domingo, 15 de abril de 2018

ARMAS A BORDO NA GUERRA DO PARAGUAI


Machadinha de abordagem brasileira do perïdo da guerra do ParaguaiAs condições a bordo dos navios de guerra (espaços apertados, o balanço provocado pelas correntes e marés, etc…) dificultavam o uso de armas de fogo, seja pelo tamanho seja pela dificuldade de pontaria. As armas mais utilizadas em caso de abordagem eram as brancas. A machadinha usada a bordo dos navios tinha uma dupla função: era parte do equipamento de uso dos marinheiros. Esta era necessária em algumas ocasiões como quando era necessário se desfazer rapidamente de parte das cordas e mastros de uma embarcação danificados por tempestade ou pelo fogo inimigo. De fato, uma das “escolas” de combate naval – aquela adotada entre outros pelos Franceses e Brasileiros – previa que o fogo fosse feito principalmente contra os mastros dos navios inimigos, como uma forma de se reduzir a capacidade de manobra dos mesmos. Naturalmente, os danos nos mastros teriam que ser remediados o mais rápido o possível, uma das formas emergenciais sendo o descarte da parte danificada. Se a machadinha podia ser usada como ferramenta, ela também podia ser uma arma, e para isso parte das tripulações dos navios a recebiam: eram distribuídas a membros específicos da tripulação. Um manual de artilharia especificava que entre os artilheiros das peças, em caso de abordagem, os primeiros serventes seriam a equipagem da 1a leva de ataque/defesa, os chefes da peça da 2a leva de ataque/defesa e os segundos serventes, equipados de machadinhas, seriam parte da equipe de “reforço de incêndio”, ou seja, mais como membros da equipagem de reparos do que como combatentes, mas mesmo assim prontos para o combate.
Sabre de abordagem modelo norte-americano de 1860, usado pela Marinha Brasileira
O Sabre de Abordagem é outra arma de uso bem antigo na marinha, provavelmente com um tipo mais específico, devido as características do seu uso naval. Os exemplares conhecidos na Europa normalmente têm uma guarda grande, servindo para proteger a mão do combatente (que não usava armaduras), sendo que esta guarda muitas vezes é de latão, para diminuir os efeitos da oxidação causada pelo ar marinho. A lâmina é sempre curta, para não dificultar a esgrima nos espaços apertados de um navio e, normalmente, têm uma certa espessura, para poder ser usada para cortar cordas, etc, como a machadinha. Além disso, tem usualmente uma certa curvatura, para aumentar a eficiência dos golpes de gume. Os regulamentos da Marinha do século XIX previam o uso de sabres de abordagem por dois terços da tripulação de todos os navios de guerra.
Ponta e conto de chuço de abordagem de meados do século XIX.
O chuço de abordagem é uma pequena lança (no máximo com dois metros e meio de comprimento), usado nos navios desde as épocas mais antigas, pois, além de ser uma arma comum em terra (a lança de infantaria), também era baseado em uma ferramenta de uso diário a bordo, o croque. Durante o Império, os regulamentos militares previam o uso de chuços por um sexto das tripulações dos navios, sendo que um manual mais tardio especificava que os porta-cartuchos (serventes dos canhões que transportavam a munição dos paióis para a peça) seriam armados com eles, em caso de abordagem.
Uma arma de fogo desenvolvida especificamente para uso a bordo era o chamado Bacamarte de Amurada. Era de grande calibre, pois seu objetivo era espalhar uma carga de chumbo grosso (de 20 a 40 balins de cerca de 10 mm de diâmetro) contra massas de tropas. Devido a esta poderosa carga, era uma arma muito pesada, havendo exemplares com 15 quilos ou mais de peso. Por causa desse peso a arma chamava-se “de amurada”, pois tinha um espigão central, sobre o qual ela era colocada na amurada de navios, em furos existentes, pois o seu disparo do ombro do atirador era impossível. Apesar da lenda popular atribuir o fato da boca alargada do bacamarte se destinar a espalhar o tiro, isso é incorreto, pois a abertura maior ou menor da boca não fazia diferença na dispersão do fogo. Na verdade, a boca mais larga destinava-se a facilitar o carregamento da arma nas gáveas de um navio, locais problemáticos levando-se em conta o balanço do navio e a tensão do combate. Os manuais da Marinha Brasileira ainda determinavam, em 1857, que cada navio, dependendo da classe, fosse equipado com bacamartes, indo de 8 para cada nau até dois nas barcas. Seu uso continuou até a década de 1870, sendo que posteriormente foram substituídos pelas metralhadoras na mesma função.
Bacamarte de amurada inglês, século XIX, com cano de latão (apropriado para uso naval).

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