A Metralhadora Leve é a base do poder de fogo de um Grupo de Combate, ou da unidade em que este se subdivide, o Escalão. Ela dará a cobertura de fogo, de modo contínuo e sustentado, aos assaltos feitos por estas pequenas frações, bem como será responsável pela Linha de Fogo Defensiva Final, nas ações defensivas, além de ser a principal arma a bater a “Zona da Morte” nas emboscadas por elas preparadas.
Diferentemente das Metralhadoras Médias, as Metralhadoras Leves são armas de emprego individual, ou seja, que não precisam de uma guarnição de dois ou mais homens para colocá-la em regime de funcionamento com aproveitamento máximo, o que é uma de suas grandes vantagens, haja vista que quanto menor uma guarnição a operar uma arma, menor a chance de esta ser detectada, menor a possibilidade de ter sua operacionalidade reduzida pela incapacitação de seus operadores e maior a sua mobilidade no terreno e flexibilidade de emprego.
Um soldado metralhador e um soldado granadeiro (em primeiro plano) dão cobertura ao avanço de um Grupo de Combate.
Um soldado metralhador e seu Grupo de Combate. O baixo peso da arma permite a este mais facilmente acompanhar e apoiar seus companheiros.
A Metralhadora Leve é caracterizada pelo baixo peso da arma em si e de sua munição, que geralmente é a mesma empregada pelo Fuzil de Assalto dos demais integrantes do Grupo de Combate, e pelas dimensões reduzidas quando comparada a uma Metralhadora Média, o que permite uma maior agilidade nos combates de selva, nos combates urbanos e no embarque e desembarque de viaturas, possibilitando ao seu operador estar sempre “colado” com o resto do grupo e em condições de prestar o apoio imediato.
O Exército Norte-Americano foi o responsável pelo conceito e pela massificação do emprego de uma Arma Automática de Apoio de Grupo de Combate, quando na Segunda Guerra Mundial distribuiu os famosos fuzis automáticos BAR à razão de dois por Grupo de Combate, como forma de aumentar o já extraordinário poder de fogo - para a época - destas pequenas frações, que já eram equipadas com os eficientes fuzis semi-automáticos M-1 Garand, carabinas M-1 e submetralhadoras Thompson, tornando este pequeno grupo de indivíduos, composto geralmente por nove a treze homens, apto a realizar, por si só e de maneira eficaz, ações de assalto, defesa e emboscada, com um poder de fogo capaz de eclipsar quase um Pelotão inteiro do Exército Alemão, que dispunha, em sua maioria, apenas de fuzis Mauser de ação manual e de submetralhadoras MP38. Isto, obviamente, se este pelotão alemão não estivesse com o apoio das temíveis Metralhadoras Médias MG42. Mas o fato é que, numa comparação pelotão versus pelotão, o poder de fogo dos norte-americanos era avassalador, em grande parte graças à capacidade de “despejar” fogo automático sobre o inimigo desde pequenas frações como os Grupos de Combate, não ficando sob a inteira dependência do apoio de fogo centralizado das Metralhadoras Médias do Grupo de Armas de Apoio do pelotão.
O pioneiro: fuzil automático BAR
Este novo conceito estabeleceu-se no pós-guerra, tornando as metralhadoras leves absolutamente essenciais à doutrina de emprego de qualquer exército, do bloco ocidental ou não. Neste período, a maioria das Metralhadoras Leves era nada mais do que uma versão com cano pesado e bipé do Fuzil de Assalto padrão empregado pela força armada em questão, disparando em fogo automático e com o ferrolho fechado, sendo alimentado por carregadores destacáveis compatíveis com aqueles utilizados pelo Fuzil de Assalto do restante da tropa. A honrosa exceção do período coube ao Exército Soviético, que usava a Metralhadora Leve RPD, disparando a munição 7,62x39mm da carabina SKS e do então novo AK-47, e com alimentação por cinta de elos metálicos, havendo, porém, uma involução material deste exército, que anos depois passou a adotar a Metralhadora Leve RPK, que era nada mais que um AK-47 com cano pesado e bipé, como as similares ocidentais da época.
