quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

cartuchos-polvoras-e-projeteis

Em nossos dois artigos já publicados, Sistemas de Ignição em Armas de Fogo e Conceitos Básicos sobre Calibres, contamos a história dos sistemas de disparo e explicamos noções gerais sobre os calibres de armas de fogo. Aconselhamos que o leitor leia ambos, a fim de aprimorar mais seus conhecimentos, o que facilitará o entendimento do que ora apresentamos aqui. Este presente artigo tem como missão explicar de forma simples os componentes de um cartucho da atualidade, e algumas noções sobre balística. Esse artigo não tem, de forma alguma, a intenção de entrar em detalhes técnicos e procedimentos sobre recarga de munição.
Especificamente no assunto recargas, existem diversas publicações especializadas, tanto estrangeiras como nacionais, destinadas aos que pretendem ingressar no fascinante universo da recarga de munições. No Brasil, sem dúvida alguma, a mais abalizada publicação a respeito é a de autoria do Eng. Creso M. Zanotta, um dos maiores especialistas em recargas de munição no Brasil. Recentemente, a Sicurezza Editora relançou, sob os auspícios da Revista Magnum, o “Manual de Recarga de Munições”, de autoria do Eng. Zanotta.

UM POUCO DE HISTÓRIA

Conforme já demonstrado nos artigos acima citados, faremos aqui uma breve descrição do primeiro cartucho metálico de sucesso, para uso em armas de fogo portáteis, com um sistema de ignição interna, que foi desenvolvido em 1828, na França. Seu inventor foi Casimir Lefaucheux, nascido em 1802 na cidade de Bonnétable e falecido em Paris, em 1852. Sua patente do cartucho metálico data de 1827, e baseou grande parte de seu projeto no trabalho de seu conterrâneo Jean Samuel Pauly, em meados de 1812.
Seu primeiro cartucho consistia de um tubo de papelão cheio de pólvora cuja extremidade final era um copo de latão. O projétil era cônico e feito de chumbo maciço. Internamente, no copo de latão, era montado um pequeno reservatório com uma mistura fulminante, muito similar às espoletas que já eram utilizadas na época, que seria detonada por um pino que ali se apoiava. Esse pino era exposto  alguns milímetros, através de um orifício lateral na parte traseira do cartucho; daí origina-se o nome do sistema: “pin-fire“.
Na foto à esquerda, os primeiros cartuchos desenvolvidos por Lefauchex. 
Em 1846, o cartucho projetado por Casimir foi aperfeiçoado pelo seu conterrâneo M. Houiller, que desenvolveu um novo cartucho, agora  inteiramente feito de latão mas mantendo a idéia de Lefauchex quanto ao sistema de ignição. Em 1858, os revólveres do sistema Lefauchex foram adotados pelo Governo Francês, tornando-se assim os primeiros cartuchos de metal a serem utilizados militarmente por um governo.
  
À esquerda temos um esquema de como era montada a espoleta no interior do cartucho e seu respectivo pino. Na foto central e da direita, cartuchos Lefauchex de calibre 12mm para uso em revólveres militares.
A detonação ocorria quando o cão da arma, agindo pela parte superior, atingia o pino pressionando-o para dentro. Com esse impacto, o pino esmagava a mistura fulminante, a qual detonava e iniciava a queima da pólvora. A desvantagem deste sistema consistia no fato de que os cartuchos, quando inseridos na arma, tinham sempre que tomar uma posição fixa,  que era determinada pelo pino. Os cartuchos não tinham aro (“rimless“) e eram esses pinos que serviam de apoio para eles no interior das câmaras. Além disso, como o pino era muito protuberante, um impacto acidental poderia detonar o cartucho ao ar livre. Outro problema desse cartucho era a sua má vedação, pois água poderia penetrar em seu interior através da pequena folga existente no furo do pino.
Acima, rara caixa original com 25 cartuchos tipo Lefauchex, produzidos pela empresa Gevelot, calibre 7mm, ano de 1878 (foto do autor, coleção particular)
Mesmo assim, armas do sistema “pin-fire” foram largamente utilizadas em conflitos na Europa e foram muito disseminadas nos Estados Unidos, durante a Guerra Civil. Uma quantidade enorme de revólveres e pistoletes usando a munição de Lefaucheux foi fabricada, apesar de suas desvantagens quanto à segurança. Entretanto, era inegável ser um sistema de carregamento muito mais rápido e fácil do que uma arma de percussão de antecarga, principalmente se contasse com capacidade de vários disparos, como nos revólveres de tambor. Construíram-se, na época, verdadeiros “monstros” dotados de tambores para até 16 cartuchos!
Detalhe de um revólver do sistema Lefauchex, com um cartucho parcialmente inserido na câmara do tambor, com seu respectivo rebaixo para posicionamento do pino.
O sistema de cartucho denominado de  fogo-central (“center-fire“), tal como o conhecemos e em uso até os dias de hoje, surgiu nos Estados Unidos. Em 1866, o norte-americano Hiram Berdan patenteou um cartucho de metal com uma espoleta embutida em sua parte posterior, originando assim os cartuchos de fogo-central da atualidade. Algum tempo depois, um oficial britânico Edward Boxer (1823-1898) desenvolveu um cartucho de metal com espoleta embutida, similar ao de Berdan mas com a diferença de que o de le utilizava uma bigorna separada, enquanto que no sistema de Berdan a bigorna fazia parte integrante do cartucho.
Ironicamente o sistema Boxer, desenvolvido por um europeu, é o que se manteve mais em uso nos USA e hoje é padrão na indústria. O sistema Berdan, inventado por um americano, ficou mais popularmente utilizado na Europa.
A chamada bigorna é a peça contra a qual ocorre o esmagamento da mistura iniciante quando a espoleta é atingida pelo percussor. As idéias de Berdan e de Boxer ditaram até os dias atuais toda a base em que se apoiam os cartuchos metálicos,  exceto para os de calibre .22, que não utilizam espoletas separadas e sim, embutidas na ranhura dos cartuchos – (sistema “rim-fire“), ou fogo-circular.
Praticamente podemos afirmar que, desta época até os nossos dias, o cartucho em si não se alterou, pelo menos em sua concepção básica. Evidentemente, houve a importante evolução da pólvora negra para a pólvora sem fumaça, algo que ocorreu nos anos finais do século XIX e a fabricação de espoletas não corrosivas a partir das décadas de 30-40. No início do século XX, o uso de pólvora negra, pelo menos militarmente, foi quase que totalmente eliminado.
Os cartuchos de caça ainda mantiveram o uso desta pólvora por algum tempo até que por volta das décadas de 20 a 30, pelo menos nos países desenvolvidos, seu uso acabou de vez. Ficou relegada a segundo plano, para uso em armas obsoletas, armas antigas que não suportariam o aumento da pressão das novas pólvoras, espingardas antigas de antecarga e pistoletes de dois canos (como as famosas garruchas, muito comuns por aqui).  Com a pólvora sem fumaça surgiram centenas de formulações, o que alavancou a indústria de cartuchos e a criação de novos calibres, cada vez mais potentes e sem comprometer a portabilidade da arma.
Os projéteis também sofreram várias transformações, sendo produzidos tanto para uso militar como para uso civil em diversas modalidades, específicas para a utilidade a que eram destinados. Vamos ver de ora em diante, mais detalhes sobre esses fascinantes  dispositivos.

CARTUCHOS METÁLICOS

Hoje em dia o latão, nomenclatura comum que se dá à uma liga de zinco e cobre, é o material mais extensivamente utilizado para a fabricação de cartuchos de munição. O processo é bem automatizado, consistindo basicamente de uma série de etapas de extrusão e prensagens executadas à altíssima pressão, partindo-se de um disco virgem do material. Existem alguns fabricantes que utilizam outros tipos de materiais, tais como o alumínio, apesar de que esses cartuchos não permitem a recarga em virtude das características de tensão inerentes à esse material. Em alguns raros casos existem ou já foram produzidos cartuchos feitos de aço. Durante a II Guerra, tanto a Alemanha como a União Soviética produziram grande quantidade de cartuchos de aço, para uso em suas armas portáteis, fosse pela falta de cobre ou zinco como pelo fato de que o aço também é matéria prima mais barata.
Os cartuchos podem ser classificados quanto ao seu formato, calibre, utilização, tipo de base e tipo de espoleta que utiliza. Nas armas curtas, como nas pistolas e nos revólveres, praticamente todos os cartuchos empregados são retilíneos (“straight cartridges“), perfeitamente cilíndricos; muito poucos calibres usam cartuchos que são levemente cônicos. Cartuchos com gargalo em armas curtas, popularmente chamados de “garrafinhas”, estão hoje em desuso, tais como o .30 Luger (7,65mm Parabellum), 7,62mm Tokarev e o .30 Mauser (7,63mm Mauser).
Nas pistolas semi-automáticas, com exceção do 9mm Parabellum, que é levemente cônico, os mais populares calibres utilizam cartuchos cilíndricos, tais como o .380 ACP, .38 Super, .45 ACP e o .40 S&W. Também no caso das pistolas, a grande maioria dos cartuchos modernos não tem base com aro (“rimmless“) e alguns poucos são de base com semi-aro (“semi-rimmed”).
Nos revólveres atuais, o cartucho totalmente cilíndrico e com base com aro (“rimmed“) é uma unanimidade; os mais populares calibres usam esses tipos de cartuchos, tais como o 32 S&WL, .38 Special, .357 Magnum e .44 Magnum.
Em armas longas raiadas, como rifles, carabinas e fuzís, com exceção do calibre .22 LR, quase todos os cartuchos  hoje usados, tanto militarmente como para esporte e caça, são invariavelmente levemente cônicos, mas além disso contam com um gargalo, ou seja, uma redução de diâmetro pouco antes da boca do cartucho, local denominado de ombro. São os popularmente conhecidos cartuchos tipo “garrafinha”.
Quanto ao tipo de base, temos prioritariamente cinco tipos: base com aro (“rimmed“), base sem aro (“rimless“), base com semi-aro (“semi-rimmed“), base rebatida (“rebated“) e os cinturados, ou anelados (“belted“).

