sábado, 20 de maio de 2017

BAE SYSTEMS

Maior multinacional britânica fabricante de equipamentos militares, de segurança e aeroespaciais, também atuante na engenharia naval e na indústria de sistemas eletrônicos de inteligência e controle. (Constituída em 1999, a BAE Systems resultou da fusão da British Aerospece – BAe e da Marconi Electronic Systems.) Com escritório de representação instalado em Brasília (DF), além de fornecer equipamentos de aviônica para a Embraer a empresa recentemente construiu três navios de patrulha oceânica para a Marinha Brasileira.
Em 2011 a BAE foi contratada pelo Exército para dar apoio técnico à modernização de parte da frota nacional de blindados de transporte de pessoal M113B, a ser realizada mediante convênio firmado com o Departamento de Defesa dos EUA. A reforma, executada pelo Exército, no Parque Regional de Mecanização de Curitiba (PR), envolveu a substituição de cerca de 20% dos elementos estruturais, do sistema de suspensão e lagartas; as viaturas (agora denominadas M113A2 Mk1) receberam câmbio automático e (incompreensivelmente) motores Detroit Diesel de 265 cv importados. Pelo menos um dos 150 veículos incluídos no lote inicial deveria ser equipado, para avaliação, com sistema de visão noturna com câmera de infravermelho. Em dezembro de 2014 foi entregue a 100unidade reformada.
Em 2014 a BAE foi uma vez mais contratada, agora para a modernização de 32 viaturas obuseiras M109A5, cedidas para o Brasil, entre 2012 e 2014, pelos EUA. Dessa vez, porém, a operação seria executada nas instalações norte-americanas da empresa.
<baesystems.com>
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M113A2 Mk1: esta foi a centésima unidade reformada pelo Exército com apoio técnico da BAE (fonte: site baesystems).

