CARRO DE COMBATE TAMOYO
DADOS TÉCNICOS
Tripulação: 4 homens
Dimensões e pesos: Altura até o topo da torre 2,20 mm
Altura até a torreta 2,45 m
Peso vazio: 31 t
Peso em combate: 35 t
Relação peso/potência (máx.): 24,5 HP/ton
Pressão sobre o solo: 0,72 cm2
Comprimento (canhão 12h): 8,77 m
Comprimento (canhão 6h) 7,40 m
Largura (com saias laterais) 3,22 m
Altura livre do solo 0,50 m
Largura da lagarta 0,530 m
Comprimento da lagarta no solo: 3,90 m
Velocidade máxima em estrada: 67 Km/h
Autonomia em estrada: 550 km aproximadamente
Capacidade de combustível: 700 litros
Rampa frontal: 60%
Rampa lateral: 30%
Obstáculo frontal: 0,71 m
Trincheira: 2,40 m
Vau (sem preparaçáo): 1,30 m
Motor: Tipo SAAB-SCANIA DSI 14 ou GM - 8V92TA - Detroit Diesel
Potência: 736 HP
Refrigeração: Agua
Transmissão: Tipo GE-HMPT-500-3, hidromecânica ou CD-850-6 Allison
Número de marchas: avante 3 ré 1
Suspensão: Tipo de suspensão barras de torsão
Amortecedores: 3 cada lado
Tipo de lagarta: pino simples, aço fundido emborrachada com almofadas amovíveis
Sistema elétrico: Voltagem 24 V
Número de baterias 4 x 12 V
Alternador: 28 V
Equipamentos diversos:
Sistema de proteção QBR
Sistema aquecedor
Sistema de combate a incêndio
Sistema de bombeamento de porão
Sistema de Comunicação
Escotilha de escape inferior
Armamento principal:
Calibre: 90 mm hiper velocidade ou 105 mm L-7
Azimute: 360°
Elevação/Depressão: 18°/-6°
Capacidade de estocagem de munição: 68 tiros de 90mm ou 42 de 105mm
Tipos de munição: APDSFS, Hesh, Heat, Smoke
Armamento secundário:
Uma Metralhadora Coaxial de 12,7 mm
Uma Antiaérea na forreta 7,62 mm
Oito Lançadores de Fumígenos
Equipamentos de direção de tiro:
Periscópio com amplificação de visão residual, telémetro laser e janela panorâmica para atirador
Periscópio com amplificação de visão residual, telémetro laser e janela panorâmica para comandante
Computador de tiro
Telescópio auxiliar para atirador
Execução de tiro de canhão e metralhadora coaxial pelo comandante ou atirador
Na versão III: Equipamentos de direção de tiro com computador
Visão noturna e térmica
Estabilização primária por sistema totalmente elétrico.
A década de 70 foi um período muito importante para o desenvolvimento de veículos blindados no Brasil. Muitos projetos nascidos no Parque Regional de Motomecanização 2 em São Paulo foram a base para o desenvolvimento de famílias inteiras produzidas por diversas empresas brasileiras como Biselli, Bernardini, Engesa e muitas outras.
Este aprendizado propiciou um sonho maior que foi o de conceber um Carro de Combate Médio totalmente brasileiro, que seria o sucessor natural do M-41 C já repotenciado no país.
A idéia ganha forma no início dos anos 80, quando o Bernardini estudava a viabilidade de conceber um carro viável e que fosse adequado para o Exército, denominado inicialmente de X-30. Este apresenta um Requisito Operacional Básico – ROB - mostrando o que ele necessitava e pretendia em termos de desenvolver, em conjunto com empresas privadas, o que seria o novo Carro de Combate a equipar as unidades blindadas brasileiras, de forma a depender o mínimo possível do exterior.
Partindo dessa premissa procurou-se então desenvolver um Carro de Combate com peso não superior a 30 toneladas, dimensões compatíveis à nossa realidade, principalmente em função da malha ferroviária e com índices de nacionalização o mais elevado possível.
O primeiro passo foi ver o que mais se adequava ao projeto em termos de motor, suspensão, canhão e design interno e externo do futuro Carro de Combate.
Inicialmente foi preparado um mock-up em aço que previa um motor frontal, como nos veículos Marder alemães, mas que nem sequer foi completado, tendo sido abandonado, partindo-se para um novo projeto com motor traseiro, inspirado no projeto do XM-4 norte-americano, o qual pode ser visto pelos engenheiros da Bernardini em visita aos Estados Unidos.
A seguir foi construído um outro mock-up também em aço com a forma que o veículo teria, usando muitos componentes do M-41, inclusive o canhão de 76mm e com baixíssima silhueta e um design bem moderno.
Em maio de 1984 ficou pronto o primeiro protótipo que recebeu o nome de TAMOYO, em homenagem ao povo indígena extinto, do tronco lingüístico tupi, que habitava as margens dos rios São Francisco (MG) e Paraíba do Sul (RJ), na verdade a idéia era representar um índio guerreiro, que não se rendia facilmente e que atirava flechas nos inimigos.
Sua designação passou a ser TAMOYO I para diferenciá-lo dos outros protótipos, pois esta versão atendia a todos os requisitos e premissas estabelecidas pelo Ministério do Exército, como alto índice de nacionalização, ausência de importações, compatibilidade com os outros equipamentos já existentes, principalmente com os M-41, sua suspensão era por meio de barras de torção e era armado com canhão de 90mm, impulsionado por um motor Scania DSI 14, baixa silhueta e uma configuração bem diferente de tudo o que possuíamos até aquele momento.
