quarta-feira, 6 de junho de 2018

Hägglund BV-206D


BV-206
Embora tenha a aparência de um tanque de lagartas, esse exótico modelo deveria ser considerado mais um trator do que propriamente um blindado. Projeto em 1979, pela sueca Hägglund & Söner, tinha como objetivo um veículo leve, para terrenos acidentados, principalmente com neve.
O BV-206 é composto de uma unidade tratora com motor, transporte e direção e uma unidade móvel que pode ser usada para transporte de carga, soldados ou de equipamentos especializados. Ambas possuem lagartas largas para neve e são feitas de fibra de vidro. Uma curiosidade é que todo esse conjunto é anfíbio.
Apesar do projeto ser modesto, teve um sucesso relativamente grande, com mais de 4000 unidades produzidas até o momento. Vários países utilizam o modelo, incluindo os EUA. No Brasil, existe apenas um exemplar do modelo (1989), o BV-206D, que é a versão radar do BV-206. O radar Ericsson Giraffe 50AT pode ser extendido a uma altura de de 7 metros e tem um alcance de 50 km. Sua missão é fornecer segurança às tropas recém-desembarcadas em terrotório, até a chegada das unidades definitivas.
Guarnição1 motorista; 5 soldados (frente); 10 soldados (reboque)
Vel. max.55 km/h (terra); 3Km/h (água)
Raio de Ação330 km
MotorMercedez-Benz OM 603.959.2; turbo; diesel; 125HP
Comprimento6,86m
Altura2,4m
Largura1,85m
Peso6,3 ton.

LVTP-7 A1 Landing Vehicle, Tracked Personnel


LVTP-7
LVTP-7


Armamento1 metraladora .50 montada em uma torreta
Lança-grandas Mk.19 40mm
Guarnição1 Motorista
1 artilheiro
1 motorista auxiliar
1 comandante de tropas
até 24 soldados
Vel. max.72 km/h (terra)
13 km/h (água)
Raio de Ação483 km
MotorCummins VT400; 8cil; 4 tempos; diesel; - 400 HP
Comprimento8,16m
Altura3,31m
Largura3,27m
Rampa max. frontal60%
Rampa max. lateral60%
Peso (equipado)25,6 ton.

DUKW


DUKW
 DUKWCAMANF
Guarnição1 Motorista
58 homens equipados
(ou equivalente em peso)
Vel. max.72 km/h (terra)
10 km/h (água)
72 km/h (terra)
14 km/h (água)
Raio de Ação350 km430 km
MotorGMC 270; 6 cilindros; gasolina; 104HPDetroit Diesel 4-53N-145HP
ChassiFord F-7000 6x6GMC COE 2,5 ton. 6x6
Comprimento9,44m9,50m
Altura2,66m2,65m
Largura2,54m2,50m
Peso (equipado)8,87 ton13,5 ton

Ford GPA Jeep


Ford GPA
Guarnição4 lugares
Motor250 HP
Comprimento4,62m
Altura1,68m
Largura1,57m
Peso1,6 ton.

terça-feira, 5 de junho de 2018

Armaduras Medievais



 
 
A armadura serve para a proteção pessoal, originalmente feita de metal. Qualquer peça possa ser descrita como uma ou mais placas de metal sem qualquer tipo de cobertura ou forro para uni-las.  Os soldados, guerreiros e cavaleiros a usava como arma branca nas batalhas, que começaram a aparecer no século XIII na forma de cotoveleiras e joelheiras. No século XIV se desenvolvem as proteções para os ombros, cobrindo braços pernas e pés completamente. No século XV é definida a imagem do cavaleiro.

Tipos de Armaduras medievais

 

Armadura de Malha: é composta por anéis de ferro entrelaçados, confeccionado em forma de túnica, camisa, calça, capuz.

 
 
Cotas de placas: é a junção de couro/ tecido com placas de ferro/ aço. Essa armadura marca a transição da armadura de malha para a armadura de placa.

Armadura de placa: é composta por placas de aço articuladas para proteger o corpo e começa aparecer na historia no século XIV


 

Acessórios

Couraça: A couraça é uma armadura de placas que protege o torso do homem
 
 
Elmo: A proteção da cabeça, que podia ser tanto aberto quanto fechado. Durante a idade média uma enorme variedade de elmos surgiu

 


 


 

Grebas: são armaduras que protegem a parte inferior da perna - do joelho ao tornozelo
 