AVIBRAS

A Avibras Aeroespacial S.A. é hoje o maior fabricante brasileiro de equipamentos de defesa. É também o único sobrevivente do extenso programa de modernização da indústria bélica nacional patrocinado pelo Governo Federal nos anos 70. A Avibrás foi fundada em 1961, em São José dos Campos (SP), onde também se localizam o ITA e o CTA, centros de excelência na formação de engenheiros e na geração de pesquisa aeronáutica que ao longo dos anos consolidaram o município como principal pólo aeroespacial do país. O primeiro produto da empresa foi o avião para treinamento básico Falcão; ainda nos anos 60 desenvolveu o primeiro propelente sólido sintético nacional para uso espacial, dando início a dois ramos de negócio nos quais se especializaria – a indústria química de propelentes e explosivos e a fabricação de mísseis militares. A transição para o ramo dos mísseis se deu em 1965, quando o CTA repassou à empresa a tecnologia do foguete Sonda, para pesquisas científicas, que acabava de desenvolver. Em 1976 a Avibrás passou a também atuar como fabricante de antenas parabólicas para comunicação via satélite.
Da mesma forma como aconteceu com todos os fabricantes de materiais de defesa do país, o grande crescimento da Avibrás ocorreu a partir de 1977, com o fim do Acordo de Assistência Militar com os Estados Unidos, vigente havia 25 anos e denunciado pelo Brasil em 11 de março daquele ano. A indústria brasileira já vinha experimentando na altura um proveitoso relacionamento com as instituições de pesquisa das Forças Armadas, que concebiam armamentos, aeronaves, embarcações e veículos modernos, repassando os projetos às empresas privadas para que estas os colocassem em produção, sem cobrança de custos nem exigência de pagamento de direitos ou royalties. A denúncia do Acordo com os EUA fortaleceu esse vínculo e assegurou inédita independência comercial do país no setor, com reflexos quase imediatos no mercado externo. Assim, aproveitando-se da conjuntura internacional favorável (e do apoio logístico do Itamaraty) em menos de três anos o Brasil se tornou um dos maiores fornecedores mundiais de material bélico.
A expansão da lista de produtos da Avibras foi permanente. Em 1977 iniciou a produção da linha de foguetes militares SBAT (ar-ar e ar-terra, desenvolvidos pelo CTA) e construiu os primeiros protótipos dos motores-foguetes X-20 e X-40 (respectivamente projetados pelo CTA e IME, com alcance de até 60 km) e do sistema Transit de recepção de navegação por satélite, para a Marinha. Em 1980 já trabalhava (sempre com o CTA) no desenvolvimento de mísseis multifásicos para lançamento de satélites artificiais e de mísseis teleguiados para uso militar com alcance de até 300 km. Em 1981 a empresa contratou com o Iraque a venda de US$ 500 milhões em mísseis, para isto tendo que expandir sua (segunda) unidade industrial de São José dos Campos. No ano seguinte foi a vez do projeto do lançador múltiplo 108-R, para 16 foguetes ar-ar e ar-terra.
Em 1983 a Avibras lançou seu primeiro veículo terrestre – o Astros II (Artillery Saturation Rocket System), apresentado em cinco variantes, compondo um sistema integrado de defesa antiaérea de alta mobilidade e precisão que viria a ser seu best-seller. A viatura principal é um lançador de mísseis terra-terra equipado com rampa móvel dupla – único equipamento de lançamento no mundo capaz de ser facilmente convertido para três calibres diferentes. Cada módulo aceita 32 foguetes calibre 127 mm, 16 calibre 180, um foguete calibre 300 ou um míssil tático TM (este com até 300 km de alcance). As quatro outras variantes são um sistema diretor de tiro compreendendo radar e computador para controle dos disparos, uma viatura remuniciadora com grua hidráulica, outra para comando e controle e um veículo de apoio para oficina e transporte de tropas.
As quatro versões tinham a mesma base – um caminhão 6×6 semi-blindado de 10 t (motor Mercedes-Benz V8 importado de 284 cv e 106 kgf.m a 1200 rpm), fabricado pela Tectran, empresa criada em 1982 pela Avibras para produzir veículos para transporte e uso civil. Montado sobre um chassi com longarinas de perfil U, o veículo tinha suspensão traseira em tandem (feixe de molas semi-elípticas invertido), caixa com cinco marchas com reduzida e bloqueio nos três diferenciais, direção hidráulica e controle interno da pressão dos pneus; a cabine era blindada. Em pouco tempo o Astros passou a ser um dos principais itens de exportação da empresa.
Universalmente reconhecido como um dos sistemas mais versáteis, eficazes e de maior precisão da categoria, o Astros II ainda se encontra em produção. Hoje na 6geração (Mk5), é agora montado sobre o moderno chassi tubular de longarina central Tatra, de origem tcheca, com motor V8 refrigerado a ar, tração integral e suspensão pneumática independente. À família foi agregada uma versão equipado como estação metereológica, com apenas dois eixos, configuração também assumida pela variante VCC, de comando e controle.
