EE-T4 Ogum
A história do blindado nacional que buscava um mercado
Na metade da década de 1980 a Engesa – Engenheiros Especializados S/A já havia se firmado como uma grande companhia na área de veículos militares sobre rodas. A carteira de clientes era bastante grande, variando entre países que fazem fronteira com o Brasil e nações da África e do Golfo Pérsico.
Com alguns países em especial a Engesa possuía um relacionamento bastante estreito. Um desses casos era o Iraque, então governado por Saddam Hussei e profundamente envolvido no conflito com o Irã. A origem do EE-T4 Ogum está vinculada àquele país do Golfo Pérsico.
Inspiração no Wiesel
Representantes do departamento comercial da Engesa estavam no Iraque quando foram indagados por autoridades militares daquele país se a empresa “tinha condições” de fabricar um carro com as características do alemão Wiesel. De volta ao Brasil, estes representantes comunicaram ao departamento de projetos da Engesa que os iraquianos “queriam” um veículo semelhante ao Wiesel.
Dois MaK Wiesel desembarcando de um helicóptero CH-53G do Exército da Alemanha. O exemplar da direita é do modelo TOW Al e o exemplar da esquerda é do modelo Mk 20 Al (FOTO: Bundesheer)
O Wiesel, desenvolvido pela Porshe e construído pela MaK da Alemanha Ocidental, era um veículo blindado leve, sobre lagartas sem equivalentes. O mesmo era classificado como “Airportable Armoured Vehicle”, uma verdadeira novidade naqueles tempos finais da “Guerra Fria”. Sua proposta era dotar as brigadas aerotransportadas do Exército da Alemanha Ocidental com um veículo blindado de reconhecimento e observação capaz de ser transportado e lançado a partir de aeronaves de transporte ou mesmo helicópteros pesados.
Quando a Engesa começou a trabalhar no Ogum, o Wiesel ainda estava em desenvolvimento e os primeiros exemplares só foram entregues para o Exército da Alemanha no final de 1989.
Assim, em fevereiro de 1985 foram iniciados os estudos para o desenvolvimento de um novo veículo blindado leve sobre lagartas. Designado EE-T4 e batizado com o nome “Ogum”, o primeiro protótipo teve a sua construção iniciada em novembro daquele ano, ficando pronto em maio de 1986.
ste primeiro protótipo foi utilizado em ensaios mecânicos e um segundo exemplar logo ficou pronto e foi enviado ao Iraque para testes em campo. Com os resultados obtidos, decidiu-se modificar alguns pontos do projeto. Existem textos que citam a construção de um terceiro e um quarto protótipo . No entnato, esta informação não é confirmada por alguns autores. O que se sabe é que um dos protótipos foi equipado com uma torreta com duas metralhadoras. Este exemplar foi apresentado na Exposição Internacional de Equipamentos de Defesa em Bagdá em 1989.
Características
Por ser um blindado aerotransportado, o mesmo foi projetado para ser pequeno e leve. As dimensões externas do Ogum são compatíveis com o Wiesel alemão, sendo o blindado de origem nacional um pouco mais comprido e um pouco mais largo. As alturas são praticamente equivalentes, diferindo apenas no tipo de torreta adotada. Em relação ao peso, o Ogum é muito mais pesado que o seu equivalente alemão (4,4 toneladas contra 2,8 toneladas).
Chassi
Seu desenho era convencional, sendo a estrutura formada por uma única peça (monobloco) construída em chapas de aço semelhantes às utilizadas pelos Cascavel e Urutu. Desta forma, de acordo com o fabricante, o veículo possuía uma proteção balística efetiva contra projéteis típicos de infantaria.
O interior do monobloco era dividido, grosso modo, em três compartimentos. Na parte frontal, à direita, localizava-se o conjunto motor/transmissão. Ao lado do motor e ligeiramente recuado em relação à linha central do mesmo, sentava-se o motorista. Este possuía uma escotilha própria para acesso ao seu compartimento.
