sábado, 20 de maio de 2017

COMMANDO

A empresa paulista Commando Veículos Especiais Ltda. ficou conhecida no meio militar nacional como a responsável pelo projeto e construção do primeiro “Hummer brasileiro“. Batizado Commando M4, foi declaradamente inspirado no original norte-americano – veículo para missões de apoio e combate celebrizado na Guerra do Golfo, em 1991. Tratava-se, porém, de projeto integralmente nacional, concebido a partir de 2002 para participar da concorrência programada pelo Exército Brasileiro para o fornecimento de nova família de blindados sobre pneus. Mais curto, muito mais estreito e com interior mais espaçoso do que o Hummer H1, o M4 tinha chassi tubular de aço de alta resistência e carroceria construída em placas de plástico reforçado com fibra-de-vidro com 6 mm de espessura, estrutura tubular integrada e blindagem leve de alta resistência e peso reduzido. O carro receberia suspensão por braços oscilantes, barras longitudinais e molas helicoidais, tração 4×4 com reduzida, caixa de cinco marchas e freios a disco ventilados nas quatro rodas. Eram previstas diversas opções de motor diesel, todos turboalimentados: três International  (4 cilindros de 135 cv, V8 de 175 ou 275 cv) e um MWM (4 cilindros, 150 cv). Foram desenhados três tipos de carrocerias: picape, cabine-dupla de quatro portas e station cinco-portas. Mais tarde foi também preparada uma variante mais barata, montada sobre o chassi do caminhão Ford F-350 com motor Cummins de 140 cv e tração 4×4 importada.
Enquanto o Exército não lançava o edital de licitação, a empresa investiu na versão do M4 para uso civil, colocando-a à venda em agosto de 2004. No início simplesmente chamada Commando 4×4 e dois anos depois Commando Predator, podia ser fornecida como kit para montagem sobre qualquer chassi nacional (com ajuste na distância entre eixos), ou completo, com motor MWM turbo (4 cilindros, 4,2 l e 180 cv). Em 2006 também foi criada uma versão mais curta, com duas portas, e até uma réplica infantil, com motor a gasolina de 6,5 cv. Naquele mesmo ano, visando o mercado das grandes picapes de lazer, a empresa começou a desenvolver nova família, mais diretamente calcada no Hummer H1 (maior porte e para-brisas quase verticais), modelo divulgado com o nome Predator Evolution. O Predator era fornecido com motor MWM turbo 3.0 de 190 cv.
Em paralelo, a Commando continuava a fornecer veículos blindados para uso policial, militar e de segurança. Em 2005 construiu carrocerias blindadas sobre jipes Land Rover 110 nacionais, com estrutura tubular e revestimento de fibra-de-vidro, e projetou dois veículos especiais para o chassi 1720 A da Mercedes-Benz, um para o transporte de tropas e outro para controle de distúrbios, genericamente denominados Commando Force 1. O primeiro, com capacidade para 12 soldados, tinha três portas, seteiras laterais, escotilha sobre o teto e lançadores de granadas de gás; o segundo, canhão de água e lâmina à frente do para-choque para a remoção de obstáculos. Ambos blindados, dispunham de ar condicionado e estrutura tubular dianteira para a proteção do motor.

 

COLUMBUS

Fundada em 1993, em São Paulo (SP), por ex-funcionários do corpo técnico e industrial da então recém falida Engesa, a Columbus Comercial Importadora e Exportadora Ltda. assumiu como principal objetivo fornecer serviços especializados de manutenção à grande frota de viaturas produzidas pela extinta empresa, em operação no Brasil e no exterior.
A partir dos primeiros anos do século corrente a Columbus também passou a ter participação ativa no desenvolvimento de novos veículos militares, atividade iniciada em 2002, em conjunto com a empresa Ceppe, com o projeto do jipe Marruá, dois anos depois colocado em produção seriada pela Agrale.
Além deste, a empresa contribui no projeto e construção de três protótipos da viatura aerotransportada Chivunk, preparou para a Agrale o protótipo de um caminhão militar 4×4 de 2,5 t (homologado pelo Exército e hoje comercializado como Marruá AM 41) e concebeu um blindado 4×4 compacto para uso policial (provisoriamente também chamado Chivunk), que não chegou à fase de protótipo.
Mais recentemente, por meio de sua subsidiária Columbus International Ltd., colabora com a empresa Ares (subsidiária brasileira da israelense Elbit Systems) no fornecimento de parte das torres para armamento do blindado sobre rodas Guarani, em produção no Brasil pela Iveco.
<columbusparts.com.br>