A revolucionária – para a época – RPD. Foto: world.guns.ru
Praticamente todo Fuzil de Assalto produzido dos anos 50 até recentemente, tem ou teve sua versão metralhadora leve, sendo esta usualmente a já mencionada adaptação de cano pesado e bipé, tais como o binômio FAL e FAP, armas belgas mundialmente difundidas, sendo a combinação ainda em uso por nosso Exército Brasileiro, os binômios H&K G3 e HK11, e G36 e LMG 36 alemães, os russos AK-47 e RPK, e AK-74 e RPK-74, os americanos M-14 e M14 A1, e M-16 e M-16 SAW, os israelenses GALIL e GALIL ARM, os ingleses SA80 e LSW, entre tantos. Outros, como os austríacos e seu fuzil Steyr Aug, buscaram uma melhor adaptação à tarefa de prover fogo automático de forma contínua e sustentada, fazendo com que o Fuzil de Assalto empregado na função de Metralhadora Leve tivesse o cano com a possibilidade de troca rápida, além de disparar a partir da posição de ferrolho aberto, eliminando assim o fenômeno do “cook-off”, que pode ser traduzido por algo como “cozinhamento”, que nada mais era que o superaquecimento da câmara e do cano devido ao excessivo número de disparos, até um ponto em que as munições alimentadas e trancadas na arma detonassem de forma espontânea quando submetidas a este intenso calor, fazendo com que ocorressem disparos indefinidamente, até que a munição fosse retirada ou acabasse.
Steyr Aug HBAR: a versão Metralhadora Leve do famoso Fuzil de Assalto austríaco.
Com estas melhorias, as Metralhadoras Leves passaram a ter capacidade de fogo sustentável por longos períodos, pois bastava trocar o cano da arma a cada duzentos ou trezentos disparos para que esta ficasse atirando quase que indefinidamente. Restava, todavia, um outro problema, que era o fato de toda Metralhadora Leve produzida até então no bloco ocidental ter um defeito de projeto embutido no seu design que fazia com que, em intervalos que variavam de apenas 20 a 40 disparos, a arma tivesse uma “nega” ou incidente de tiro: acabava-se a munição do carregador. Isto gerava um intervalo de dois a quatro segundos com cobertura de fogo e depois quase três segundos, que é o tempo para um soldado bem treinado remuniciar a arma, sem cobertura alguma. Qualquer um pode imaginar as conseqüências de parte dos integrantes de um Grupo de Combate fazer um lanço em campo aberto, avançando sobre a posição inimiga sob a cobertura do fogo automático de suas Metralhadoras Leves abrigadas no terreno quando, no meio do caminho, estas têm que parar para recarregar. Aí, as duas soluções óbvias disponíveis são, ou façam-se lanços mais curtos, dentro do tempo disponível de cobertura de fogo, permitido pelo tamanho do carregador da arma, ou faça com que as metralhadoras disparem de forma intercalada, disparando uma enquanto a outra remunicia, o que exige grande coordenação e reduz o volume de fogo despejado no alvo. Aí, os dois obstáculos táticos que se impõe e que podem ter conseqüências desastrosas são, respectivamente: e se o terreno não oferecer cobertura ou abrigo para lanços curtos? E, e se a Metralhadora Leve que se encontra atirando tiver uma pane mecânica ou incidente de tiro enquanto a outra ainda está remuniciando?
Um soldado metralhador norte-americano armado com uma M-240B, uma versão melhorada de nossa conhecida MAG, dá cobertura ao avanço de seus companheiros pelas ruas do Iraque.
