quinta-feira, 29 de março de 2018

Mìssil anti-navio AS 34 Kormoran

 

O Kormoran (corvo-marinho) é um míssil anti-navio de curto alcance guiado por radar ativo tipo ar-superfície, com capacidade qualquer tempo e modo "dispare-e-equeça".
O programa foi iniciou em 1962 quando a Bölkow KG pediu ao governo alemão um estudo chamado "As capacidades e limitações dos mísseis ar-superfície". Estudos paralelos foram realizados pela Nord Aviation (agora Aeropastiale) baseados no projeto AS33, financiado pela França e Alemanha e no seeker da Compagnie de Télégraphie sans Fils (CSF), agora parte da Thales. A MBB e a Nord já trabalharam antes no míssil AS.30, AS.33 e AS.34. Engenheiros franceses trouxeram o seu know-how e assistência técnica, em particular no domínio do sistema de orientação e propulsão.
Em 1967, a Messerschmitt-Bölkow-Blohm GmbH - MBB (agora LFK da Daimler-Benz Aerospace, parte da EADS) foi designada contratante principal. O Kormoran seria um míssil derivado do AS 34 francês com o sistema de navegação inercial do míssil AS 33. O míssil era parte de um requerimento da marinha alemã de um míssil projetado para defesa costeira e para ser levado pelo F-104G Starfighter. O míssil foi projetado para atender as necessidades da aviação naval alemã (Marineflieger). A Aviação Naval antecipou a ameaça soviética no mar Báltico no inicio da década de de 1960, em um local de operação também cheio de ilhas e perto da costa.
Os ensaios de voo começaram na primavera de 1970, mas vários atrasos levou a entrada em serviço em dezembro de 1977. Os testes foram completados em 1974 e o contrato de produção assinada em 1976 para 350 mísseis AS 34 Kormoran 1 e instalação em 56 caças F-104G por 72 milhões de Libras. Em 1978, o esquadrão MF 2 baseado em Eggbeck e equipados com F-104G foi a primeira unidade operacional com o Kormoran. A produção continuou até 1983. Embora a França participasse do programa, o governo não comprou o míssil.
Uma versão melhorada chamada Kormoran 2, iniciou o desenvolvimento em junho de 1983 com entrando em serviço em 1991. As melhoria incluíam eletrônicos digitais, seeker atualizado e cabeça de guerra maior e maior alcance.

Um Kormoran 1 de testes em um F-104G.

Um Kormoran 1 atingindo um alvo durante os testes em 1977.

Um F-104G disaprando um Kormoran 1.

O F-104G podia levar dois Kormoran. Os F-104G foram depois substituídos pelos Tornados IDS na marinha alemã.

Descrição
O Kormoran 1 tem um corpo cilíndrico com quatro asas deltas em cruz no meio do corpo e quatro barbatanas de controle e estabilização na traseira. O míssil tem 4,4 metros de comprimento, diâmetro de 34,5 cm, envergadura de 1,0 metro e peso de 600kg.
O míssil tem projeto modular com três seções: nariz com radar ativo  RE 576 da Thomson-CSF com busca em dois eixos, seção de cabeça de combate com cabeça de guerra, espoleta e mecanismo segurança e armação; e a seção de propulsão com dois motores, giroscópios, computador de guiamento, radar altímetro, fonte de energia e atuadores.

Corte interno do Kormoran 1.

A cabeça de guerra semi-perfurante da MBB Schrobenhausen pesa 165kg com 56 kg de explosivo. A cabeça de guerra é acionada por espoleta de impacto com atraso para explodir no meio do navio alvo, a cerca de 4-6 metros após o impacto. Pode penetrar até 12 mm de aço inclinado a 60 graus. Ao redor da cabeça de guerra ficam 16 cargas radiais chamadas P-Charges. Na explosão, as P-Charges se espalham em direção radial a 2-3 mil metros por segundo, penetrando até sete anteparas ou 70-90mm de aço.
A propulsão é iniciada por dois motores de aceleração (booster) SNPE Prades queimando por um segundo, com um empuxo total de 2.750kgf cada. É seguido por um motor de sustentação de combustível sólido SNPE Aeolus IV com 285 kgf que queima por 100 segundos instalado entre os dois booster. O booster acelera o míssil até uma velocidade alta subsônica de Mach 0,9 a Mach 0,95 (1.160km/h) que é mantido pelo motor de sustentação. O alcance é de 23 km se disparado a baixa altitude e 30km se disparado a média altitude (30 mil pés). O alcance mínimo é de 8km.
O míssil usa guiamento inercial de meio curso com guiamento por radar ativo na fase final. Após o disparo, o míssil voa a uma altitude de cruzeiro a 30 metros com apoio de um sistema inercial da StenaBodenseewerk , acoplado a um radar altímetro modificado da TRT. Os dois atuam sobre as aletas cruciformes na cauda para manter a altitude e direção. Após trancar no alvo, o inercial é controlado pelo radar e corrige a azimute e alcance com os dados do radar. A curta distância do alvo, o míssil desce para voo final a cerca de 3-5 metros para atingir o alvo logo acima da linha d'água e reduzir o risco de interceptação.
O Kormoran foi projeto especificamente para um caça voando baixo fazendo um "pop-up" pouco antes do disparo, antes de ser detectado pelo alvo (20km a 30 metros de altura). O motor é ligado ainda na aeronave sendo disparado por trilho. A aeronave tem que estar voando acima de Mach 0,6. O míssil não cai antes de ligar o motor, não sendo adequado para ser disparado por aeronaves lentas. O Kormoran foi proposto para armar o S-3A Viking que poderia ser comprado na época pela Alemanha, mas era muito lento para disparar o míssil.
Para disparar o Kormoran, a aeronave tem que receber um Position and Homing Indicator (PHI). As informações de disparo são obtidas pelo radar da aeronave, sistema de navegação, e envia os dados para o computador do Kormoram. Sem apoio do radar, o PHI usado com Computer Co-ordinated Data (CCD) e um Vector Addition Unit (VAD) para passar os dados para o míssil.
Os modos de disparo são:
- Radar lock on com disparo independente com míssil. É o modo de curto alcance com o alvo é trancado com o míssil ainda na aeronave (LOBL) ou com o radar ligado logo após o disparo.
- Aquisição com radar da aeronave. A aeronave se aproxima bem baixo para escapar da detecção, com apoio PHI e radar desligado. Com o radar ligado, o alvo é adquirido e a posição entrados no PHI. Com o radar desligado e aeronave toma posicionamento ótimo para o disparo. Os dados iniciais são transmitidos para o míssil. Assim que o míssil é lançado, a aeronave foge, saindo do alcance das defesas inimigas. O míssil voa por inercial e a certa distancia o radar é ligado. Ao trancar no alvo passa a corrigir a azimute até o impacto.
- Modo visual com o piloto apontado para o alvo e disparando, com o radar ligando logo após o disparo. Esse modo é útil para alvos de oportunidade, ou em ambientes com muita interferência eletrônica, ou defeito no radar da aeronave.


