a artilharia de campanha, aviação do exército,a aviação de ataque a apoio aproximado e a artilharia naval. Os fogos de profundidade e bombardeios estratégicos, que visem a debilitar a capacidade de combate do inimigo e visem a desorganição de seus sistemas logísticos e infraestrutura, como a destruição de usinas, estações, sistemas de comunicações, fábricas e outros, também fazem parte deste sistema.

A ações de guerra eletrônica, normalmente operadas pelas tropas de comunicações das diversas forças, apóia o combate degradando a utilização, pelo inimigo, de seus meios eletrônicos, reduzindo a eficácia de seus sistemas de aquisição de detecção de alvos, comunicações e informações eletrônicas (MAGE). 


  • Segurança e Proteção:

O sistema de segurança e proteção visa proporcionar as forças em combate um "guarda-chuvas" protetor às ações do inimigo, evitando que este logre êxito em suas escaramuças e frustração do nosso planejamento. Participam do sistemas de proteção e segurança todas as tropas presentes no Teatro de operações e no além teatro que trabalhem para esta finalidade. Destacam-se neste sistema as unidades de artilharia antiaérea terrestres e navais, a aviação de caça e inteceptação e defesa aérea, as tropas de engenharia nas ações de forticações de combate, simulação e dissimulação, dispersão e prevenção de fenômenos naturais. Ações de artilharia de campanha a bombardeio aéreo preventivos também apoiam o sistema de segurança e proteção.

O sistema de defesa antiaérea coordena todos os elementos envolvidos no combate a ameaça aérea inimiga, embora a parte mais significativa fique a cargo das unidades de artilharia antiaérea e aviação de defesa aérea. Também estabelece a coordenação com a Força Aérea e a Aviação do Exército, estabelecendo medidas de controle do espaço aéreo e coletando, analisando e difundindo informações sobre o inimigo aéreo. Sua atuação também ajuda a prevenir a ocorrência de baixas e danos provocados pelo fogo amigo terrestre ou aéreo.



  • Apoio Logístico:

Este sistema incorpora técnicas especializadas e se estrutura para cumprir as funções logísticas. Organiza-se em torno das atividades funcionais, respeitando a interpenetrabilidade entre elas e a melhor funcionalidade e especialização em cada escalão.  Apóia-se no máximo aproveitamento da infra-estrutura local e dos meios civis existentes e mobilizáveis. Orienta-se, fundamentalmente, para o apoio ao pessoal e ao material dos elementos de combate e de apoio ao combate.  Deve integrar-se perfeitamente ao sistema de manobra. Aplica-se em todo o espectro das operações militares e em todos os escalões. É essencial para o funcionamento das organizações militares em situações de paz ou de combate e precisa operar ininterruptamente. A frustração dos sistemas logísticos pelo inimigo tem sido, ao longo da história, o principal fator que determina a vitória ou derrota em uma campanha.

Infantaria



A infantaria é a arma base por excelência. Em sua forma mais básica, consiste no soldado que combate a pé dotado de um fuzil de assalto, o fuzileiro. Devido a estas características se constitui na arma mais numerosa, seja em número de unidades ou de combatentes, e barata de qualquer exército. Pode atuar em qualquer tipo de terreno, sob quaisquer condições meteorológicas, ser deslocada por qualquer meio de transporte que esteja disponível e cumprir quase todos os tipos de missões nos campos de batalha modernos. 

Apoiada pelas outras armas como artilharia e engenharia, a infantaria moderna é dotada de grande poder de fogo, e vale-se da manobra e seu grande poder de choque para cumprir sua missão nos campos de batalha. Juntamente com a cavalaria é denominada arma-base, pois é a partir delas que o comando orienta toda a sua manobra. Possui elevada mobilidade tática devido a sua capacidade de fracionamento das unidades, onde cada indivíduo ou pequena fração pode deslocar-se rapidamente a pé em pequenas distâncias, não dependendo de estradas ou outros meios de transporte. Pode configurar-se no terreno de forma extremamente flexível à vontade dos comandantes de baixo escalão, de acordo com as necessidades imediatas, assim como pode entrar em combate de forma instantânea e com planejamento mínimo. 

Sua mobilidade estratégica é elevada e depende dos meios de transporte que lhes forem oferecidos, mas devido a suas características pode deslocar-se de forma fragmentária e flexível, em meios de transporte de diversos tipos, planejados ou de ocasião. Trens, caminhões e outros veículos terrestres, helicópteros e aeronaves de carga, navios e submarinos e outros meios podem ser empregados. Na segunda grande guerra, de forma improvisada, se fez uso de táxis, bicicletas e animais para seu deslocamento. Podem deixar seus transportes por lanchões de desembarque, carros blindados anfíbios, paraquedas, desembarque em movimento de viaturas terrestres, rapel  e outros meios disponíveis e/ou necessários.


Devido a sua flexibilidade pode se dispersar facilmente no terreno, reduzindo sua vulnerabilidade ao fogo inimigo e dificultando sua detectabilidade, e se reagrupar rapidamente quando necessário. Pode operar com apoio logístico reduzido, obtendo comida de meios locais quando em pequenas frações, desde que em missões com baixo consumo de munição, que deverá ser carregada pelos combatentes.