NOTAÇÕES DE CARTUCHOS

Existem vários padrões utilizados para a notação das medidas dos cartuchos; a norma atualmente mais utilizada, de origem européia, é a que é expressa em milímetros, onde o primeiro valor significa o calibre (diâmetro do projétil), seguida do valor que representa o comprimento do estojo (sem o projétil). Também se costuma adicionar à essas medidas o nome comercial do cartucho, a sua utilização, nome do país originário ou o nome do seu desenvolvedor para diferenciá-lo melhor dos seus similares.
Ex: 7X57 Mauser, 7,62X51 NATO (cartucho padrão da O.T.A.N.), 7,62X39 Soviet.
Ao lado, corte de um cartucho moderno.
Nos Estados Unidos, onde tradicionalmente não se utiliza o sistema métrico, a nomenclatura dos cartuchos se estabelece principalmente em décimos de polegada (1 polegada = 25,4 mm), cujo valor expresso se refere somente ao calibre não especificando o comprimento do cartucho. Ex: .45 ACP, .380 Auto, .38 Special, .357 Magnum e .44 Magnum para armas curtas e .218 Bee, .308 Winchester, .375 Holland & Holland e .460 Weatherby Magnum para armas longas.
Como norma geral, os cartuchos “rimmed” tem sua grande utilização em revólveres (quase a totalidade deles) ou em antigos fuzis e rifles militares e de caça. O cartucho .303 British, utilizado no fuzil S.M.L.E. utilizado pela Império Britânico nas duas grandes Guerras é o exemplo militar mais clássico deste tipo de cartucho. Outro famosíssimo cartucho rimmed é o .30-30 Winchester, lançado na carabina Winchester modelo 1894. Neste caso, o primeiro numeral 30 determina o calibre (.30 centésimos de polegada) e o segundo numeral, o peso da pólvora em grains, no caso 30 grains de pólvora sem fumaça (1 grain = 0,065 grama).
Na ordem, cartuchos com aro (rimmed), semi-aro (semi-rimmed), sem aro (rimless), rebatido (rebated) e cinturado (belted)
O diâmetro da base é significativamente maior que o do estojo e servem como batente, ou limitador da entrada do cartucho na câmara. Já os cartuchos “semi-rimmed” não são tão comuns como os “rimmed“; sua base tem o diâmetro ligeiramente maior que o do corpo do cartucho. Exemplos bem populares e conhecidos são os .32 AUTO (7,65mm Browning) e o .25 AUTO (6,35mm Browning). Esses cartuchos possuem a mesma características dos “rimmed“, ou seja, sua base serve como encosto, ou batente, limitando a entrada do cartucho na câmara.
Os cartuchos com base sem aro, “rimmless“, são a grande maioria hoje em dia em utilização em fuzis militares e de caça, bem como nos utilizados nas pistolas semi-automáticas; ex: .380 ACP, .40 S&W, .45 AUTO e 9mm Parabellum. Como seu diâmetro de base é o mesmo do estojo, e em sendo o cartucho cilíndrico, o que determina até onde o cartucho penetra na câmara é o seu próprio comprimento, justamente na intersecção dele com o projétil. As câmaras são usinadas até esse comprimento, onde então ocorre uma pequena redução do diâmetro e onde também se inicia a parte do cano que é raiada.
Veja na foto ao lado, como se encaixa um cartucho “rimless” de pistola semi-automática no interior de uma câmara. Nota-se então que o único detalhe que impede que o cartucho avance demais para dentro do cano é um estreitamento do diâmetro numa espécie de degrau, equivalente à espessura da parede do cartucho. Sem isso, o cartucho avançaria mais para o interior do cano e provavelmente ocorreria uma falha (o percussor não atingiria suficientemente a espoleta), além de que teríamos uma perigosa folga entre a culatra da arma e a base do cartucho.
Os cartuchos com base rebatidas são muito raros e praticamente sem uso, nos dias de hoje.
Finalmente, os estojos com base tipo “belted“, ou cinturados, são normalmente utilizados em calibres de fuzis e de rifles de alta potência, como por exemplo os destinados à caça de grande porte, onde a pressão interna no momento da combustão é muito alta, servindo esse cinto como uma medida de reforço adicional.
À esquerda, o cartucho .458 Winchester Magnum, lançado pela fábrica que leva seu nome, muito popular nas décadas de 70/80, em uso nos rifles Winchester modelo 70. Foi durante muito tempo o mais potente cartucho americano para rifles, sendo posteriormente desbancado por seu concorrente, o cartucho .460 Wheatherby Magnum.
Cada tipo de base possui a sua forma de se “encostar” no interior da câmara, de forma que quando se fecha a culatra, ou ferrolho, não fique nenhuma folga entre a cabeça do ferrolho e a base do cartucho. Ao ajuste dessa folga se dá o nome de “headspace“. Como visto acima, o “headspace” de um cartucho cilíndrico, como o da ilustração, é o próprio comprimento do cartucho.
Baseado nisso, temos na figura acima as diferentes maneiras de se medir o “headspace“, dependendo do tipo do estojo e de sua base. Nos estojos “rimmed“, o “headspace” é exatamente e tão somente a espessura do aro do estojo,  que age como encosto na entrada da câmara. Nos estojos “rimless“, como não há aro, o limite de posição do cartucho é o gargalo; o “headspace” é, neste caso, o comprimento do final do ombro do estojo até sua base. Nos mais raros estojos “belted“, o próprio “cinturão” serve como encosto, e o “headspace” neste caso é a medida do início do cinturão até sua base.

SISTEMAS DE IGNIÇÃO

Atualmente todos os cartuchos são produzidos utilizando dois tipos de ignição: os chamados de fogo-circular (“rim-fire“) e os denominados de fogo-central (“center-fire“).
Os cartuchos de fogo circular, outrora muito utilizados nos primórdios do cartucho metálico, mesmo em calibres altos como os famosos .44 dos rifles de alavanca Henry e o cartucho .56 utilizado nas carabinas Spencer, hoje se limitam a um só calibre: o popularíssimo .22 LR. Neste sistema, não há uma cápsula ou copo, como nas espoletas atuais, e nem possuem uma bigorna, fazendo ela parte do cartucho, ou não.
O elemento fulminante é alojado nas bordas interiores do próprio aro do cartucho. O percussor da arma, geralmente de formato chato ou mesmo redondo, atinge a borda do cartucho e não o seu centro. Com o esmagamento oriundo do impacto do percussor, detona-se o fulminante.
   
Acima, um estojo picotado de .22 LR, onde se vê a marca do percussor esmagando o aro do cartucho; à direita, corte esquemático de cartuchos de fogo-circular e de fogo-central. 
As espoletas modernas também são produzidas em latão e possuem o formato de um pequeno copo. Veremos mais detalhes dos diversos tipos existentes, logo em seguida. No fundo desse copo é depositada uma camada de mistura fulminante, altamente explosiva, que det0na quando friccionada ou esmagada contra alguma superfície rígida.

TIPOS DE ALOJAMENTOS PARA ESPOLETAS

SISTEMA BERDAN:
Como já dissemos resumidamente acima, o primeiro de cartucho de  fogo-central, que na verdade é idêntico ao que se encontra em uso até os dias de hoje, surgiu nos Estados Unidos em 1866, projetado pelo norte-americano Hiram Berdan. Ele desenvolveu e patenteou um cartucho de metal, que na sua base possuía um orifício medindo alguns milímetros de largura e também de profundidade. Esse orifício, chamado de bolso, serve como alojamento para se encaixar a espoleta, que se parece com um pequeno copo de latão.
Bem no centro desse  alojamento, Berdan deixava protuberante um pequeno pino (bigorna), que fazia parte do próprio cartucho, além de dois pequenos furos, um de cada lado da bigorna, que permitiam a passagem da chama gerada pela espoleta para dentro do cartucho.
No momento da percussão, o impacto do percutor da arma sobre a espoleta a deformava, pressionando desta forma a camada de fulminante contra a bigorna, detonando assim a mistura. A espoleta era montada dentro do bolso de forma a ficar faceando perfeitamente o fundo do cartucho.
Os cartuchos tipo Berdan foram amplamente utilizados no mundo, principalmente na Europa, e tinham a vantagem de serem mais simples, pois a bigorna era parte integrante do mesmo.
Acima: espoleta e esquema do sistema Berdan, com bigorna incorporada ao cartucho e dois orifícios de passagem da chama. Embaixo: espoleta e esquema do sistema Boxer, com bigorna independente e um só orifício central.
Porém, com a popularização dos procedimentos de recarga por particulares, ou seja, efetuados pelos próprios atiradores, o sistema Berdan era mais complicado de ser manuseado, pois a extração da espoleta detonada era uma operação mais trabalhosa.
SISTEMA BOXER:
Algum tempo depois de Berdan patentear sua invenção, o oficial britânico Edward Boxer (1823-1898) desenvolveu um cartucho de metal, também com espoleta embutida, similar ao utilizado por Berdan mas com a diferença de que ele utilizava uma bigorna separada, que não era parte integrante do cartucho. Essa peça possuía um formato como de um cavalete de 3 pernas e se encaixava dentro do copo da espoleta. No interior do bolso, havia só um furo central ao invés de dois laterais. Desta forma, após o cartucho ser descarregado, basta a inserção de um punção pela boca do cartucho e pressionando-se a espoleta para fora do bolso com facilidade.
Como já explicado, a chamada bigorna é a protuberância contra a qual ocorre o esmagamento do fulminato quando a espoleta é atingida pelo percussor.
Foto: À esquerda, vista interna, corte lateral e base de um cartucho 8X57mm Mauser, sistema Berdan – à direita, o mesmo num cartucho 30-06 no sistema Boxer.
As idéias de Berdan e de Boxer ditaram até os dias atuais toda a base em que se apoiam os cartuchos metálicos,  exceto para os de calibre .22, como já foi dito acima. Com a popularização da recarga feita por atiradores, ficou muito usual a prática de transformação de cartuchos originalmente produzidos no sistema Berdan, para o Boxer. De madeira simplificada, executa-se uma operação de desbaste da bigorna e em seu lugar aplica-se mais um furo central, pois as “pernas” da bigorna, agora independente, podem obstruir os orifícios laterais e prejudicar, em parte, a propagação da chama iniciante.
Acima, detalhes de espoletas Boxer em diversos estágios. 