Modo de disparo com aquisição de radar. Após adquirir o alvo, o míssil é disparado a 30 metros de altura (1) e a aeronave foge após o disparo (2). O míssil voa a 15 metros durante a fase de cruzeiro ligando o radar em uma posição pré determinada (4) a cerca de 5-7km do alvo. Após trancar no alvo o míssil desce para 2-5 metros). O míssil corrige a posição do alvo em relação a posição detectada pela aeronave e onde deveria estar quando ligou o radar (6). O Kormoran foi projetado para as condições do Báltico onde a marinha alemã considera que haveria muitos obstáculos, navios amigos, contornos da praia e ameaças. O disparo seria a curta distância para garantir que trancaria no alvo planejado. A aeronave deveria ser rápida e voar baixo durante todo o trajeto.
O Kormoran 2 foi proposto para equipar os Tornado IDS da Aviação Naval alemã. O Kormoran 2 é uma modernização do Kormoran 1, com a mesma estrutura e radome mais curto. O novo míssil recebeu eletrônicos digitais, novo seeker, novo piloto automático, dando espaço para uma cabeça de guerra maior de 220kg e aumentando o peso total para 630kg. A cabeça de guerra leva 80 kg de explosivos. O booster é mais potente aumentando o alcance para 35km (55km a média altitude) e permitindo o disparo de aeronaves mais lentas como o Atlantique. O escape passou a ter quatro saídas. Os eletrônicos tem melhor resistência a interferência eletrônica e as novas capacidades incluem melhor seleção de alvo e capacidade de disparo em salva contra o mesmo alvo.
Os testes de modelo iniciou em 1985 e o primeiro voo foi em 1986. Em dezembro de 1987 ocorreu o disparo de um modelo final. Em 1989 o míssil estava pronto para produção. A entrada em operação foi em 1991. Foram modernizados aproximadamente 140 mísseis para o padrão Kormoran 2 para a marinha alemã, apesar do requerimento ser de 262 mísseis.

Maquete de um Kormoran 2 mostrado durante a feira aérea de Paris em 1997. A traseira mostra os quatro escapes do motor de sustentação e o escape central do motor de aceleração.

Usuários
A marinha alemã comprou 350 Kormoran 1 em 1977 para armar os F-104G e depois os Tornados IDS. A Itália comprou 60 Kormoran 1 para os seus Tornados IDS. A produção do Kormoran 1 parou em 1983. Até 1996, 18 Kormoran foram disparados em exercícios no mar Mediterrâneo. O custo estimado do Kormoran 1 em 1987 era de US$ 450 mil enquanto o Kormoran 2 seria de US$ 575 mil.
A produção dos 140 Kormoran 2 da Marinha Alemã terminou em 1996. Os mísseis alemães foram retirados de serviço em 2012 devido a idade avançada. Aviação naval alemã já estava desativada e não existem planos para aquisição ou desenvolvimento de um substituto. A ameaça soviética no Báltico também tinha acabado.

Um Tornado IDS da marinha alemã com quatro mísseis Kormoran 1. Os mísseis podem ser identificados pelos dois escapes do motor de aceleração com o escape do motor de sustentação no meio do corpo. O Tornado geralmente leva apenas dois mísseis na fuselagem e dois tanques extras nas asas.

Um Tornado disparando um Kormoran.


Dados Técnicos:
 Kormoran 1Kormoran 2
Comprimento (m)4,44,4
Envergadura (cm)1,0
Diametro (cm)34,5
Peso (kg)600630
Alcance (km)23 (35)35 (55)
Cabeça de guerra165 kg220 kg

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