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Sistema Astros de defesa, grande sucesso mundial da Avibrás.
Em 1984 a Avibras passou a fabricar mais dois mísseis de moderna tecnologia: o Barracuda, primeiro antinavio brasileiro, e o Piranha, ar-ar com sensor infra-vermelho, que persegue o alvo atraído pelo calor do motor. Em 1985 lançou o Fila (Fighting Intruders at Low Altitude), sistema de contra-ataque aéreo de baixa altitude, também pela primeira vez fabricado no país. Estes equipamentos se juntaram aos demais produtos da Avibras, na época já com grande penetração no mercado mundial. As nações do chamado Terceiro Mundo, especialmente os países árabes, eram cada vez mais atraídas pelos armamentos brasileiros, não apenas pela qualidade e tecnologia agregada mas também pela simplicidade de concepção e manejo, flexibilidade e baixo custo. O mercado interno era (e é cada vez mais) restrito, e a indústria nacional crescia aceleradamente quase que com base nas vendas externas. No caso da Avibras, estas correspondiam a uma carteira de mais de um bilhão de dólares, respondendo por cerca de 90% do seu faturamento. Situação muito instável, pois, que se inverteria a partir de 1990, quando o setor perderia mercado e entraria em crise.
Foram muitos os fatores simultâneos que contribuíram para a retração da presença brasileira no mercado bélico mundial: sucessivos cortes de verbas das Forças Armadas (na prática, as financiadoras indiretas da indústria, por meio da cessão gratuita de tecnologias e projetos), situação muito agravada após a posse do governo Collor, em março de 1990; embargo internacional ao Iraque (maior cliente militar do Brasil); desmantelamento da União Soviética e das repúblicas do leste europeu e conseqüente mudança do foco da geopolítica norte-americana, da “Guerra Fria” para Israel e os países árabes; maior influência dos EUA sobre seus aliados da região (em especial Arábia Saudita e Kuwait), substituindo o Brasil como fornecedor de material bélico; maior agressividade dos fabricantes de armamentos europeus no mercado do Oriente Médio. Culminando tudo, a longa guerra de oito anos entre Iraque e Irã passou a requerer equipamentos cada vez mais sofisticados, que o Brasil já não estava preparado para fornecer.
Em pouco tempo faliram muitas empresas do setor, inclusive a Engesa, a maior delas. A Avibras entrou em concordata. Como via alternativa, a empresa aumentou a ênfase no fornecimento para o mercado civil (telecomunicações, informatização, autopeças), tanto diretamente como através de suas subsidiárias Tectran e Tectronic (posteriormente Powertronics). A diversificação sempre foi, aliás, uma das preocupações do Grupo Avibras. Em 1987, por exemplo, a empresa iniciou o projeto do que chamou Ônibus Urbano Brasileiro, um chassi com motor projetado pelo CTA com o apoio da Finep – um bicombustível a álcool e gás natural com 240 cv. Tanto o motor como os diversos componentes mecânicos seriam fabricados pelas próprias empresas do Grupo, que para isso pretendia construir uma linha de produção para dez mil chassis e vinte mil motores por ano. A crise chegou antes que os planos pudessem ser concretizados.
Quanto à área bélica, a situação se recuperaria aos poucos e só em meados da década de 90 seria desenvolvido um novo veículo automotor, o Astros Hawk, lançador leve de foguetes montado sobre um pequeno 4×4 fabricado pela Tectran e apto a operar com os novos mísseis Skyfire para alcance de até 12 km. Mais tarde, em 1999, montou um protótipo (ainda não industrializado) do que deveria ser o Astros III, com tração 8×8.
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O Sistema Astros é hoje composto por veículos de dois e três eixos com sete diferentes funções especializadas.
Em 2001, respondendo a um contrato firmado com a Malásia, a Avibras lançou a linha AV-VBL (Viatura Blindada Leve), veículo blindado 4×4 montado sobre chassi Mercedes-Benz Unimog U 2150L alemão alongado, trazendo motor diesel de quatro ou seis cilindros (150 ou 280 cv), caixa mecânica de oito marchas com bloqueio de diferencial, caixa de transferência e opção de tração 4×2. O veículo, proposto como equipamento de apoio para o Sistema Astros, pode ser configurado de diversas maneiras, combinando-se níveis de proteção, tipos de armamento, layout interno e acessórios. São três plataformas, com peso total entre quatro e doze toneladas e acomodação para três a doze tripulantes; já foram fornecidas versões VCC e PCC (viaturas de comando e controle) e posto meteorológico. Também são previstas variantes equipadas com radar de vigilância e preparadas para as funções de posto de observação avançado, ambulância, transporte de pessoal e reconhecimento.