ESPOLETAS

Nos primórdios das espoletas, a mistura iniciadora utilizada era composta de fulminato de mercúrio, clorato de potássio e trisulfeto de antimônio. Apesar do grande efeito corrosivo do clorato de potássio, os resíduos de pólvora negra, usada naquela época, agiam como elementos de proteção. Porém, o fulminato de mercúrio atacava os estojos de latão e os copos das espoletas, o que ocasionou a sua retirada de cena. Com o uso disseminado das pólvoras sem fumaça, o problema da corrosão do clorato de potássio ressurgiu, trazendo consequencias danosas às armas que não eram bem limpas pelos seus donos, após o uso. Desta forma, uma nova fórmula passou a ser utilizada, composta de nitrato de bário, peróxido de chumbo e silicieto de cálcio. Os grandes fabricantes norte-americanos da época, como Remington e Winchester, lançaram então as suas marcas comerciais, denominadas de “Kleanbore” e “Stainless”, respectivamente. A CBC no Brasil adotou a marca “Antioxid”. Depois de várias outras mudanças, principalmente com o intuito de eliminar o chumbo da fórmula, hoje em dia o componente mais utilizado é o diazonitrofenol.
As espoletas da atualidade são classificadas conforme seu tamanho e dureza, dependendo de quais tipos de estojo elas são empregadas. A tabela a seguir resume quais os tipos em uso:
A correta utilização das espoletas é um ítem de extrema importância para o bom resultado obtido. Além de diferenças nas misturas detonantes, a espessura é primordial, pois o uso de espoletas Small Pistol, por exemplo, em um cartucho .223 Remington, que o correto seria a Small Rifle, pode ocasionar a perfuração da mesma pela diferença do impacto exercido pelo percussor de cada arma, bem como da muito mais alta pressão interna do cartucho. A situação inversa, por exemplo, poderá ocasionar negas devido ao percussor de uma pistola não possuir a mesma energia de impacto de um percussor de um fuzil.

PÓLVORAS

Explosivos de maneira geral possuem velocidade de combustão muito alta, causando ondas de choque, calor e pressão. As pólvoras, que também são explosivos, uma vez confinadas no interior de um estojo, entram em combustão com velocidades bem mais lentas que os explosivos. Ao ar livre, no entanto, queimam como qualquer outra substância combustível, sem detonação.
Acredita-se que o início da utilização da pólvora “negra” em armas de fogo portáteis remonta ao século XV, na Europa e Ásia. Ela era basicamente composta de uma mistura sem reação química, contendo nitrato de potássio, carvão e enxofre. Foi produzida e utilizada até meados do final do século 19, em praticamente todas as armas, curtas e longas. Haviam diversas granulações disponíveis, dependendo do calibre a que se destinavam.
Os maiores inconvenientes dessa pólvora eram sua higroscopicidade e uma certa instabilidade, tendo que se ter muito cuidado com o armazenamento. O resíduo deixado no cano de uma arma, após a sua combustão, podia chegar a quase metade do seu peso original da carga, o que gerava um transtorno enorme para limpar a arma quando necessitava ser recarregada muitas vezes. A velocidade dos projéteis conseguida com essa pólvora era baixa, de modo que tentava-se contornar o problema da potência utilizando-se calibres de grande diâmetro e projéteis pesados, geralmente acima dos .44 de polegada de diâmetro. Finalmente, havia a produção da fumaça em si, o que não permitia praticamente nenhuma visão do alvo, após o disparo, além de indicar facilmente e de de forma inequívoca a localização do atirador.
Em 1884 o francês Paul Vielle desenvolveu a primeira formulação de sucesso para uma pólvora sem fumaça e, ato contínuo, em 1886, o governo francês adota o cartucho 8mm Lebel em seus fuzis, o primeiro cartucho militar empregado por um governo utilizando-se pólvora sem fumaça.
As chamadas pólvoras químicas, que a bem da verdade não são totalmente isentas de fumaça durante a combustão, são obtidas por reações químicas dos componentes e não meramente por uma mistura. São classificadas em dois tipos: as pólvoras de base simples (BS) e as pólvoras de base dupla (BD).
A pólvora de Vielle era uma BS e resultava na ação do ácido nítrico sobre a celulose, daí originando um composto denominado de nitrocelulose. Porém, mudanças estavam por vir na área dos explosivos; em 1887, o famoso químico sueco Alfred Bernhard Nobel (1833-1896) inventou a dinamite.
Suas pesquisas se iniciaram anos antes, em seus estudos pela Europa, onde ele conheceu o italiano Ascanio Sobrero, que havia inventado a nitroglicerina. Em 1863 Nobel retorna à Suécia com o intuito de empregar a nitroglicerina em explosivos para construção civil. Entretanto, a grande instabilidade inerente à nitroglicerina faz com que Nobel, fatalmente, perdesse o irmão Emil durante um de seus experimentos. Após a tragédia e com a ajuda de outros elementos químicos, finalmente desenvolve uma maneira de manter a nitroglicerina estável e assim, a transforma no poderoso e útil explosivo que se conhece nos dias de hoje: a dinamite.
À esquerda, Alfred Nobel
Um dos produtos que também ocasiona uma estabilização controlada da nitroglicerina é, exatamente, a nitrocelulose, tornando-se assim uma mistura propelente. Entre esses dois tipos de pólvora, destacam-se as seguintes características:
A) temperatura de queima, que é bem mais baixa nas pólvoras BS, o que melhora a durabilidade dos canos das armas;
B) energia, sendo que na mesma quantidade do produto, as pólvoras BD geram muito mais energia que as BS;
C) sensibilidade menor à variações de temperatura, nas pólvoras BS;
D) resistência à umidade e iniciação de queima mais rápida nas pólvoras BD.
Na foto, como curiosidade, um antigo tubo de pólvora para cartuchos de espingarda, Tipo Rex, produzida na década de 60 pela Fábrica de Piquete, RJ. 
Hoje em dia as pólvoras são produzidas em alguns formatos diferentes além de grãos, tais como esferas, discos, lâminas, cilindros, etc. Nas pólvoras de formato cilíndrico, por exemplo, utiliza-se muito o artifício de perfurá-la longitudinalmente, furos esses que dependendo da quantidade e do diâmetro ajudam a controlar a velocidade de queima. No Brasil, dois fabricantes principais produzem pólvoras para a recarga de munição, a Imbel e a CBC, sendo que esta última só produz pólvoras de base simples. Abaixo, um tabela ilustrativa das pólvoras BS produzidas pela CBC:
Nesta tabela, fornecida pelo fabricante, temos as informações sobre o formato, dimensões e a combustão, medida em milisegundos. Com esse último parâmetro estabelece-se o fator que determina se a pólvora é do tipo queima lenta ou queima rápida, importantíssimo para as aplicações a que se destina.
Um exemplo bem prático que vamos expor aqui, para se entender a questão da velocidade de queima, é o fator comprimento do cano. Vamos tomar como base um cartucho como o .38 SPL, que hoje pode ser utilizado tanto em revólveres com canos desde 2″ de comprimento até nas carabinas Puma, com canos que chegam a 24″ de comprimento; uma diferença, portanto, de grande impacto.
O cartucho ideal, do qual se pode obter o melhor desempenho, é aquele que se dimensiona para que a combustão da pólvora praticamente se extingua no mesmo instante em que o projétil sair pela boca cano. Em se tratando de um cano longo, temos duas situações:
a) queima muito rápida: fará com que a total combustão da pólvora se encerre quando o projétil ainda não abandonou totalmente o cano. Isso fará com que nos milisegundos finais deste estágio, a pressão interna comece a cair (a pólvora já se consumiu totalmente) e o projétil ainda terá que vencer o atrito e a pressão do raiamento restante para que consiga finalmente atingir o ambiente externo.
b) queima muito lenta: fará com que a combustão da pólvora não termine antes do projétil sair pela boca do cano, ou seja, continuará em combustão mesmo depois do projétil ter saído do cano, com a pressão atmosférica interna do cano se igualando à externa; isso produz grande projeção de chama e de grãos ainda não queimados, expulsos do cano logo após a saída do projétil. Isso causa desperdício de pólvora e é claro, perda de potência.
Isso nos dá uma noção bem definida do seguinte: canos curtos exigem pólvoras de queima mais rápida e canos longos, pólvoras de queima mais lenta. Portanto, se temos um cartucho padrão no calibre .38 SPL, sua balística se comportará de forma bem diferente quando utilizado em um cano de 2″ e em um outro de 24″. Dependendo do tipo de pólvora utilizado, provavelmente não será totalmente consumida no cano mais custo, gerando grande incidência de chama e de grãos não queimados expulsos para fora do cano.