Para solucionar estes problemas, adotou-se a alimentação por cinta de elos metálicos também para as Metralhadoras Leves, característica esta que era, até então, exclusiva das Metralhadoras Médias e das Pesadas. Daí em diante estas armas passaram a ser como que versões reduzidas das Metralhadoras Médias, tendo todas suas vantagens características, acrescidas ao menor peso, à maior maneabilidade e ao porte individual, resultantes do uso de uma munição de menor peso. Como era agora necessário agüentar os rigores de prolongados períodos de tiro, e como não havia mais a necessidade de dividir certos componentes como a caixa de culatra e o sistema de alimentação com os Fuzis de Assalto, a construção destas armas passou a espelhar-se em suas irmãs maiores, usando resistentes caixas de culatra usinadas em aço e peças menores mais rústicas, aumentando o peso destas armas, o que acabou por trazer um efeito muito positivo. As Metralhadoras Leves anteriores eram, de fato, leves. Tão leves que quando disparavam seus projéteis dispersavam-se rapidamente, fazendo com que a distância em que os disparos pudessem ser mantidos agrupados fosse muito curta, o que reduzia a possibilidade de, por exemplo, concentrar um grande volume de fogo supressivo em uma trincheira inimiga em distâncias maiores que 200m. Esta dispersão era causada pelo recuo da arma, que gerava um movimento a cada tiro subseqüente. Uma forma de reduzir esta dispersão é aumentando o peso da arma, tornando-a mais estável, o que acabou por ser feito, dando a possibilidade de se manter uma concentração de fogo precisa a distâncias maiores.
Estes são os motivos pelos quais as Metralhadoras Leves disparando munições como o 5,56x45mm, alimentadas por cintas de elos metálicos e com canos de troca rápida dominam os arsenais dos exércitos mais atualizados, relegando armas como o nosso jurássico FAP às vitrines de seus museus. E, tendo explicado o “o quê” e o “porquê” acerca de Metralhadoras Leves, vamos a elas.
A FN Herstal MINIMI
Versão inicial da FN Herstal MINIMI. Note a coronha metálica tubular fixa e o cofre plástico para 200 cartuchos.
A MINIMI, também conhecida como M-249 nas forças armadas norte-americanas, é hoje a mais difundida Metralhadora Leve, estando em dotação pelos exércitos de inúmeros países, tais como, Estados Unidos, Inglaterra, França, Canadá, Itália, Bélgica, Austrália, entre inúmeros outros. Foi a arma Metralhadora Leve de dotação do Exército Israelense até que este desenvolve-se a IMI NEGEV, e é a arma de apoio de Grupo de Combate do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil. Aliás, abro aqui um parêntese para salientar que o Corpo de Fuzileiros Navais sempre foi muito mais bem equipado que a Infantaria do Exército Brasileiro. Vem à minha memória quando, nos idos de 1994, como Cadete da AMAN, eu passava por uma instrução de ambientação com equipamentos de visão noturna e com rádios criptografados no parque do Curso Básico, e adivinhem quem estava lá para ministrar a instrução? O pessoal do CFN, é claro, pois nem na AMAN, a “top”, “best of the best”, em termos de Unidade do Exército Brasileiro, onde são formados seus Oficiais de carreira e futuros Comandantes, não havia um mísero rádio criptografado ou óculos de visão noturna representante do “estado da arte” para mostrar aos instruendos. Mas sigamos.
Versão moderna da FN Herstal MINIMI. Note a telha protetora sobre o cano, a coronha retrátil e a empunhadura vertical afixada ao guarda-mão. A arma está equipada com um visor térmico AN/PAS-13 TWS.
A MINIMI tem suas origens nos idos de 1974, quando o engenheiro Ernest Vervier, da FN Herstal da Bélgica, resolveu desenvolver uma arma automática de apoio que fosse tão eficiente quanto a famosa MAG produzida por aquela empresa, mas que fosse mais leve e fácil de operar por um só homem, disparando o cartucho calibre 5,56x45mm M193 do M-16, cujo projétil de 55 grains lançado a 990m/s gerava apenas 40% do recuo da munição 7,62x51mm OTAN tipo M80, que utilizava um projétil de 145 grains lançado a 850m/s. Interessante notar a visão avançada desta empresa ao desenvolver esta arma antes mesmo que a munição 5,56x45mm fosse adotada como padrão da OTAN.
