quinta-feira, 29 de março de 2018

AGM-119 Penguin


O Penguin é um míssil de cruzeiro superfície-superfície de curto a médio alcance, com guiamento infravermelho (IR), propulsão por motor foguete, com capacidade sea skimmer e tipo dispare-e-esqueça (Fire and Forget).
O Penguin foi desenvolvido como um sistema anti-invasão. Na década de 1950, a Noruega percebeu que não podia manter uma grande frota para defender sua grande costa marítima. Investiu em embarcações de ataque rápido (FAC - Fast Attack Craft) bem armadas para operar escondidas nos fiords e precisavam de um míssil anti-navio. O míssil seria usado contra embarcações de desembarque e suas escoltas tentando invadir a Noruega. Estas forças deveriam navegar em águas confinadas no território norueguês e passar por chockpoints. Então o Penguin foi pensado desde o inicio para ser usado em águas litorâneas.
O Penguin foi desenvolvido originalmente como um míssil superfície-superfície disparado de navio. O desenvolvimento ocorreu entre 1961 a 1970 junto com a marinha norueguesa, Norwegian Defence Research Establishment (NDRE) e a Norsk Forsvarsteknologi A/S (NFT) (agora Kongsberg Defence and Aerospace). A US Navy financiou até a fase de demonstração. Os testes iniciais foram realizados com sucesso de 1963 a 1965. A Alemanha passou a financiar tendo acesso a tecnologia.
A avaliação tática do novo míssil foi em 1972 com o Penguin Mk1 (Penguin 1) instalado nas FAC Storm e Snögg. O Penguin 1 entrou em serviço em 1972. Em 1974, foi realizado um novo contrato para Noruega e a Suécia para aumentar o alcance e novas melhoras no míssil. O projeto foi completado em 1979 e o novo míssil foi chamado de Penguin Mk2 (depois Penguin 2).


Descrição
O Penguin 2 consiste no casulo de transporte e lançamento (Missile Launcher Assembly - MLA), gabinete de controle (Missile Control System - MCS), painel operacional, painel de disparo na ponte e unidade de segurança.
O Penguin tem quatros canards de controle e quatro asas no meio do corpo cilíndrico. As asas tem airelons para estabilização de rolamento. O míssil tem três partes principais:
- nariz com seeker, piloto automático digital, sistemas de controle, altímetro laser e sistema de navegação inercial (INS), canards da BAe Sperry
- parte central com cabeça de guerra Mk19 semi-perfurante (SAP - Semi-Armour-Piercing), usada no míssil do Bullpup. A cabeça de guerra pesa 113kg com carga de 50kg de explosivos. A espoleta é de impacto/atraso com mecanismo de segurança e armação
- seção traseira com motor foguete booster e sustentação da Nammo Raufoss AS
 
Corte interno do Penguin. 1 - sensor infravermelho; 2 - canard; 3 - altimetro; 4 - unidade de controle; 5 - sistema inercial; 6 - cabeça de guerra; 7 - espoleta; 8 - motor de sustentação; 9 - asas dobráveis; 10 - motor de aceleração.
O gabinete de controle pode ser integrado com o sistema de controle de tiro do navio. O sistema controle de tiro original é o MSI-80S que combina o radar Decca TM1226, TV de baixa luminosidade GEC-Marconi, telêmetro laser e sensores MAGE. O Penguin pode receber interface com outros sistemas como o sistema de controle de tiro PEAB 9V200 Mk 2, enquanto a Grécia opera com o Vega 2 da Thales.
O Penguin pode ser apontado por radar ativo, sistema de imagem ou MAGE. O míssil é do tipo "dispare-e-esqueça", com o navio podendo fugir após o disparo. O tempo de reação, de desligado até o disparo, é de cerca de 2 minutos, mas pode diminuir para 7 segundos se o sensor for mantido refrigerado.
Na hora do disparo o operador pode selecionar, ligar e checar os mísseis, selecionar disparo único ou salva, trajetória direta até o alvo ou com dogleg (disparo oblíquo). O disparo oblíquo evita que o inimigo reaja com ataque de contra-bateria, disparando na direção contrária e conseguindo acerto de sorte se for a direção exata do disparo inimigo.
O míssil fica instalado em um container selado de fibra de vidro. O container pesa 500kg, sendo fácil de instalar em embarcações pequenas. O container também é o lançador, com uma porta tipo concha. O container fabricado pela SAAB tem dimensões de 107 cm x 107 cm x 305 cm e pesa 178 kg. O Penguin Mk2 usa um novo lançador.
 