Outros acessórios

Primeira Guerra Mundial: 100 anos do conflito que mudou o mundo


Nas trincheiras da Primeira Guerra, a velha civilização europeia encontrou seu fim  e os alicerces do mundo moderno foram tragicamente plantados
TEXTO José Francisco Botelho | MAPA Cássio Bittencourt | 25/08/2014 19h33
Em um buraco no chão – ali vivia um homem. Não era um buraco limpo ou confortável. Na verdade, era um buraco cheio de lama, com centenas de pessoas amontoadas e um cheiro denso de suor e dejetos. Quando a vida se tornava demasiado terrível, o homem tentava distrair a mente escrevendo um poema – ou rezando. Era um católico praticante, de 24 anos, segundo-tenente no Exército Britânico – e o buraco, onde ele viveu entre junho e outubro de 1916, era uma trincheira no norte da França, nas vizinhanças do Rio Somme. Ingleses, franceses e alemães travavam uma das batalhas mais sangrentas da história humana. No meio da lama e do sangue, o oficial tentava entender como tudo aquilo se encaixava em sua fé cristã. Certo dia, em um intervalo nos combates, ele se sentou sob uma árvore, no bosque de Bus-lès-Artois. Uma chuva fina caía, mas ele não se importou. Ficou ali, sem dormir e sem comer, por dois dias. E então redigiu uma longa carta a um de seus amigos de infância – que também estava servindo em uma trincheira, a quilômetros dali. “Minha principal impressão”, escreveu, “é que alguma coisa se quebrou para sempre”.
O oficial insone sob aquela árvore no bosque francês era John Ronald Reuel Tolkien – e suas palavras ecoaram o sentimento que dominava toda a Europa. Começando com um atentado terrorista em Sarajevo em 1914, a Primeira Guerra Mundial havia lançado as maiores potências da época em um duelo inútil, prolongado e sangrento. Os principais combatentes eram a Inglaterra, a França, a Alemanha, o Império Austro-Húngaro e o Império Turco-Otomano – mas a conflagração envolveu quase todos os países da Europa e se espalhou por todos os continentes do globo. Escavadas da França ao Oriente Médio, as trincheiras da Grande Guerra foram o símbolo de um conflito em que a maior vítima foi o otimismo da civilização europeia. Na obra A Crise do Espírito, de 1919, o francês Paul Valéry resumiu a melancólica lição aprendida: “Agora, nossa civilização sabe que é mortal”. O velho mundo que a geração de Tolkien conhecera estava realmente quebrado para sempre. E sobre os lamacentos alicerces das trincheiras, levantou-se o turbulento mundo em que vivemos.

Inferno na terra
Além de ser, de fato, a primeira guerra a envolver todos os continentes, o conflito de 1914 a 1918 viu a estreia maciça das tecnologias da morte que marcariam os tempos modernos. Aviões e submarinos, embora desenvolvidos antes de 1914, foram usados pela primeira vez em larga escala na Grande Guerra – que também serviu de estopim para a invenção de outras máquinas, como o tanque. Por outro lado, aquela foi também uma guerra do século 19: generais de ambos os lados subestimaram o avanço tecnológico do inimigo e pagaram um alto preço por isso. “A doutrina militar dos ingleses e franceses era baseada no ímpeto e na rapidez dos soldados de infantaria – mas a artilharia pesada dos alemães colocou um fim ao brio e à galhardia dos antigos combates a pé”, diz o jornalista e historiador inglês Robin Cook, autor de mais de 30 livros sobre história militar. Já os generais alemães, cujo exército em terra era o mais moderno do mundo, subestimaram a Marinha inglesa: os britânicos começaram em 1914 um bloqueio naval à Alemanha, cortando suas rotas de comércio pelo mar e levando à morte mais de 300 mil alemães por desnutrição. Com falta de homens e mantimentos para sustentar seus planos grandiosos, o país também naufragou na lama.
Foram os alemães, aliás, que cavaram as primeiras trincheiras, em setembro de 1914. Três meses antes, haviam invadido a Bélgica e a França, chegando a 70 km de Paris, mas logo tiveram de recuar até as margens do Rio Aisne. Ali fincaram pé: recuar mais seria uma desonra. Sem conseguir avançar sob a forte artilharia inimiga, ingleses e franceses confiscaram pás, picaretas e enxadas nas fazendas das vizinhanças – e também começaram a cavar seus próprios buracos.
A GUERRA DAS ILUSÕES
Em 24 de junho de 1914, o arquiduque Francisco Ferdinando – herdeiro do Império Austro-Húngaro – fazia uma visita a Sarajevo, na atual Bósnia. O território, na época, era dominado pelos austríacos, mas diversasorganizações clandestinas buscavam a independência. Era o caso da Mão Negra – grupo formado por bósnios de etnia sérvia, que sonhavam com a criação de uma Grande Iugoslávia, unindo todos os eslavos do leste europeu. Foi um membro da Mão Negra, o sérvio étnico Gravilo Princip, quem puxou o gatilho da Primeira Guerra: os tiros de sua pistola derrubaram o arquiduque austríaco e sua esposa, quando passavam pelas ruas de Sarajevo no carro oficial.
Em seguida, o Império Austro- Húngaro declarou guerra à Sérvia, apoiadora da Mão Negra – mas o que deveria ser uma guerra punitiva e localizada se alastrou por toda a Europa e pelo resto do mundo. A monarquia alemã, aliada dos austríacos, logo entrou na guerra. E arrastou consigo o Império Turco- Otomano, aliado de Berlim. A Sérvia, por sua vez, era aliada da Rússia, que era aliada da França, que era aliada da Inglaterra... Como alpinistas cegos, amarrados uns aos outros, as grandes potências foram desabando no precipício – e sua queda envolveu também os protetorados e colônias europeias, que, na época, ocupavam 80% do globo.
Quase todos os envolvidos saíram perdendo. A Alemanha planejava usar a conflagração para construir um império – mas o passo foi maior que suas pernas. Os impérios russo, austro-húngaro e turco-otomano pretendiam proteger suas fronteiras e aumentar seu poder, mas acabaram destroçados ao fim do conflito. Já a França e a Inglaterra acreditavam, no início da guerra, que suas antigas táticas de infantaria seriam suficientes para derrotar o maquinário alemão, mas acabaram perdendo mais de 2 milhões de soldados – na maioria, jovens. Não por acaso, o historiador alemão Fritz Fischer chamou a Primeira Guerra de “a guerra das ilusões”.