Para a sorte da empresa, no ano de 1976, as forças armadas norte-americanas lançaram um programa para verificar a viabilidade de uma Arma Automática de Grupo de Combate (SAW – Squad Automatic Weapon) leve, operável por um só homem e com capacidade de fogo efetivo até 1000m. Para este programa candidataram-se o Ballistics Laboratory de Aberdeen, com o XM106, uma versão do M-16 disparando com ferrolho aberto, com um cano pesado de troca rápida, e alimentado pelo carregador padrão de trinta cartuchos, porém numa montagem com três destes carregadores soldados lado a lado, de forma a facilitar o remuniciamento e aumentar o poder de fogo; o Rodman Labs, com a XM248, uma arma com sistema de alimentação giratório movimentado por um duplo sistema de pistão a gás, utilizando uma cinta de elos metálicos com munição calibre 5,56x45mm, e disparando por ferrolho aberto; a Heckler & Koch, com a XM262, que evoluiu e tornou-se a H&K23; e, por fim, a FN Herstal, com a XM249, a MINIMI, desenvolvida dois anos atrás pela empresa.
Metralhadora Leve Heckler & Koch HK23
O programa seguiu com infindáveis testes que envolviam inúmeras sessões de fogo contínuo, com limpeza da arma somente a cada dois mil tiros e com proibição do uso de óleos ou lubrificantes na arma, fazendo com que as provas de tiro fossem “em seco”. Foram feitas sessões para se verificar o comportamento das armas em comparação com as metralhadoras médias, com testes envolvendo precisão e dispersão, onde se descobriu que os efeitos de ventos cruzados na munição de 55 grains, calibre 5,56x45mm, tipo M193, fazia com que ela se desviasse lateralmente do alvo de maneira quase que similar à munição de 145 grains, calibre 7,62x51mm, tipo M80 padrão da OTAN, inclusive em longo alcance, ou seja, a mais de 600m, sendo que a nova munição 5,56x45mm belga, utilizada para fins de demonstração e que acabou sendo adotada pela OTAN sob a designação SS109, a qual utilizava um projétil mais pesado, de 62 grains, apresentou comportamento idêntico ao da 7,62x51mm OTAN neste quesito. As trajetórias balísticas das munições M193 e M80 eram virtualmente idênticas até os 600m, e das munições SS109 e M80 idênticas até os 800m. O poder de penetração da munição SS109, com sua ponta de aço, mostrou-se equivalente ao da munição M80 em todas as circunstâncias analisadas. Estes resultados, somados à excelente confiabilidade demonstrada nos testes de campo em comparação com as demais candidatas, encorajaram o US Army a adotar a Arma Automática de Grupo de Combate oferecida pela FN Herstal, junto com o novo e menor calibre para esta finalidade, representado pela nova munição SS109. Assim, depois de um grande período de avaliação operacional, no ano de 1984, a FN Herstal MINIMI, agora oficialmente denominada M249 SAW, começou a ser distribuída pela tropa, sendo a 82ª Divisão Pára-quedista a primeira a recebê-la.
M-249 SAW em sua versão inicial. Note que a arma não tem a telha protetora sobre o cano e utiliza um quebra-chamas curto de desenho belga, diferentemente das versões atuais, que utilizam o protetor térmico sobre o cano e um quebra-chamas idêntico ao do Fuzil de Assalto M-16 A2.
A Metralhadora Leve MINIMI funciona por tomada de gases, com um êmbolo solidário movimentando o transportador do ferrolho, que é do tipo giratório, com dois grandes ressaltos de trancamento, num mecanismo originado na metralhadora LEWIS da 1ª Grande Guerra e copiado pelo pioneiro Fuzil de Assalto FG-42, sendo usado posteriormente na famosa Metralhadora Média M-60. Logo após o evento de tomada de gases há uma válvula de controle de pressão com um grande botão de ajuste de duas posições, sendo a posição aberto para disparo com a arma limpa e em condições normais, o que confere à arma uma cadência cíclica de 700 disparos por minuto, e a posição fechado, com o aproveitamento integral dos gases, para disparo com a arma extremamente suja ou em ambientes fechados (como, por exemplo, a partir do interior de um blindado de transporte de tropas), que produz uma cadência de 1.100 disparos por minuto.