A parte posterior do veículo, onde se localizava o compartimento da torre, era dominada por um espaço que podia receber diversas configurações, dependendo da versão do veículo. No caso da versão de reconhecimento existia uma escotilha de acesso ao compartimento do comandante do carro.
Motor, suspensão e transmissão
Por ser um veículo blindado mais leve e compacto, recebeu uma motorização menos potente que os seus irmãos “mais velhos” Urutu e Cascavel. O primeiro protótipo foi equipado com um motor diesel Perkins, modelo QT 20B4, com quatro cilindros em linha, turbinado e refrigerado a líquido. Este motor desenvolvia 125 HP a 16000 rpm. A relação peso-potência era de 23.15 HP/tonelada. A autonomia chegava a 350 km a 70 km/h em estradas.
A transmissão era automática com quatro velocidades à frente e uma a ré. O modelo empregado era o AT 545, fabricado pela norte-americana Alisson Transmission. Esta mesma companhia desenvolveu e fabricou as transmissões dos carros de combate M1A1 Abrams. A série AT, na época do projeto do Ogum era um produto relativamente novo no mercado e atualmente é largamente empregada em veículos comerciais leves e médios.
O segundo protótipo recebeu um motor diesel BMW M21 D24WA que desenvolvia 130 HP a 4.800 rpm. Além da potência maior, este motor permitiu um pequeno aumento na velocidade (75 km/h) e no raio de ação (360 km). A transmissão foi substituída por uma ZF (Zahnrad¬fabrik Friedrichshafen) modelo 4 HP 22.
Comparado ao Weisel o Ogum, independente da motorização adotada, possui potência maior, mas a relação peso-potência é favorável ao modelo alemão (30.7 HP/tonelada), pois o mesmo é muito mais leve.
O sistema de suspensão não apresenta maiores surpresas, sendo do tipo barras de torção com três amortecedores e quatro rodas de apoio de cada lado. Além disso, existem duas rodas dentadas de direção (uma de cada lado) à frente e um conjunto de rodas tensoras na parte posterior. As lagartas são fabricadas pela empresa alemã Diehl e possuem sapata removível.
Versões e Armamentos
A intenção da Engesa era produzir uma família de blindados baseada no chassi do Ogum. A versão básica de produção seria um veículo de reconhecimento dotado de armamento leve. As versões propostas eram: um mini-APC (Armored Personnel Carrier) para até quatro soldados; um veículo de comando; um veículo ambulância (três feridos); um veículo anticarro; um veículo de transporte de munição e um veículo de transporte de morteiro de 120mm.
Por ter sido desenhado como um veículo de reconhecimento armado, a opção básica do Ogum era uma torreta com uma metralhadora .50 ou calibre 7,62mm em suporte simples. Posteriormente, em um dos protótipos foi instalada uma torre giratória com duas metralhadoras de 7,62mm.
Também foi projetada uma versão dotada de um canhão de 20mm. Com este armamento o veículo adquire maior poder ofensivo nas missões de reconhecimento ou ações de comando atrás das linhas inimigas.
Na versão anticarro, o Ogum seria equipado com uma torre dotada de dois mísseis. A idéia (assim como todo o projeto) não seguiu adiante e os detalhes desta versão ficaram somente no campo das especulações. No entanto, a capacidade de transporte de mísseis seria bastante limitada tomando como base o projeto Wiesel alemão. Na versão TOW ATGW o Wiesel é capaz de transportar sete mísseis.
Apenas para efeito comparativo, o Wiesel alemão foi fabricado somente em duas versões. A primeira delas era um veículo anticarro, denominada TOW Al (210 exemplares construídos) e a segunda estava equipada com um único canhão Rheinmetall MK 20 Rh 202 de 20mm (135 exemplares construídos).
Além do armamento descrito acima, todas as versões do Ogum seriam equipadas com tubos lançadores de granadas fumígenas para proteção aproximada.