As valas improvisadas logo se transformaram em sistemas complexos. Os soldados tinham de dormir no chão, enrolados em suas capas – e eram despertados constantemente pela passagem de ratos, sapos e insetos. Quando o solo estava molhado, era impossível se deitar – então os soldados tinham de dormir sentados, encostados uns nos outros. No lado alemão, as trincheiras eram mais organizadas. Tábuas de madeira sustentavam a terraplanagem, e em alguns lugares havia até iluminação, ventilação e abrigos de concreto. Mas o efeito desmoralizante era o mesmo. Lohar Dietz, que serviu no norte da França, descreveu a exaustão que tomara conta dos soldados rasos alemães em 1914: “Seria muito melhor atacar da forma mais louca e temerária do que ficar o dia inteiro aqui, escutando o barulho das granadas e imaginando se serei o próximo a ir pelos ares”.

Moléstias do lodo
Balas de franco-atiradores e projéteis de artilharia não eram os únicos perigos. Nas trincheiras da Bélgica e da França, o solo pantanoso ficava alagado no inverno. Mergulhados no lodo, os soldados desenvolviam uma doença que ficou conhecida como “pé de trincheira”: a umidade deixava os pés azulados ou vermelhos, cheios de bolhas e úlceras, que muitas vezes acabavam em gangrena e amputação. A supremacia desse elemento úmido, escuro e pegajoso é uma constante nos relatos de soldados. Em uma carta de 14 de dezembro de 1914, o capitão inglês Noel Chavasse descreveu um grupo de soldados escoceses após três dias nas trincheiras em Kemmel, no norte da França: “Eles ficaram 72 horas com água e lama até o joelho, e é horrível vê-los saindo de lá de dentro. Já não parecem jovens, nem parecem homens. Jamais vi algo assim. Parecem criaturas bestiais”.

Havia uma praga adicional: os piolhos. Amontoados e com pouca higiene, os soldados não tinham como evitar a infestação. E os problemas não se resumiam à coceira das picadas. De todos os soldados ingleses que ficaram doentes na frente ocidental, um quinto foi atacado pela bactéria Bartonella quintana – transmitida pelos piolhos, causava febre alta, tontura e terríveis dores nas pernas, nas costas e na cabeça. A “febre de trincheira” não era fatal, mas podia deixar as vítimas fora de combate por semanas ou meses. E foi esse o diagnóstico para o paciente J. R. R. Tolkien, que viera até a enfermaria com 40 graus de febre. Três dias depois, Tolkien era evacuado do campo de batalha e jamais voltou aos combates. Foi assim que um piolho mudou a história da literatura.
TRINCHEIRAS
As trincheiras foram o fenômeno mais emblemático da Primeira Guerra Mundial – e se tornaram um símbolo não apenas dos horrores do conflito, mas também de sua futilidade. Os primeiros a escavarem valas fortificadas foram os alemães, em setembro de 1914, às margens do Rio Aisne. O desenho geral das trincheiras germânicas foi copiado com algumas alterações em lugares como a atual Turquia, a Itália, a Palestina e a Polônia. Mas a maior parte se concentrava na Bélgica e no norte da França, do litoral até a fronteira com a Suíça. Cada sistema de trincheiras era formado, em geral, por três valas, de 2 a 4 m de profundidade, separadas por uma distância entre 60 e 270 m. Na primeira linha, ficavam os sentinelas e franco-atiradores – que recuavam para a segunda vala em caso de bombardeio. A reserva de soldados ficava no terceiro buraco. Havia trincheiras menores, longitudinais, conectando as maiores – serviam para que os soldados recuassem ou avançassem sem se expor ao fogo inimigo e, também, para o transporte de alimentos e munição. No solo pantanoso do norte da França, o fundo das trincheiras era forrado com sacos de areia, mas mesmo assim os alagamentos eram constantes.
Entre as posições inimigas, ficava a Terra de Ninguém – um espaço de 9 a algumas centenas de metros, cortado por arames farpados e pontuado por crateras de bombas.
Para dificultar a mira dos adversários, as trincheiras eram escavadas em ziguezague, fazendo ângulos de 90º para a direita e para a esquerda,sucessivamente, como um labirinto. De acordo com o historiador americano Paul Fussell, mais de 40 mil km de valas foram escavadas na Grande Guerra – se esticadas numa linha reta, dariam a volta ao mundo. “Teoricamente, seria possível caminhar da Bélgica até a Suíça quase sem sair de debaixo da terra, eventualmente pulando de uma trincheira para outra”, escreveu Fussell em The Great War and Modern Memory, de 1981.
Terra de ninguém
Nos intervalos entre os ataques, os soldados entrincheirados viviam em estranha intimidade com os inimigos. Em algumas partes da frente ocidental, a área deserta separando as posições adversárias – conhecida como Terra de Ninguém – tinha apenas 9m de largura. Era possível ouvir os soldados tossindo, conversando, chorando ou espirrando do outro lado. Nos primeiros meses da guerra, os soldados rasos em ambas as frentes haviam desenvolvido uma rotina para tornar a vida menos terrível: os franco-atiradores disparavam apenas em horários específicos, dando chance para que os inimigos recolhessem seus mortos, comessem ou dormissem.
Quando os oficiais graduados não estavam olhando, a cortesia entre os adversários rasos crescia. Em 10 de dezembro de 1914, a voz de um soldado inglês ecoou na Terra de Ninguém às margens do Aisne: “Bom dia, Fritz. Venha pegar uns cigarros”. Fritz era o nome genérico dado pelos ingleses aos soldados alemães. Fritz respondeu, em inglês: “Vamos nos encontrar no meio do caminho. Ninguém atira”. Pouco depois, os inimigos estavam no terreno neutro, trocando cigarros, uísque, queijos e apertos de mão.