PROJÉTEIS

No nosso artigo Conceitos Básicos sobre Calibres, damos uma noção do que significa o calibre de uma arma. Lá, dissemos que nos primórdios das armas de fogo, o calibre, ou seja, o diâmetro efetivo do projétil disparado por uma arma, não era muito relevante, pois geralmente os atiradores fundiam e moldavam seus próprios projéteis. Armas eram geralmente vendidas com suas respectivas moldeiras. Com o advento do cartucho moderno e da fabricação em série de munição, os calibres passaram a ser fundamentais e de certa forma, padronizados, para se diferenciarem em relação ao seu uso, nas diversas armas existentes.
Historicamente sabemos que os primeiros projéteis desenvolvidos para armas de fogo eram esferas de chumbo, fáceis de fazer e normalmente fundidas pelo próprio dono da arma. No sistema de ante-carga, popularmente conhecido como “de carregar pela boca”, os projéteis possuíam diâmetro pouco menor que o do cano, para facilitar a introdução através do cano com o uso de um varão. Normalmente colocava-se um pequeno pedaço de tecido para “embrulhar” parcialmente o projétil. As armas possuíam canos de alma lisa e as esferas saíam do cano sem nenhum movimento de rotação. A precisão e o alcance eram muito baixos. Projéteis não esféricos, de forma ogival, se usados em armas de alma lisa, tendem a sair da trajetória e de desequilibrarem de forma desordenada.
O advento do projétil “Minié” revolucionou o tiro com armas de ante-carga, desenvolvido pelo francês Claude-Etiènne Minié em 1847. Minié idealizou um fuzil de cano raiado e um projétil que podia ser introduzido no interior do cano sem muito esfôrço, porque seu diâmetro externo era ligeiramente inferior ao calibre da arma. O projétil era ogival, de chumbo, parcialmente ôco, e com sua parte posterior interna cônica.
Desenho esquemático do projétil Minié para uso no fuzil Harpers-Ferry de calibre .58
Ao ser disparado o fuzil, a pressão interna da combustão da pólvora era aplicada sobre a parte posterior do projétil, iniciando assim o movimento de expulsão do mesmo para fora do cano. Devido ao formato cônico da traseira do projétil,  essa pressão o fazia expandir, de forma que ocasionava um aumento, ou dilatação, em seu diâmetro, forçando assim o projétil a agarrar-se ao raiamento interno do cano e sendo obrigado a ser expulso do mesmo com um movimento giratório.  Porém, com o uso da pólvora negra, a quantidade de resíduos oriundos da queima da pólvora no interior do cano era muito alto e começava a dificultar a introdução dos projéteis depois de uma certa quantidade de disparos. Isso forçava o atirador a constantemente limpar o interior do cano com uma vareta e escovas apropriadas. Apesar disso, o sistema era muito vantajoso pois agora permitia precisão de tiro acima dos 100 a 150 metros, distância que antes da Minié era quase impossível que se acertasse um soldado oponente. 
A Guerra Civil Americana e a Guerra dos Boshins no Japão foram alguns dos primeiros palcos de batalhas a testarem e sentirem a superioridade do sistema Minié.
Voltando à teoria, o que se denomina de calibre real de uma arma nada mais é do que a medição do diâmetro da boca do cano, que caso ele seja raiado, é feita medindo-se os “cheios” das raias.
O calibre do projétil é medido pelos “fundos” das raias. Dependendo de cada arma, seja ela revólver, pistola, fuzil ou carabina, e de acordo com o tipo de projétil que ela usa, seja encamizado ou de chumbo, as raias possuem profundidades e perfis diferentes, bem como o seu passo.
A quantidade de raias em um cano também varia, mas geralmente se situam entre 4 a 6, podendo ser em pares ou ímpares. Outra variação muito importante, referente ao raiamento do cano, é a quantidade de voltas que ele executada quando medidas dentro de uma mesma distância; isso se denomina “passo de raiamento”.
Portanto, chega-se à conclusão de que o projétil sempre tem um diâmetro maior do que o calibre real, e é essa diferença de diâmetro que o faz se amoldar às raias e poder acompanhar perfeitamente o movimento helicoidal a que será submetido, ou seja, um  efeito giroscópico que é aplicado no projétil para estabilizá-lo em vôo.
Normalmente nas armas curtas e com canos até 6″ ou 7″ de comprimento as raias não chegam a dar uma volta completa; como essas armas utilizam um projétil de pouco comprimento, não é necessário se empreender um giro muito alto à ele a fim de estabilizá-lo. Nas armas longas, notadamente fuzis de alta potência, onde se utiliza projéteis mais longos, a necessidade de uma excelente estabilização em vôo é primordial para, não só saírem de sua trajetória como também, não “capotarem”.
É muito comum no jargão de atiradores a expressão “projétil pranchado”, que é quando um projétil gira em torno de si desordenadamente e atinge o alvo muitas vezes de lado, e não precisamente de frente como deveria.
Existe um sistema bem simples para se estabelecer qual é o passo de raiamento empregado em determinado cano. Lança-se mão de um varão de limpeza, munido de uma escova prefencialmente de metal, compatível com o calibre da arma e que entre pelo cano a uma razoável pressão. Percebe-se ao limpar o cano com esse varão que o mesmo rotaciona na ida e na volta, pois as cerdas da escova estão acompanhando o raiamento.
Com a arma fixa em uma bancada, introduzimos totalmente a escova da vareta pela boca do cano, até que esteja totalmente envolvida. Marca-se com uma caneta porosa o ponto de referência inicial própria vareta, bem junto à boca do cano. Na parte posterior da vareta, perto de seu cabo, coloca-se um pedaço de papel adesivo (etiqueta auto colante) formando uma espécie de bandeirola, bem na posição vertical. Começa-se  então a  introduzir a vareta pelo cano adentro, observando-se o giro da bandeira. Quando a mesma completar uma volta, marca-se na vareta outro ponto, junto à boca do cano e retira-se a vareta.
Acima, exemplo de vareta para medir passo de raia, com bandeirola feita de etiqueta auto-adesiva
Mede-se agora a distância entre os dois pontos marcados, que corresponde à um passo completo da raia, ou seja, a distância que o projétil percorre para que dê uma volta completa em torno de si mesmo.
Uma fórmula simples é utilizada para se chegar ao resultado: R = 720 x V / p, onde R é a rotação por minuto do projétil (rpm), uma constante 720, V (velocidade na boca do cano) expressa em pés/seg. e p, que é a distância percorrida para uma volta completa do projétil, em polegadas.
Como exemplo, o autor mediu a quantidade de rotações por minuto de um projétil .22 LR, munição Long Rifle Hyper da CBC, num cano de  uma carabina Impala, onde conseguimos cronometrar 446 metros/seg ou 1.464 pés/seg de velocidade inicial. A medida da vareta, quando se obteve uma rotação completa da “bandeirola” foi de 40,5 cm. (a própria CBC indica 406mm de passo no manual da arma), ou 15,9 polegadas; isso quer dizer que o projétil dá uma volta a cada 16 polegadas percorridas, portanto, um passo com a relação de 1:16.
Aplicando-se a fórmula temos R = 720 x 1464 / 15,9 = 66.294 R.P.M. – uma rotação realmente impressionante se compararmos com a de um motor automotivo em alta rotação (7.000 R.P.M.) ou de uma turbina à gás de uso industrial que pode chegar a cerca de 20.000 R.P.M.
Se formos calcular um projétil de calibre .308 Winchester, por exemplo, com velocidade inicial de 2.500 pés/seg. em um fuzil com passo de raiamento de 1:10, temos: R = 720 x 2500 / 10 = 180.000 R.P.M. !
Se desejar utilizar o nosso padrão de medidas, use a fórmula R = V / d x 60, onde R são as rotações por minuto, V é a velocidade em metros por segundo e d é a distância percorrida para uma volta completa do projétil expressa em metros.