 

CEPPE

Empresa de engenharia fundada em 1987. Instalada em Barueri (SP), a Ceppe Equipamentos Industriais e Comércio dedicava-se ao atendimento à indústria de alimentos e embalagens. Em janeiro de 2002, desviando-se provisoriamente de seu objetivo principal, deu início ao projeto de um utilitário 4×4 leve para uso militar – ou, no jargão das Forças Armadas, uma viatura de transporte não-especializado de meia tonelada. Definido o escopo do veículo, a empresa convidou a Columbus Comercial Importadora e Exportadora, de São Paulo (SP), a participar do seu desenvolvimento. (A identidade entre as duas firmas, que já haviam trabalhado juntas na modernização de carros de combate do Exército Brasileiro e de outros países latino-americanos, vinha da formação comum dos seus quadros técnicos e dirigentes, em ambos os casos oriundos da Engesa.)
O produto do trabalho conjunto, um protótipo construído no Arsenal de Guerra de São Paulo, batizado Marruá, foi apresentado em fevereiro de 2003: tratava-se da reinterpretação do excelente Engesa EE-12, porém com motorização diesel e porte algo maior (14 cm a mais no entre-eixos, 21 cm no comprimento e 7 na largura). Com carroceria de aço, santantônio tubular e portas laterais e capota de lona, o carro foi desenvolvido para as funções de reconhecimento, comunicações e ataque, já tendo sido previstas versões ambulância e alongada com caçamba para carga. Vinha equipado com motor MWM (4 cilindros, 2,8 l, 135 cv), câmbio Eaton com cinco marchas, caixa de transferência de construção própria, freios com assistência hidráulica e duplo circuito (a disco na dianteira), direção hidráulica e suspensão com braços longitudinais e transversais e molas helicoidais. Dados de desempenho divulgados: peso em ordem de marcha de 1.840 kg; carga útil de 500 kg; capacidade de reboque de 500 kg; ângulo de entrada, 64°; ângulo de saída, 34°; rampa, 60%; inclinação lateral, 30%; vau, 60 cm; degrau máximo, 30 cm; autonomia em estrada, 1.000 km.
No segundo semestre de 2003, quando ainda se encontrava em processo de homologação pelo Exército, o Marruá teve o projeto e os direitos de fabricação vendidos à Agrale. Em outubro do ano seguinte o jipe já se encontrava em linha de produção com a nova marca. Ceppe e Columbus continuam a colaborar com as Forças Armadas na concepção de viaturas militares (tais como o Chivunk), além de fornecer para terceiros carcaças blindadas fabricadas em suas instalações industriais (como para o carro-forte Centigon). Também vem prestando assessoria ao Exército Brasileiro e a governos estrangeiros na reforma e modernização das suas frotas de blindados Engesa.
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O primeiro protótipo do Marruá no dia de sua apresentação no Arsenal de Guerra de São Paulo, 6 de fevereiro de 2003 (fonte: site defesanet).