A confraternização chegou ao ápice no Natal de 1914. “De repente, luzes começaram a aparecer na balaustrada alemã, e logo ficou claro que eram árvores de Natal improvisadas, adornadas com velas acesas”, escreveu o inglês Graham Williams, em carta de 24 de dezembro de 1914, na Bélgica. Os alemães então começaram a cantar Stille Nacht, Helige Nacht – sua versão de Noite Feliz. Os ingleses responderam com outro hino natalino, The First Nowell. Situações assim aconteceram em vários locais: cerca de 100 mil soldados entraram em uma trégua não oficial. E, em alguns lugares, as confusões geopolíticas das grandes potências deram lugar a jogos não letais. Em Ypres, no dia 1º de janeiro, alemães e escoceses disputaram uma amigável partida de futebol sobre o solo esburacado e congelado da Terra de Ninguém. Os alemães venceram por 3 a 1.
Nuvem da morte
As tréguas espontâneas não agradaram nem os generais nem os governantes das potências em guerra. Em dezembro de 1915, o alto-comando inglês intensificou os bombardeios contra as trincheiras alemãs, para aniquilar qualquer chance de um novo Natal feliz. Ao longo dos quatro anos de guerra, os dois lados tentaram a todo custo quebrar o impasse das trincheiras. Um dos métodos – o mais pavoroso – foi colocado em ação pela primeira vez em Ypres, no dia 22 abril de 1915. Por volta das 5 e meia da tarde, soldados argelinos e marroquinos – convocados nas colônias francesas da África – avistaram uma nuvem esverdeada que se aproximava, soprada por uma brisa suave. O estranho nevoeiro logo preencheu as trincheiras. No início, nada aconteceu: a nuvem de cheiro doce apenas causou cócegas nas narinas dos soldados. Mas, em segundos, o veneno fez efeito. Centenas de homens sentiram os pulmões em chamas e caíram no chão, com bolhas espumantes brotando da garganta. E morreram asfixiados, com braços contorcidos e rostos escuros. Outros tantos se levantaram, em pânico, e tentaram fugir das trincheiras, mas a maioria foi metralhada pelos alemães a postos do outro lado. Em dez minutos, 6 mil homens estavam mortos; outros milhares ficaram cegos, incapazes de lutar.
A nuvem esverdeada era o gás cloro, inventado naquele ano pelo químico Fritz Harber por encomenda do exército alemão. “Apesar dos efeitos terríveis, naquele mesmo dia ficou claro que o gás não era uma arma decisiva”, diz o historiador Lawrence Sondhaus, autor de A Primeira Guerra Mundial: História Completa. “Os próprios alemães tinham medo de avançar pelas áreas cobertas de gás cloro – e, por isso, não conseguiram tomar a posição inimiga”. Mesmo assim, as nuvens da morte continuaram sendo usadas. Os britânicos desenvolveram um similar ao gás cloro e os franceses elaboraram um composto ainda mais letal, o fosgênio, inodoro e sem cor.

As primeiras contramedidas logo foram tomadas: soldados foram abastecidos com pequenas máscaras de algodão que, embebidas em água, retardavam os efeitos dos gases. As máscaras rudimentares se desenvolveram até tomar a forma que se tornou sinistramente famosa: um estranho elmo que cobria todo o rosto, conectado a um cilindro com substâncias que absorviam e filtravam os gases letais. As mortes diminuíram, mas os efeitos colaterais – como a cegueira temporária – continuaram tirando soldados de combate até o fim da guerra.
Foi o que aconteceu a certo soldado austríaco naturalizado alemão, em outubro de 1918. Cegado por um ataque britânico com gás, em Ypres, o rapaz de 25 anos passou os últimos meses do conflito em um hospital na Alemanha. No dia 10 de novembro, um pastor protestante anunciou aos pacientes a já esperada notícia: o kaiser havia caído, a Alemanha se tornara uma república, e a guerra estava perdida. O jovem recuperou a visão e escreveria, anos depois, em suas memórias: “Seguiram-se dias terríveis e noites ainda piores – eu sabia que tudo estava perdido... Nessas noites o ódio cresceu em mim... Confinado àquela cama, veio à minha cabeça a ideia de que um dia eu libertaria a Alemanha, que um dia eu a tornaria grande de novo”. Seu nome era Adolf Hitler.