TIPOS DE PROJÉTEIS

Nos primórdios das armas de fogo os projéteis sempre foram produzidos em chumbo, ou de chumbo associado à algum outro material formando uma liga, mais dura ou mais mole, dependendo da finalidade a que se destinava. O chumbo possui um ponto de fusão baixo, de forma que pode ser facilmente derretido e depois moldado em formas desenvolvidas para isso.
Na época dos revólveres e dos fuzís de percussão, várias armas eram vendidas acompanhadas de suas moldeiras, semelhantes a alicates articulados, onde podem existir uma ou mais cavidades para enchimento com chumbo. Abrindo-se depois ao meio, após a solidificação, as pontas estão praticamente prontas.
Essas moldeiras, também chamadas de coquilhas são ferramentas muito simples e fáceis de utilizar para a fundição de projéteis de chumbo maciço; porém, limita-se a fundir pontas maciças, sem a possibilidade de gerar projéteis com cavidades internas. Algumas ranhuras, necessárias à lubrificação com graxa, geralmente fazem parte desses  moldes.
Ainda hoje, coquilhas são comercializadas ou podem ser feitas por encomenda, quando da necessidade de se obter pontas de um calibre específico. Porém, com a crescente popularização da atividade de recarga de munição entre atiradores e clubes de tiro, com o intuito de baratear custos, não são tão utilizadas atualmente, principalmente  pelo fato de que se encontram disponíveis no mercado, projéteis de vários calibres e de diversos tipos.
Os projéteis de chumbo tem suas vantagens: são baratos e fáceis de produzir, mas tem problemas com a velocidade, pois quando impelidos com muita rapidez, têm tendência  de causarem chumbamento no cano, ou seja, deixam muitos resíduos incrustados nas raias. Dependendo da velocidade, eles tem pois, a tendência de “derraparem”, de saírem do cano sem terem acompanhado corretamente as curvas do raiamento. Mas mesmo assim, são os projéteis de chumbo os mais utilizados em revólveres e mesmo em algumas carabinas, principalmente nos calibres do tipo não Magnum, como .22LR, .32 S&WL, .38 Special, .44 S&W e .44-40 Winchester.
Várias ligas usando chumbo como elemento principal podem ser utilizadas em projéteis, visando uma maior dureza, associando-o a materiais como antimônio e estanho. De uma maneira geral, quanto maior o percentual de antimônio na formulação, maior dureza poderá se obter.
À esquerda temos, em produção atual da CBC, os mais comuns formatos de pontas de chumbo para uso em revólveres. O projétil “wad-cutter“, chamado aqui no Brasil de “canto-vivo” é utilizado principalmente em tiro de precisão, pois esse projétil executa uma perfuração do alvo mais eficiente, como fosse um vazador, permitindo a melhor visualização dos impactos. O cartucho que usa esse tipo de ponta utiliza uma carga de pólvora reduzida. O formato do projétil lhe confere uma trajetória  mais precisa, principalmente porque o engazamento dele com as raias do cano se dá em toda a sua extensão.
Além dos projéteis fabricados somente em chumbo, temos agora os denominados encamizados e os semi-encamizados. Os encamizados são como cápsulas ocas feitas de latão e preenchidas com chumbo para lhes dar peso; são os projéteis com maior capacidade de perfuração e de transfixação, os únicos que são permitidos para uso militar pois provocam menor dano interno no corpo humano.
Os semi-encamizados possuem a sua ponta em chumbo e o restante do corpo cobertos com latão, de forma que o chumbo, em sua deformação natural, acaba por rasgar a camisa de latão do corpo do projétil, causando assim maiores lascerações; são projéteis destinados à atividade da caça.
À esquerda vemos alguns projéteis de produção da CBC, para uso em revólveres, notadamente em calibres .38 Special, .357 Magnum e .44 Magnum. As pontas, por sua vez, podem ser planas e maciças, ou podem ser ocas, o que facilita ainda mais a sua deformação.
Na foto à direita, do catálogo do fabricante CBC, vemos diversos cartuchos para revólver com diversas opções de projéteis tais como os feitos inteiramente de chumbo (ogivais, semi canto-vivo e canto vivo) e as pontas semi-encamizadas.
Para pistolas semi-automáticas, apesar de que as pontas de chumbo podem ser utilizadas nelas com algumas restrições, o padrão é o uso de pontas jaquetadas, ou encamizadas em sua totalidade.
Como nessas armas a munição necessita de movimentação dentro da arma, pois durante a alimentação são extraídas do carregador e impulsionadas para dentro do cano com muita velocidade, as pontas jaquetadas oferecem menos riscos de engasgues bem como na formação de crostas de chumbo internamente, na região da entrada da câmara.
Há ainda as opção de pontas encamizadas expansivas, com maior poder de deformação, como as dotadas de rebaixos sem deixar o chumbo aparente, como mostra a figura ao lado.
Normalmente esses tipos de projéteis, que vemos aqui tanto para cartuchos de pistolas como também para revólver, são empregadas nos cartuchos da série +P ou +P+, uma categoria de munição com carga mais poderosa, com maior velocidade do que os cartuchos equivalentes comuns. Além dessas opções para uso em pistolas, a CBC fornece os tipos de pontas que vemos abaixo, para várias finalidades específicas:
Os dois primeiros, em chumbo maciço, são utilizados para fins de treinamento policial, com o intuito de baixar custos e de preservar o mais possível o raiamento das armas da corporação. O terceiro é um projétil destinado aos praticantes do IPSC (Tiro Pratico), modalidade que atiradores chegam a disparar centenas de tiros em uma só prova; este projétil alia a maciez do chumbo, para preservar raiamento, com a ponta semi canto vivo, que recorta o alvo de forma mais precisa.
Os projéteis denominados de frangíveis são utilizados por forças policiais e militares, sendo que sua principal característica é reduzir os efeitos dos ricochetes.
Cada vez mais, a segurança pública exige produtos desenvolvidos com fins específicos e que atendam às necessidades e características próprias; para aumentar e melhorar o desempenho das munições destinadas ao uso policial, a munição tipo Copper Bullet, da CBC, utiliza projéteis especiais que são fabricados em cobre puro e com ponta oca, com dimensões e formato especialmente projetados.
Essas pontas possibilitam o melhor que se consegue hoje em poder de parada (stopping power), mesmo em disparos indiretos; peso do projétil, velocidade e energia resultante foram determinadas para garantir o melhor resultado. Essas munições atendem as rígidas especificações do F.B.I.
Para finalizar, temos os projéteis destinados às armas longas raiadas, que podemos separá-los em duas categorias distintas:
a) baixa e média potência: armas longas que utilizam munição de fogo circular (.22LR) e as carabinas e rifles que utilizam munição originalmente desenvolvida para os revólveres, como as carabinas Puma em calibre .38SPL e em .44-40W, bem como as de uso restrito, que utilizam os cartuchos .357 Magnum e .44 Magnum.
b) alta potência: aqui se encaixam carabinas e rifles, bem como os fuzis militares que utilizam munição de alta velocidade. No Brasil, a CBC fornece cartuchos nos calibres .22-250 Remington, .30M1, 5,56mm (.223 Remington) e .308 Winchester (7,62mm X 51).
Acima um quadro de projéteis do calibre 5,56mm X45, com diversas utilizações: (1) ponta para alvos não blindados, (2 e 3) munição traçante, (4) pontas para alvos blindados, (5) ponta de chumbo encamizada para caça e (6) projétil frangível. (Fonte: CBC)

Neste quadro temos as pontas destinadas aos cartuchos .308 Winchester e 7,62mm X 51 com suas respectivas características de utilização, sendo as 5 primeiras para uso militar e as 6 e 7 para caça e tiro esportivo, respectivamente. O projétil ETPT Match é o utilizado para tiros de precisão em competições oficiais. (Fonte: CBC).
Para os atiradores que se dedicam à recarga de munição, felizmente temos hoje excelentes opções, com qualidade de nível internacional, de pontas produzidas por fabricantes independentes, como os da empresa Búfalo, na cidade de Avaré e da Metalúrgica Marcondes, situada na cidade de Pinhal, ambas no Estado de São Paulo. Ambas produzem projéteis dos mais variados calibres e tipos, oferecendo uma muito variada gama de opções. 

MEDIÇÕES

No Brasil, mesmo com nosso sistema decimal de medidas em uso, como padrão, fomos de certa forma obrigados a aderir ao sistema de pesos e medidas utilizados nos Estados Unidos, pela grande influência que exerce a literatura especializada naquele país. Desta maneira, em termos balísticos, utilizamos pés por segundo para especificarmos velocidade, e utilizamos grains quando nos referimos  aos pesos, tanto de pólvora como de projéteis. A medida pés equivale a 0,3048 de um metro, ou seja, 12 polegadas. A medida grãos (grains) equivale a 0,065 de um grama.
Tanto os fabricantes de cartuchos como os adeptos da recarga de munição necessitam avaliar uma série de fatores para determinar se suas cargas estão compatíveis com a utilização a que se destinam. Vimos, por exemplo, a necessidade de se estabelecer qual o tipo de pólvora a utilizar em relação à sua velocidade de queima, fator importante a ser levado em conta dependendo do comprimento do cano da arma.
A energia de um determinado cartucho depende, portanto, da velocidade da queima da pólvora, tipo de espoleta e peso e formato do projétil, dentre outros fatores. Desta forma, o atirador que costuma recarregar seus cartuchos costuma fazer uma série de experimentos, que devem ser minuciosamente executados com toda a cautela e conhecimento, para evitar acidentes pessoais e danos ao armamento. Estamos todos cientes de que manipulamos explosivos nestes procedimentos, e todo cuidado é pouco. O efeito de um engano cometido na carga de pólvora de um cartucho, muitas vezes de só alguns “grains“, poderá danificar a arma e até ferir o atirador.
Hoje em dia há uma oferta muito grande de material de recarga, como vários tipos de pólvora e de projéteis, que possibilitam ao atirador testar diversas opções. Para tanto, um dos instrumentos mais necessários ao experimentador é o cronógrafo, pois medindo-se a velocidade obtém-se a maior parte dos dados sobre determinada carga efetuada.
À esquerda temos um modelo de cronômetro da empresa Shooting Chrony, dos USA, com custo na origem em torno dos US$ 100,00.
Com esse aparelho, posicionado de fonte à arma e à uma distância que varia de acordo com o tipo de arma, geralmente a menos de um metro da boca do cano, efetua-se o disparo para que o projétil passe por debaixo dos defletores plásticos e por entre o “V” formado pelas varetas de medição. A velocidade do projétil é indicada instantaneamente no visor de LCD disponível no equipamento, que fica voltado em direção ao atirador.
Geralmente o aparelho é montado sobre um tripé telescópico, exatamente igual aos utilizados em câmeras fotográficas, para que se possa ajustar a altura do cronômetro como mais facilidade. Uma das poucas desvantagens desses equipamentos simples, e com preços ao alcance de todos, é a de que eles não funcionam bem em ambientes fechados, com pouca iluminação. Necessitam de um dia claro e com sol incidindo sobre seus defletores. Entretanto, o fabricante fornece opcionalmente iluminadores com LED para serem utilizados em lugares com pouca incidência de luz.
Uma balança de precisão, hoje muito comum e barata de se conseguir, servirá para além de pesar a carga de pólvora, estabelecer o peso do projétil. Tendo-se então o peso e a velocidade conseguida com o cronômetro, chega-se à energia obtida em uma determinada carga de pólvora.
A fórmula a ser utilizada para se chegar na energia cinética de um projétil é a seguinte:
EC = P x V² / 450240, onde P é o peso do projétil em grains, V é a velocidade medida em pés/segundo e 450240 uma constante para que o resultado seja obtido em libras-pé (foot-pounds).
Como exemplo, vamos utilizar um projétil para cartucho .308 Winchester, pesando 180 grains. Disparado o cartucho, medimos 2.598 pés/seg de velocidade (792 m/s). Aplicando-se a fórmula temos:
EC = 180 x 2.598 X 2.598 / 450.240 = 2.698 foot-pounds, ou seja 3.656 joules (fator conversão de 1.3558)
A legislação brasileira determina, através do chamado R-105 (DECRETO Nº 3.665 – DE 20 DE NOVEMBRO DE 2000), que dependendo  da energia dispendida por um cartucho, seu uso poderá será permitido a civís (calibres permitidos) ou não (calibres restritos).
Considera-se calibre de uso permitido PARA USO EM ARMAS CURTAS aquele cuja energia medida na boca do cano não ultrapasse 300 libras-pé, ou seja 407 joules.
Para USO EM ARMAS LONGAS RAIADAS  a energia máxima deverá ser limitada a 1.000 libras-pé, ou 1.355 joules. A limitação baseada sobre a  potência do cartucho e não simplesmente pelo diâmetro efetivo do projétil faz muito sentido, uma vez que a potência do cartucho não está, de forma alguma, relacionada com o calibre real da arma.
Nos calibres mais comumente comercializados aqui, no âmbito das armas curtas,  são considerados permitidos os calibres .22LR, .32S&W, .32S&WL, .38S&W e .38 Special para revólveres; .25ACP (6,35mm Browning), .32ACP (7,65mm Browning) e .380ACP (9mm Browning Short) para uso em pistolas semi-automáticas. O calibre .357 Magnum, embora seu projétil seja equivalente ao diâmetro do .38SPL é um calibre restrito, pois suas cargas atingem em média 700 joules de energia.
Nas armas longas, o diâmetro do projétil também não serve como referência para estabelecer limites. Se assim fosse, um cartucho 5,56mm X 45, utilizado nos fuzis M-16, AR-15 e M4 seria permitido pois o diâmetro de seu calibre é equivalente ao .22. Porém, pelo  R-105, todas as carabinas calibre .22LR, .38SPL (Puma) e .44-40 (Puma e Winchester) são permitidas. Entretanto, no caso das mesmas carabinas Puma, nas versões em calibre .357 Magnum e .44 Magnum elas são consideradas restritas. No mais, com pouquíssimas excessões, a grande maioria de carabinas e rifles que utilizam os cartuchos em forma de “garrafinha” são de uso restrito, pois quase todos eles possuem energia acima de 1.000 libras-pé. Mesmo as “antigas” carabinas da Winchester modelo 1894, no calibre 30-30WCF, são consideradas armas restritas.
O autor é particularmente contra qualquer tipo de limitação sobre uso de calibres, que é algo que não existe, por exemplo, em vários países desenvolvidos da Europa e também nos USA. O que poderia continuar existindo seria só uma restrição, que já é aplicada até sobre os Atiradores registrados, para a utilização de cartuchos empregados pelas Forças Armadas, como é o caso dos cartuchos 5,56mm X 45 e do cartucho 9mm Parabellum, com a intenção, que se provou ser inócua, de controlar melhor a disseminação dessa munição em mãos de criminosos. A realidade das nossas ruas nos mostra, hoje, que essas limitações de calibres não surtem qualquer efeito sobre o que se vê nas mãos do crime organizado, que consegue ter acesso com grande facilidade, seja via contrabando ou até mesmo furtos em arsenais, a  qualquer tipo de arma e de qualquer tipo de cartucho que seja.