CENTIGON

As origens da empresa transnacional O’Gara-Hess & Eisenhardt remontam a  1876, quando Sayers & Scoville, uma de suas antecessoras, iniciou a fabricação de carruagens nos EUA. Na década de 40 do século seguinte entrou no negócio de blindagens, no qual é hoje uma das maiores fornecedoras mundiais. Sediada na Bélgica, em 2005 mudou seu nome para Centigon, unificando a marca nos sete países onde tem plantas industriais. A filial brasileira foi instalada em 1996 em Barueri (SP), dedicando-se inicialmente à fabricação de vidros balísticos e blindagem de veículos civis. Em 2005 a empresa iniciou a produção de veículos militares, exportando para a Líbia 26 unidades em três configurações diferentes: carro para o transporte de presos (sobre Ford F-550 de fabricação norte-americana), canhão de água e veículo de comando e controle, estes utilizando o chassi 6×4 do caminhão Ford Cargo 2626 nacional. O F-550 não teve alterações significativas em sua configuração original, a menos de blindagens localizadas; os dois outros modelos sofreram intervenções profundas, recebendo carrocerias especializadas e novas cabines. O carro de combate a distúrbios urbanos ganhou tanque com capacidade de 9.000 litros de água e dois tanques de 60 litros para gases e produtos químicos, além de canhão e lâmina de aço para remoção de obstáculos. O segundo modelo, com capacidade para cinco ocupantes, foi equipado com cabine e sala de comando interligadas, seis câmeras com zoom, monitores de TV em LCD com gravador de imagens, ar condicionado, banheiro químico, frigobar e um beliche para descanso da tripulação. Os três modelos foram concebidos no Brasil, com a colaboração de ex-projetistas da Engesa, contratados para o corpo de funcionários da Centigon. Ainda em 2005 a empresa forneceu kits de blindagem para parte da frota Land Rover do exército brasileiro.
Em 2007 atendeu a mais uma encomenda do exterior, fornecendo dois modelos de veículos blindados para combate a tumultos, dessa vez com cabine recuada, construídos sobre chassis International importados: um carro de transporte de pessoal 4×4, com capacidade para 16 homens, e um 6×6 com canhão de água e tanque para 6.000 litros (batizado Manta), ambos equipados com lâminas de aço frontais. Nova versão, denominada Centurion II, foi fornecida no início da década seguinte para a PM do Distrito Federal, montada sobre chassi Mercedes-Benz Axor 3344 6×4. Com capacidade para 21 policiais, estava equipado com canhão d’água com tanque de 4.000 litros, unidade auxiliar de energia e diversas câmeras. Em 2012 a empresa apresentou um carro para transporte de tropa de menor porte. Chamado Alacran, projetado no Brasil com base em modelo equivalente fabricado na filial mexicana, pode ser fornecido em diversas configurações, de acordo com as especificações do comprador: 4×2 ou 4×4, capacidade entre 8 e 12 tripulantes, diferentes níveis de proteção balística e chassis de origem variada. A Centigon também fabrica carros-forte para o transporte de valores, com carrocerias blindadas fornecidas pela Ceppe
<centigon.com.br> 