A GUERRA QUE NÃO ACABOU
A Grande Guerra sacudiu e reorganizou o mundo. Durante os cem anos seguintes, o xadrez da política global seria jogado no tabuleiro que emergiu dos escombros de 1918. Para começar, a guerra pôs fim ao domínio supremo da Europa sobre o globo. Ao longo do século 19, a população europeia crescera sem parar: em 1914, 40% da população global era formada por cidadãos de países europeus, residentes não só em seus países de origem como em colônias ao redor do planeta. A Grande Guerra pôs fim ao crescimento demográfico do Velho Mundo: a maior parte dos 9 milhões de mortos do conflito era formada por europeus.
A Grande Guerra foi um terremoto. No meio do conflito, em 1917, estourou a revolução que pôs fim à monarquia dos Romanov na Rússia. Finlândia, Estônia, Látvia e Lituânia ganharam independência do desfeito império czarista – enquanto a União Soviética se preparava para espalhar a revolução pelo resto do mundo. Dos escombros do Império Austro-Húngaro nasceram a Iugoslávia e a Tchecoslováquia – que ao longo do século 20 se desmembrariam em Sérvia, Croácia, Bósnia, Kosovo, Montenegro, República Tcheca e Eslováquia.
No Oriente Médio, as províncias do Império Otomano viraram butim dos vencedores. Ingleses e franceses inventaram as fronteiras de Síria, Líbano, Iraque, Palestina e Jordânia. Alguns dos conflitos que assolam o mundo até hoje foram plantados na época – como a guerra entre Israel e os palestinos. Durante a Primeira Guerra, os ingleses prometeram independência às terras habitadas por árabes, em troca de ajuda contra os turcos. Mas na década de 20 passaram a estimular a imigração de judeus ao Oriente Médio – o que levou à fundação de Israel, em 1948.
Além disso, a Grande Guerra viu o surgimento de um novo poder global. Até então, os EUA seguiam uma política de não se intrometer em assuntos internacionais – mas sua entrada na guerra, em 1917, selou a derrota da Alemanha e abriu a era da intervenção global americana. Quando a guerra terminou, em 1918, o século de Washington havia começado.