FN Herstal MINIMI, versão PARA. Note o grande botão regulador de gases, em formato de disco, logo abaixo do cano. A alça de transporte, que também serve para o manuseio do cano quente durante as trocas rápidas, encontra-se estendida.
A arma possui um cano de troca rápida, sendo que um soldado treinado consegue efetuar a substituição de um cano “pegando fogo” por um devidamente resfriado em menos de oito segundos e sem o uso de luvas, para isso devendo pressionar o grande botão em forma de lingüeta na junção do cano com a caixa de culatra e, segurando pela alça de transporte solidária ao cano, puxá-lo para frente retirando-o e colocando outro através do procedimento inverso. Como a arma dispara por ferrolho aberto, não há o risco de “cook-off”. Existe uma trava de segurança na forma de um botão arredondado sobre a empunhadura da arma, que se movimenta em sentido transversal a esta, para travar o ferrolho em posição e assim impedir o disparo acidental. Também como item de segurança, há um “dente” que captura o ferrolho se este não foi para trás o suficiente para ser capturado pelo mecanismo de gatilho, porém o foi para alimentar uma nova munição na câmara, evitando assim que uma arma muito carbonizada tenha a pane de disparar incessantemente e independente de comando do gatilho.
A Metralhadora Leve FN Herstal MINIMI em missão de apoio de fogo contínuo: ela se encontra afixada a um tripé, para garantir maior estabilidade e precisão a longas distâncias. A arma está tendo seu cano substituído pelo atirador, sendo que a facilidade com que este desenvolve esta operação é tamanha que ele nem sai da posição de tiro.
A alimentação é feita pelo lado esquerdo da arma, através de uma cinta de elos metálicos que usa os elos modelo M27, que nada mais são do que uma versão miniatura do elo M13, o qual é usado por praticamente todas Metralhadoras Médias de fabricação ocidental, tais como a MAG, a M-60, a HK21 e a MG3, esta última a famosa MG42 alemã da Segunda Grande Guerra, porém recalibrada para o 7,62x51mm OTAN. A cinta de elos metálicos normalmente é composta por várias seqüências de uma combinação de cinco munições, esta consistindo em quatro munições comuns, com projétil SS109 de 62 grains, e uma munição traçante, com projétil L110 de 64 grains, sendo que um total de 200 cartuchos vem acondicionado em um cofre plástico, o qual é afixado na parte inferior da arma através de um sistema de engate rápido. A prática demonstrou que esta caixa plástica é um pouco incomoda nos longos deslocamentos a pé, batendo contra o corpo do combatente quando a arma está em bandoleira, sendo também muito pesada e barulhenta para as patrulhas na selva. Para sanar estes problemas foram criados dois novos cofres de munição em tecido, com capacidades para 100 e 200 cartuchos, sendo que só o engate rápido destes é feito em plástico. Com isto, o combatente com a arma em bandoleira não é mais importunado pelo incômodo bater do rígido cofre plástico de munição contra seu corpo, ao mesmo tempo em que o combatente fazendo longas patrulhas pode optar por afixar o menor e mais leve cofre de 100 cartuchos à arma, tornando menos cansativo o deslocamento com a arma em posição de pronto uso, enquanto utiliza os cofres de 200 cartuchos para munição reserva, todos bem mais silenciosos.
Metralhadoras Leves FN Herstal MINIMI nas versões PARA (acima) e SPW (abaixo). Note os cofres de munição em tecido com capacidade para 100 cartuchos. Estes pesam 1,25kg carregados com 100 cartuchos de munição SS109. Bem menos que os 2,6kg que pesam o cofre de tecido para 200 cartuchos carregado com a mesma munição, ou ainda os 2,75kg do cofre plástico para 200 cartuchos, carregado. Note também as coronhas retráteis na posição recolhida.