BISELLI

Fábrica de carrocerias de caminhão e implementos rodoviários fundada em 1961, em São Paulo (SP), por um grupo de antigos sócios da Massari. Com a razão social Biselli Viaturas e Equipamentos Industriais Ltda., a empresa cresceu rapidamente e em poucos anos se tornou uma das quatro maiores do setor. Nos anos 70 começou a produzir carros para transporte de valores e logo passou a fornecer carrocerias e reboques para o Exército e a Marinha. Esses fornecimentos estreitaram o seu relacionamento com as Forças Armadas, que a convidaram a participar diretamente do Programa Militar Brasileiro, em conjunto com outras empresas privadas. Seus primeiros comissionamentos ocorreram em 1973, quando foi encarregada pelo Exército Brasileiro de realizar o repotenciamento dos velhos carros de combate norte-americanos M3A1 Stuart. Estes eram tanques leves sobre esteiras da II Guerra Mundial, cedidos ao Brasil nos anos 50 por conta dos Acordos de Assistência Militar Brasil-EUA. Desatualizados tecnologicamente, equipados com motores radiais a gasolina de elevado consumo e necessitando de peças de reposição não encontradas no mercado, foram escolhidos pelos órgãos de pesquisa e desenvolvimento do Exército para um projeto piloto de modernização, do qual a Biselli e outras empresas privadas foram convidadas a participar.
Os parâmetros e especificações definidos levaram a uma reforma tão profunda que deu origem a um novo tanque – o X1-A1. A modernização envolveu troca do motor por uma unidade diesel Scania de 280 cv, reforço da blindagem, lagartas mais largas e alteração do desenho da carroceria para alojar os novos componentes (especialmente na traseira, que recebeu uma grade horizontal acomodada aos novos radiadores); câmbio e transmissão permaneceram os originais, sendo recondicionados pelo próprio Exército. A torre foi substituída por outra, projetada pela Bernardini, equipada com canhão de 90 mm e moderno sistema ótico de pontaria. Com 100% de nacionalização, este foi o primeiro carro de combate sobre lagartas construído no país.
Após a modernização de 53 unidades, modificações ainda mais radicais foram introduzidas, as principais das quais a transmissão automática Allison e nova suspensão (da Bernardini) com seis roletes de apoio de cada lado, em lugar de quatro. A nova suspensão, por sua vez, obrigou ao aumento das dimensões do veículo, 20 cm mais longo, e à construção de novo casco. A mecânica continuou a mesma, mas foi aplicada uma torre maior, com acionamento hidráulico, fabricada pela Engesa. O novo blindado, com 20 toneladas, acolhia três tripulantes e atingia 60 km/h, com 580 km de autonomia. Sob a designação X1-A2 Carcará, entrou em produção seriada.
Em 1975 foi envolvida no processo (frustrado) de modernização dos tanques Sherman, do Exército. Naquela oportunidade a Biselli foi encarregada de alterar a suspensão do carro, que pouco antes já havia sido remotorizado e submetido a profunda reforma. A partir daí a presença da empresa passou a ser constante nos trabalhos que envolvessem blindagens, se estendendo aos projetos e à construção do lança-foguetes e do lança-pontes derivados do Carcará e, mais tarde, do tanque Caxias (todos fabricados pela Bernardini).
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Tanque X1-A2 Carcará (fonte: site forum.wotbrasil).
Também em 1975 foi contatada pela Marinha para construir um sucedâneo dos anfíbios norte-americanos DUKW, equipamentos da II Guerra ainda em uso pelos Fuzileiros Navais, destinados a ações de embarque e desembarque de tropas, inclusive em situação de mar agitado. Os primeiros protótipos foram concluídos em 1978 e submetidos aos testes usuais, que aprovaram o projeto e sugeriram alterações adicionais. As modificações foram agregadas, mas dos 25 anfíbios programados pela Marinha apenas cinco foram encomendados. Batizado Camanf (de “caminhão anfíbio”), o veículo foi construído sobre chassi Ford F-7000 modificado, com tração 6×6 e motor nacional Detroit Diesel de 145 cv, que através de uma caixa de transmissão GMC acionava as rodas e as duas hélices da popa. Os pneus eram à prova de bala e tinham sistema remoto de regulagem da pressão do ar. Seu casco, fabricado em aço, tinha proa reforçada e guincho na traseira. Os testes da Marinha indicaram o seguinte desempenho: capacidade de carga de 5 t (motorista mais 58 homens; em mar agitado a capacidade era reduzida pela metade), podendo tracionar mais 2,5 t; na terra, velocidade de 72 km/h e autonomia de 430 km (no mar, 14 km/h e 18 horas de autonomia); vencimento de rampas de até 60%.
Naquele período a Biselli projetou seu segundo (e último) veículo automotor – uma “mula mecânica”, segundo o jargão militar uma categoria de carros de construção espartana, baixo peso e sem carroceria ou cabine fechadas, capazes de serem lançados de pára-quedas e eventualmente descartados ao final das ações de combate. O carro trazia um chassi com alta capacidade de torção, bem adaptado às irregularidades do terreno; era acionado pelo motor Volkswagen 1300 refrigerado a ar, que levava o veículo a até 70 km/h, na estrada. Dependendo da carroceria (reduzida ao mínimo essencial), podia transportar quatro pessoas e carga, ou o motorista e um operador de canhão de até 105 mm.
Pressentindo limitações no mercado militar, a empresa buscou diversificar sua atividade principal – a produção de equipamentos de transporte de carga – em 1977 firmando um acordo de cooperação com a italiana Cometto, voltado para a construção de reboques extra-pesados para cargas indivisíveis; a médio prazo seriam também fabricados modelos automotrizes para até 750 t. A recessão econômica, contudo, se avizinhava e o projeto logo foi abandonado. Em 1980 a empresa tentou retornar ao mercado de carros-forte para o transporte de valores, do qual havia se retirado dois anos antes; pretendia se especializar na fabricação de unidades pré-montadas “para rápida colocação sobre o chassi“, mas não teve sucesso.
A Biselli foi uma das primeiras vítimas da desaceleração do Programa Militar Brasileiro. A empresa nunca fez parte do primeiro escalão dos fabricantes de equipamento militar do país, participando marginalmente, como sub-fornecedor na modernização de tanques usados. Os dois únicos veículos pelos quais foi responsável não tinham conteúdo tecnológico significativo nem obtiveram encomendas das Forças Armadas; assim, nunca teve o que oferecer ao mercado externo. Em paralelo, a recessão econômica do início da década de 80 trouxe dificuldades também para seus negócios civis, levando-a a requerer concordata em 1984. A empresa sobreviveu, contudo, mantendo-se como fabricante de equipamentos de transporte. Em 2004 encerrou as portas definitivamente.