Container do Penguin 1 em um museu.
Antes do disparo, o míssil recebe um motor de aceleração (booster) que acelera o míssil até Mach 0,7 a Mach 0,8. O booster é alijado em voo quando o míssil atingir a velocidade de cruzeiro.
O guiamento de meio curso é feito por INS até o ponto de interceptação. A trajetória pode ser direta ou com doglegs para esquerda ou direta (disparo oblíquo). O sistema de navegação também corrige os movimentos do navio no momento do disparo em relação ao alvo, com diferença de 50 graus, em relação ao vento. Durante o disparo, o míssil atinge uma altura de 80 metros e cruza até o alvo a 22 metros de altura acima do mar com altímetro laser.
O Penguin 1 e 2 tem alcance máximo efetivo 30km. O tempo de voo máximo é de 85 segundos para o Penguin 1. O cenário planejado não precisa de longo alcance pois a plataforma pode usar o terreno para se aproximar furtivamente do alvo e disparar atrás do terreno. Nem seria um local onde navios com defesas de longo alcance operariam, apesar de poderem ser atacados a partir de terra se estiverem próximo do litoral ou ilhas para encobrir a aproximação do helicóptero ou navio lançador.
Na fase terminal o míssil é controlado pelo sensor passivo infravermelho ativado a uma distância pré estabelecida do alvo. O sensor tem modos de busca e acompanhamento automáticos do alvo. Foram estudados versões com radar ativo e passivo, mas não foram adiante.
Próximo do alvo começa a busca com o sensor infravermelho. O Penguin foi o primeiro míssil anti-navio da OTAN com sensor infravermelho (IR). Sendo passivo, o sensor não dá nenhum alerta comparado com o radar ativo, mas precisa voar mais alto. O sensor IR foi escolhido pois os possíveis usuários, a Noruega e a Suécia, operam em área com grande retorno de radar, entre os fiords da Noruega ou o arquipélago de Estocolmo. São cenários onde um radar não operaria adequadamente. O sensor IR também funcionaria melhor em um local mais gelado, sendo mais fácil encontrar um alvo quente com um fundo frio.
Ao detectar alvos que satisfaçam o critério de decisão, o sensor muda para o modo de acompanhamento enquanto busca (TWS - Track While Scan) para guiamento terminal. O sensor guia o míssil para o ponto de impacto próximo da linha d'água, onde o efeito da explosão é maior. A espoleta tem atraso de 8 a 10 msec, dando capacidade de penetração. A fase final pode ser balística, já com o motor apagado. O míssil pode subir para adquirir o alvo e depois mergulha com ponto de impacto no alvo próximo a linha d'água, atingindo o alvo em trajetória descendente.
O Penguin tem várias medidas para evitar ser derrubado. Por usar um sensor passivo não dá alerta ao inimigo como os mísseis com guiamento por radar ativo e semi-ativo. O míssil voa baixo sendo mais difícil de detectar. O seeker tem capacidade de contramedidas contra chamarizes infravermelhos (flares) e é completamente imune a interferências eletrônicas. Um disparo em salva pode ser programado para chegar ao mesmo tempo sobre o alvo, saturando as defesas ativas. O míssil pode usar a capacidade de contornar obstáculos para usar uma rota escondida e conseguir surpresa, ou se aproximar pelo lado mais vulnerável. Na fase final pode realizar manobras evasivas (weaving), "tricotando", ou em bojo.


A Grécia testou quatro Penguin MK2 Mod 3 a partir de uma FAC classe Laskos (Combattante III) em julho do ano 2000. 


Detalhes do disparo de um Penguin 2.

Modos de disparo do Penguin. Nos dois casos é possível ver os mísseis sendo programados para chegar no alvo ao mesmo tempo.
 
Penguin 3 (AGM-119A)
Em 1980, a NFT foi contratada para modificar o Penguin Mk2 para armar o F-16. A Suécia ajudou no projeto. O míssil foi designado Penguin 3. Os EUA designaram AGM-119A.
O Penguin 3 foi desenvolvido a partir de 1979, antes do Penguin 2 Mod 7. O Penguin 3 não tem o motor de dois impulsos. O booster foi retirado e adicionado um motor de sustentação maior. O alcance aumentou para 55 km quando disparado a grande altitude, planando antes de ligar o motor a baixa altitude. O míssil tem 3,2 metros de comprimento, 1 metro de envergadura e pesa 370kg. A cabeça de guerra é maior, pesando 130kg.
Os testes foram realizados com o F-104G em 1984 e no F-16 em 1986 na USAF. A USAF disparou sete Penguin 3 em 1988 no F-16. As entregas iniciaram em 1987 e a entrada em serviço foi em 1989, sendo disparado do cabide central do F-16 com os trilhos do míssil AGM-12 Bullpup. Os F-16 noruegueses que podem levar até quatro mísseis. Foi planejado o uso no Eurofighter.
O sistema de guiamento inercial é o mesmo nos dois mísseis, com radar altímetro no lugar do laser, capacidade de mudanças sucessivas na altitude e direção programável, e capacidade de voar sobre terra. Pode ser programado para sobrevoar certa quantidade e alvos antes de atacar. O Penguin Mk3 pode ser disparado de 150 a 30 mil pés (50 a 10 mil metros), em velocidade de até Mach 1.2. Tem capacidade off boresight de até 50 graus (esquerda ou direita da aeronave).
O Míssil tem quatro opções de trajetória. "altitude hold on" (voa mais alto), altitude hold off (desce até a altitude planejada), "midcourse altitude hight" (voando a 300 pés), e "midcourse altitude low" (trajetória sea Skimming).
O sensor infravermelho tem alta resolução. O padrão de busca do sensor pode ser largo, normal e assimétrico, sendo configurado antes do disparo. O novo sistema de controle digital é compatível com os sistemas do F-16.
O Penguin Mk3 Mod 7 foi adaptado para disparo de container em navios e baterias costeiras. A Noruega não adotou o Penguin para baterias de defesa costeira como planejava inicialmente.
 