GÊNGIS KHAN


Numa tribo nômade de uma das regiões mais remotas do mundo, nasceu aquele que lideraria um dos mais eficientes exércitos já reunido. Impiedoso e violento, ele conquistou o maior império que um só homem já dominou. Seu nome é Temudjin, ou Gêngis Khan.
O ano é 1215. Zhongdu, capital do Império Jin, cai na segunda tentativa de invasão pelos mongóis. Um ano antes, um pesado tributo foi pago e os bárbaros das estepes se foram. Desta vez, porém, nem os muros de pedra com 12 metros de altura, nem a chuva de setas despejada pelos mais de mil arqueiros postados no alto das torres foi capaz de deter o cerco. Quem não fugiu se arrependeu. A cidade foi saqueada e destruída. Seus habitantes foram mortos ou escravizados. Zhongdu, mais tarde rebatizada como Pequim, foi mais uma vítima da máquina de guerra comandada por Gêngis Khan.
Em seus 72 anos de vida, o líder mongol amealhou o maior império em extensão que um único homem já conquistou, da costa do Oceano Pacífico ao Mar Cáspio. Seus descendentes chegaram à Europa e ao Golfo Pérsico. “É a carreira militar mais fulminante da história. É como se um chefe de uma tribo indígena brasileira conquistasse hoje a América do Sul”, afirma Mario Bruno Sproviero, professor de Língua, Literatura e Cultura Chinesas da Universidade de São Paulo. A comparação faz todo sentido. Além de dispersos geograficamente, os mongóis não possuíam leis escritas, na verdade não tinham sequer escrita. Não conheciam a agricultura e seus modos eram pouco civilizados mesmo para os padrões da época.
Não tomavam banho, comiam carne crua e viviam infestados de piolhos e outros parasitas. Na guerra, eram impiedosos: pilhavam seus vizinhos, matavam os homens com crueldade ímpar, raptavam as mulheres e escravizavam seus filhos. Mas nem só o terror construiu o império de Gêngis Khan. Ele foi um líder carismático, com profundo senso de justiça. Atos de bravura conquistavam seu coração e os guerreiros mais valentes, mesmo entre os inimigos, eram recompensados com posições de comando em suas tropas. Por outro lado, os traidores eram castigados com a morte. O líder era grato até o último fio de sua barba aos amigos e respeitava a religião alheia, incorporando cristãos, budistas e muçulmanos em seus quadros. Valorizava o conhecimento a seu modo: entre os prisioneiros, aqueles que tinham profissões ou alguma habilidade eram enviados para Caracorum, fortaleza militar que servia de capital para os mongóis. Como escravos, que fique claro, mas vivos.
Temudjin, seu nome verdadeiro, nasceu por volta de 1165, à beira do Rio Onon, no noroeste da Mongólia, uma vastidão de terras planas e clima árido, ocupada pelos turcos até o século 12. Ali viviam diversas tribos nômades, organizadas em clãs. Entre as mais importantes estavam os tártaros, os caraítas, os merquitas, os naimanos, os quirquizes, os oirates e, é claro, os mongóis. Aos 8 anos de idade, após a morte se seu pai, Yesugai, envenenado pelos tártaros, Temudjin e sua família foram abandonados com poucas posses e alguns cavalos. Eles viviam da caça de pequenos animais, dos peixes do Rio Onon, da coleta de frutos e do leite das éguas. Aos 15 anos, Temudjin já almejava assumir a liderança da família, então composta pela mãe, três irmãos, a segunda esposa de seu pai e dois meio-irmãos. Um deles, Bekter, também era candidato ao posto de chefe do grupo. Temudjin sabia que nas estepes, a única forma de se livrar da concorrência era eliminá-la. Durante uma pescaria, ele matou o meio-irmão com uma flechada.
O jovem Temudjin não parou mais de eliminar quem tivesse a coragem, ou o azar, de cruzar seu caminho. Os laços familiares entre tribos e clãs tornavam constantes as rivalidades: mulheres, butins ou cavalos, eles só precisavam de um motivo, às vezes nem isso, para acender velhas vinganças.
Aos 18 anos, Temudjin entrou numa dessas refregas com os merquitas (leia quadro na página 39). Ele tinha poucas posses e nenhuma força fora de seu clã, e para enfrentar seus inimigos pediu ajuda a Toghrul, líder dos poderosos caraítas, e ao amigo Jamuka, influente chefe militar de um clã aliado. Juntos, eles reuniram cerca de 40 mil homens e, sob a liderança de Temudjin, derrotaram os merquitas. Naquela imensidão inóspita, porém, as alianças eram como os períodos do dia, não como as estações do ano. E aquele que era seu irmão pela manhã podia tornar-se seu pior inimigo ao cair da noite. Temudjin e Jamuka eram amigos desde crianças e chegaram a dividir a mesma ger (uma espécie de cabana leve, típica dos povos nômades) para enfrentar os invernos mais rudes. Agora adultos, ambos almejavam a mesma coisa: tornar-se o líder das estepes. Com a vitória sobre os merquitas, Temudjin havia conquistado a admiração de seus comandados e, portanto, mais poder que o amigo.
E, entre os mongóis, sempre que havia uma crise: havia uma guerra. Jamuka reuniu 30 mil homens de 13 tribos diferentes e atacou Temudjin, em 1187. Quem morreu atingido por flechas envenenadas ou golpes de lança foi considerado um sujeito de sorte. Os naimanos a comando de Jamuka ferveram os líderes das tropas de Temudjin em caldeirões. Os mongóis, que eram xamanistas, acreditavam que ao cozinhar seus inimigos, seus espíritos nunca iriam assombrá-los. Jamuka amarrou as cabeças de dois soldados mortos em seu cavalo e desfilou pelo campo de batalha. Uma mensagem de horror ao líder rival, que conseguira escapar.
A derrota obrigou Temudjin a quase dez anos de exílio, tempo que passou na China. Para voltar, ele só tinha uma alternativa: promover outra guerra. Com a ajuda do velho aliado, Toghrul, ele liquidou os tártaros, dando início a uma época de terror que lhe daria fortuna e fama entre as outras tribos. Temudjin tornou-se cada vez mais temido e poderoso. Em mais uma uma reviravolta, ele virou-se contra Toghrul e assumiu o controle dos caraítas.