Em 2003 foi lançado mais um blindado leve, o AV-VB4 RE Guará, desta vez sobre o chassi Unimog 4000, com motor turbo de quatro cilindros e 177 cv. Projetado em conjunto com o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Exército, tem 7,6 t e é de menor porte do que o AV-VBL; apresenta o mesmo excelente comportamento fora-de-estrada porém maior velocidade no asfalto e autonomia de 600 km. É um veículo extremamente moderno, com freios a disco nas quatro rodas, ABS e a tradicional suspensão por molas helicoidais do Unimog. Tem carroceria monobloco de chapa de aço soldada e, assim como o VBL, é apresentado em grande número de configurações, inclusive como porta-morteiros, lança-mísseis anti-carro, para operações urbanas e polícia militar. São muitos os equipamentos de série: ar condicionado, sistema de renovação de ar com filtragem, sistema de aquecimento e piloto automático, entre outros. Dentre os opcionais, proteção anti-minas, proteção contra contaminação química e bacteriológica, sistema de regulagem da pressão dos pneus, torreta giratória para metralhadora, sistema automático de extinção de incêndio, periscópio para visão noturna, gerador de energia e sistema de navegação GPS.
Com o Guará, a Avibras pretendia conquistar encomendas do Exército para fornecimento da Nova Família de Viaturas Blindadas sobre Rodas que deveria equipar a arma. As concorrências públicas tardaram; com vendas externas reduzidas em função da crise mundial, em julho de 2008 a Avibrás entrou em regime de recuperação judicial. Outra bem sucedida exportação para a Malásia e a efetivação de uma grande encomenda do sistema Astros II pelas forças armadas brasileiras permitiram dar novo fôlego à empresa, que por fim retomou a liquidez, em 2011, após a conversão de parte das dívidas com o Governo Federal em participação acionária (a operação tornou a União detentora de cerca de 1/5 do capital da empresa).
Novo veículo só seria apresentado em 2014, a viatura 4×4 Tupi, mostrada em abril às autoridades brasileiras. O protótipo foi preparado em apenas quatro meses com a colaboração da francesa Renault Trucks Defense (empresa do grupo Volvo), para participar de concorrência internacional lançada pelo Exército Brasileiro destinada à escolha do modelo de viatura blindada leve para sua Nova Família de blindados sobre rodas (que por fim deslanchou, também incluindo o 6×6 Guarani, fabricado pela Iveco). Na realidade, se tratava da “tropicalização” do modelo francês Sherpa Light Scout, de 8 t (capacidade para até 12 soldados ou 2,5 t de carga e autonomia de até 800 km), equipado com uma série de armamentos e equipamentos de defesa produzidos pela Avibrás. (O original francês possui motor diesel de quatro cilindros e 173 ou 215 cv, caixa automática, suspensão independente e freios a disco nas quatro rodas com ABS.)
A proposta da Avibras envolvia diversas versões: comando e controle, transporte, radar, ambulância, defesa antiaérea e patrulha armada. Caso vencesse a concorrência, a empresa se comprometia a fornecer o lote inicial, envolvendo o fornecimento de 186 unidades, com 32% de nacionalização, alcançado em meados de 2016 índice superior a 60%. Em 2015, Avibrás e Iveco foram indicadas finalistas no processo seletivo conduzido pelo Exército. Concluída a avaliação, em abril do ano seguinte, porém, a escolha recaiu sobre o modelo proposto pela firma italiana.
Com base na experiência adquirida com a preparação do Tupi, a partir do final de 2014 a Avibras procedeu à atualização do blindado Guará. Denominado Guará 4WS, seu protótipo foi oficialmente apresentado na LAAD 2016. Viatura para operações militares e policiais urbanas com capacidade para cinco tripulantes e respectivo equipamento, trazia chassi de projeto próprio, motor Cummins de 204 ou 250 cv, câmbio automático e tração, suspensão independente e direção nas quatro rodas. Haveria versão para transporte de tropas, com capacidade para dez soldados. Com índice de nacionalização significativamente superior ao do Guará anterior, possuía como elementos importados apenas o sistema de direção das rodas traseiras, o rádio militar e o computador de bordo.
Ainda na linha dos veículos terrestres, a Avibras está hoje envolvida no desenvolvimento e fornecimento de equipamentos para atender ao programa federal Astros 2020, cujo objetivo é dispor de uma frota de lança-mísseis com alcance de 300 km e as correspondentes viaturas de apoio. O primeiro lote foi entregue ao Exército em junho de 2014 – seis lançadores múltiplos AV-LMU, uma unidade remuniciadora e duas outras para posto de comando e estação meteorológica; a encomenda compreende 50 veículos, a serem produzidos até 2018. A base para todos eles será o caminhão Astros II sobre chassi Tatra, em sua versão mais atualizada (Mk6).
O catálogo da Avibras conta hoje com apenas um produto para o mercado civil, o Locotrator rodoferroviário, para movimentação de composições ferroviárias em pátios de manobra, equipamento desde 1985 fabricado pela subsidiária Tectran.
<avibras.com.br>