Artilharia de Campanha



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A artilharia de campanha é a arma componente das forças terrestres que tem por missão principal apoiar pelo fogo a manobra das armas-base. As formações de artilharia de campanha posicionam-se a retaguarda destas tropas, e através do tiro de trajetória balística, disparam suas granadas por sobre suas cabeças, atingindo os alvos a sua frente e a seu pedido.

O poder de fogo da artilharia de campanha é devastador, sendo a responsável pela maior parte das baixas inimigas em combate, "amaciando" sobremaneira os alvos a serem vencidos pelas armas-base, no decorrer de sua manobra e no cumprimento de seus objetivos. Devido as características de arma de apoio, a artilharia de campanha nunca é posta em reserva, e atua na totalidade de suas unidades o tempo todo, acompanhando a manobra das grandes unidades a que estiver subordinada.



Missões e Possibilidades

A artilharia de campanha pode aplicar sobre seus alvos uma variedade de fogos com características distintas de acordo com as necessidades de cada situação. Suas baterias podem, sem trocar de posição, alocar seus fogos rapidamente de uma posição a outra em reduzido espaço de tempo provendo um apoio flexível e eficaz, apenas variando o alcance e o azimute de seus disparos, através de variações na pontaria de suas peças ou na configuração das cargas de projeção.

Suas baterias trocam de posição de forma alternada a fim de que os fogos não cessem durante tais manobras, sendo que normalmente cerca de 2/3 delas permanecem atirando continuamente, se necessário. As unidades de artilharia podem atuar organicamente apoiando sua grande-unidade ou integrando agrupamentos de artilharia coordenados pelo escalão superior a fim emassar fogos em objetivos de alto valor. As missões de tiro podem ser de oportunidade ou seguir um plano de fogos pré-estabelecido, através de solicitação da arma-base, dos observadores avançados ou do escalão superior.

Efetua normalmente os seguinte fogos:
  • Fogos de preparação:  são aqueles efetuados forma contínua por um período de tempo determinado, sempre antes de um ataque da arma-base a fim de debilitar formações defensivas para que aquelas possam cumprir sua missão de uma forma mais previsível contra um alvo menos resistente e difícil.
  • Fogos de cobertura: são fogos destinados proteger forças amigas quando em manobras de retraimento ou que necessitem de proteção contra fogos inimigos.
  • Fogos de contrabateria: são fogos destinados a neutralização da artilharia inimiga, perigosos se esta tiver alcance similar, sendo desejável neste caso, que o alcance do material empregado seja superior ao do inimigo.
  • Fogos de contrapreparação: são fogos destinados a frustar a organização inimiga, evitando ou dificultando que desdobre dispositivos de combate.
  • Fogos de barragem: são fogos destinados a evitar que o inimigo ultrapasse determinadas linhas, criando barreiras ao seu deslocamento.
  • Fogos de interdição: são fogos destinados a destruição de alvos no campo de batalha, a fim de impedir que o inimigo se utilize deles para sua manobra. Como exemplo de alvos temos depósitos de combustível e munição, usinas de energia e de tratamento de água, pontes e aeródromos, entre outros.
  • Fogos de profundidade: são fogos destinados a atingir alvos bem a retaguarda do dispositivo inimigo, como, por exemplo, suas áreas de desdobramento logístico, a fim de prejudicar sua atividade.
  • Fogos de apoio aproximado: são fogos apontados diretamente frente da tropa apoiada a fim de facilitar a sua manobra e a seu pedido.
  • Fogos de inquietação: são fogos destinados diretamente a minar o moral inimigo, impedindo seu descanso, preparação ou articulação, efetuados de forma aleatória e imprevisível. Estes fogos podem ser efetuados de forma contínua, imprimem uma tensão constante ao inimigo diminuindo sua capacidade de operaçao.
  • Fogos de iluminação: são fogos destinados a prover iluminação às tropas através de munição especialmente desenvolvida.
  • Fogos de propaganda: são fogos destinados e transportar material de propaganda junto às linhas inimigas.


Devido as suas características a artilharia podem ainda atingir alvos desenfiados (posicionados atrás de elevações), alvos-ponto, alvo-área e alvos móveis. É muito vulnerável a ação aérea inimiga e tem limitações para se engajar em combate aproximado. Sua grande vulnerabilidade, no entanto, é a necessidade constante de grande quantidade de munição, e se não dispuser de apoio logístico eficaz pode ter sua operacionalidade comprometida.

Outras grande vulnerabilidade é quanto aos fogos de contrabateria inimigos. Assim que abre fogo, os disparos são prontamente detectados pelo inimigo através de seus OA e radares que calculam sua origem com grande rapidez e acionam suas baterias para réplica. Devido a esta ameaça as baterias tem que abandonarem suas posições com grande rapidez após cada missão de tiro.



O Sistema Operacional

Para cumprir sua missão a artilharia de campanha se vale vários subsistemas. Fundamentalmente emprega três elementos básicos que agem simultaneamente em proveito próprio. A inoperância de qualquer um deles inviabiliza o emprego da arma e todos são igualmente importantes para sua operacionalidade. São eles o observador avançado (OA), a central de tiro e a linha de fogo.

  • O Observador Avançado (OA) : Posiciona-se a frente das baterias de tiro, em posições desenfiadas da observação inimiga e em condições de visualizar os alvos e os impactos no terreno. Pode acompanhar as armas apoiadas ou atuar sozinho, normalmente em pontos mais elevados ou em aeronaves que lhe permitam boas condições de observação. Cabe ao OA determinar as características dos alvos a serem batidos, suas dimensões e posicionamento (coordenadas no terreno).
  • A Central de Tiro (CTir): Valendo-se de dados obtidos pelo OA e outros dados de inteligência como cartas topográficas e características dos alvos escolhidos, a C Tir plota em suas pranchetas a posição do alvo e das baterias de tiro, calculando alcance e elevação a serem aplicados às peças, seleciona regime de tiro, tipo de munição e a carga de projeção a ser utilizada, passando estes dados  a linha de fogo para o cumprimento da missão.
  • Linha de Fogo (LF):  É a bateria de tiro propriamente dita com cerca de 4 a oito peças  (obuses, morteiros ou lançadores múltiplos) . A Linha de fogo alimenta em suas peças os dados provenientes da C Tir e comanda os disparos, que serão observados pelo OA. Este efetua as correções necessárias levando em consideração a distância entre os impactos e o alvo e as repassa a central de tiro que recalcula os elementos de tiro e o ciclo recomeça. As linhas de fogo normalmente contam com mini centrais de tiro a fim de que possam operar independentemente quando necessário.
Outros sub-sistemas também são necessários ao bom funcionamento da artilharia de campanha.
  • Comunicações: necessárias para efetua a ligação entre comando, OA, Linha de fogo e Central de tiro. Valem-se de redes fio para posições fixas ou redes por enlaces de rádio encriptadas e de salto de frequência operando comando de voz ou data-link.
  • Apoio logístico: Necessário para prover combustível e munição continuamente aos operadores.
  • Comando, controle e coordenação: Para alocação de fogos onde e quando forem necessários. 
  • Busca de Alvos: Os alvos podem ser designados pelo AO, arma-base, ou por uma infinidade de outras unidades e subunidades, que os designam através do escalão superior de artilharia de campanha.
  • Topografia: Através de serviços de campo desenha uma trama de pontos precisos no terreno possibilitando tiro eficazes sem ajustagem prévia.
  • Meteorologia: Fornece dados sobre as condições atmosféricas que podem influenciar no cálculo das trajetórias, tornando os elementos de tiro mais confiáveis.
Apenas para exemplificar uma bateria de artilharia moderna, montada em peças autopropulsadas, dotada de GPS e DataLink poderia em questão segundos receber uma missão de tiro (via DataLink), parar no local onde se encontra e apontar suas peças instantaneamente, através de comandos pelo mesmo DataLink às outras peças, e através de soluções de pontaria fornecidas em tempo real pelos computadores balísticos que possuem desencadear seus fogos em poucos segundos e rapidamente trocar de posição a fim de evitar o fogo de contrabateria. Uma guarnição bem treinada poderia pode efetuar tal missão em menos de 1 minuto. àqueles, como eu, que foram treinados numa central de tiro a moda da segunda guerra sabem o que isso significa.