Faltava agora acertar as contas com Jamuka. Catorze anos depois, eles voltaram a se encontrar e, dessa vez, o exército de Temudjin derrotou a força mais poderosa com que havia cruzado até então. Quando Jamuka percebeu que a batalha estava perdida, escapou acompanhado apenas por alguns de seus homens. Durante a fuga, sua escolta mudou de lado: Jamuka foi atacado e preso. Como Temudjin estava ficando muito poderoso e Jamuka cada vez mais isolado, seus homens decidiram se juntar ao vencedor, imaginando que ao entregar seu líder, ganhariam a gratidão do inimigo. Mas, para Temudjin, a traição era um ato imperdoável, mesmo quando isso o beneficiava. Ele prendeu todos e ordenou que fossem decapitados. Jamuka foi poupado para que visse a morte de seus traidores. Depois disso, também foi executado.
O soberano infinito
Após a morte de Jamuka, Temudjin era o líder de fato dos mongóis. Faltava tornar-se líder de direito. Em 1206, o ano do Tigre, um Kuriltai (uma espécie de assembléia), foi convocado entre os mandatários das dezenas de tribos que viviam nas estepes. À beira do Rio Onon, eles se reuniram e declararam que Temudjin passaria a ser chamado Chingis Khan (Gêngis é a versão persa do nome, que ficou famosa por terem sido eles os primeiros a relatarem sua história), que significa “soberano do oceano”. Não se sabe exatamente qual o significado do título, considerando que os mongóis não tinham lá muita intimidade com a água salgada. A explicação mais provável é a de que sendo o oceano a maior coisa que eles conheciam, chamar seu líder assim era compará-lo a algo sem fim, eterno. O soberano infinito.
O líder militar deixou momentaneamente a espada de lado para compilar uma série de leis chamada Yasak que, entre outras coisas, instituíam o serviço militar obrigatório a partir dos 15 anos e a condenação à morte em casos de furto e adultério. Pela primeira vez na história dos mongóis, um líder estava acima de todos os chefes tribais e de suas tradições e leis orais.
No ano seguinte, Gêngis Khan retomou suas campanhas militares, desta vez, levando suas ambições a lugares mais distantes. Sua motivação era conquistar terras para pastagens, saquear e fazer escravos. Era a única forma que conheciam de adquirir riquezas. Não comercializavam, não tinham muito o que vender a não ser cavalos. Seus cavalos, aliás, eram o ponto forte de seu exército, que além da excelente técnica para combate sobre montaria não possuía nenhuma outra característica peculiar. Não era especialmente bem armado nem utilizava estratégias inovadoras. No entanto, seus homens eram muito organizados e disciplinados. Generais e soldados comiam a mesma comida, usavam as mesmas roupas e armas. Isso fazia com que as lideranças fossem respeitadas. O avanço rápido e arrasador se deve, acima de tudo, ao terror que Gêngis Khan impunha em seus adversários. A matança provocada por suas tropas não se limitava ao campo de batalha. Os mongóis não negociavam rendição ou tratados de paz.
Quando entravam em combate, não poupavam nobres ou governantes e assassinavam populações inteiras, como aconteceu com os tártaros. Depois, destruíam tudo que não podiam carregar. A fama de implacável fez com que muitas cidades que estavam em seu caminho preferissem se render, pagar tributos e entregar mulheres e escravos, a correr o risco acabar sendo massacradas.
Em 1207, quando Gêngis Khan iniciou a longa campanha na China, seu nome já era conhecido. Foram sete anos até que chegasse às muralhas de Zhongdu. Com quase 1 milhão de habitantes, a capital dos Jin – que dominavam o norte da China, dividida após a queda da dinastia Tang – era cercada por imensos muros e centenas de postos protegidos por arqueiros. Ligações subterrâneas de abastecimento permitiram que a cidade resistisse até o ano seguinte. Em 1215, no entanto, Khan conseguiu romper o cerco e invadiu a cidade. Lá, sua tropa destruiu aquilo cuja utilidade não conhecia, ou seja, quase tudo. As mulheres foram levadas.
Os homens com habilidades especiais, como os artesãos, foram escravizados, e os demais sumariamente assassinados. Um massacre.
As incursões na China não aplacaram o apetite Gêngis Khan por novas conquistas. Pelo contrário. Em 1217, após sufocar uma rebelião dos caraquitais, ele entrou em choque com império muçulmano de Khwarazm – uma das possessões turcas na região que havia composto a Pérsia e que se estendia do Mar de Aral ao norte do Golfo Pérsico, na Ásia Central. Na época, esse era o maior poderio militar do continente asiático. No início, as relações entre Gêngis Khan e sultão Maomé II foram boas. Mas não seriam assim por muito tempo. Maomé acusou os mongóis de saquearem caravanas turcas que voltavam da China e, em represália, matou os embaixadores mongóis. Foi a gota d’água. Liderado pelo próprio Khan, um enorme exército de 200 mil homens invadiu o território Khawarazm. As cidades que resistiam acabaram como Bocara (no atual Uzbequistão), dizimada por uma série de incêndios. Os mongóis tomaram grande parte da região que corresponde hoje ao Irã e Turcomenistão.
Em Samarcanda, um dos mais prósperos centros urbanos da época, e onde morava o sultão, as baixas foram menores. A população teve de pagar um pesado tributo, mas 30 mil membros do exército derrotado foram mortos. Gêngis Khan destacou dois de seus melhores generais para capturarem o sultão, mas ele nunca seria pego, pois morreu doente em um esconderijo. Na perseguição, porém, os mongóis invadiram várias cidades do Reino da Rússia.
Laços de sangue