A carga normal de um combatente armado com uma Metralhadora Leve MINIMI é de 600 cartuchos, sendo um cofre com 200 cartuchos preso à arma e mais dois cofres de 200 cartuchos presos à veste multifuncional, ou em bolsos específicos para uso em conjunto com o cinturão NA. O menor peso da munição é uma vantagem patente para o combatente, pois enquanto um cofre de 200 cartuchos de munição 5,56x45mm pesa 2,75kg, um cofre de 200 cartuchos de munição 7,62x51mm pesa 5,5kg. Assim sendo, há uma diferença de quase 14kg numa carga de 1000 cartuchos, o que mostra o quão importante é o advento do emprego de munição de menor calibre, neste tipo de arma, para as tropas não blindadas ou motorizadas, tais quais as de infantaria pára-quedista, de selva ou de montanha, que contam tão somente com os próprios pés como forma de deslocamento durante a maior parte do tempo de emprego. O menor peso da munição garante um considerável aumento do poder de fogo da Metralhadora Leve, graças à maior quantidade de munição disponível considerando o peso carregado, o que é de extrema importância para uma arma que tem como uma de suas principais funções disparar de forma incessante a fim de manter o inimigo “de cabeça abaixada”, cobrindo o avanço dos demais combatentes.
Em situações emergenciais a MINIMI pode ser alimentada por carregadores modelo M-16 padrão OTAN (STANAG), o que faz com que sua cadência de tiro seja aumentada para 1.100 disparos por minuto com o regulador de gases na posição aberto, causando desgaste prematuro na arma e reduzindo sua vida útil, na medida em que o ferrolho desloca-se com maior velocidade e sem resistência, pois não precisa tracionar a cinta de munição, e os componentes do sistema de alimentação dos elos metálicos ficam funcionando “em seco”, para o que não foram projetados. Para atenuar este problema, a arma pode ser opcionalmente dotada de um sistema de amortecimento hidráulico, que ajuda a estabilizar a cadência de tiro da arma, ao mesmo tempo em que reduz o estresse nas partes móveis. Um sistema de tampas contra poeira e detritos, móveis e articuladas entre si, impede a entrada de sujeira no mecanismo, servindo também para impossibilitar que a metralhadora seja simultaneamente alimentada pela cinta e pelo carregador. Como segurança há uma lingüeta que aparece na lateral direita da tampa do mecanismo de alimentação sempre que a arma encontra-se alimentada com uma cinta de elos metálicos e pronta para o tiro.
A MINIMI possui um sistema de miras aberto, composto por uma massa de mira ajustável em altura, a qual é protegida por um anel metálico e afixada em um poste sobre o evento de tomada de gases, sendo solidária ao cano removível, o que permite que a visada a partir de cada cano seja finamente ajustada pelo atirador, compensando por eventuais variações de fabricação do mesmo. A alça de mira é do tipo rampa deslizante, com orifício de visada tipo “peep sight” e regulagens de 300 a 1000m, em incrementos de 100m. Pode ainda receber inúmeros acessórios para visada, tais como lunetas, intensificadores de luz, entre outros, os quais são afixados em um trilho tipo Picatinny opcionalmente montado sobre a tampa articulada de alimentação da cinta de elos metálicos.
Três modelos de coronha retrátil disponíveis para a Metralhadora Leve MINIMI. Sendo, de cima para baixo: a primeira, similar à do Fuzil de Assalto M-4, é usada pelo Exército Canadense. O segundo modelo é o comumente usado nas versões PARA e SPW. O terceiro modelo é um tipo em teste para o US Army, que não necessita ser girado 90º para travar na posição aberta.
A coronha padrão é feita em polímero, o que contribui para o reduzido peso da arma. Há a opção de uso de uma coronha retrátil, para tropas que normalmente embarcam e desembarcam de apertadas viaturas blindadas ou aeronaves. Esta coronha é feita em metal tubular, possuindo um mecanismo giratório que, na posição retraída, aloja os tubos componentes da coronha na lateral da caixa de culatra, numa posição horizontal. Para estendê-la basta puxá-la e girar 90º no sentido horário, fazendo com que esta trave na posição aberta, com os tubos em alinhamento vertical. Existem dois orifícios reforçados de afixação, um à frente do guarda-mão e abaixo do cilindro de gases, e o outro à frente e acima do gatilho, que permitem à arma ser utilizada em conjunto com tripés ou afixada em reparos articulados de veículos.