Um Penguin 3 sendo disparado de um F-16. O Penguin tem asas grandes o que permite manobrar em algos G facilmente.
 
O F-16 pode levar até quatro mísseis Penguin 3 nas asas, mas geralmente leva apenas dois mísseis.

Folder da Kongsberg mostrando o modo de disparo "altitude hold" para que o Penguin 3 possa ser disparado sobre terreno montanhoso antes de fazer uma curva abrupta sobre o mar.


Penguin Mk 2 Mod 7 (AGM-119B)
Em 1981, a Noruega começou a estudar uma versão lançada de helicópteros do Penguin. Foi o interesse da US Navy que levou ao desenvolvimento do Penguin Mk2 Mod 7 que virou o AGM-119B. Após um requerimento de 1983, foi decidido adaptar o míssil nos helicópteros SH-60B LAMPS III em 1984. Os testes foram realizados em 1986 e demonstrou que o helicóptero podia ser usado sem atrapalhar sua capacidade antisubmarina. Até quatro mísseis poderiam ser levados no SH-60B.
O míssil é baseado no Penguin 3. A principal diferença são as quatro asas dobráveis no meio do corpo para caber no cabide lateral do SH-60. O motor de aceleração foi mantido e recebeu novas melhorias como um sistema de guiamento digital e uma cabeça de guerra maior WDU-39/B SAP de 120kg. O Penguin 2 Mod 7 tem 2,96 metros de comprimento, 280mm de diâmetro e envergadura de 1,42m, ou 0,56 metros com a asa dobrada. O peso é de 385 kg com motor aceleração e sustentação. O alcance máximo é de 35km. Com o novo controle digital o míssil pode ter trilha obliqua, com dog leg, fazer curva de 180 graus em um ponto de baliza planejado e curvas randômicas.
A Grumman (agora Northrop Grumman) é a subcontratante americana. O míssil foi liberado para ser usado nos Super Lynx, SH-2G Sea Sprite, Bell 412 SP e S-70B Black Hawk/Sea Hawk. No ano 2000, foram realizados testes para ser usado nos SH-2G Super Seasprite da Austrália.
O Penguin Mk2 Mod 7 tem um arco de disparo de 360º. O helicóptero lançador pode atacar alvos em qualquer direção sem ter que mudar o seu curso. Pode usar o modo de disparo manual "aponte-e-atira" (“modo John Wayne” - ou "bearing only") sem precisar saber a distância até o alvo. O CATM-119B é usado para treinamento para pilotos e pessoal de terra no manuseio. O Penguin Mk2 Mod7N é a versão disparada de superfície.
 
Um míssil Penguin 2 Mod 7 em um S-70B grego. A imagem permite ver detalhes do cabide do míssil.
 
Detalhes do Penguin 2 Mod 7 onde se ve as aberturas do motor de aceleração e sustentação. As asas estão dobradas.
 
Sequência de disparo de um Penguin 2 Mod 7.

Opções de trajetória do Penguin 2 Mod 7. Na "altitude hold" permite que o míssil voe sobre o terreno. Em todas as opções o míssil sobe antes de mergulhar no alvo.

Folder da Kongsberg mostrando a interface dos mostradores na cabine do helicóptero que irá disparar o Penguin.


Usuários

O Penguin já é operado pelas Forças Armadas da Noruega, Turquia, Grécia, Suécia, Estados Unidos, Espanha, África do Sul, Nova Zelândia e Brasil.