 

BERNARDINI

A Bernardini S.A. Indústria e Comércio foi fundada em 1912, em São Paulo (SP), por imigrantes italianos. A empresa se desenvolveu como fabricante de cofres, portas blindadas e móveis de aço. Na década de 60 teve suas primeiras experiências no setor automotivo e na área militar, ao fabricar carrocerias para caminhões dos Fuzileiros Navais e do Exército. Mais tarde (sempre em paralelo à fabricação de cofres), também construiu carrocerias blindadas para  transporte de valores.
A empresa tomaria rumo diverso a partir de 1972, quando foi instada pelo Exército a colaborar na modernização dos tanques M3-A1 Stuart, processo a cargo da Biselli, vindo a partir daí a se dedicar cada vez mais ao segmento militar. Na oportunidade, a Bernardini foi responsabilizada pela construção das suspensões e torre blindada para o novo veículo. As especificações definidas levaram a uma reforma tão profunda que deu origem a um novo tanque, o X1-A1, que evoluiu para o X1-A2 Carcará – primeiro carro de combate sobre lagartas construído no país. Entre 1978 e 1980 o Exército criou mais dois modelos a partir do chassi sobre lagartas do X1-A1, gerando nova família de equipamentos: o Carro Lançador Múltiplo de Foguetes XLF-40 e o Lançador de Ponte XLP-10. O primeiro dispunha de rampa para o lançamento de três foguetes X-40 Avibrás, com alcance de até 65 km, e quatro sapatas hidráulicas para estabilização; apenas um exemplar foi construído. O segundo carregava uma ponte de 10 m de comprimento com capacidade para 20 t, construída em alumínio estrutural, que podia ser lançada em três minutos através de sistema hidráulico totalmente automático; além do protótipo, foram produzidas mais quatro unidades. Derivado do X1-A1, em 1982 foi ainda montado um protótipo de blindado antiaéreo (denominado M3), equipado com mira ótica e quatro metralhadoras (3.200 tiros/min e 750 m de alcance) que, no entanto, não passou da fase de testes.
Em 1984 a Bernardini participaria do desenvolvimento de mais um tanque especializado, o Sherman M4 na versão anti-minas, que também se manteve no estágio de protótipo. Estes blindados médios, chegados ao Brasil em 1943, em plena II Guerra, já tinham sido objeto de duas tentativas de modernização, entre 1969 e 1975 (Ü Exército) e em 1977 (na própria Bernardini, quando foi projetada sua transformação em um lança-pontes de 20 m e capacidade de 30 t). A nova iniciativa envolveu a troca do motor MWM por um Scania de 400 cv, a eliminação da torre e seu canhão e a instalação, na dianteira, de dois roletes anti-minas com três toneladas de peso importados de Israel.
Dado o sucesso da modernização dos tanques Stuart, o Exército resolveu aplicar os mesmos conceitos à sua frota de 250 carros médios M-41 Walker Bulldog, comprada usada dos EUA no início da década de 60. Apesar de serem muito mais modernos do que os Stuart, eram acionados por um motor Continental a gasolina refrigerado a ar de 500 cv, que consumia inacreditáveis 3,3 litros/km. Além disso, suas revisões mecânicas vinham se tornando cada vez mais caras e difíceis pela necessidade de importação de componentes já raros no mercado. A partir de 1980 a frota de tanques começou a ser reformada: o motor foi trocado por um diesel Scania V8 turbinado com 400 cv (elevando a autonomia de 280 para 600 km), foram substituídos caixa, transmissão, lagartas, componentes da suspensão, rádio e sistema de pontaria, todos por outros de fabricação nacional; a blindagem frontal e a torre foram reforçadas e alguns exemplares ganharam saias de aço. O canhão original, de 76 mm, foi usinado e aumentado para 90 mm, permitindo padronizar sua munição com o Engesa Cascavel. O novo tanque recebeu a  denominação M41-C Caxias. A Bernardini produziu cerca de 150 unidades, além de kits de transformação exportados para as forças armadas de alguns países. Os tanques Caxias hoje compõem a maior parte da frota de blindados sobre esteira do Exército Brasileiro.
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Blindado sobre lagartas M41-C Caxias (fonte: site brasilemdefesa).