Situação atual
Dos quatro exemplares construídos, só se conhece o paradeiro de um deles. O protótipo que se encontra em poder do Exército Brasileiro e está sob os cuidados do 13º Regimento de Cavalaria Mecanizado (13º R C Mec) localizado em Pirassununga/SP é, muito provavelmente, o segundo exemplar.
Como poder ser visto nas fotos, o mesmo encontra-se bastante descaracterizado. Restaurá-lo ao padrão original levará certo tempo. Externamente ele apresenta um padrão de camuflagem em dois tons bastante comum dos veículos atuais no EB. Não existem mais marcações nem identificações no chassi. Parte dos acessórios (ex. retrovisores) está em falta.
Fotos internas do Ogum. Na primeira foto a aprece o posto do comandante do carro. Na foto central é apresentado o compartimento do motor (sem o mesmo). Na foto da direita o compartimento do motorista do veículo. (FOTOS: Forças Terrestres)
Internamente a situação é bastante ruim. O compartimento do motorista está bastante danificado e com itens faltantes. Além da pintura desgastada, o revestimento do volante de direção encontra-se danificado.
Ao lado do motorista o compartimento do motor está praticamente vazio. Existem apenas algumas poucas peças que compunham o sistema de gases de exaustão e algumas mangueiras. O odor de óleo diesel no interior é forte.
Ao lado do motorista o compartimento do motor está praticamente vazio. Existem apenas algumas poucas peças que compunham o sistema de gases de exaustão e algumas mangueiras. O odor de óleo diesel no interior é forte.
Considerações Finais
É comum encontrar na literatura textos propondo a “ressurreição” do projeto do EE-T4 Ogum.
Mesmo que um veículo com estas características se encaixasse na doutrina de Exército Brasileiro para o emprego de ações aerotáticas, dificilmente o baixo número de unidades encomendadas viabilizaria o projeto.
Atualmente não existe nenhum produto do mercado externo com as características do Ogum e tudo indica que não existe uma demanda para tal. O único eventual concorrente poderia ser o próprio Wiesel. Porém, este já teve a sua produção encerrada.
Das 345 unidades do Wiesel construídas, quase todas seguiram para o Exército Alemão. Alguns poucos exemplares foram adquiridos pelo Exército dos EUA para o desenvolvimento de veículos blindados sobre lagarta não tripulados. Talvez este seja um campo mais promissor para o mercado futuro de blindados de pequeno porte e aerotransportados.
O protótipo do Ogum representa um momento nostálgico para a indústria bélica brasileira. Suas características e sua singularidade são razões mais do que suficientes para uma devida preservação. É injustificável o fato do mesmo ainda não estar devidamente recolhido em local apropriado. Locais já existem, como o Museu de Blindados Conde de Linhares, localizado no Rio de Janeiro. Este seria um local ideal para a sua preservação.
Mesmo que um veículo com estas características se encaixasse na doutrina de Exército Brasileiro para o emprego de ações aerotáticas, dificilmente o baixo número de unidades encomendadas viabilizaria o projeto.
Atualmente não existe nenhum produto do mercado externo com as características do Ogum e tudo indica que não existe uma demanda para tal. O único eventual concorrente poderia ser o próprio Wiesel. Porém, este já teve a sua produção encerrada.
Das 345 unidades do Wiesel construídas, quase todas seguiram para o Exército Alemão. Alguns poucos exemplares foram adquiridos pelo Exército dos EUA para o desenvolvimento de veículos blindados sobre lagarta não tripulados. Talvez este seja um campo mais promissor para o mercado futuro de blindados de pequeno porte e aerotransportados.
O protótipo do Ogum representa um momento nostálgico para a indústria bélica brasileira. Suas características e sua singularidade são razões mais do que suficientes para uma devida preservação. É injustificável o fato do mesmo ainda não estar devidamente recolhido em local apropriado. Locais já existem, como o Museu de Blindados Conde de Linhares, localizado no Rio de Janeiro. Este seria um local ideal para a sua preservação.
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