A Metralhadora Leve MINIMI pode ser encontrada em cinco versões, a saber:
M-249 SAW, “Standard” ou Convencional
Metralhadora Leve M-249. Note o protetor térmico sobre o cano, a coronha em polímero e o cano longo com quebra-chamas padrão M-16. Bem visível está o orifício de fixação da arma em reparos do tipo tripé ou de veículos, entre o guarda-mão e o bipé. O outro orifício fica logo acima e à frente do gatilho.
É a versão em tamanho dito “normal”, com um cano de 465mm de comprimento e 1,8kg de peso, e normalmente empregando a coronha fixa em polímero, o que lhe confere um comprimento total de 1040mm e um peso total de 7,1kg, sem munição. Este modelo foi adotado por inúmeras forças militares, tais como os EUA, onde é conhecida como M249, a Austrália, onde é denominada F-89, o Canadá, onde é conhecida como C9 LMG e C9 A1, a Coréia do Sul, que a chama de K3, e a Bélgica, Itália, Argentina, CFN da Marinha do Brasil, entre outros, que a chamam de MINIMI. Há versões com este comprimento de cano e que empregam a coronha retrátil, o que aumenta seu peso para 7,3kg.
Metralhadora Leve C9 A1 do Exército Canadense. Note a coronha retrátil similar àquela do Fuzil de Assalto M-4, a luneta de tiro ELCAN e o suporte para adaptação da lanterna Surefire, do lado esquerdo, e do apontador laser AN/PEQ-2, do lado direito. A arma usa um cofre de tecido para 200 cartuchos e tem o acabamento verde para facilitar a camuflagem. Diferentemente da M-249 SAW, ela não tem o protetor térmico sobre o cano.
MINIMI PARA
FN Herstal MINIMI modelo PARA. Note a coronha retrátil, o cano de menor comprimento e o protetor térmico sobre o cano. Ela também possui os orifícios para fixação em tripés e veículos.
É a versão “encurtada”, com cano de 349mm de comprimento e 1,6kg de peso, normalmente utilizando a coronha retrátil, que lhe confere um comprimento total de 914mm com a coronha estendida, e 766mm com a coronha retraída. Seu peso fica nos 7,1kg, sem munição, e seu alcance efetivo cai de 1000m para 800m, dado o menor comprimento do cano. É a única versão adotada pelo Exército Inglês e pelo Exército Francês, que consideram ser este o compromisso ideal entre tamanho, peso, portabilidade e eficiência. Também é dotada pelo Canadá sob a denominação C9 A2.
Metralhadora Leve C9 A2 do Exército Canadense. Como sua irmã maior, ela também conta com a coronha retrátil similar àquela do Fuzil de Assalto M-4, a luneta de tiro ELCAN e o suporte para adaptação de acessórios, estando equipada com um apontador laser AN/PEQ-2 do lado esquerdo. Ela também tem um cofre de tecido para 200 cartuchos e o acabamento verde.
MINIMI SPW
FN Herstal MINIMI modelo SPW. Note a coronha retraída, o cano de menor comprimento, o guarda-mão com os trilhos Picatinny equipados com empunhadura vertical e defletores de calor nas laterais, e o protetor térmico sobre o cano. Esta versão não possui os orifícios para fixação em tripés e veículos.