 

VEROLME

Subsidiária da Verolme holandesa instalada em 1959 em Angra dos Reis (RJ), foi por duas décadas, ao lado da Ishikawajima, um dos maiores e mais ativos estaleiros do país. Em 1983 a empresa foi vendida para investidores brasileiros. O país mal saíra da recessão econômica, que vinha do início da década. Toda a indústria naval brasileira se encontrava em profunda crise, agravada pela redução dos subsídios estatais para o setor. A exemplo dos fabricantes de material ferroviário, que passavam por iguais tensões, os estaleiros buscaram na diversificação um caminho para a sobrevivência. A Verolme foi uma das primeiras a procurar saídas fora de seu mercado principal.
Ainda em 1983 a empresa anunciou seu plano de investimentos, que incluía desde a criação de gado e plantação de soja mediante incentivos fiscais até a utilização da capacidade ociosa das suas instalações para a fabricação de embarcações militares, dragas e equipamentos pesados para mineração e construção civil, inclusive autopropelidos.
O primeiro veículo cogitado foi um caminhão fora-de-estrada para 200 t, com tração elétrica GE, a ser fabricado sob licença de uma empresa norte-americana não revelada; sem conseguir fechar um acordo de transferência de tecnologia, a Verolme desistiu do projeto. A seguir enveredou para o segmento de carros de bombeiro, produzindo algumas unidades a partir do furgão Mercedes-Benz 608 D. Suas iniciativas teriam um pouco mais sucesso na área militar, embora para aplicações terrestres e não navais.
O primeiro equipamento completo a ser concluído – e único a ser comercializado em pequena quantidade – foi o caminhão para combate a incêndio em aeroportos São Bernardo, apresentado em julho de 1985. Dotado de tração nas quatro rodas, toda mecânica foi emprestada da Scania (chassi, eixos, caixa de cinco marchas com redução, motor de 370 cv). Com peso operacional de 14 t, possuía bloqueio dos diferenciais, guincho, tanques para água, espuma e pó e moderna carroceria de alumínio de perfil baixo e cabine avançada; sua bomba de alta pressão permitia vazões de até 4.000 l/min e alcance de 60 m.
O segundo projeto militar da Verolme, do qual foi construído apenas o protótipo, teve gestação mais lenta. Os planos iniciais previam a fabricação seriada, para exportação para a Europa e EUA, de um obuseiro rebocado (FH 70) com alcance de 30 km, arma então adotada pelas tropas da Otan. Projetado para disparar projéteis de 155 mm, foi desenvolvido em conjunto pela britânica Vickers, a alemã Rheinmetall e a italiana Oto Melara. O projeto acabou se desdobrando em outro muito mais ambicioso: a produção, também para os países-membros da Otan, de um obuseiro autopropelido sobre lagartas, a ser equipado com o canhão do FH 70. Ainda em fase de desenvolvimento pela Vickers, teria motor Cummins de 600 cv, importado dos EUA. Por ser arma de retaguarda, o veículo não teria blindagem.
Oficialmente denominado AS90 Mallet, a Verolme foi responsabilizada pela construção do protótipo, concluído a tempo de ser exposto em junho de 1986 na British Army Equipment Exhibition. Nos testes o carro revelou peso de 35 t (incluindo 42 obuses a bordo), autonomia de 500 km e alcance de tiro de 41 km. O sistema automático de pontaria permitia a cadência de seis lançamentos por minuto.
Os prejuízos permanentes ocasionados pela instabilidade do setor naval, porém, não conseguiram ser neutralizados pelos novos negócios da Verolme. O quadro econômico-financeiro da empresa se deteriorou, inviabilizando o acordo com a Vickers. Em 1991, já concordatário, o estaleiro foi comprado pelo polêmico empresário Nelson Tanure, que já controlava a Emaq, em menos de três anos também assumiria a Ishikawajima e em pouco tempo colocaria todas em situação pré-falimentar.
Depois de passar por longo período de inatividade, no ano 2000 a Verolme passou a ser administrado pelo grupo Keppel Fels, sediado em Cingapura, ironicamente hoje também controlador da Verolme holandesa. Quanto ao obuseiro AS90, foi colocado em produção seriada na Grã-Bretanha, sendo até hoje fabricado em grande quantidade pela BAE Systems, sucessora da Vickers.