O projeto envolveu cerca de 80 pessoas, tanto da Bernardini como do Centro Tecnológico do Exército – CTEx e após testes operacionais partiram para a versão TAMOYO II. Vale ressaltar que na versão I e II, os veículos são muito parecidos externamente, dificultando em muito sua identificação, sendo que as maiores diferenças são internas, o que não ocorre com a versão III.
A transmissão foi substituída por uma GE HMPT-500-3, igual à dos blindados norte-americanos Bradley que teve de ser acoplada ao motor Scania DSI 14 produzido no Brasil. É curioso imaginarmos as discussões entre os Suecos e Americanos sobre vibrações, refrigeração e bomba injetora, pois esta transmissão trabalha com o motor regulado por ela e a idéia é que o motor diesel trabalhe nos regimes de rotação ótimos de consumo para a potência necessária exigida pelo motorista, isto só para se ter um a idéia de fatores complicadores no desenvolvimento de um blindado. Mesmo com tudo isto ela ainda estava aquém para competir no mercado externo. Ele foi exaustivamente testado pelo CTEx.
Desta forma nasceu a versão TAMOYO III, que para se ter uma idéia, o motor nele instalado estava apenas em seu estágio inicial de desenvolvimento, podendo no futuro atingir de 900 a 1000HP. A transmissão para esta versão ainda era um problema, pois a GE não poderia receber mais que 600HP brutos e a sua nova versão estava ainda no banco de testes, nos Estados Unidos, a ZF não tinha nem protótipos disponíveis. A solução encontrada foi usar a velha e confiável CD 850-6 A (a mesma do M-60) que acabou servindo como uma luva, podendo ainda agüentar o motor a cerca de mais de 1000HP brutos.
O desenho da torre ainda não havia chegado a um perfil ideal, mais afilado, em formato de cunha, em razão de pouca familiaridade com a construção envolvendo blindagem composta, mas a que foi construída era totalmente elétrica, com supressão de explosões, visão térmica, boa proteção, canhão L-7 atirando com o carro em movimento, estabilização da torre, telêmetro laser, munição compartimentada. Seu peso subiu para 31 toneladas, sendo ainda um blindado bem mais leve do que os existentes no mercado à época.
Ao todo quatro veículos foram fabricados, contando com o mock-up, Tamoyo I, II e III e um quinto ficou inacabado, tendo somente a caixa do chassi e parte da torre, destes quatro ainda existem na atualidade, estando na ordem acima, um no CTEx, dois no IPD (Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Exército), um em pleno funcionamento e o outro inacabado serve como monumento próximo à entrada e um no 3º R.C.C. (Regimento de Carros de Combate). A versão mais moderna denominada de TAMOYO III ficou em poder da Bernardini por algum tempo, tendo sido desmanchado e seus componentes foram devolvidos aos fornecedores estrangeiros de origem em razão de não haver recursos financeiros para suas aquisições. Desta forma nunca se consolidou a melhor versão de série deste carro de combate, o qual nunca foi homologado pelo Exército e quase que caiu no total esquecimento. A Bernardini também não mais existe, encerrou suas atividades em 2001, havia sobrevivido desde 1912, produzindo desde cofres a veículos militares e chegou a ter 450 empregados diretos.
O TAMOYO deveria ter sido o Carro de Combate Brasileiro, pois hoje ao invés de estarmos operando Leopard 1 A1 e M-60 A3 TTS, e sonhando com o Osório, estaríamos equipados com ele na sua versão III ou até quem sabe IV, que poderia estar sofrendo upgrade para torná-lo mais moderno, gerando emprego, conhecimentos e menos dependência externa e sendo um produto de primeira mão, atualizado de acordo com as nossas necessidades, podendo tê-lo em grande quantidade.
Nunca pensamos em ter um MBT (Carro de Combate Principal), tanto que os ROB nunca os mencionou, ele chegou a nós primeiramente com o sonho e pesadelo criado pela Engesa e depois pela falta de visão estratégica de nossos governantes e alguns militares que deixaram acabar indústrias importantes na área de defesa, abandonaram projetos viáveis e indo pelo caminho mais fácil, voltando em 1996, a importar excedentes do grande “irmão” do norte e da Europa, o que veio apenas prolongar nossa agonia e ampliar ainda mais nossa defasagem tecnológica, pois no momento atual não temos capacidade para conceber e produzir um simples 4x4 blindado, genuinamente nacional, talvez não por falta de capacidade técnica, mas pela eterna falta de recursos para uma área tão vital e importante que é o setor de Defesa.
Um dos dirigentes da Bernardini certa vez disse: O desejo de ter um equipamento brasileiro deve ser dos brasileiros e não dos fabricantes mundiais. Infelizmente ele estava certo, achamos que poderíamos dar o grande salto de uma só vez ao invés de darmos saltos menores, em várias etapas, como havíamos começado com aquele grupo de estudos de blindados criado dentro do Exército Brasileiro, no PqRMM/2 em São Paulo em 1967, que aprendeu transformando e depois criando, mas o nosso passado muitas das vezes nem sequer é conhecido, quanto mais lembrado, e assim vamos cometendo os mesmos erros de 20 em 20 anos, até quando?
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