A missão da infantaria é a missão mais básica de uma força armada: cerrar sobre o inimigo por meio do fogo e da manobra a fim de neutralizar seu poder de combate através de sua morte ou captura, conquistando e mantendo o terreno, e da mesma forma repelir seu ataque, impedindo seu avanço ou contra-atacando. Apesar das batalhas modernas contarem com meios mais potentes de combate como a artilharia, obombardeio aéreo e o assalto por carros de combate, cabe a infantaria ocupar o terreno após estes executarem suas missões e atuar diretamente onde o uso destes meios não seja viável como em terrenos difíceis onde a mecanização não possa ir e em áreas onde seja importante preservar a estrutura existente e a segurança da população civil. Em cenários convencionais a infantaria participa com as demais armas de sistemas de armas combinadas, seja valendo-se de meios blindados ou não. A infantaria também atua em tarefas de controle de área e que exijam uma administração de situação mais capilarizada. Tarefas de reconhecimento em força de áreas restritas ou meramente de observação e de segurança de áreas de retaguarda e/ou ocupadas também estão dentro de suas possibilidades.

Uma das tarefas básicas da infantaria no campo de batalha é manter o contato com o inimigo. Uma força combatente deve manter um contato constante com o inimigo, de forma a estar initerruptamente atualizada de seus movimentos, dispositivo e intenções, a fim de não ser surpreendida por suas ações e manter seu comando sempre interado da situação de forma intempestiva. O contato constante permite ainda o aproveitamento de oportunidades que venham a surgir, como a ocupação de terrenos mal defendidos e que possam ser tomados com esforço mínimo.

Cabe a infantaria a manutenção das chamadas linhas de contato, através da observação e vigilância constante a partir de pontos elevados sempre que existirem, sempre com o apoio do fogo orgânico das unidades a fim de manter a iniciativa do combate. Este contato se faz pela observação constante e pelo uso das patrulhas de combate e reconhecimento, a fim de experimentar seus dispositivos defensivos, buscar informações, mostrar que está presente e atuante, além de manter a segurança relativa das próprias posições. Patrulhas de combate e reconhecimento são procedimentos constantemente empreendidos pelas tropas, sejam em áreas avançadas ou de retaguarda, pois o terreno é permeável, e uma vigilância pró-ativa e agressiva deve ser implementada.


A infantaria atua ainda na limpeza de áreas conquistadas a fim de neutralizar focos inimigos que insistam em continuar combatendo. Em áreas urbanas estes focos são muito comuns e exigem da infantaria varreduras minuciosas "de casa em casa". Áreas conquistadas também exigem o estabelecimento de perímetros de segurança, com a instalação de controles de tráfego de veículos e pessoas, posições fortificadas e de observação e vigilância, e demais estruturas que se façam necessárias ao local.

A perseguição de forças em retirada, desde que em terrenos restritos, pode ser desempenhada pela infantaria, a fim de evitar que estas se reorganizem a voltem a se tornar efetivas novamente. A perseguição em maiores profundidades de terreno é deixada para forças mecanizadas com maior aptidão para tal.

A infantaria pode ainda prover escolta a forças mecanizadas, desde que providas de meios idênticos. Uma missão comum é o acompanhamento das forças de carros de combate, onde é proporcionado apoio mútuo, evitando-se o fogo anticarro da infantaria inimiga através de ações pontuais e flexíveis, e valendo-se do fogo destes blindados em proveito próprio. Comboios logísticos e outros também podem se valer da segurança proporcionada pelas tropas de infantaria. Missões secundárias ainda podem ser empreendidas por estas tropas, como o auxílio a consecução de infraestrutura e a formação de reservas, oportunidade em que se aproveita para descanso, recompletamento e manutenção mais apurada do equipamento.

A infantaria opera através de suas companhias de fuzileiros que desdobra seus pelotões e grupos de combate de maneira extremamente flexível, podendo atender vários pontos da áreas de operações de forma simultânea, sempre no contextos de uma força maior. Está inserida sempre em uma malha maior de outros meios que atuam em seu proveito como a artilharia, a engenharia de combate, as unidades de mobilidade aérea, os carros de combate e as unidades blindadas em geral. A infantaria reage ao contato com fogo, manobrando para posições de flanco mais favoráveis. Usar o terreno é fundamental e a capacidade dos líderes de canalizar o poder de cada fração dentro do contexto em que se encontram, identificando oportunidades de multiplicar o poder de que dispõem, faz da infantaria uma excepcional peça de manobra para os comandos superiores.

A infantaria manobra para alcançar posições favoráveis para entregar seus fogos de forma efetiva. Sem fogos a infantaria não manobra e sem manobra os fogos se tornam ineficazes. Flancos e retaguarda são sempre mais frágeis que as frentes, e sua busca diminui o esforço necessário ao rompimento das posições. Cabe aos líderes combinar fogo e manobra para sobrepujar alvos que eles identificarem ou lhes forem atribuídos, sempre zelando para que fogos desnecessários sejam evitados em proveito da economia de munição que pode fazer falta mais adiante.