Em 1988, o custo estimado do Penguin era de US$ 220 mil para o Penguin 1 e 2 e US$ 500-550 mil para o Penguin 2 Mod 7 e Penguin 3. A produção até 1999 foram de 225 Penguin 1, 867 Penguin 2 e 120 Penguin 3.
O Penguin 1 entrou em serviço em 1972 em navios da Noruega e Turquia. O Penguin 2 entrou em serviço em 1980 na Suécia. Em 1990, havia 80 navios em quatro marinhas operando com míssil o Penguin - Grécia, Noruega, Suécia e Turquia.
O Penguin foi instalado nas cinco fragatas classe Oslo, 20 FAC da classe Storm (6 mísseis), seis torpedeiros Snogg (4) e as FAC classe Hawk da Noruega (225 Penguin 1 e 225 Penguin 2), seis FAC classe La Combattante III gregas (100 Penguin 2), quatro Kartal da Turquia (65 Penguin 2), classe Hugin e Norrköping suecas (195 Penguin 2).
Os Penguin 1 foram modernizados para o padrão Penguin 2. Os testes 1994 mostraram muitas falhas e os mísseis foram retirados de serviço. Nos testes em 1999 apenas um míssil de quatro disparados atingiui o alvo. Em julho de 2000 dois mísseis disparados atingiram seus alvos. Os dois próximos falharam na curva planeajda e outros dois falharam sem disparar.
A Noruega comprou 120 Penguin 3 para equipar os F-16 do Esquadrão 334 baseados em Bodo. O Esquadrão tem função secundária anti-navio. 
A US Navy comprou 101 Penguin Mk 2 Mod 7 em 1989, de 193 planejados. Os contratos de 1990 foram cancelados. Seria comprado 90 mísseis em 1996. Em 2001, a Kongsberg foi contratada para inspecionar os mísseis da US Navy até 2004.
A US Navy estudou substituir o Penguin no programa SASWM (Standoff Anti-Surface Warfare Missile) em 2001. Até 300 mísseis seriam comprados até 2012, mas o projeto foi cancelado. Um dos mísseis propostos foi o Marte 2/5. SASWM deveria ser capaz de afundar até fragatas. Queriam outro míssil pois o Penguin tinha sistema planejamento missão ruim, trancava no alvo muito no fim do voo e a configuração da cabina do SH-60B só permite levar um míssil de cada vez.
A Grécia comprou o Penguin Mk 2 Mod 7 em 1993 para os seus SH-60B e depois outro lote em 1996.
A Austrália comprou 44 mísseis Penguin 2 Mod 7 para seus SH-2G Seasprite. As entregas foram em 2001 entrando em serviço em 2003. Um segundo lote foi comprado em 2004.
A Turquia comprou 44 Penguin Mk 2 Mod 7 para seus S-70B em 1995 com entrega em 1999. Outro contrato foi cancelado em 1999. Em 2008, o contrato do segundo lote foi assinado ao custo de MNOK 210 (US$ 34 milhões em 2013).
A Espanha comprou o Penguin 2 Mod 7 no ano 2000 para os seus S-70 e planejou integrar o míssil nos AV-8B.
A Nova Zelândia comprou o Penguin Mk 2 Mod 7 em novembro de 2013 para os seus SH-2G Seasprite.
Em 2008, a MB comprou oito mísseis Penguin Mk 2 Mod 7 e equipamentos associados por 15,7 milhões de Euros para equipar seus novos helicópteros SH-70B. Outra fonte cita que custaram 33 milhões de Euros.
O Penguin 4 seria uma versão de maior alcance iniciada em 1991 e virou o Naval Strike Missile - NSM em 1994. A Kongsberg propôs um sensor de imagem IR do NSM para ser instalado em modernizações do Penguin 2 e 3.

Dados Técnicos:
 Penguin 1AGM-119A Penguin  3AGM-119B Penguin 2 Mod 7
Comprimento (m)2.95 m3.18 m3.00 m
Envergadura (m)1.42 m1.00 m  (0,76)1.4 m  (0,76)
Diâmetro (cm)28 cm
Peso (kg)330 kg370 kg385 kg
Velocidade (Mach)Mach 0.7Mach 0.8
Alcance (km)20 km55 km34 km
Propulsãofoguete combustível sólidofoguete sólido MK 44 MOD 1
Cabeça de guerra113 kg - MK 19 semi-perfurante120 kg WDU-39/B semi-perfurante


Variantes do Penguin:

Mk I: modelo inicial
Mk I Mod 7: sensor do Mk II Mod 3
Mk II: curso pré-programado com mudanças de curso de até 90 graus.
Mk II Mod 3: sensor diferente do Mk I
MK II Mod 4. contrato reforma de 1997 para permitir o uso do Mk II até 2015 na Noruega.
Mk II Mod 5: atualização do Mk II com novo sensor.
Mk II Mod 7: versão lançada de helicóptero. Nova cabeça de guerra e asas dobráveis.
Mk III: nova cabeça de guerra, altímetro radar, aproximação sea-skimming.
 

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