A versão SPW, ou Special Purpose Weapon, que pode ser traduzido por Arma de Emprego Especial, foi desenvolvida no início dos anos 90, a fim de atender aos requisitos do United States Special Operations Command (USSOCOM), que demandavam por uma Metralhadora Leve ainda mais leve e compacta que a MINIMI. Para atender a tais requisitos, a FN Herstal suprimiu o sistema de alimentação por carregador modelo M-16 padrão OTAN (STANAG), passando a arma a ser alimentada tão somente por cinta de elos metálicos; eliminou os orifícios de afixação para tripés e reparos; colocou a coronha retrátil como padrão; introduziu um guarda-mão composto por três trilhos Picatinny, os quais podiam receber defletores de calor, empunhadura vertical, apontador laser e lanternas, entre outros acessórios; e, por fim, desenvolveu um novo cano com ranhuras longitudinais destinadas a reduzir o peso e aumentar a capacidade de resfriamento deste componente crítico do armamento.
Combatente emergindo da água com uma Metralhadora Leve Mk 46 Mod. 0 equipada com visor Aimpoint Comp M2 e coronha retrátil. Note o cano com as ranhuras longitudinais para reduzir o peso e facilitar a refrigeração.
Com todas estas mudanças, a Metralhadora Leve MINIMI SPW ficou com 908mm de comprimento com a coronha estendida, e 762mm com a coronha retraída. Seu cano de 406mm pesa apenas 1,04kg, o que, com as demais mudanças mencionadas, reduziu o peso total da arma para meros 5,75kg. O alcance efetivo é de 800m, mas dado o baixo peso, a dispersão é maior. É uma arma mais apropriada para as menores distâncias e altas velocidades dos combates urbano e de selva, dada a compaticidade, maneabilidade, baixo peso e grande poder de fogo.
MINIMI Mk 46 Mod. 0
Mk 46 Mod. 0, a versão usada pelo SEAL. Note a coronha retrátil, o cano de menor comprimento com as ranhuras longitudinais e os defletores de calor nas laterais do guarda-mão, afixados aos trilhos Picatinny. Ela é de uma versão mais atual e está equipada com uma coronha retrátil, pouco diferindo da SPW. Na realidade, as únicas diferenças são o uso, nesta versão, do trilho Picatinny sobre o cano, ao invés do protetor térmico da SPW, e o acabamento anti-corrosivo mais elaborado. Bem visível nesta foto está a ausência de receptáculo para carregadores do tipo M-16, que nas versões M-249 e PARA fica logo abaixo da janela de inserção da cinta de munição.
É a versão da Metralhadora Leve da FN Herstal adotada pelos SEAL da US Navy. É basicamente uma MINIMI SPW com a coronha fixa em polímero, sem a alça de transporte e com um melhor acabamento anti-corrosão. As medidas e pesos são os mesmos da citada versão, da qual também mantém o cano de baixo peso. Já pude observar versões da Mk 46 Mod. 0 empregando a coronha retrátil, dificultando a tarefa de diferenciá-la de sua similar SPW.
Versão inicial da Mk 46 Mod. 0, com a coronha em polímero.
Outra vista da Mk 46 Mod. 0 .
Mk 46 Mod. 0 com a tampa de alimentação na posição aberta, pronta para receber uma cinta de munição.
M-249 PI
M-249 PI. Ela é basicamente uma MINIMI modelo PARA com o guarda-mão de três trilhos Picatinny da versão SPW.
A versão PI, de “Product Improved”, ou Produto Aperfeiçoado, é a última atualização da M-249 SAW do US Army, com melhorias introduzidas após o “feed-back” dos soldados envolvidos nos combates no Iraque. A arma recebeu um guarda-mão com três trilhos Picatinny, uma coronha retrátil e o menor cano da versão PARA. O novo guarda-mão normalmente é usado em conjunto com uma empunhadura vertical, o que não permite que o bipé seja totalmente dobrado e armazenado sob o cano. Na realidade este detalhe é insignificante, pois em combate, no corre-corre e com as freqüentes mudanças de posição, não há tempo para ficar dobrando e desdobrando o bipé, sendo o normal deixá-lo estendido.
Detalhe do guarda-mão de três trilhos Picatinny da M-249 PI. Note que ela usa o mesmo protetor térmico sobre o cano da tradicional M-249. Como ela está sem a empunhadura vertical, o bipé pode ser totalmente dobrado e alojado sob o cano.
Outra vista da M-249 PI, a nova Metralhadora Leve do US Army.
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