A experiência adquirida pelo Exército em todas estas realizações permitiu-lhe dar um passo mais ambicioso e projetar, junto com a Bernardini, o primeiro carro de combate sobre esteiras de concepção nacional. A idéia era ter um substituto para o Caxias que conjugasse “estado da arte”, máximo desempenho, confiabilidade e padronização com a mínima dependência externa, necessariamente levando em conta as restrições orçamentárias da Arma. O projeto teve início em 1979; quase cinco anos depois, em maio de 1984, foi feita a apresentação do produto final – o MB-3 Tamoyo (até então conhecido por X-30) – tanque médio de 30 t com 98% de nacionalização (em peso), inspirado no alemão Leopard II, então considerado um dos mais avançados no mundo. Era a seguinte a configuração mecânica do Tamoyo: motor traseiro V8 Scania diesel com dois turbocompressores e 736 cv; caixa de transmissão do Caxias, acoplada ao motor num conjunto de desmontagem rápida; freio hidromecânico com retarader, atuando na transmissão; suspensão por barras de torção e amortecedores, com seis rodas de apoio de cada lado (rodas de direção à frente). A torre, com mecanismo de giro elétrico, era equipada com um canhão de 90 mm; a cabine, para uma tripulação de quatro, dispunha de ar condicionado. O Tamoyo podia incorporar toda a tecnologia de ponta então disponível no setor bélico, tal como computador de tiro, pontaria a laser, proteção QRB (química, radiativa e biológica) e visores infravermelhos.
O projeto do Tamoyo foi elogiado pelo equilíbrio entre atualização tecnológica, simplicidade construtiva e de manejo – características comuns, aliás, no material bélico produzido no Brasil. Esta “simplicidade”, porém, nem sempre atendia ao mercado externo, e para atraí-lo a Bernardini lançou as versões mais sofisticadas Tamoyo II e III, ambas com motor V8 Detroit Diesel importado. A primeira, com potência de 736 cv e transmissão hidromecânica GE, recebeu blindagem composta aço-cerâmica, canhão inglês de 105 mm, visores noturnos, sistemas de estabilização (permitindo o tiro em movimento) e direção de tiro por computador. O Tamoyo III teria um motor com 900 cv, caixa Allison e blindagem ainda mais reforçada, além de ganhar telêmetro laser e todo o restante equipamento já previsto na versão intermediária.
Foram construídos apenas cinco exemplares do Tamoyo: o melhor produto da Bernardini seria, ao mesmo tempo, o seu “canto de cisne”. Em meio a cortes orçamentários e à proliferação da oferta, a baixo preço, de equipamentos estrangeiros usados, no início da década de 90 o Programa Militar Brasileiro entrou em crise, sua sentença de morte chegando com a retirada, pelo governo Collor, do restante apoio ao desenvolvimento nacional de equipamentos militares.
Os dois últimos projetos militares da Bernardini foram viaturas leves de apoio. Em 1985 preparou o jipe Xingu (inicialmente Vitória) para participar de concorrências do Exército e Fuzileiros Navais. Na prática, tratava-se apenas de uma versão militarizada do Toyota Bandeirante, com bitola alargada e três comprimentos de chassi. As alterações eram as usuais para o tipo de veículo: guincho, acoplamento para reboque, para-brisa rebatível, santantônio, faróis militares e suspensão reforçada. Em 1988 a empresa começou a produzir o veículo anti-distúrbio AM-IV 4×4, um pequeno blindado montado sobre o chassi curto do mesmo Toyota, com três portas (uma traseira), escotilha no teto, seteiras, lançadores de granadas de gás, ar condicionado e filtro contra gases na cabine. O carro foi dotado de freios a disco ventilados na frente, embreagem hidráulica e dois tanques de combustível com alimentação pelo interior da cabine. Cerca de 50 veículos foram fabricados, a maior parte exportada para o Chile.
A produção desses carros deu uma sobrevida à Bernardini mas não foi suficiente para sustentar seu parque industrial. Suspenso o apoio financeiro do Exército, logo foi interrompido o desenvolvimento do tanque Tamoyo (situação agravada pela competição suicida da Engesa, que projetava um equipamento concorrente – o Osório). Sem um produto competitivo no mercado externo e sem encomendas internas, a situação da empresa rapidamente se agravou.
Em 1993 sua maior concorrente, a Engesa, encerrava as atividades. A partir de 1996 o Brasil volta a importar excedentes de guerra para equipar suas Forças Armadas, como fazia trinta anos antes. Em 2001, por fim, também a quase centenária Bernardini cerra definitivamente as portas.