Gêngis Khan morreu no nordeste da China, em 1227, de causas desconhecidas. As especulações vão desde malária a ferimentos provocados por uma queda do cavalo. Sabe-se apenas que seu último desejo foi atendido. Seus restos mortais foram levados para a região onde nasceu e ali foram sepultados.
Mas nem a morte colocou fim às conquistas militares que Gêngis Khan iniciou. Tolui, o filho mais novo, obedeceu a tradição de seu povo e assumiu a regência. Dois anos depois, um Kuriltai foi convocado para que o escolhido por Gêngis, Ogodai (seu terceiro filho), ascendesse ao trono dos então poderosos mongóis.
A conquista da Rússia se concretizaria apenas na campanha iniciada em 1236. O novo Khan enviou o sobrinho Batu, neto de Gêngis Khan, para a Rússia, que na época era dividida em pequenos principados. Batu conquistou Moscou e Kiev, em 1240, e partiu para a Hungria e a Polônia. No ano seguinte, sem reforços e esgotado, o exército mongol voltou com a notícia da morte de Ogodai. Batu se estabeleceu no sul da Rússia e fundou a Horda de Ouro. O reinado ganhou este nome porque a sede do governo às margens do Rio Volga era uma enorme tenda recoberta com fios de ouro. Horda em mongol é tenda. Para os ocidentais, a palavra ganharia um novo significado, mais apropriada para designar o comportamento dos descendentes de Gêngis Khan: bando de malfeitores.
Na China, os combates prosseguiram ininterruptamente desde a tomada de Zhongdu. A região só seria definitivamente controlada, juntamente com a Península Coreana, em 1234, sob a liderança de Ogodai. O enorme império, no entanto, não sobreviveria ao seu tamanho e às divisões entre os descendentes de seu fundador. Tolui obteve a China. Batu, filho de Jochi, o primogênito de Gêngis, que morreu um ano antes do pai, ficou com a Rússia. Chagatai, o segundo da escadinha, ficou com cidades importantes como Samarcanda e Bocara. Mas não se pode datar exatamente o fim do império fundado por Khan, pois, se a oeste, suas terras seriam parcialmente conquistadas pelo líder turco Tamerlão, no século 14, a leste, o neto de Khan, Kublai, fundou a dinastia Yuan, que governou a China até a metade do século 14 e cuja influência sobreviveu aos anos.
Se a morte de Gêngis Khan não chegou a ser um alívio para seus opositores, também não o foi para os aliados. A última de suas histórias sobre a terra tornou-se uma lenda. Conta-se que para esconder o local do sepultamento (segundo a tradição mongol, quando um túmulo é violado, o espírito do morto deixa de proteger sua família), todos os coveiros e até aqueles que cruzaram o cortejo foram assassinados. Os soldados que executaram a tarefa permaneceram ao lado da tumba até que a vegetação cresceram à sua volta, ocultando a sua localização. Na volta para casa, os próprios guardas também foram mortos. O episódio é narrado no livro The Secret History of the Mongols (A História Secreta dos Mongóis, sem tradução em português), uma compilação de histórias sobre a vida de Gêngis Khan, escrito por autor desconhecido logo após a morte do líder.
Tamanho segredo se manteve preservado por oito séculos. Em 2001, um grupo de arqueólogos americanos anunciou a descoberta de um complexo de 20 túmulos de pedra a 321 quilômetros de Ulan Bator, capital da República Popular da Mongólia. Como eles estão próximos da região onde Gêngis Khan teria nascido e onde seu pai foi enterrado, há grandes chances de que ele realmente tenha sido enterrado no local. Mas a exploração do sítio arqueológico e a confirmação de que se trata do túmulo do órfão pobre que tornou-se o imperador de meio mundo, ainda depende da autorização do governo da Mongólia.
Mulheres e cavalos
Em toda a história de Gêngis Khan as mulheres raramente são citadas. Nas estepes, até um cavalo valia mais que uma companheira. Ele era mais do que o melhor amigo do homem, era um indispensável instrumento em batalhas, tanto para o combate, como para a fuga. O quadrúpede também era necessário no pastoreio, segunda atividade econômica dos mongóis, precedido, é claro, pela pilhagem. Homens e cavalos nunca se separavam. Já as mulheres eram deixadas para trás nos acampamentos, enquanto os homens passavam longos períodos de batalha ou caça. Por isso, perder a mulher para uma outra tribo era comum. Arrumar uma também não era lá muito difícil, naqueles dias. Os casamentos eram acertados entre os pais quando os noivos ainda eram crianças, no entanto, a forma mais simples de conquistar a companhia feminina era usar a força. Fosse nas guerras, quando os homens podiam incorporar novas esposas, ou simplesmente seqüestrando as jovens de outras tribos, uma prática corriqueira entre as tribos nômades.
O pai de Temudjin, Yesugai, roubara sua mãe da tribo dos merquitas. Vinte anos depois, o recém-casado Temudjin seria alvo da vingança. Sua noiva, Borte, foi levada pelos merquitas e para resgatá-la (fato não muito comum), ele se aliou a outras tribos para o serviço. A batalha abriu caminho para a liderança de Temudjin sobre os povos da região. Ele obteve sua esposa de volta, grávida. O fruto dessa gravidez, Jochi, foi o primogênito da família, mas sobre ele sempre ficaria a dúvida de ser ou não filho de Temudjin, motivo pelo qual ele foi excluído da linha de sucessão. Em 1225, Jochi morreria envenenado, provavelmente a mando do próprio pai. Gêngis teve ao todo seis mulheres mongóis e outras tantas estrangeiras, um número que pode não chegar à centena, mas certamente ultrapassa a metade disso.
 Uma pesquisa realizada por geneticistas da Universidade de Oxford, na Inglaterra, afirma que 16 milhões de homens, cerca de 0,5% da população masculina do mundo, possuem cromossomos Y característicos dos mandatários mongóis. Esses cromossomos carregam uma assinatura genética que descende de um único cromossomo fundador. Suspeita-se que ele seja de Gêngis Khan.
 Isabelle Somma