 

sábado, 3 de dezembro de 2016

FRAGATA CLASSE NITERÓI




FICHA TÉCNICA
Tipo: Fragata multimissão.
Tripulação: 209 tripulantes.
Data do comissionamento: Novembro de 1976
Deslocamento: 3800 toneladas
Comprimento: 129 mts.
Boca: 13,5 mts.
Propulsão: 2 Turbinas a Gás Olympus TM3B com 56000 hps e 4 motores a diesel T16V956 B-9
Alcance: 8500 Km
Sensores: Radar de busca aérea e de superfície Alenia 2D RAN 20S com alcance de 240 km, Radar de navegação Terma Skanter Mil, radar de direção de tiro RTN-30X, Sonar EDO 997F.
Armamento: AAW: 1 lançador de 8 células para mísseis Aspide Mod 7; 2 canhões Bofors Trinity MK-3 de 40 mm antiaéreos; AsuW: 1 Canhão Vickers MK-8 de 114,5 mm, 4 lançadores de mísseis MBDA MM-40 MK II Exocet; ASW: 2 lançadores triplos MK-32 para torpedos leves MK-46.
Aéronaves: Um helicóptero anti-submarino Westland Super Linx


A marinha do Brasil foi durante um bom tempo a mais moderna e bem equipada marinha da América do Sul, tanto pela quantidade de navios em serviço como pela sofisticação de alguns de seus navios. Parte dessa vantagem estava em sua fragata da classe Niterói, o mais importante navio de guerra da marinha do Brasil até hoje. As fragatas da classe Niterói (F-40) foram parte de um acordo entre a marinha do Brasil e o estaleiro britânico Vosper Thornycroft no ano de 1970, para que este construísse 4 navios do projeto MK-10 e que outros 2 navios desse tipo fossem construído pelo Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro, obtendo assim a transferência de tecnologia para esse tipo de navio, o que, mais tarde acabou permitindo o desenvolvimento das corvetas Inhaúma e Barroso, que são fruto dessa transferência para nossa marinha.
Por ser um projeto um tanto antigo, o sinal da idade dos navios começou a se perceber de forma preocupante durante a década de 90, quando se decidiu, no final da década de 80 que as fragatas Niterói precisariam passar por um processo de modernização para poderem se manter como meios de combate viável no cenário de guerra moderno. Assim nasceu o programa MODFRAG, que elevou, em muito, a capacidade de combate do navio, tanto em sistemas de armas como em sistemas eletrônicos. Como tudo que diz respeito a defesa no Brasil, a implantação do programa MODFRAG, também, sofreu atrasos significativos, graças ao descaso gritante das autoridades governamentais diante das necessidades das forças armadas do Brasil.
Essa modernização, também trouxe uma experiência importantíssima para a marinha do Brasil nesse tipo de empreendimento, para que no futuro, possamos executar esse tipo de trabalho em outras embarcações de nossa marinha e até, em navios de países amigos.
A fragata Niterói desenvolve uma velocidade máxima de 30 nós (56 km/h), oque é considerado bom para esse tipo de navio além de permitir ao navio navegar junto com navios de guerra maiores e mais potentes, como no caso de uma missão multinacional onde tenha navios de guerra de uma marinha mais poderosa como a dos Estados Unidos, que, diga-se de passagem, participa todos os anos de exercícios militares com a marinha brasileira. Esse desempenho é proporcionado por duas Turbinas a Gás Olympus TM3B que produzem 56000 hps de potencia e quatro motores a diesel T16V956 B-92. A autonomia da Niterói chega a, aproximadamente, 8500 km navegando em velocidade de 17 nós (30 km/h).


A suíte de sensores nas fragatas classe Niterói foram os sistemas mais atingidos pelo programa de modernização, sendo que o radar principal, de busca aérea e de superfície, é o modelo italiano da Alenia 2D RAN 20S que opera na banda E possui um alcance Maximo de 240 km. Para navegação o radar dinamarquês Terma Skanter Mil operado na banda X tem um alcance maximo de 45 km.
Para direção de tiro um sistema NA-30 composto por um radar RTN-30X com alcance de 45 km contra alvos aéreos e 15 km de alcance contra mísseis em vôo rente a o mar (sea skimmer) e por um sensor Saab EOS 400-10B que proporciona imagem de TV e térmica para apoiar a direção de tiro dos canhões do navio. O sensor termal detecta o calor de um alvo a uma distancia máxima de 20 km. Para detecção de ameaças submarinas um novo sonar modelo EDO 997F, o mesmo usado no moderníssimo novo destróier da marinha britânica o Type 45 Daring, foi instalado. Esse sonar permite uma maior sensibilidade na detecção das ameaças submarinas. Os sensores das Niterói são controlados por um sistema de gerenciamento de dados táticos Sinconta Mk-2, desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM). Esse sistema gerencia as informações dos sensores dando agilidade de resposta para as ameaças ao navio.
A suíte de guerra eletrônica é composto por um sistema Racal Cutlass B1W de apoio a guerra eletrônica (MAGE) que classifica as ameaças eletromagnéticas como ondas de radares inimigas que estejam iluminando o navio para que estas possam ser interferidas, ou “jameadas” como preferem dizer alguns especialistas. O interferidor usado nas fragatas Niterói é o ET/SLQ-1 desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM), que interfere em radares de direção de tiro e de busca, além de gerar sinais eletrônicos que despistam os sensores inimigos, dando uma posição do navio diferente da real.