Unidades de infantaria

A infantaria é basicamente constituída pelo fuzileiro que combate a pé. Porém na guerra moderna esta tropa configura-se em dispositivos especializados em determinados tipos de combate o que potencializa sua efetividade.

infantaria mecanizada e blindada é uma tropa dotada de alta mobilidade estratégica, podendo cobrir distâncias longas em períodos de tempo reduzidos, desde que operando em terrenos dotados de malhas rodoviárias em condições. Esta mecanização pode ser feitas por veículos qualquer terreno comuns ou veículos especialmente concebidos com blindagem e armamento de apoio, os chamados veículos de combate de infantaria (ICV), que podem ser de rodas ou lagartas, e são os veículos ideais para acompanhamento das unidades de carros de combate(MBT). Carecem de apoio logístico constante devido ao seu alto consumo de combustível e munição, além de baixa flexibilidade no deslocamento estratégico que necessite de meios aéreos e navais, sendo frequentemente deslocadas por meios ferroviários juntamente com as unidades de carros de combate. Unidades dotadas de lagarta, que são as mais potentes em combate, carecem de apoio de pranchas para deslocamentos longos, sendo sua mobilidade própria mais adequada ao movimento “off-road” em pequenas distâncias.



A infantaria leve é uma tropa especialmente constituída para altíssima mobilidade estratégica, sendo frequentemente empregada em manobras aeromóveis, pois seu equipamento é quase todo helitransportado ou de fácil acondicionamento em aeronaves cargueiras, podendo chegar aos seus locais de emprego em tempo reduzido. Tem por característica a pronta resposta às ordens de deslocamento, necessitando de preparação mínima. A infantaria paraquedista compartilha destas mesma características de pronta resposta, tendo a capacidade de deixar as aeronaves através de saldo operacional, podendo alcançar áreas sem pistas de pouso, quando tal manobra não puder ser implementada por forças de helitransporte.


A infantaria de montanha é uma tropa leve especialmente treinada para atuação emterrenos escarpados e montanhosos, cuja penetração só é possível a pé ou por helicóptero, sendo caracterizados por temperaturas baixas e grande vocação defensiva.


A infantaria de selva é uma tropa especialmente ambientada em teatros de operação de selva tropical, onde o combate apresenta características muito peculiares, como a presença constante de deslocamento via fluvial, altas temperaturas e grande número de animais indesejáveis, escassa rede de estradas e densa vegetação que proporciona visibilidade reduzida e curtos campos de tiro, terreno inviável ao deslocamento de grandes efetivos e meios mecanizados. Este tipo de combate assume constantemente as características dos combates de guerrilha, de difícil consecução e alto risco. Combater na selva impõe ao indivíduo um forte fator psicológico, devido ao ambiente inóspito, com pouca luz e altas temperaturas, além dos insetos e dificuldades logísticas, o que requer condicionamento especial.


A infantaria naval é uma tropa especialmente treinada e equipada para fazer a ponta de lança nas missões que exijam o desembarque de forças a partir de meios marítimos. Esta missão é uma das mais difíceis de executar devido aos dispositivos defensivos que o inimigo certamente desdobrará nas áreas de desembarque. Esta tropa é comumente integrada às marinhas de guerra e conhecida pelo nome de Fuzileiros Navais.


Outras tropas de infantaria de efetivo reduzido também se fazem presentes, como osatiradores de elite, as forças de comando e operações especiais, mergulhadores de combate, sendo estas altamente treinadas e eficientes em seus ambientes. Tropas de polícia militar (polícia do exército) também são integradas pela infantaria.


Armas da infantaria

A arma de emprego mais óbvio é o fuzil de assalto, pois a missão do fuzileiro é o fogo seletivo a distâncias médias em terrenos variados, sejam rurais ou urbanos. Para emprego urbano armas de cano mais curto como carabinas ou submetralhadoras tendem a ser mais eficientes, ou ainda uma combinação das duas. Armas de cano longo não são adequadas ao combate no interior das edificações.

Os infantes carregam consigo seu apoio de fogo imediato, como granadas de mão e de fuzil, fuzis-metralhadoras de cano pesado, metralhadoras leves e médias que proporcionam volume de fogo e estão a disposição do comandante de baixo escalão. Lançadores de granadas anticarro (lança-rojões) são meios de fazer frente as forças mecanizadas que a infantaria encontrar, assim como são eficientes contra posições fortificadas. A infantaria conta ainda com sua artilharia orgânica na forma de morteiros de médio calibre (81 mm por exemplo) desdobrados a retaguarda dos fuzileiros e a disposição do comandantes de companhia e batalhões. Algumas unidades possuem aindaatiradores de elite com fuzis deprecisão, lança-chamas para assalto a posições fortificadas, e as unidades mais pesadas veículos de combate de infantaria (VBTP/IFV)com canhões de 20 ou 30 mm. Mísseis anticarro de vários tipos também são empregados pelos comandantes de batalhão.