Materiais de artilharia de campanha 

A artilharia de campanha emprega uma variedade de materiais diversos, cada um com características próprias e adequado a tropa que compõem e a missão a que se destina, sendo o mais tradicional o obuseiro. Podemos classificar o material de artilharia quanto ao quesito mobilidade e peso, elementos este que definem qual tropa emprega qual material.

Quanto a mobilidade o material de artilharia pode ser rebocado ou propulsado. O material rebocado possui peso e mobilidade inferior ao propulsado, e depende de uma viatura QT para seu deslocamento. A dimensão desta viatura depende muito do material a rebocar e pode ser uma viatura 3/4 Ton para rebocar um lançador múltiplo leve ou uma viatura de 5 Ton para rebocar obuseiros de 155 mm, por exemplo.

No ocidente utiliza-se o obuseiro de 105 mm quando o quesito peso for a prioridade, como no caso de tropas leve e helitransportadas, como tropas paraquedistas e de montanha. Nestes casos obuseiro leve fazem a diferença pois alta mobilidade estratégica, podendo ser deslocados por ar em intervalos de tempo muito curtos. No Brasil utiliza-se o obuseiro Oto Melara Mod 56 que pode ser desmontado em partes e transportado no lombo de animais, dentro de uma viatura M113 e lançado de paraquedas, além de ser rebocado por viaturas leves. Outro material leve artilharia é o morteiro de 120 mm que possui as mesmas características de mobilidade dos modelos Oto Melara. Lançadores múltiplos leves também podem ser helitransportados e possuem altíssimo poder de fogo. Estes materiais possuem um alcance de cerca de 11 a 12 mil metros, sendo que o morteiro possuei um alcance menor, de aproximadamente 6 mil metros.



Modelos de 105 mm como o inglês Light Gun podem ser facilmente aerotransportados por aeronaves C-130, e são utilizados por tropas mais convencionais, como as brigadas de infantaria. A tendência mundial é equipagem destas tropas com obuseiros mais potentes de 155 mm também rebocados. Estas peças possuem um alcance de cerca de 30 km, pesam de 4 a 5 ton e requerem viaturas mais pesadas para tracioná-las. Alguns modelos deste calibre possuem limitações quanto ao aerotransporte por aeronaves C-130.

Para equipar a artilharia de campanha das brigadas e divisões blindadas utiliza-se versões autopropulsadas dos obuseiros de 105 mm e 155 mm, que são peças de artilharia montadas em veículos blindados especialmente construídos ou adaptados de outros chassis blindados. Estes modelos possuem a mobilidade tática necessária para acompanhar carros de combate principais em seus avanços, mas sua mobilidade estratégico-operacional é mais limitada, uma vez que só pode ser aerotransportada por aeronaves pesadas. Para deslocamentos terrestres demandam carretas ou transporte ferroviário.

A artilharia de foguetes também está presente nos exércitos modernos, e geralmente é empregada em bombardeios de profundidade, uma vez que os foguetes alcançam distâncias bem superiores a artilharia de tubo. Como exemplo destes sistemas temos o Astros II brasileiros e o MLRS norte-americano. Possuem as mesmas características de mobilidade dos obuseiros autopropulsados. Estes sistemas são altamente eficazes e alvos de busca da aviação inimiga no início de qualquer conflito, carecendo de efetiva proteção antiaérea.



Unidades de Artilharia

As unidades de artilharia, no Brasil denominadas Grupos de Artilharia, são organizadas em baterias de tiro de 2 a 4 conforme a unidade cada uma com 4 a 8 peças. Unidades autopropulsadas apoiam as brigadas e divisões blindadas, unidades leves apoiam tropas paraquedistas, infantaria leve e tropas de selva e montanha. Outras unidades, geralmente rebocadas apoiam tropas mais convencionais.

As unidades de artilharia, por serem forças de apoio nunca são colocadas em reserva. Se uma brigada estiver em tal situação, seu grupo de artilharia permanece a disposição do comando divisionário para reforço àquelas unidades que apoiam as tropas em ação. Apesar de se subordinar a uma determinada grande unidade os escalões superiores de artilharia podem rapidamente assumir seu controle e agregar uma grande quantidade de grupos sob comando único a fim de cumprir missões especialmente designadas.

Busca e aquisição de alvos

Os alvos da artilharia podem ser de oportunidade ou pré-programados em um plano geral de fogos, confeccionado pelo comando da artilharia. Estes alvos são elencados a partir de inúmeros meios de busca que partem dos observadores avançados de artilharia, da arma-base, da observação por satélite, dos esclarecedores da brigada, de veículos de observação aérea como a aviação do exército em seus helicópteros e veículos não tripulados, da força aérea, radares de artilharia e busca de alvos, sistemas de inteligência tipo ELINT, entre outros.


O Pelotão de Infantaria




O pelotão é a unidade tática básica da infantaria e base para a formação das companhias. Sua organização pode variar de uma força para outra, porém as variações não são significativas. Mesmo em unidades de infantaria de uma mesma força a composição do pelotão pode mudar de acordo com as singularidades de cada tropa. Um fator determinante da composição de cada tipo de tropa é a capacidade dos veículos que a transportam, pois procura-se acomodar cada "grupo" de forma coesa em um mesmo veículo, seja ele um helicóptero, viatura blindada ou outro qualquer.

No Exército Brasileiro, o pelotão de infantaria é formado por 3 grupos de combate (GC) e 1 grupo de comando e 1 grupo de armas de apoio. No US Army a denominação do GC é de esquadrão (squad), e a organização do pelotão é muito semelhante, totalizando no modelo aqui descrito 42 integrantes.  Uma das capacidades principais do pelotão de infantaria é a de organizar-se como força-tarefa tática, com seus elementos orgânicos e outros agregados em reforço de acordo com cada missão, dando ao comandante de companhia um fração de tropa altamente flexível e poderosa, que pode cumprir tarefas de forma autônoma como parte do esforço desta e do batalhão. A arma do combatente de infantaria é o fuzil de assalto, e a exceção dos metralhadores é dotação comum a todos eles. 




O Grupo de Comando

O grupo de comando (platoon headquarters - PLT HQ no US Army) do pelotão tem por missão prover comando e controle (C2) aos demais. Este grupo atua ainda nas funções de ligação com sua companhia, com os elementos que fornecem apoio de fogo e apoio logístico. Tipicamente é formado por um oficial subalterno ou tenente líder de pelotão, um sargento antigo adjunto ao líder que atua como subcomandante e um sargento ou cabo operador de sistemas de comunicação ou radioperador (RTO no US Army). Conta ainda com um sargento "caçador" (Sniper) e um cabo observador auxiliar deste. Esta equipe agrega a função de observador avançado (OA) dos grupos de morteiros e são os encarregados da ajustagem do tiro destes. Um sexto integrante é um sargento paramédico ou enfermeiro, e ainda, se for o caso, um motorista.



O Líder de Pelotão

O líder do pelotão deve comandar com base no exemplo, com a autoridade que lhe é de direito, assumindo a responsabilidade global pelas ações de seus subordinados, agindo de forma decisiva nas ações e na manutenção da disciplina. Quando em combate sua atuação deverá ser no sentido da atribuição de missões específicas a cada um, sempre dando espaço a iniciativa de seus comandados.

Mesmo tendo a última palavra nas decisões, deverá aconselhar-se sempre com seu sargento adjunto e conhecer todas a facetas operacionais do emprego de seu grupo. São atribuições do líder:
  • Acionar o pelotão no cumprimento das missões que lhes são atribuídas pelo escalão superior, levando-o de encontro com os objetivos deste;
  • Orientar a manobra do pelotão;
  • Sincronizar seus GCs para que manobrem de forma harmônica;
  • Antecipar as ações que o pelotão deverá executar;
  • Solicitar os apoios que forem necessários;
  • Fornecer aos GCs total suporte de C2;
  • Planejar e implementar a segurança de seu pelotão;
  • Orientar o desdobramento das armas do pelotão;
  • Elaborar relatórios aos seus superiores;
  • Posicionar-se da forma mais adequada quando em ação;
  • Atribuir tarefas e objetivos claros, concisos e realizáveis aos seus GCs;
  • Inteirar-se e entender a missão de sua companhia e batalhão.

O líder deverá sempre estar ciente da situação em que está inserido. Deverá conhecer a situação das tropas amigas, inimigas e neutras; bem como as condições do terreno. Deverá visualizar a situação a ser configurada depois do cumprimento de sua missão e tomar as medidas necessárias para ligar o presente ao futuro esperado, sempre avaliando os riscos envolvidos e tomando as medidas para minimizá-los. 


O Adjunto de Pelotão

O adjunto do pelotão (PSG no US Army) é o auxiliar direto do líder, segundo em comando e conhecedor da tática operacional e todas as armas orgânicas e de apoio. Sua função é assessorar o líder no planejamento e zelar junto aos GCs pelo cumprimento de suas ordens. Suas funções básicas são:
  • Supervisionar o pelotão a fim de garantir seu apronto, com checagens pré-combate e inspeções;
  • Estar apto a assumir a liderança do pelotão, se necessário;
  • Posicionar-se da melhor forma para exercer as tarefas de C2, seja junto a base de fogo ou aos elementos de assalto;
  • Zelar pelo apoio logístico do pelotão, gerenciando inclusive a carga de combate;
  • Zelar pelo apoio médico aos soldados sinistrados, com evacuação de feridos e mortos, controlando as baixas e emitindo relatórios com vistas a reposição de pessoal;
  • Operar os sistemas digitais de C2 do pelotão;
  • Inteirar-se e entender a missão de sua companhia e batalhão, tal qual o líder.

O Rádio-Operador do Pelotão

O rádio-operador (RTO no US Army) é o operador da comunicação do pelotão com o comando de sua companhia, e deve manter o líder e seu adjunto cientes da condição de seus sistemas. Deve ter afinidade com todos os procedimentos de radiotelefonia e emissão de relatórios, pedidos de apoio de fogo e antenas de campo de todos os tipos, além de gerenciar o uso de baterias. Deve ainda conhecer os protocolos de comunicação (frequências e sinais de chamada) de sua companhia e batalhão e dar ciência deles a todos os membros do pelotão, assim como auxiliar na operação dos sistemas eletrônicos de C2.