O armamento das fragatas Niterói também foi bastante modernizado, visando uma melhora significativa na capacidade antiaérea, antes feita por velhos e ineficazes mísseis Sea Cat, cujo alcance mal passava dos 5 km, além da péssima precisão, para os bem mais poderosos mísseis Aspide Mod 07, guiados por radar semi ativo que conseguem uma probabilidade de acerto de 0.8 (80%) contra um alvo aéreo e com um alcance maximo de 15 km. O lançador usado é do tipo óctuplo (com 8 mísseis), e pode ser modernizado, caso a marinha do Brasil assim o queira para a versão Aspide 2000, com alcance aumentado para 21 km. Foram instalados, também pensando na capacidade anti aérea, dois canhões Bofors Trinity MK-3 de 40 mm, que é apontado elo radar RTN -30C, o mesmo que guia os mísseis Aspide, ou pode ser apontado pela mira optronica EOS 400. As granadas disparadas por este canhão são do tipo de fragmentação e sua detonação se dá por espoleta de aproximação ou ainda programáveis. O alcance maximo é de 10 km contra alvos de superfície, ou 6 km contra alvos aéreos.
  Aspide 2000  
lançamento de um Missil  Aspide 2000
 Canhão Bofors Trinity MK-3 de 40 mm 

Para guerra anti-superfície, as fragatas Niterói, está armada com 4 lançadores de mísseis antinavio MBDA MM-40 MK 2 Exocet, cujo alcance é de 70 km e com guiagem por radar ativo. O canhão principal é o Vickers MK-8 de 114,5 mm, com cadência de tiro na ordem de 25 tiros por minuto e um alcance efetivo de 22 km. O uso deste canhão se dá contra alvos de superfície e aéreos. Esse canhão já é bem conhecido da marinha pois além das fragatas da classe Niterói, também arma as corvetas Inhaúma e a nova corveta Barroso. O armamento anti-submarino é composto por dois lançadores triplos MK-32 para torpedos MK-46 de 324 mm capazes de atingir um submarino inimigo a 7,3 km e a uma profundidade máxima de 365 metros além do lançador de foguetes anti-submarino Bofors SR-375 cujos foguetes podem atingir um alcance de 3,7 km.
Ainda há, nas Niterói, um helicóptero anti-submarino Westland Super Linx, que pode ser armado com torpedos MK-46 ou mísseis antinavio Sea Skua guiado por radar semi ativo e com alcance de 20 km. Esse míssil usa os dados do radar de médio alcance Sea Sprey MK-3 do Super Linx para atingir seu alvo.
Westland Super Linx  Foto: Felipe Sallen www.alide.com.br

  Vickers MK-8 de 114,5 mm

  lançador de foguetes anti-submarino Bofors SR-375

  mísseis antinavio MBDA MM-40 MK 2 Exocet

  lançadores triplos MK-32 para torpedos MK-46 de 324 mm

  mísseis antinavio MBDA MM-40 MK 2 Exocet

Embora o projeto da classe Niteróis seja um pouco antigo, com mais de 30 anos, atualmente, a modernização pelo qual passou estes navios permite ela que ainda seja considerada como meio naval válido por mais alguns anos. Porém já é hora da marinha do Brasil começar a estudar com seriedade a substituição em médio prazo destes navios. O acordo de cooperação militar assinado com a França no inicio de 2008 poderia ser muito útil nesse caso pois a fragata FREMM já descrita nesse blog é um dos mais avançados projetos nessa categoria de navio e poderia servir muito bem a marinha do Brasil.