O Observador Avançado do Pelotão/ "Caçador"

O Sargento "caçador" atua como o observador avançado (OA) do pelotão (FO no US Army), e apoiado pelo Operador de rádio é o responsável pelo planejamento e execução dos fogos de apoio (indiretos), incluindo os morteiros da companhia e do batalhão, artilharia de campanha e outros fogos colocados a disposição. Deve saber localizar e designar alvos, chamar os fogos de apoio e ajustá-los. Deve conhecer a missão do pelotão e os conceitos operacionais afins, bem como a doutrina de fogos de apoio. dentre suas funções específicas destacamos:
  • Manter ciente as equipes de coordenação de apoio de fogo da companhia e do batalhão sobre a localização do pelotão e suas necessidades de apoio de fogo;
  • Manter atualizados mapas e croquis do terreno;
  • Chamar e ajustar fogos de apoio;
  • Operar como equipe junto ao operador de rádio;
  • Selecionar alvos em potencial e informar sua localização ás equipes de coordenação de apoio de fogo;
  • Escolher e preparar os postos de observação (POs) e viabilizar suas rotas de acesso;
  • Operar os terminais digitais de contato com as equipes de coordeção de apoio de fogo;
  • Atuar como atirador de precisão.

O Paramédico do Pelotão

O paramédico do pelotão atua junto ao sargento adjunto no apoio médico ao pelotão, sempre interagindo com as equipes médicas da companhia e do batalhão. Deve zelar pela saúde preventiva dos integrantes do pelotão, e trabalhar no tratamento e evacuação de feridos. Cabe a ele ainda aconselhar o adjunto em assuntos afins, gerenciar o suprimento médico (classe VIII) e elaborar os relatórios médicos solicitados.

A Esquadra

A esquadra (Fire Team no US Army) é o núcleo do pelotão, e constituída para lutar como uma equipe monolítica. Podem atuar de forma auto-suficiente no combate direto ao inimigo, dentro é claro do envelope de combate do pelotão. É comumente constituída por 4 elementos: Um fuzileiro-metralhador (AR no US Army) que fornece volume de fogo a esquadra e é a base de fogo direto desta, alocando fogos contínuos sobre pequenas áreas; o fuzileiro-atirador que bate alvos ponto de curto alcance com disparos de precisão e fornece segurança e inteligência aos demais; um fuzileiro-granadeiro que pode bater pequenas áreas com fogos indiretos explosivos (HE) de curto alcance, inclusive em ângulos mortos; Um cabo líder de esquadra (TL no US Army) que fornece o C2 desta e complementa a ação do fuzileiro-atirador. O binômio metralhador-granadeiro é a base de fogo da esquadra.



O Fuzileiro-Atirador

Cabe ao fuzileiro atirador o fogo de precisão da esquadra. Ele prove segurança ao núcleo de fogo da esquadra e trabalha como observador na busca de alvos para o este. São suas atribuições:


  • Efetuar fogo certeiro com seu fuzil e ser especialista em seu emprego, além de saber operar todas as armas da esquadra e poder substituir seus pares, atuando constantemente na segurança de sua equipe;
  • Ser capaz ocupar posições rapidamente de onde possa fazer fogo com eficácia, de dia ou à noite, utilizando os princípios de coberta e abrigo, fortificá-la e camuflá-la;
  • Ter habilidade de transpor obstáculos como campos minados, arame farpado, fossos e paredes, apoiar a lida com prisioneiros, feridos e equipes de demolição; 
  • Repassar ao seu líder toda a informação relevante que adquirir em ação ou que possa ser útil ao esforço da equipe;
  • Atuar em prol da saúde da equipe aplicando medidas de segurança médico-sanitárias ao seu alcance. bem como ter conhecimento de medicina básica de combate;
  • Estar ciente da missão de sua esquadra, pelotão e companhia.


O Fuzileiro-Granadeiro

O granadeiro prove a esquadra fogo de trajetória alta para bate ângulos mortos e forçar o inimigo a abandonar seu abrigo. Todos os soldados podem portar granadas de mão, mas o granadeiro é o único a poder lançar granadas a distâncias maiores (cerca de 300 a 400 m), pode ainda alvejar veículos levemente blindados, desdobrar barreiras de fumaça e iluminar ponto específicos do terreno. Deve ser especialista em seu lançador de granadas e suas munições, sabendo seus limites de segurança. e estar apto a desempenhar todas as funções dos outro integrantes da esquadra. Compõem o núcleo de fogo da esquadra com o metralhador.




O Fuzileiro-Metralhador

O metralhador fornece volume de fogo direto a esquadra e é o componente senior do núcleo de fogo da esquadra. Pode endereçar seus projéteis a qualquer tipo de alvo, menos àqueles abrigados ou providos de armadura. Deve poder ainda substituir qualquer outro integrante da esquadra. Devido a natureza de seu armamento de emprego coletivo, poderá portar uma pistola para defesa pessoal.

O Líder de Esquadra

As atribuições do líder já foram citadas e são invariáveis qualquer que seja o escalão. Ele deve receber suas ordens as cumprir com total liberdade de ação tendo sua iniciativa valorizada. Deve ter a capacidade de pensar rápido e agir demonstrando atitude, imediatismo e precisão, inerentes ao combate de infantaria. O líder ainda complementa a missão do atirador.

Os movimentos da esquadra devem seguir a tradicional prática da infantaria de mover-se rapidamente de um ponto a outro quando o companheiro estiver fazendo fogo, e ao chegar lá fazer fogo para que este possa mover-se. Atirar e manobrar. Todo cuidado deve ser tomado para não se atravessar a linha de fogo dos companheiros.

O Grupo de Combate (GC) ou Esquadrão

O grupo de combate (Squad no US Army)  é formado por 2 esquadras mais um sargento Líder (SL no US Army). Quando embarcados cabem em um IFV ou helicóptero de manobra. É a célula base que o comandante de pelotão usa para manobrar. O sargento comandante de GC tem 2 equipes (esquadras) a disposição e as usa em conjunto; enquanto uma atira a outra manobra.















O líder de GC desempenha as tarefas de líder já citadas, deve ser capaz de substituir o adjunto de pelotão desempenhando todas as suas tarefas e solicitar e ajustar apoio de fogo.

O Atirador de Precisão Designado

Um GC pode ser reforçado por um atirador designado (SDM no US Army) pelo comandante do pelotão, quando for necessário. Este atirador deve estar especialmente treinado em fogo de precisão. Não são franco-atiradores e nem operam nos alcances limite destes, e muito menos de forma autônoma, mas como componentes do GC e sob as ordens de seu líder. Usam armas disponíveis na unidade com mira ótica reforçada.




Ele deve ser escolhido por suas habilidades de tiro, maturidade, experiência, confiabilidade e bom senso. Sua função é a de alvejar alvos de alto valor como oficiais, radio-operadores, metralhadores, atiradores de precisão, operadores de lançadores de rojão e outros. Devem ter a capacidade de alvejar alvos fugazes e expostos por curtos períodos de tempo, em frestas e fendas, parado e em movimento. Pode-se designar um atirador por esquadra no lugar do fuzileiro-atirador, criando-se duas equipes equilibradas e altamente flexíveis, capazes de atingir alvos em distâncias superiores às usuais.

Estes atiradores devem receber treinamento especial no uso de miras telescópicas, tiro de veículos, tiro em movimento, tiro noturno, tiro de engajamento rápido, tiro em combate aproximado (close combat), tiro em até 600 metros, posições de tiro não usuais e tiro de alvo em movimento a longa distância.

O emprego destes atiradores é particularmente indicado em situações onde a precisão é mais importantes que o volume de fogo, como em situações de contra-insurgência, em áreas urbanos a fim de não alvejar civis, em alcances fechados de necessidade imediata, quando o inimigo também os está empregando, situações diversionárias, vigilância de setores e corredores específicos, entre outras.

O Grupo de Armas de Apoio


O grupo de armas de apoio é formado por 2 equipes de metralhadoras médias e 2 equipes de fogo pesado com lançadores de rojões de grande calibre, mais um líder de equipe.



Os Metralhadores

As equipes de metralhadoras médias são compostas cada uma por um metralhador e um metralhador assistente que portam armas de maior potência que as metralhadoras ligeiras que equipam as esquadras, com alcances de até 1.000 metros, fornecendo fogo de supressão de médio alcance. Ao metralhador e seu assistente cabem colocar uma metralhadora média em ação, cuidar de sua manutenção, conhecer sua doutrina de emprego e seu comportamento balístico. Devem ainda assistir seu líder quanto ao emprego da arma, bem com estar apto a substituí-lo, além de conhecer a missão de seu pelotão e companhia. Ao assistente cabe estar apto a assumir o controle da arma se necessário, controlar o fornecimento de munição e trabalhar na designação de alvos ao metralhador sênior.




Os Operadores de Lançadores de Rojões

As equipes de lançadores de rojões são compostas por 1 atirador e 1 assistente. Estas equipes podem operar lançadores de foguetes (rojões) como o AT-4 ou Carl Gustav, ou ainda mísseis leve como Javelin. Elas fornecem ao pelotão uma significativa capacidade anticarro, bem como poder de fogo contra posições fortificadas, em alcances médios. Cabe aos membros da equipe as mesmas funções das equipe de metralhadores, e ao assistente em especial, o gerenciamento no fornecimento de munição. A estas equipes poderão ser alocados mísseis anticarro de maior potência se assim for necessário.

O Líder do Grupo de Armas de Apoio

O líder deste grupo é o substituto natural do adjunto do pelotão e deve conhecer todas as suas atribuições. As demais funções do lider são as mesma já elencadas. Cabe a eles aconselhar diretamente o líder do pelotão quanto ao plano de fogo deste grupo, o gerenciamento do fornecimento de munição do pelotão em auxílio ao sargento adjunto e ao planejamento de emprego das armas de seu grupo.